sábado, 9 de agosto de 2025

O ESPAÇO AFETIVO E O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE - Prof. Renato Dia...


 

O ESPAÇO AFETIVO

 

Grande parte dessas patologias que foram desenvolvidas pela psiquiatria, TDAH, déficit de atenção e todas essas coisas que as crianças estão sendo diagnosticadas, tem este fundo de, na realidade, essas crianças estarem procurando a mãe. “Cadê a minha mãe?” E procura num lugar, não está ali, procura no outro lugar, não está ali. Então, ela não consegue se concentrar em nada, porque na realidade antes ela precisa ter vivido essa experiência de acolhimento com a mãe. Mas aí você diz: "Ah, mas a mãe tá ali!" Pois é! E ela olha para mãe e ela não consegue encontrar a mãe na própria mãe, porque é uma desconhecida, porque viveu a vida inteira em instituições sendo cuidado por outras pessoas. As crianças vêm no mundo sem espaço para estar neste mundo. E não é um espaço físico, é um espaço afetivo.

 

TEMPO DE QUALIDADE

 

Na linguagem contemporânea se desenvolveu uma ideia de “tempo de qualidade”. No desenvolvimento da criança não existe “tempo de qualidade”. A mãe precisa estar junto dele o tempo todo, porque esse tempo de qualidade não vai incluir as experiências que vão acontecer, independente do tempo, independente do momento. Uma criança, precisa da mãe para desmamar. Uma criança precisa da mãe para desfraldar. E não é no tempo de qualidade que isso vai acontecer, é o tempo todo. A criança não vai escolher o momento que a mãe está disponível para dar o “tempo de qualidade” para que ela apresente as necessidades desta mãe.

 

CONEXÃO COM A MÃE

 

Na minha época de criança, a experiência mais horrível que uma criança poderia viver é se perder no supermercado. A mãe te levava para fazer compra e você se perdia dela no meio das gôndolas, das prateleiras do supermercado e você entrava num desespero e começava a chorar desesperadamente até que alguém pegasse você e falasse no microfone: "Fulana, seu filho está aqui na recepção". E aí, a tua mãe ia te buscar e você estava aliviado. Hoje as crianças não têm mais nem referência de quem é a mãe, porque desde pequenininha foram criados pela tia da creche, pela babá, sabe lá por quem, e não conseguiram criar esta conexão com a mãe. E para ela tanto faz, se é a mãe ou se é o tio do supermercado, ela já não tem mais esse desespero de ter perdido a mãe. Triste isso, né?

 

FUNÇÕES

 

Quando eu falo aqui da função materna, eu estou falando implicitamente da função paterna. Não há como exercer a função materna de maneira suficientemente boa ou de maneira bem-sucedida sem a presença atuante da função paterna. Não tem como.

 

ORIGEM DO CAOS

 

As crianças estão sendo abandonadas. Os exemplares da espécie humana que a gente está deixando para o mundo são de péssima qualidade, não foram cuidados, não tiveram atenção, foram abandonados na mão de terceiros e vão se criando espécimes despreparados e vão criando ideologias e ideias estapafúrdias, ideias bizarras que vão tomando conta da sociedade. Não foi cuidado e agora se transforma num adulto que tenta impor a suas ideias psicóticas. E isso tende a piorar, porque as escolinhas, as creches estão inundadas de crianças. E essas crianças que estão se tornando adultos, que estão inundando as casas de repouso e os asilos de idosos, porque não foram cuidadas e não vão cuidar daqueles que não cuidaram delas.



sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Quem é Prof. Renato Dias Martino

 

Prof. Renato Dias Martino é psicanalista, professor e escritor. Dedicado a prática da clínica há mais de duas décadas, no ensino da psicanálise e na produção de conhecimento sobre a escuta, o acolhimento e o sofrimento psíquico. É fundador e coordenador do GEPA – Grupo de Estudos Psicanálise do Acolhimento, espaço dedicado à formação, ao pensamento compartilhado e à produção teórica baseada na ética da escuta.

É autor de sete livros publicados, que atravessam temas como clínica, formação analítica, pensamento afetivo e sensibilidade poética. Sua obra é marcada por uma escrita que acolhe, uma teoria que escuta e uma prática que se sustenta na presença.

Além de suas obras autorais, coordena e organiza a coleção Psicanálise do Acolhimento, composta por quatro volumes que reúnem textos escritos pelos membros do GEPA. Esses livros refletem o compromisso com a construção coletiva do saber psicanalítico, valorizando o percurso singular de cada participante e fortalecendo a psicanálise como prática viva e compartilhada.



🧩 2011 – Para Além da Clínica

O primeiro livro anuncia já no título uma proposta de transbordamento. Ao propor uma escuta que ultrapassa os limites do consultório, o autor convida o leitor a perceber a psicanálise como ética da presença, como forma de habitar a vida com escuta aberta. Aqui começa a travessia: a clínica não como lugar, mas como postura.



🌱 2012 – Primeiros Passos Rumo à Psicanálise

Em sua escrita didática e sensível, o autor acolhe os que se aproximam da psicanálise com curiosidade e receio. Não há prescrição ou dogma, mas um gesto de abertura: o saber se faz caminho. O livro se dirige tanto a estudantes quanto a analistas experientes que desejam reencontrar o frescor do início.



💞 2013 – O Amor e a Expansão do Pensar

O amor, aqui, não é um objeto de análise — é operador do pensamento. O pensar se expande na relação, na escuta, no vínculo. Neste livro, o afeto é o solo fértil de onde o sujeito pode emergir. É também uma reflexão profunda sobre a função do analista: aquele que sustenta o pensar do outro, sem invadi-lo.



🧘 2015 – O Livro do Desapego

Mais do que uma renúncia, o desapego é aqui um ato ético. O livro propõe uma escuta leve, silenciosa, que não se apega ao saber nem ao controle. Com tom poético e filosófico, o autor convida a deixar ir, a abrir espaço — para o outro, para o novo, para o que não se pode nomear.



🫂 2018 – Acolhida em Psicoterapia

Obra central no percurso autoral, apresenta com maturidade a concepção de acolhimento como fundamento clínico. Não se trata de técnica, mas de uma ética da presença. O analista é aqui quem sustenta, com firmeza e suavidade, o sofrimento do outro — sem pressa de interpretar, sem o peso do saber, mas com a escuta plena de quem está sendo.



✍️ 2019 – Das Pequenas Poesias

Neste volume, a escuta se torna verso. O autor atravessa a linguagem da teoria para alcançar o indizível do afeto e da existência. São poemas que acolhem o silêncio, que escutam o que resta da sessão. Uma escrita que revela o analista não apenas como pensador, mas como presença sensível no mundo.



🧠 2025 – Pensando Melhor a Psicanálise – Do Saber ao Estar Sendo

Neste livro, o percurso encontra sua síntese. Trata-se de uma reflexão madura sobre a transição do acúmulo teórico para o viver analítico. O saber cede espaço ao estar. A escuta não se apoia mais naquilo que o analista sabe, mas naquilo que ele sustenta ao ser presença diante do outro. O título é claro: pensar melhor não é saber mais — é estar mais inteiro na escuta.



🧶 Síntese do Percurso

A obra do Prof. Renato Dias Martino desenha um trajeto singular dentro da psicanálise brasileira: da clínica à vida, da técnica ao afeto, do saber ao estar. A escrita nasce da escuta — e nela, o leitor encontra não apenas conceitos, mas também lugar.

É, antes de tudo, uma travessia ética. Cada livro é um passo na direção do outro — não como objeto de intervenção, mas como sujeito em formação. É uma escrita que acolhe, escuta e sustenta. Que não teme o silêncio. Que não se apressa. Que não pretende ensinar, mas estar junto.

Na confluência entre a psicanálise, o ensino e a sensibilidade poética, sua voz se firma como uma das mais singulares da psicanálise brasileira contemporânea.












Prof. Renato Dias Martino