segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Convergência Antissocial e a qualidade dos Vínculos

Uma leitura da obra de Donald W. Winnicott (1896 — 1971)

Para a psicanálise a fonte essencial da seleção de elementos fundamentais do funcionamento mental é sem dúvida o inconsciente. 
As manifestações inconscientes povoam nossa vida, dando seus sinais através dos sonhos, de ações que fogem de nossa vontade, assim como inúmeras outras maneiras de revelar a presença de uma área obscura da mente. 
Todos temos motivos inconscientes. Do assassino ao sacerdote, um por um de nós.
Não existe dúvida de que ser capaz de reconhecer esse lado existente no funcionamento mental é o que traz maior mobilidade e habilidade na capacidade de vinculação; do eu para o eu mesmo e assim, do eu para com o outro.
A manifestação transtornada do inconsciente,  força o sujeito a certa tomada de posição perante a isso que, sempre que se mostra dessa forma traz consigo consequência desastrosas. 
O sujeito tende ou adotar certa posição de indulgência ou então, é arremessado no polo oposto num impulso de vingança. Duas posições perigosas ante a manifestação transtornada do inconsciente.
Se tivermos ciência de que no desenvolvimento natural de uma criança, onde ela possa contar com a confiança do pai e da mãe, ela, naturalmente, deve viver experiências de se impor e coloca à prova todo seu poder de desintegrar, destruir, assustar, manobrar, consumir e apropriar-se, então, poderíamos afirmar com segurança que tudo o que conduz o sujeito aos tribunais tem algo análogo e perfeitamente compreensível na vida emocional da infância. Fica claro ai a fundamental importância de um ambiente seguro para se envolver e se desenvolver as experiência primitivas.
São experiências que devem ser vividas numa ambientalização abrigada das ameaças tanto internas quanto externas. Isso garantirá a ocorrência lúdica que só se dá podendo se contar com certo grau de proteção. Nessa fase da vida, a liberdade não garantirá o desenvolvimento, pois é carente de referências, das quais a criança tem tão pouco. 
Winnicott escreve que quando uma criança rouba açúcar, ela está procurando a boa mãe de quem ela tem o direito de tirar toda a doçura. Quando a criança rouba fora de casa, ainda está procurando a mãe, mas ao mesmo tempo, a autoridade paterna que pode pôr um limite ao seu comportamento impulsivo. 

O pensador inglês chama a atenção para o fato de que, na delinquência plenamente desenvolvida o que chama a atenção é a necessidade aguda que a criança tem de um pai rigoroso, severo, que proteja a mãe quando ela é encontrada.
Para Winnicott a tendência antissocial não se caracteriza de forma diagnóstica, isso por se encontrar desde o sujeito mais bem estruturado até o mais comprometido psiquicamente. 
Tem certa relação direta com a privação, termo usado para situação da falta de características essenciais da vida familiar. 
A tendência antissocial se caracteriza por um elemento que compele o meio ambiente a ser importante. O sujeito, através de pulsos inconscientes, compele alguém a encarregar-se de cuidar dele. 
A ausência de esperança é a característica básica da criança que sofreu privação. Assim, a relações entre a tendência antissocial e a privação, está tipicamente no período que vai até a idade em que a criança começa a dar os primeiros passos.
Na tendência antissocial, houve um verdadeiro desapossamento, não uma simples carência. Houve a perda de algo bom que foi positivo na experiência da criança até certa data e que foi retirado. 
Essa retirada deve ter se estendido por um período maior do que aquele em que a criança pode manter viva a lembrança da experiência.

Duas direções na tendência antissocial: 

1) Uma direção é representada pelo roubo - a criança procura alguma coisa, em algum lugar, e não a encontrando, busca-a em outro lugar, quando tem esperança.
Associado a mentira, a criança furta um objeto não por estar desejando o objeto roubado, mas a mãe, sobre quem ela tem direitos.

2) Outra é representada pela destrutividade -  a criança está procurando a estabilidade ambiental que suporte a tensão do comportamento impulsivo. 
É sobretudo por causa da segunda tendência que a criança provoca reações ambientais totais, como que buscando uma moldura cada vez mais ampla, um círculo que tem como primeiro exemplo os braços da mãe ou o corpo da mãe. É possível discernir uma série – o corpo da mãe, os braços da mãe, a relação parental, o lar, a família, (incluindo primos e parentes próximos) a escola, a localidade com suas delegacias policiais, os pais com suas leis. 

Na base da tendência antissocial está uma boa experiência inicial que se perdeu.

WINNICOTT, D. W. Privação e Delinquência. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2005.

Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Curso de Férias – A Experiência do Narcisismo Primário


Curso de Férias – 
A Experiência do Narcisismo Primário 
e seus desdobramentos no desenvolvimento mental

Três encontros: Dias 08, 15 e 22 de janeiro, sempre às 19:00 
no Anfiteatro do Hospital Ielar Rua Luiz Antônio da Silveira, 
n° 1728, Boa Vista, São José do Rio Preto, SP 

Inscrições pelos Fones – 
17 30113866 ou 33082502 
Investimento – 120, Certificação de horas
Coordenação
Prof. Renato Dias Martino
pensar-seasi-mesmo.blogspot.co

Ocasião de reflexão sobre as etapas do desenvolvimento da personalidade e a capacitação do aparato mental. Numa leitura de um dos principais textos de Freud, a oportunidade de reconhecer características das tenras camadas de experiências emocionais, desprovidas de recursos defensivos, até suas manifestações por entre as experiências dos estados mais amadurecidos da mente. Uma visão dos conceitos psicanalíticos dos processos mais primitivos do funcionamento psíquico, em suas tentativas de expansão e o fracasso no desenvolvimento saudável.

sábado, 16 de novembro de 2013

Dica de Filme - Face Oculta (2010)


Um simples bancário solitário, John Skillpa (Cillian Murphy), mantém escondido uma personalidade secreta da qual chama de Emma. Num certo dia um trem descarrilha invadindo seu quintal, em Peacock (nome original do filme), Nebraska. Quando os vizinhos tentam ajudar, encontram Emma, a qual acreditam ser a esposa de John. Ele mantém a mentira até as últimas consequências. Um belo suspense americano, dirigido por Michael Lander, que coloca em cogitação a questão psicanalítica da melancolia, na perspectiva da identificação com o objeto perdido.




sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Prof Renato Dias Martino - Imaginação e Realidade



Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor 
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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Vício e Sua Relação com o Inconsciente

Numa perspectiva clínica, onde o que se busca é a construção de uma relação terapêutica, a interpretação da defesa é muito perigosa se não existir a capacidade de acolher aquilo que foi reprimido. Quando transpomos essa mesma ideia para o âmbito do vício, o mesmo quadro se repete. 
Também nessa situação forçar uma abstinência deve ter como base a capacidade de acolher a emersão daquilo que realmente movimenta e sustenta a compulsão. 
Refletir sobre o vicio então, estaria na ordem de uma simples etapa rumo à reflexão de algo bem maior e de forma alguma pensado até então.


Dentro dessa perspectiva, o objeto do uso da droga, por exemplo, passa a ser percebido como um sinal de certa desorganização anterior a própria adicção á droga e sendo assim, não se pode resolver-se em si mesmo.
Cada um de nós possui certas compulsões, certos vícios, mas por algum motivo alguns se interessam mais, outros menos. São mecanismos de defesa e os mecanismos de defesa são inerentes ao funcionamento mental. Como que uma tentativa de fuga da realidade. No caso das drogas, a busca por uma alteração na percepção dessa realidade. 
Isso pois, por algum motivo a percepção da realidade se torna intolerável. 
Sobre isso, Freud escreve em 1911:

“Com a introdução do princípio da realidade, uma espécie de atividade do pensamento foi expelida (split off); foi mantida livre do teste da realidade e permaneceu subordinada apenas ao princípio do prazer. Essa atividade é o fantasiar.”

Na filosofia grega, o phármakon é descrito como sendo, ao mesmo tempo, logos (razão, força) e “filtro de esquecimento” (cegueira, fraqueza da vontade); “remédio” e “droga”; “contra-veneno” e “veneno”. Para Platão nos seus diálogos, Fedro, phármakon é certa substancia que pode ser remédio, veneno ou cosmético, dependendo do modo como é empregada. 


Na “Alegoria da Caverna” de Platão descreve a “paixão-sensível como cegueira, ignorância do real, em nome de uma vida ‘fantasmática’”, o que em psicanálise aparece como manifestação do imaginário, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo, um desejo inconsciente”.
Fica claro então, que o foco de nossa pesquisa se desloca da droga em si voltando-se para a fonte da necessidade de fugir da realidade.
Cada vício e cada viciado guardam uma história particular, é em si um sintoma de certa desorganização. 
O uso desmedido do phármakon numa severa incapacidade em tolerar frustrações.
A busca por certa completude. O sujeito tende a desaparecer no que seria o objeto. Tende a se tornar só um corpo que contém o objeto. 
Assim, fica inviável atingir processos mais elevados da mente que permitem o funcionamento do pensar, que necessariamente deve contar com a capacidade de abrir mão de certa cota de satisfação.
“O pensar foi dotado de características que tornaram possível para o aparelho mental tolerar uma tensão intensificada de estímulo, enquanto o processo de descarga era adiado.” ( Freud 1911)
Enquanto o sujeito se encontra sob efeito do phármakon não há o pensar. Só se pensa na falta e a falta não é percebida sob efeito. Quando o efeito passa a angustia volta. 
O phármakon coincide então, com o “Grande Outro”, que acolherá incondicionalmente. A figura poderosa que aplaca todo o desconforto. Na primeira infância é a mãe. Quem sabe mais de mim do que eu mesmo. Aquilo que me explica. 
A completude que conduz ao fim da pesquisa da vida. O objeto coincide com a coisa em si. O sujeito deixa de buscar por imaginar que já encontrou. Deixa-se de ser sujeito, não há o que se escolher. 

FREUD, S. Obras Completas. Standad 14, Londres: Hogarth, 1980.
Platão. (2003). Fédon (M. Ruas, trad.). São Paulo: Martin Claret.
Platão. (2004). A república (P. Nassetti, trad.). São Paulo: Martin Claret.





Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor 
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Curso de Extensão – A Experiência do Narcisismo Primário

Curso de Extensão – 
A Experiência do Narcisismo Primário 
e Seus Desdobramentos no Desenvolvimento Mental

Prof. Renato Dias Martino
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