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quarta-feira, 30 de julho de 2025

HUMANOS – Diferentes, Desejando Ser Iguais - Prof. Renato Dias Martino



SER HUMANO 

A gente usa a palavra humanidade, muitas vezes, para trazer uma característica de compaixão, de amor de reconhecimento do outro, de respeito das fragilidades do outro. No entanto, quando a gente reconhece um ser humano nas suas características próprias, peculiares, a gente reconhece um animal extremamente nocivo para a natureza, extremamente nocivo para os outros exemplares da mesma espécie, ou seja, dos outros seres humanos. Ao mesmo tempo que a gente usa a palavra humanidade para trazer características nobres, o ser humano é um animal que naturalmente não é nobre. É um animal narcisista, é um animal que tem características extremamente desprezíveis. É o único animal que entrega a sua cria vulnerável aos cuidados de um desconhecido. Nenhum outro animal faz isso.

COMUNISMO 

O Freud coloca isso daí com muita clareza lá no mal-estar nas civilizações. Essa ideia de implementar comunismo é uma falácia. Todos os países que implementaram o comunismo, eles implementaram trazendo o povo para o nível mais baixo possível. E isso foi implementado justamente através de imposições de impostos até que o sujeito possa dar ao governo tudo que ele tem para que ele se iguale a todos e o mandatário vive no luxo. Não dá para implementar isso. O ser humano é narcisista. Não existe comunismo espontâneo. Todo comunismo é uma ditadura. Sem ditadura não existe comunismo. Ah! Mas Jesus Cristo queria a igualdade de todo mundo. Então Jesus Cristo era comunista? Não! Jesus Cristo nunca impôs nada. Todo regime comunista é através de imposição, senão você vai querer ter o seu através daquilo que você trabalhou para isso.

HORDA

Lá em 1921 Freud vai dizer: "O ser humano não é um animal de grupo ele é um animal de horda”. Ele chama a horda a primeira esfera o estrito ambiente familiar. Este é o único grupo que o ser humano naturalmente faz parte. Quando um dos filhotes ali, começa a crescer e ganhar certa autonomia, ele já precisa se desligar da horda para criar outra horda, porque senão este ser humano vai encontrar atritos conflitos ali. Ele vai precisar de uma série de evoluções, de crescimentos em relação à sua nobreza, para que ele consiga continuar ali dentro. Aprender a tolerar um monte de coisas para que ele consiga permanecer ali dentro. Caso contrário ele vai se desligar e criar outra horda. No entanto, o ser humano hoje está se distanciando cada vez mais da sua natureza. Inúmeras características, inclusive essa, ele não está conseguindo sequer configurar a sua horda. A horda que não é uma instituição não foi instituída, foi gerado. A instituição é aquilo que o sujeito cria. A família não foi criada ela foi gerada naturalmente. Muitas vezes, a gente tem esse hábito de chamar família de instituição. Não! Ela não foi instituída, ela foi gerada. 

GRUPO DE TRABALHO

O ser humano está em busca de grupos porque a horda não deu conta. O ser humano que conseguiu ter dentro da horda, cumprida as funções necessárias, ele não vai deixar de buscar grupos, mas ele vai buscar grupos de trabalho, grupos formais e grupos específicos de algum tema que esteja em pauta para crescimento. Não é um grupo emocional não é um grupo afetivo. É claro que a partir da instituição desse grupo de trabalho vão ser criadas relações afetivas, mas não foi isso que ele foi buscar.

DIFERENÇA 

Esse é o grande contrassenso. Esse é o grande paradoxo humano. Ele é muito diferente dos outros da mesma espécie, mas ele morre de medo dessa diferença porque ele deseja demais ser igual ao outro. Ele deseja fugir da sua diferenciação. Ele deseja usar a mesma camiseta que a atriz da novela usou. Ele deseja fazer a mesma tatuagem que o cantor fez. Ele deseja cortar o cabelo como o ator da novela cortou. Ele se padroniza para fugir da realidade de que ele é diferente porque isso causa uma insegurança enorme.

IGUAL 

Para que o sujeito possa reconhecer a si mesmo, aprender a respeitar a si mesmo e se responsabilizar por si mesmo, ele precisa abrir mão, ele precisa se desapegar da tentativa de ser igual ao outro, porque ele não é porque ele nunca vai ser. Não somos iguais. E nós precisamos aprender a respeitar o outro mesmo não sendo igual. Porque respeitar o outro sendo igual é muito fácil. Amar o outro sendo o outro igual é muito fácil. Mas, amar pressupõe diferença. Amar o igual não é amor. Aquele que ama o igual não aprendeu a amar. Ele só vai amar quando ele reconhecer que o outro não é igual.

POSSIBILIDADE 

Quando a gente está falando da diferenciação do ser humano, nós não estamos só falando de um ser humano ser diferente do outro. Nós estamos falando do sujeito ser diferente dele mesmo a cada dia a cada momento. Nós estamos em constante transformação. Nós nos julgamos definidos, mas nós somos processo nós somos possibilidades nós somos transformações o tempo inteiro. Ninguém é nós estamos sendo. E o sujeito que insiste em ser ele vai acabar adoecendo. O sujeito que insiste em obstruir a sua transformação porque conseguiu um status conseguiu um título e agora ele é aquilo ele está adoecendo.

ENVELHECER 

O sujeito, ele é enaltecido quando ele parece não ter mudado. Sabe essa coisa da pessoa te encontrar depois de muitos anos falar: "Nossa! Mas você não muda, né? Você não envelheceu”? E você se sente muito enaltecido. Você não se transformou. Isso é quase que um elogio. Nós não aprendemos a respeitar e nos tornarmos capazes de contemplar o envelhecimento, contemplar a transformação.

DISPUTA 

Todas as vezes que começa a haver ou uma ligação por identificação com o outro, que seja fixada e se prolongue para além sem que se desenvolva em outro tipo de vínculo mais nobre, ou quando existe o desejo do sujeito se tornar igual ao outro, logo vai se instalar uma competitividade, uma disputa, porque dois iguais vão disputar. Não há espaço para dois iguais. Onde há dois iguais, ou porque ele se identificou com o outro, ele força o outro ser igual a ele, ou porque ele quer se tornar igual ao outro, logo vai se instalar um conflito por disputa, por competição. Esse é um dos grandes danos desta experiência de se tentar se tornar igual ao outro ou tentar que o outro se torne igual a ele.

DOIS MODELOS 

Então, existem duas configurações. Existe a configuração da extensão da ligação por identificação, onde o sujeito procura pessoas iguais a ele porque ele não consegue se ligar as pessoas diferentes, existe a configuração onde o sujeito não conseguiu substância na sua essência, reconhecimento nas suas peculiaridades e ele acaba tentando se tornar igual ao outro, buscando características do outro para que ele seja igual ao outro, porque ele não confia na sua essência. Ele não confia naquilo que ele está sendo, ele não confia em si mesmo como referência, então ele procura grupos, ele procura pessoas influentes, líderes para que ele possa agir igual ao outro.

GRUPOS 

Chega a ser assustador o tamanho da aderência do sujeito que nunca teve um acolhimento, que nunca se sentiu integrante de nada, quando ele é acolhido por um certo grupo e ele começa a se identificar com aquilo. Ideologia de gênero, ideologia política, instituições religiosas... O sujeito se sente inseguro, é acolhido por um grupo e aí, ele começa a defender aquelas ideias e procurar argumentos para justificar as ideias do grupo, por mais absurdas que elas sejam.

RECONHECIMENTO 

Como é que se aplaca o desejo de ser igual? A partir de um vínculo bem-sucedido. Quando o sujeito pode ser reconhecido nas suas particularidades, quando ele pode aprender a se autorreconhecer nas suas particularidades, ele não vai ter essa ânsia de se tornar igual ao outro, porque ele foi reconhecido pelos pais nas suas peculiaridades e por ser reconhecido ele é capaz de reconhecer o valor de si mesmo, mesmo não sendo igual ao outro. Quando o sujeito é reconhecido, ele diminui drasticamente esse desejo de ser igual ao outro.

NECESSIDADE E DESEJO 

Muitas vezes, a gente usa a palavra necessidade inadequadamente. Ninguém tem necessidade de ser igual ao outro, nós temos o desejo de ser igual ao outro. Ninguém necessita ser igual ao outro. E o desejo é o desdobramento de algo que faltou por conta do não cumprimento daquilo que, no seu tempo precisava ser cumprido. Não foi cumprido a função de reconhecimento da criança, logo ela desenvolve um desejo de ser igual ao outro, porque começa a usar o outro como referência. Então, não é uma necessidade, é um desejo.

PARTES DO EU 

Não é só, não ser capaz de respeitar a diferença do outro, mas é não ser capaz de respeitar a diferença das partes que constituem a minha personalidade. Eu sou partes diferentes que se constituem num todo. Eu preciso respeitar as diferenças que constituem a mim mesmo, porque senão, eu vou me desintegrar e vou acabar projetando essas partes que são diferentes em pessoas externas. E criando um atrito, criando uma competitividade, um conflito com as pessoas do meu convívio.

IDENTIFICAÇÃO

Chega um momento na vida que o sujeito começa a se perceber diferente dos outros. Porque no início da vida, assim como Freud nos orientou lá no Psicologia das Massas e análise do ego, a identificação é a primeira forma de relação entre duas pessoas. Duas pessoas se relacionam em primeiro momento por identificação, ou seja, acreditando que são iguais, mas num certo momento ela começa a perceber que ela é diferente, diferente do outro, e isso causa uma angústia enorme.

LATÊNCIA 

Na primeira infância, ela vive uma relação por identificação com a mãe. Conforme ela vai se desenvolvendo, ela vai passando pelas fases. O Freud vai nos sugerir a fase oral, a fase anal e a fase fálica. Logo depois da fase fálica, o sujeito vai entrar num período da latência. Neste período da latência, o sujeito começa a criar mecanismos para se agrupar com aqueles que ele imagina ser igual. Turminhas de menino, turminhas de meninas, pelo menos dentro de uma configuração saudável. É isso que vai acontecer. Todos se vestem da mesma forma para que pareçam ser iguais. Todos gostam do mesmo tipo de música. Tudo igual, tudo equalizado para aplacar esta sensação desconfortável de se perceber e se reconhecer diferente do outro.

DIFERENTE DO QUE FOI

 Quando a gente fala de diferenciação, de dificuldade de lidar com as diferenças, a gente tá falando não só do sujeito ter dificuldade de lidar com a diferença do outro, mas a dificuldade do sujeito lidar com a diferença de si mesmo. a diferença das partes que constituem a sua personalidade e a diferença daquilo que ele reconhecia como realidade anteriormente e ele passa a reconhecer agora. Muitas vezes o sujeito tem uma dificuldade enorme de repensar a realidade, de reconhecer a realidade, de conhecer a realidade novamente. Ele se apega àquilo que ele tinha como certeza e não solta disso maneira alguma. Porque ele tem medo de se tornar diferente, diferente daquilo que ele era, diferente daquilo que ele pensava.

CORPO FÍSICO 

Esta dificuldade de lidar com a diferença também está implicada na materialidade do corpo físico. O sujeito tem uma dificuldade enorme de lidar com as diferenças quando isto vai ocorrendo na transformação do seu corpo físico. vai envelhecendo, as características do corpo vão mudando e o ser humano tem uma dificuldade tremenda de respeitar as transformações do corpo. Por isso, ele cria técnicas e técnicas e técnicas estéticas para que ele possa conservar o corpo como se estivesse jovem, mas não está.

AMOR-PRÓPRIO E BELEZA FÍSICA
 
O sujeito diz assim: "Vou fazer uma operação plástica para cuidar da minha autoestima, para que eu possa melhorar o meu amor-próprio". Não, meu amigo! Você está equivocado. Amor-próprio é independente da configuração material do seu corpo. Se você não ama a si mesmo, não existe operação plástica, não existe procedimento estético que vai fazer com que você passe a amar a si mesmo. Amar a si mesmo é independente de gostar de si mesmo, é independente de gostar da sua forma física.

IGUALDADE E EQUIDADE 

Igualdade. Tratar todos como iguais. Não, isso é um equívoco. Não somos iguais e não podemos ser tratados como iguais. Precisamos ser tratados com equidade. É tratar cada um na sua peculiaridade. Respeitar cada um em suas características próprias. Respeitando isso. Existe um abismo entre tratar com equidade e obrigar o outro a ser igual. Ninguém é igual. Criar a capacidade de equidade. Tratar o outro com igualdade é mais fácil do que tratar o outro com equidade. Tratar com igualdade é tratar todo mundo do mesmo jeito. Tratar com equidade é reconhecer o outro para respeitar o outro nas suas peculiaridades. E isso é para poucas pessoas.

IGUALDADE E FORÇA

A igualdade traz uma sensação de onipotência, traz uma sensação de força. Um grupo unido porque acredita que são iguais é um grupo forte. E aí, se esse grupo consegue eleger um inimigo externo, ele se torna mais forte ainda.

SEMELHANTE

Afinidade, tanto tem características iguais, quanto características diferentes. Diferente da igualdade que cobra uma característica idêntica do outro. A gente está falando aqui de obrigar o outro a ser igual. E o outro não é igual. O outro é semelhante. O outro é similar. Similar a uma coisa, semelhante a uma coisa, igual é outra. Um bom exemplo disso é a família, os integrantes da família, os integrantes da horda primeva, como diria o Freud, cada integrante da família tem a sua função. Cada integrante da família tem a sua característica diferente do outro. A mãe é diferente do pai, que é diferente do filho. Cada um tem sua característica diferente dentro da família. Todos somos diferentes para cumprir funções distintas, mas precisamos de afinidades. Precisamos estar afinados um com o outro. Precisamos ter concórdia. É importante que uma família esteja junto de coração. Concordes? Isso não é ser igual, é ser semelhante. 

ILUSÃO E IGUALDADE

O iludido tende a odiar o sujeito que é orientado pela verdade. O iludido normalmente tem a ilusão de ser igual aos outros, tem a ilusão da igualdade. E o sujeito que está orientado pela verdade assume a sua diferença em relação ao outro, reconhece as suas diferenças, aprende a respeitar as suas diferenças e se responsabiliza por ser diferente do outro. E este sujeito normalmente é odiado por aqueles que propõem a obrigação de ser igual. Isso é uma violência. O ambiente escolar desde o primeiro estágio, desde o prézinho, é extremamente tóxico nesse sentido. Obriga as crianças a serem iguais. 

ESCOLA

A maior parte das queixas dos professores, dos coordenadores, dos diretores da escola quanto as crianças é justamente quando essas crianças começam a manifestar a sua diferenciação em relação às outras. Ela começa a manifestar a sua diferença em relação às outras e os professores se assustam com isso, porque as crianças precisam ser todas iguais. As crianças precisam aprender o currículo proposto pela escola, todas iguais. As notas, os conceitos aplicados às crianças são todos iguais e elas precisam ser todas iguais. E isso é uma violência, porque ninguém é igual a ninguém. Cada um tem o seu tempo de aprendizado. Cada um se interessa por alguma coisa diferente. Cada um tem afinidade por assuntos diferentes. 

PARTE NEURÓTICA E PARTE PSICÓTICA 

Tanto a parte neurótica, quanto a parte psicótica têm essa tendência a repetição, a tendência a igualdades e uma tendência a igualdades que não admite diferenças. É uma equação, não é uma analogia. Analogia admite diferenças e igualdades. A equação não admite diferenças. Então, no neurótico, esta repetição é uma manifestação do desejo de que tudo seja igual. O neurótico se atrai pelo igual. O psicótico não se atrai pelo igual. Ele só admite o igual. Para o psicótico, o que está dentro e o que está fora é a mesma coisa. Se fora deixar de existir, dentro também deixa de existir. E se dentro existir, ele força que fora exista também. A alucinação é isso. Ele alucina com alguma coisa e ele realmente acredita que aquela coisa existe no mundo externo. E se alguma coisa do mundo externo não estiver presente fisicamente, ele não consegue sustentar internamente.

SOCIEDADE PSICÓTICA

A sociedade te cobra ser fielmente igual àquilo que ela propôs, aquele pressuposto social. Se você não for aquilo que a sociedade te obrigou a ser, você será desaprovado. E isso é uma experiência psicótica. esquizofrênica. Esquizo quer dizer separado, cindido, porque a sociedade tem inúmeras demandas e você precisa cumprir todas. Você precisa agradar gregos e troianos, por assim dizer. Isso faz com que você se torne vários. E esta fragmentação é justamente o que configura a psicose. Não há possibilidade de ser a mesma pessoa em âmbitos diferentes de demandas sociais. 

SOCIEDADE E DISSIMULAÇÃO

 Não há como desempenhar o “verdadeiro eu” no âmbito social. As relações sociais demandam falsidade, demandam dissimulações. E aí, é prudente que você seja cauteloso nesta vivência social. Porque a exacerbação da utilização do “falso eu” acontece em detrimento da saúde do “verdadeiro eu”. O “verdadeiro eu” carece do “falso eu” para protegê-lo. O uso saudável do “falso eu” é na proteção do “verdadeiro eu”. No entanto, uma vida social intensa faz com que você exacerbe, que você aumente, que você potencialize o “falso eu” em detrimento da saúde, do “verdadeiro eu”. Aquilo que está lá dentro acaba ficando empobrecido e sufocado pela casca extremamente enrijecida e grossa. 

ESTEREÓTIPO

A sociedade te cobra cumprir um estereótipo. Que que é estereótipo? É um tipo estéril. É um tipo que não gera nada. É um tipo que só serve para cumprir o seu papel social. Tipo é aquilo que serve de impressão. Antigamente, para fazer um livro, para fazer uma publicação, para fazer uma impressão, você fazia primeiro o tipo e aí, ia batendo aquilo no papel com tinta como um carimbo, onde todas as folhas iam ficando iguais. Então, este é o estereótipo que a sociedade te cobra. E se você não cumprir o estereótipo, se você não for idêntico a todas as outras folhas que foram impressas, você será desaprovado. 

FAZER A DIFERENÇA 

Coragem de ser diferente. Coragem de ser você mesmo. Coragem de não ser igual ao outro. Porque aquele que é igual ao outro nunca vai fazer a diferença. Você abre as redes sociais, todo mundo postando coisas iguais. Hoje a palavra é “trend”, ou seja, o modelo de vídeo que você tem que fazer para que você possa ser notado nas redes sociais. A musiquinha igual, a dancinha igual, a roupinha igual, o sorrisinho igual, a expressão igual, para que você possa ter palminhas, likes.

INCONSCIENTE COLETIVO

Para o Jung, inconsciente coletivo é uma matriz que é inata em cada ser humano. Cada ser humano vai nascer com essa matriz igual a todos. Então, nascemos com um inconsciente coletivo junto com o inconsciente individual. Este inconsciente coletivo é como se fosse espaços abertos, espaços que carecem de ser preenchidos por experiências da vida de cada um. Então, nascemos com um arquétipo de mãe, com arquétipo de pai, com arquétipo de herói, com arquétipo de bruxa e por aí vão se desdobrando arquétipos que vão constituir o que ele chamou de inconsciente coletivo. Neste inconsciente coletivo, todo ser humano é igual. No entanto, assim que ele nasce, ele começa a preencher este inconsciente coletivo de experiências particulares.

ARQUÉTIPOS

Toda cultura tem o herói, toda a cultura tem o líder, toda a cultura tem a mãe, toda a cultura tem o pai. Toda filogênese, por assim dizer, vai apresentar figuras icônicas que são arquétipos do constituinte coletivo inconsciente. Mas cada um vai preencher estes arquétipos conforme as suas experiências. Nós nascemos com uma expectativa inata de mãe, uma expectativa inata de pai, uma expectativa inata de herói, uma expectativa inata de princesa, de bruxa, de rival, de inimigo. Tudo isso já está impresso enquanto arquétipo no sujeito, naquilo que o Jung chamou de inconsciente coletivo.

MANDALA

O Jung vai falar que o inconsciente coletivo se estrutura como uma Mandala. No centro da Mandala tem duas partes, uma chamada ânima e outra chamada ânimus. Então, é uma parte masculina e uma parte feminina. A ânima vai representar o feminino dentro do ser humano, seja ele homem ou mulher, e ânimos, a parte masculina em cada ser humano, seja ele homem ou mulher. E desses dois arquétipos vão se desdobrando outros arquétipos, mãe, pai, herói, rival, inimigo e por aí vai.

INDIVIDUAÇÃO

Individuação para o Jung é justamente o preenchimento destas lacunas arquetípicas com experiências particulares. Conforme ele vai preenchendo isso, vai trazer para o sujeito aquilo que o Jung chamou de individuação. E na individuação, o sujeito passa a se diferenciar dos outros, que a princípio ele poderia ser igual no inconsciente coletivo, ainda carente de experiências.

MATÉRIA CÓSMICA

Segundo Heisenberg, que é um dos pensadores da física quântica, nós somos constituídos da mesma matéria cósmica. Todos nós somos constituídos da mesma matéria, mas somos configurados de maneira diferente. E na realidade, não só nós somos constituídos de uma matéria única, mas também os objetos do mundo. A natureza, a madeira, pedra, o diamante, qualquer coisa é feita da mesma substância, mas configurada de maneira distinta, maneira diferente. É sensato a gente pensar que somos feitos de uma única matéria configurada de maneira diferente.

TODOS SOMOS UM

Quando a gente consegue concordar dentro da perspectiva epistemológica, seja ela qual for o vértice, seja no místico-religioso, seja no estético-artístico, ou seja, no filosófico-científico, quando a gente tem essa possibilidade de concórdia, nós estamos integrados, onde todos somos um só e não necessariamente iguais. Para que a gente possa ser um só enquanto concórdia, nós precisamos nos reconhecermos diferentes. Somos unidos sendo um só. Isso não quer dizer que nós vamos nos confundir um com os outros.



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