sábado, 6 de maio de 2023

O OUTRO NÃO EXISTE

A psicanálise nos ensinou sobre o fato de que no início da vida o sujeito não admite a presença do outro naquilo que Sigmund Freud (1856 - 1939), chamou de princípio do prazer.  A satisfação imediata, assim como a evitação de desconfortos é o que rege essa ordem do funcionamento mental. “Nesta época o mundo externo não é investido com interesse e é indiferente à satisfação. Portanto, durante este período o eu coincide com o que é prazeroso, e o mundo externo com o que é indiferente.” (Freud, 1915). Por mais que possamos evoluir na maturação emocional e também no âmbito afetivo, grande parte do nosso funcionamento ainda segue trabalhando assim, mesmo na vida adulta. A forma como nos vinculamos com o outro é uma extensão da maneira como nos relacionamos com nós mesmos.

Portanto, quando tratamos do vértice emocional, não seria absurdo levantar a hipótese de que o outro não existe.  A questão essencial é a relação do sujeito com ele mesmo. Tudo aquilo que possa acontecer na relação com o outro, passa sempre por uma modulação a partir do que acontece em relação a si mesmo. O outro parece representar uma extensão da relação que se possa ter consigo mesmo. Não há como estar bem com o outro, estando mal consigo mesmo. Na realidade, ninguém se importa realmente com o que os outros dizem, a não ser que aquilo que seja dito coincida com o que predomine no seu diálogo interno. Ou seja, que os outros confirmem o que o sujeito já dizia para si mesmo.

Quando alguém, por acaso esteja requisitando a aprovação de qualquer outra pessoa, na realidade isso parece ser uma falha na capacidade do sujeito em confiar em si próprio. Quando o sujeito não está confiando em si mesmo, ele tende a requisitar a aprovação alheia. Aquele que se importa em demasia com certa crítica do outro, na realidade já vinha se criticando anteriormente. Quando a atitude de autocritica se estende num modelo constante o sujeito tende a reunir em seu entorno, pessoas que o criticam constantemente.
Além disso, pode até ficar obstruído de conseguir se interessar por alguém que, por ventura venha reconhecer qualquer característica virtuosa nele. Por outro lado, quando ele desenvolve o autorrespeito e passa a tratar a si mesmo com consideração e carinho, tende então a reunir em seu convívio, pessoas que também o fazem. Na verdade, não permitirá que o tratem de outra maneira que não seja com respeito.

Freud, S. (1996m). OS INSTINTOS E SUAS VICISSITUDES (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1915).






Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor



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