domingo, 26 de março de 2023

PERCEBER, RECONHECER, RESPEITAR, RESPONSABILIZAR-SE, TRANSFORMAR

A maturação emocional-afetiva parece seguir certo encadeamento, dentro de um processo de desenvolvimento que merece um olhar cuidadoso. Essa atenção cuidadosa passa a ser necessária na medida em que a dinâmica nesse processo garante a saúde na ordem desse funcionamento, já que a obstrução do fluxo nesse processo leva ao adoecimento.  Esse processo inclui etapas que não podem ser sobrepostas, obedecendo uma ordem numa certa sequência de evolução. No entanto, pode ser obstruído, através de experiências malsucedidas, nocivas, ou ainda, que tenham sido traumáticas.

Parece que esse processo inicia com a sensação de desconforto, onde o sujeito passa a perceber algo que o incomoda, em seu funcionamento emocional. Isso ocorre através de sentimentos como insegurança, tristeza, medo, que devem se desdobrar em raiva, hostilidade, inveja, assim como outras manifestações da influência de elementos desconfortáveis que possam ser perceptíveis no funcionamento mental. 

A partir da percepção do elemento desconfortante, abre-se a possibilidade de reconhecimento disso que ora o desconforta e tenha sido percebido. Quando se percebe algo, passa a ser possível considerá-lo, através do reconhecimento. A experiência de perceber é sutil, é algo que não requer empenho, muitas vezes, acontece concomitante com o próprio desconforto. Já o reconhecimento é uma atitude, sendo assim, demanda de capacidade em tolerar desconfortos. Só reconhece algo aquele que é capaz de tolerar as características disso que esteja sendo reconhecido. 

Reconhecer não tem a ver com saber sobre, mas se refere a admitir que realmente existe. Isso se dá através da possibilidade de se viver recorrentes experiências de reencontro com esse elemento, na possibilidade de conhecer novamente a cada novo contato com isso que se percebe. A origem da palavra nos orienta nesse sentido, quando o vocábulo reconhecer, vem do latim, RECOGNOSCERE, RE-, que significa “outra vez”, mais COGNOSCERE, que diz respeito a “saber juntos”, formado, por sua vez, por COM, “junto”, mais GNOSCERE, “saber”.

Sendo realizável a firmação do vínculo do reconhecimento, passa então, a ser possível aprender a respeitar isso que se admitiu a existência. No entanto, além de se aprender a respeitar isso que se reconheceu, abre-se a possibilidade de se aprender a respeitar a si mesmo em relação ao que foi reconhecido. A experiência do respeito aqui conceitualizada é aquela que leva o sujeito a dirigir nova atenção a aquilo que se respeita, a cada vez que se depara com isso. Assim como nos norteia a semântica. A palavra respeito tem origem no latim RESPECTUS, que é particípio passado de RESPICERE, “olhar outra vez”. RE-, “de novo”, mais SPECERE, “olhar”. Quando respeitamos alguma coisa é porque estamos sendo capazes de prestar atenção novamente a isso. Sendo assim, reconhecer e respeitar estão intimamente ligados, já que a origem da palavra reconhecer é conhecer novamente e a palavra respeito, por sua vez, significa prestar atenção mais uma vez. 

Bem, quando foi possível conseguir chegar nesse nível do processo, inicia-se uma experiência de expansão. Nesse ponto do processo, o elemento que tenha sido percebido, reconhecido e então respeitado, já não é mais sentido como um intruso, ou um estranho no funcionamento mental. Esse elemento passa a ser um integrante da personalidade. Esse processo aqui descrito, deve adequadamente, levar o nome de acolhimento. Quando passa a ser possível acolher esse elemento alcançado no funcionamento emocional, abre-se a possibilidade de transformação, numa crescente de amadurecimento da consciência sobre isso e em consequência, da consciência de tudo mais em relação a isso. 

Um bom exemplo do que tento propor é o medo, que de início pode ser um fator de potencial obstrução às possibilidades, impedidor das experiências e que dificulta a expansão, quando acolhido nesse processo descrito aqui, pode vir a se transformar num importante integrante da prudência. Aquilo que até então, obstruía, agora orienta com a cautela, para que se tome maior cuidado, trazendo assim, maior chance de uma experiência bem sucedida. Abre-se a possibilidade de transformação de elementos que até então mantiveram-se num modelo enrijecido, cristalizado numa forma obstrutora.

Por outro lado, quanto mais se resiste, quanto maior for a rejeição a integração deste elemento, mais ele irá se potencializar em sua forma enrijecida, mais irá ganhar força obstrutora e por conta disso, dificultará a possibilidade de se fluir a vida naturalmente, de maneira saudável. 

Tratamos aqui do processo fundamental na maturação emocional e afetiva, sendo que o desenvolvimento desse processo carece essencialmente do outro para que seja realizado. Não há como aprender a reconhecer, respeitar e se responsabilizar por si mesmo sem que se possa contar com um vínculo afetivo saudável, que é constituído justamente por reconhecimento, respeito e responsabilização. Estes elementos só podem ser desenvolvidos a partir de um modelo externo, ou seja, somente tendo o outro como referência. Quando se está sendo acolhido pelo outro, não se trata de simplesmente receber passivamente um benefício, mas se tem a oportunidade de se aprender a acolher a si mesmo e posteriormente acolher o próximo.







Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor




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