Mostrando postagens com marcador ilusão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ilusão. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

MATURIDADE, DÚVIDA E ILUSÃO - Prof. Renato Dias Martino


Quando funcionamos bem no âmbito emocional, torna-se possível exercer plenamente a função afetiva na relação com o outro.


Tolerar desconfortos é a base de um bom funcionamento emocional.

Desenvolvemos a capacidade de tolerância a partir de um vínculo bem-sucedido com o outro, e a possibilidade de estabelecer e manter um vínculo saudável depende dessa mesma capacidade.

O bom funcionamento emocional favorece o desenvolvimento da maturidade nessa esfera, onde certezas são impraticáveis.

Quanto mais desenvolvida for essa maturidade, maior será nossa capacidade de reconhecer, respeitar e nos responsabilizarmos por nossa ignorância em relação à realidade.


A maturidade emocional manifesta-se na capacidade de tolerar a dúvida; a estupidez, na insistência em certezas.

A ignorância é uma condição inerente a cada um de nós; a estupidez é a recusa em admiti-la. Não se pode exigir que alguém reconheça a realidade, nem censurar quem ainda se alimenta de ilusões.

Quanto ao reconhecimento da realidade, não há escolha: ou se está sendo capaz, ou não.

A saber, essa capacidade é transitória, depende do momento, das condições emocionais internas ou ainda das condições do ambiente emocional e afetivo.
Logo, a expressão “estar sendo capaz” é mais adequada do que a afirmação “ser capaz”.

Cada um compreende apenas o que lhe é útil. Não há como se libertar de uma prisão que não se reconhece como tal.

A transformação verdadeira brota do íntimo, quando a vida mescla dor e cuidado.

Quando as ilusões se desfazem e a insegurança emerge, o acolhimento do outro torna-se o sopro essencial para que o sujeito renasça.










quarta-feira, 30 de julho de 2025

HUMANOS – Diferentes, Desejando Ser Iguais - Prof. Renato Dias Martino



SER HUMANO 

A gente usa a palavra humanidade, muitas vezes, para trazer uma característica de compaixão, de amor de reconhecimento do outro, de respeito das fragilidades do outro. No entanto, quando a gente reconhece um ser humano nas suas características próprias, peculiares, a gente reconhece um animal extremamente nocivo para a natureza, extremamente nocivo para os outros exemplares da mesma espécie, ou seja, dos outros seres humanos. Ao mesmo tempo que a gente usa a palavra humanidade para trazer características nobres, o ser humano é um animal que naturalmente não é nobre. É um animal narcisista, é um animal que tem características extremamente desprezíveis. É o único animal que entrega a sua cria vulnerável aos cuidados de um desconhecido. Nenhum outro animal faz isso.

COMUNISMO 

O Freud coloca isso daí com muita clareza lá no mal-estar nas civilizações. Essa ideia de implementar comunismo é uma falácia. Todos os países que implementaram o comunismo, eles implementaram trazendo o povo para o nível mais baixo possível. E isso foi implementado justamente através de imposições de impostos até que o sujeito possa dar ao governo tudo que ele tem para que ele se iguale a todos e o mandatário vive no luxo. Não dá para implementar isso. O ser humano é narcisista. Não existe comunismo espontâneo. Todo comunismo é uma ditadura. Sem ditadura não existe comunismo. Ah! Mas Jesus Cristo queria a igualdade de todo mundo. Então Jesus Cristo era comunista? Não! Jesus Cristo nunca impôs nada. Todo regime comunista é através de imposição, senão você vai querer ter o seu através daquilo que você trabalhou para isso.

HORDA

Lá em 1921 Freud vai dizer: "O ser humano não é um animal de grupo ele é um animal de horda”. Ele chama a horda a primeira esfera o estrito ambiente familiar. Este é o único grupo que o ser humano naturalmente faz parte. Quando um dos filhotes ali, começa a crescer e ganhar certa autonomia, ele já precisa se desligar da horda para criar outra horda, porque senão este ser humano vai encontrar atritos conflitos ali. Ele vai precisar de uma série de evoluções, de crescimentos em relação à sua nobreza, para que ele consiga continuar ali dentro. Aprender a tolerar um monte de coisas para que ele consiga permanecer ali dentro. Caso contrário ele vai se desligar e criar outra horda. No entanto, o ser humano hoje está se distanciando cada vez mais da sua natureza. Inúmeras características, inclusive essa, ele não está conseguindo sequer configurar a sua horda. A horda que não é uma instituição não foi instituída, foi gerado. A instituição é aquilo que o sujeito cria. A família não foi criada ela foi gerada naturalmente. Muitas vezes, a gente tem esse hábito de chamar família de instituição. Não! Ela não foi instituída, ela foi gerada. 

GRUPO DE TRABALHO

O ser humano está em busca de grupos porque a horda não deu conta. O ser humano que conseguiu ter dentro da horda, cumprida as funções necessárias, ele não vai deixar de buscar grupos, mas ele vai buscar grupos de trabalho, grupos formais e grupos específicos de algum tema que esteja em pauta para crescimento. Não é um grupo emocional não é um grupo afetivo. É claro que a partir da instituição desse grupo de trabalho vão ser criadas relações afetivas, mas não foi isso que ele foi buscar.

DIFERENÇA 

Esse é o grande contrassenso. Esse é o grande paradoxo humano. Ele é muito diferente dos outros da mesma espécie, mas ele morre de medo dessa diferença porque ele deseja demais ser igual ao outro. Ele deseja fugir da sua diferenciação. Ele deseja usar a mesma camiseta que a atriz da novela usou. Ele deseja fazer a mesma tatuagem que o cantor fez. Ele deseja cortar o cabelo como o ator da novela cortou. Ele se padroniza para fugir da realidade de que ele é diferente porque isso causa uma insegurança enorme.

IGUAL 

Para que o sujeito possa reconhecer a si mesmo, aprender a respeitar a si mesmo e se responsabilizar por si mesmo, ele precisa abrir mão, ele precisa se desapegar da tentativa de ser igual ao outro, porque ele não é porque ele nunca vai ser. Não somos iguais. E nós precisamos aprender a respeitar o outro mesmo não sendo igual. Porque respeitar o outro sendo igual é muito fácil. Amar o outro sendo o outro igual é muito fácil. Mas, amar pressupõe diferença. Amar o igual não é amor. Aquele que ama o igual não aprendeu a amar. Ele só vai amar quando ele reconhecer que o outro não é igual.

POSSIBILIDADE 

Quando a gente está falando da diferenciação do ser humano, nós não estamos só falando de um ser humano ser diferente do outro. Nós estamos falando do sujeito ser diferente dele mesmo a cada dia a cada momento. Nós estamos em constante transformação. Nós nos julgamos definidos, mas nós somos processo nós somos possibilidades nós somos transformações o tempo inteiro. Ninguém é nós estamos sendo. E o sujeito que insiste em ser ele vai acabar adoecendo. O sujeito que insiste em obstruir a sua transformação porque conseguiu um status conseguiu um título e agora ele é aquilo ele está adoecendo.

ENVELHECER 

O sujeito, ele é enaltecido quando ele parece não ter mudado. Sabe essa coisa da pessoa te encontrar depois de muitos anos falar: "Nossa! Mas você não muda, né? Você não envelheceu”? E você se sente muito enaltecido. Você não se transformou. Isso é quase que um elogio. Nós não aprendemos a respeitar e nos tornarmos capazes de contemplar o envelhecimento, contemplar a transformação.

DISPUTA 

Todas as vezes que começa a haver ou uma ligação por identificação com o outro, que seja fixada e se prolongue para além sem que se desenvolva em outro tipo de vínculo mais nobre, ou quando existe o desejo do sujeito se tornar igual ao outro, logo vai se instalar uma competitividade, uma disputa, porque dois iguais vão disputar. Não há espaço para dois iguais. Onde há dois iguais, ou porque ele se identificou com o outro, ele força o outro ser igual a ele, ou porque ele quer se tornar igual ao outro, logo vai se instalar um conflito por disputa, por competição. Esse é um dos grandes danos desta experiência de se tentar se tornar igual ao outro ou tentar que o outro se torne igual a ele.

DOIS MODELOS 

Então, existem duas configurações. Existe a configuração da extensão da ligação por identificação, onde o sujeito procura pessoas iguais a ele porque ele não consegue se ligar as pessoas diferentes, existe a configuração onde o sujeito não conseguiu substância na sua essência, reconhecimento nas suas peculiaridades e ele acaba tentando se tornar igual ao outro, buscando características do outro para que ele seja igual ao outro, porque ele não confia na sua essência. Ele não confia naquilo que ele está sendo, ele não confia em si mesmo como referência, então ele procura grupos, ele procura pessoas influentes, líderes para que ele possa agir igual ao outro.

GRUPOS 

Chega a ser assustador o tamanho da aderência do sujeito que nunca teve um acolhimento, que nunca se sentiu integrante de nada, quando ele é acolhido por um certo grupo e ele começa a se identificar com aquilo. Ideologia de gênero, ideologia política, instituições religiosas... O sujeito se sente inseguro, é acolhido por um grupo e aí, ele começa a defender aquelas ideias e procurar argumentos para justificar as ideias do grupo, por mais absurdas que elas sejam.

RECONHECIMENTO 

Como é que se aplaca o desejo de ser igual? A partir de um vínculo bem-sucedido. Quando o sujeito pode ser reconhecido nas suas particularidades, quando ele pode aprender a se autorreconhecer nas suas particularidades, ele não vai ter essa ânsia de se tornar igual ao outro, porque ele foi reconhecido pelos pais nas suas peculiaridades e por ser reconhecido ele é capaz de reconhecer o valor de si mesmo, mesmo não sendo igual ao outro. Quando o sujeito é reconhecido, ele diminui drasticamente esse desejo de ser igual ao outro.

NECESSIDADE E DESEJO 

Muitas vezes, a gente usa a palavra necessidade inadequadamente. Ninguém tem necessidade de ser igual ao outro, nós temos o desejo de ser igual ao outro. Ninguém necessita ser igual ao outro. E o desejo é o desdobramento de algo que faltou por conta do não cumprimento daquilo que, no seu tempo precisava ser cumprido. Não foi cumprido a função de reconhecimento da criança, logo ela desenvolve um desejo de ser igual ao outro, porque começa a usar o outro como referência. Então, não é uma necessidade, é um desejo.

PARTES DO EU 

Não é só, não ser capaz de respeitar a diferença do outro, mas é não ser capaz de respeitar a diferença das partes que constituem a minha personalidade. Eu sou partes diferentes que se constituem num todo. Eu preciso respeitar as diferenças que constituem a mim mesmo, porque senão, eu vou me desintegrar e vou acabar projetando essas partes que são diferentes em pessoas externas. E criando um atrito, criando uma competitividade, um conflito com as pessoas do meu convívio.

IDENTIFICAÇÃO

Chega um momento na vida que o sujeito começa a se perceber diferente dos outros. Porque no início da vida, assim como Freud nos orientou lá no Psicologia das Massas e análise do ego, a identificação é a primeira forma de relação entre duas pessoas. Duas pessoas se relacionam em primeiro momento por identificação, ou seja, acreditando que são iguais, mas num certo momento ela começa a perceber que ela é diferente, diferente do outro, e isso causa uma angústia enorme.

LATÊNCIA 

Na primeira infância, ela vive uma relação por identificação com a mãe. Conforme ela vai se desenvolvendo, ela vai passando pelas fases. O Freud vai nos sugerir a fase oral, a fase anal e a fase fálica. Logo depois da fase fálica, o sujeito vai entrar num período da latência. Neste período da latência, o sujeito começa a criar mecanismos para se agrupar com aqueles que ele imagina ser igual. Turminhas de menino, turminhas de meninas, pelo menos dentro de uma configuração saudável. É isso que vai acontecer. Todos se vestem da mesma forma para que pareçam ser iguais. Todos gostam do mesmo tipo de música. Tudo igual, tudo equalizado para aplacar esta sensação desconfortável de se perceber e se reconhecer diferente do outro.

DIFERENTE DO QUE FOI

 Quando a gente fala de diferenciação, de dificuldade de lidar com as diferenças, a gente tá falando não só do sujeito ter dificuldade de lidar com a diferença do outro, mas a dificuldade do sujeito lidar com a diferença de si mesmo. a diferença das partes que constituem a sua personalidade e a diferença daquilo que ele reconhecia como realidade anteriormente e ele passa a reconhecer agora. Muitas vezes o sujeito tem uma dificuldade enorme de repensar a realidade, de reconhecer a realidade, de conhecer a realidade novamente. Ele se apega àquilo que ele tinha como certeza e não solta disso maneira alguma. Porque ele tem medo de se tornar diferente, diferente daquilo que ele era, diferente daquilo que ele pensava.

CORPO FÍSICO 

Esta dificuldade de lidar com a diferença também está implicada na materialidade do corpo físico. O sujeito tem uma dificuldade enorme de lidar com as diferenças quando isto vai ocorrendo na transformação do seu corpo físico. vai envelhecendo, as características do corpo vão mudando e o ser humano tem uma dificuldade tremenda de respeitar as transformações do corpo. Por isso, ele cria técnicas e técnicas e técnicas estéticas para que ele possa conservar o corpo como se estivesse jovem, mas não está.

AMOR-PRÓPRIO E BELEZA FÍSICA
 
O sujeito diz assim: "Vou fazer uma operação plástica para cuidar da minha autoestima, para que eu possa melhorar o meu amor-próprio". Não, meu amigo! Você está equivocado. Amor-próprio é independente da configuração material do seu corpo. Se você não ama a si mesmo, não existe operação plástica, não existe procedimento estético que vai fazer com que você passe a amar a si mesmo. Amar a si mesmo é independente de gostar de si mesmo, é independente de gostar da sua forma física.

IGUALDADE E EQUIDADE 

Igualdade. Tratar todos como iguais. Não, isso é um equívoco. Não somos iguais e não podemos ser tratados como iguais. Precisamos ser tratados com equidade. É tratar cada um na sua peculiaridade. Respeitar cada um em suas características próprias. Respeitando isso. Existe um abismo entre tratar com equidade e obrigar o outro a ser igual. Ninguém é igual. Criar a capacidade de equidade. Tratar o outro com igualdade é mais fácil do que tratar o outro com equidade. Tratar com igualdade é tratar todo mundo do mesmo jeito. Tratar com equidade é reconhecer o outro para respeitar o outro nas suas peculiaridades. E isso é para poucas pessoas.

IGUALDADE E FORÇA

A igualdade traz uma sensação de onipotência, traz uma sensação de força. Um grupo unido porque acredita que são iguais é um grupo forte. E aí, se esse grupo consegue eleger um inimigo externo, ele se torna mais forte ainda.

SEMELHANTE

Afinidade, tanto tem características iguais, quanto características diferentes. Diferente da igualdade que cobra uma característica idêntica do outro. A gente está falando aqui de obrigar o outro a ser igual. E o outro não é igual. O outro é semelhante. O outro é similar. Similar a uma coisa, semelhante a uma coisa, igual é outra. Um bom exemplo disso é a família, os integrantes da família, os integrantes da horda primeva, como diria o Freud, cada integrante da família tem a sua função. Cada integrante da família tem a sua característica diferente do outro. A mãe é diferente do pai, que é diferente do filho. Cada um tem sua característica diferente dentro da família. Todos somos diferentes para cumprir funções distintas, mas precisamos de afinidades. Precisamos estar afinados um com o outro. Precisamos ter concórdia. É importante que uma família esteja junto de coração. Concordes? Isso não é ser igual, é ser semelhante. 

ILUSÃO E IGUALDADE

O iludido tende a odiar o sujeito que é orientado pela verdade. O iludido normalmente tem a ilusão de ser igual aos outros, tem a ilusão da igualdade. E o sujeito que está orientado pela verdade assume a sua diferença em relação ao outro, reconhece as suas diferenças, aprende a respeitar as suas diferenças e se responsabiliza por ser diferente do outro. E este sujeito normalmente é odiado por aqueles que propõem a obrigação de ser igual. Isso é uma violência. O ambiente escolar desde o primeiro estágio, desde o prézinho, é extremamente tóxico nesse sentido. Obriga as crianças a serem iguais. 

ESCOLA

A maior parte das queixas dos professores, dos coordenadores, dos diretores da escola quanto as crianças é justamente quando essas crianças começam a manifestar a sua diferenciação em relação às outras. Ela começa a manifestar a sua diferença em relação às outras e os professores se assustam com isso, porque as crianças precisam ser todas iguais. As crianças precisam aprender o currículo proposto pela escola, todas iguais. As notas, os conceitos aplicados às crianças são todos iguais e elas precisam ser todas iguais. E isso é uma violência, porque ninguém é igual a ninguém. Cada um tem o seu tempo de aprendizado. Cada um se interessa por alguma coisa diferente. Cada um tem afinidade por assuntos diferentes. 

PARTE NEURÓTICA E PARTE PSICÓTICA 

Tanto a parte neurótica, quanto a parte psicótica têm essa tendência a repetição, a tendência a igualdades e uma tendência a igualdades que não admite diferenças. É uma equação, não é uma analogia. Analogia admite diferenças e igualdades. A equação não admite diferenças. Então, no neurótico, esta repetição é uma manifestação do desejo de que tudo seja igual. O neurótico se atrai pelo igual. O psicótico não se atrai pelo igual. Ele só admite o igual. Para o psicótico, o que está dentro e o que está fora é a mesma coisa. Se fora deixar de existir, dentro também deixa de existir. E se dentro existir, ele força que fora exista também. A alucinação é isso. Ele alucina com alguma coisa e ele realmente acredita que aquela coisa existe no mundo externo. E se alguma coisa do mundo externo não estiver presente fisicamente, ele não consegue sustentar internamente.

SOCIEDADE PSICÓTICA

A sociedade te cobra ser fielmente igual àquilo que ela propôs, aquele pressuposto social. Se você não for aquilo que a sociedade te obrigou a ser, você será desaprovado. E isso é uma experiência psicótica. esquizofrênica. Esquizo quer dizer separado, cindido, porque a sociedade tem inúmeras demandas e você precisa cumprir todas. Você precisa agradar gregos e troianos, por assim dizer. Isso faz com que você se torne vários. E esta fragmentação é justamente o que configura a psicose. Não há possibilidade de ser a mesma pessoa em âmbitos diferentes de demandas sociais. 

SOCIEDADE E DISSIMULAÇÃO

 Não há como desempenhar o “verdadeiro eu” no âmbito social. As relações sociais demandam falsidade, demandam dissimulações. E aí, é prudente que você seja cauteloso nesta vivência social. Porque a exacerbação da utilização do “falso eu” acontece em detrimento da saúde do “verdadeiro eu”. O “verdadeiro eu” carece do “falso eu” para protegê-lo. O uso saudável do “falso eu” é na proteção do “verdadeiro eu”. No entanto, uma vida social intensa faz com que você exacerbe, que você aumente, que você potencialize o “falso eu” em detrimento da saúde, do “verdadeiro eu”. Aquilo que está lá dentro acaba ficando empobrecido e sufocado pela casca extremamente enrijecida e grossa. 

ESTEREÓTIPO

A sociedade te cobra cumprir um estereótipo. Que que é estereótipo? É um tipo estéril. É um tipo que não gera nada. É um tipo que só serve para cumprir o seu papel social. Tipo é aquilo que serve de impressão. Antigamente, para fazer um livro, para fazer uma publicação, para fazer uma impressão, você fazia primeiro o tipo e aí, ia batendo aquilo no papel com tinta como um carimbo, onde todas as folhas iam ficando iguais. Então, este é o estereótipo que a sociedade te cobra. E se você não cumprir o estereótipo, se você não for idêntico a todas as outras folhas que foram impressas, você será desaprovado. 

FAZER A DIFERENÇA 

Coragem de ser diferente. Coragem de ser você mesmo. Coragem de não ser igual ao outro. Porque aquele que é igual ao outro nunca vai fazer a diferença. Você abre as redes sociais, todo mundo postando coisas iguais. Hoje a palavra é “trend”, ou seja, o modelo de vídeo que você tem que fazer para que você possa ser notado nas redes sociais. A musiquinha igual, a dancinha igual, a roupinha igual, o sorrisinho igual, a expressão igual, para que você possa ter palminhas, likes.

INCONSCIENTE COLETIVO

Para o Jung, inconsciente coletivo é uma matriz que é inata em cada ser humano. Cada ser humano vai nascer com essa matriz igual a todos. Então, nascemos com um inconsciente coletivo junto com o inconsciente individual. Este inconsciente coletivo é como se fosse espaços abertos, espaços que carecem de ser preenchidos por experiências da vida de cada um. Então, nascemos com um arquétipo de mãe, com arquétipo de pai, com arquétipo de herói, com arquétipo de bruxa e por aí vão se desdobrando arquétipos que vão constituir o que ele chamou de inconsciente coletivo. Neste inconsciente coletivo, todo ser humano é igual. No entanto, assim que ele nasce, ele começa a preencher este inconsciente coletivo de experiências particulares.

ARQUÉTIPOS

Toda cultura tem o herói, toda a cultura tem o líder, toda a cultura tem a mãe, toda a cultura tem o pai. Toda filogênese, por assim dizer, vai apresentar figuras icônicas que são arquétipos do constituinte coletivo inconsciente. Mas cada um vai preencher estes arquétipos conforme as suas experiências. Nós nascemos com uma expectativa inata de mãe, uma expectativa inata de pai, uma expectativa inata de herói, uma expectativa inata de princesa, de bruxa, de rival, de inimigo. Tudo isso já está impresso enquanto arquétipo no sujeito, naquilo que o Jung chamou de inconsciente coletivo.

MANDALA

O Jung vai falar que o inconsciente coletivo se estrutura como uma Mandala. No centro da Mandala tem duas partes, uma chamada ânima e outra chamada ânimus. Então, é uma parte masculina e uma parte feminina. A ânima vai representar o feminino dentro do ser humano, seja ele homem ou mulher, e ânimos, a parte masculina em cada ser humano, seja ele homem ou mulher. E desses dois arquétipos vão se desdobrando outros arquétipos, mãe, pai, herói, rival, inimigo e por aí vai.

INDIVIDUAÇÃO

Individuação para o Jung é justamente o preenchimento destas lacunas arquetípicas com experiências particulares. Conforme ele vai preenchendo isso, vai trazer para o sujeito aquilo que o Jung chamou de individuação. E na individuação, o sujeito passa a se diferenciar dos outros, que a princípio ele poderia ser igual no inconsciente coletivo, ainda carente de experiências.

MATÉRIA CÓSMICA

Segundo Heisenberg, que é um dos pensadores da física quântica, nós somos constituídos da mesma matéria cósmica. Todos nós somos constituídos da mesma matéria, mas somos configurados de maneira diferente. E na realidade, não só nós somos constituídos de uma matéria única, mas também os objetos do mundo. A natureza, a madeira, pedra, o diamante, qualquer coisa é feita da mesma substância, mas configurada de maneira distinta, maneira diferente. É sensato a gente pensar que somos feitos de uma única matéria configurada de maneira diferente.

TODOS SOMOS UM

Quando a gente consegue concordar dentro da perspectiva epistemológica, seja ela qual for o vértice, seja no místico-religioso, seja no estético-artístico, ou seja, no filosófico-científico, quando a gente tem essa possibilidade de concórdia, nós estamos integrados, onde todos somos um só e não necessariamente iguais. Para que a gente possa ser um só enquanto concórdia, nós precisamos nos reconhecermos diferentes. Somos unidos sendo um só. Isso não quer dizer que nós vamos nos confundir um com os outros.



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

VONTADE, DESEJO E TOLERÂNCIA - Prof. Renato Dias Martino



OBSTRUÇÃO

Um dos maiores fatores que obstruem a possibilidade de reconhecimento da realidade é a vontade, é o desejo do sujeito. Quando o desejo do sujeito, quando a vontade do sujeito sobressai a sua possibilidade de reconhecimento da realidade, quando o que o sujeito gostaria que fosse prepondera a disponibilidade do sujeito reconhecer a realidade.

DESEJO DO ANALISTA

 Dentro da clínica também existe esta obstrução. O desejo do analista obstrui a possibilidade do acordo que se pode estabelecer com a realidade. Quando eu falo de um acordo com a realidade, eu estou falando aqui da possibilidade de estar num vínculo real com o analisando, com o paciente. O analista deseja alguma coisa e este desejo turva a possibilidade do estabelecimento e da manutenção do vínculo saudável com o paciente. Não só dentro da clínica, em qualquer vínculo, o desejo do sujeito turva, polui o vínculo sincero que possa ser estabelecido entre as partes.

DÚVIDA COMO BÚSSOLA 

A função do analista não é, de maneira alguma, destruir a ilusão do saber do sujeito, mas é questioná-la. Eu preciso trazer o ambiente de questionamento, o ambiente de indagação, o ambiente com os terminais abertos, como o diria o Bion. Para que eu possa estar desobstruído na expansão da consciência. Para que isso aconteça, eu preciso ter a dúvida como bússola e não a resposta. A dúvida precisa ser uma constante, eu preciso ter uma conjunção constante com a dúvida e não me contentar com a resposta. Quando eu me contento com a resposta, morreu a experiência, saturou se a pesquisa. 

VONTADE OU DESEJO

A vontade é um elemento do id, da pulsão, daquilo que é o mais puro que o sujeito tem dentro do seu funcionamento emocional e afetivo. O desejo já é contaminado por um “deveria ser”, que está muito mais ligado ao superego do que ao id. O desejo é um elemento do id contaminado pelo super, logo já não tem mais a função da vontade, ou da necessidade básica, mas já está contaminado com um factoide externo, que vai trazer para ele uma configuração daquilo que ele deveria ter, deveria conseguir, deveria ser e já não está mais na configuração do id como pulsão.

INFLUÊNCIA DO OUTRO

A vontade é do sujeito, sempre do sujeito. Ninguém tem vontade pelo outro. Agora, o desejo é sempre do outro. O sujeito que deseja, deseja porque o outro desejou por ele. Eu desejo alguma coisa para que o outro me deseje. Eu desejo alguma coisa porque se eu conseguir esta coisa, eu conseguirei ser desejado pelo outro. A vontade é básica! A vontade é necessidade básica, é meu, é algo que eu preciso. O desejo é alguma coisa que foi contaminado pela influência do outro.


MIRAGEM

Quando você está com muita sede, você pode enxergar aquilo que você precisa, ou aquilo que você deseja, ou aquilo que você quer que seja e não aquilo que realmente é. Então, uma pedra, quando eu estou com sede no deserto, pode ser vista como um oásis, por conta da minha vontade. Então, a minha vontade turva o reconhecimento da realidade. A vontade que está caracterizada na sede do sujeito que está no deserto, faz com que ele, a partir da visão de uma pedra, acredite ser um oásis. Então, ele não consegue reconhecer a pedra como pedra porque a vontade dele, a necessidade de se hidratar faz com que ele enxergue aquilo sendo um oásis.

DESEJO DO OUTRO

A diferenciação da vontade com o desejo é muito difícil. Estão sempre misturados. Dificilmente você consegue uma clareza. Só pode ser percebido no bebê, na terra infância, na primeira infância, quando ele ainda não consegue distinguir ele do outro. Tudo que ele manifesta é vontade, é necessidade básica. A partir do momento que ele começa a perceber que existe outro além dele, ele começa a desenvolver o desejo. O desejo que esse outro o deseje. Então, vontade é necessidade básica e desejo vem justamente da influência do outro, quando ele desenvolve o desejo de ser desejado, ainda assim, a vontade está implicada, porque a vida dele está subordinada ao desejo do outro. Eu só sobrevivo se o outro me desejar. Então, eu desejo que o outro me deseje.

RENÚNCIA 

Importa o que você precisa, o que é necessário! Se você estiver suprindo aquilo que é necessidade, que aí a gente não vai chamar de desejo, vai chamar de vontade, quando isto tudo tiver suprido de uma maneira bem-sucedida, todos os desejos vão se rebaixar automaticamente. Você passa a conseguir renunciar dos desejos porque você vai percebendo que esses desejos não tinham importância, porque, na realidade, eles estavam servindo como um substituto de uma vontade que não pode ser suprida no seu tempo. Quando o sujeito começa a suprir as suas necessidades, aquilo que ele precisa, ele passa a ser capaz de renunciar dos desejos.

SUBSTITUIÇÃO

Cada desejo é uma tentativa de substituir a o suprimento de uma vontade que não pode ser suprida no seu tempo adequado. Quando o sujeito, por exemplo, não pode suprir uma vontade básica, ele desenvolve um desejo. Ele passa a eleger um objeto substitutivo que vai chamar desejo, objeto de desejo.

CERNE

Aí, ele consegue todos esses bens, ele consegue juntar dinheiro, ele consegue um carrão e ele começa a perceber que isso não adianta nada. Por isso o desejo é uma cilada. O desejo nunca é satisfeito. Por mais que você satisfaça o seu desejo, o cerne, aquilo que gera o desejo é a vontade não satisfeita no tempo adequado e de forma adequada.

SABER

Saber o que faltou originalmente é irrelevante. Não importa o que faltou, porque o que faltou, faltou lá atrás. Não tem mais como suprir. Hoje ele pode estabelecer vínculos afetivos saudáveis que possam trazer para ele, não aquilo que faltou, mas uma possibilidade de reparação emocional e afetiva que possa trazer para ele um bom funcionamento nesse nível. O estabelecimento de vínculos saudáveis de vínculos bem-sucedidos vai trazer para ele a possibilidade de preparação do funcionamento.



domingo, 2 de fevereiro de 2025

IMAGINAÇÃO, VINCULO E REVOLTA - Prof. Renato Dias Martino


ANALISABILIDADE

Analisabilidade. O que a gente chama de analisabilidade? Tecnicamente, a gente poderia dizer assim a capacidade do paciente de estabelecer uma transferência positiva, uma cooperação com o analista para o progresso do processo psicoterapêutico. Mas, para isso ele precisa ter tido o mínimo de experiências bem-sucedidas na vida dele. ele porque se ele não teve experiências bem-sucedidas minimamente, ele não tem elementos para projetar no analista como esperança de evolução, de crescimento. Então, ele precisa ter isso. E aí é que entra a ideia de que a psicanálise está aí para todo mundo, mas nem todo mundo está aí para a psicanálise. A gente precisa quebrar essa ideia de que a psicanálise cabe em qualquer situação. Não! Ela não cabe em qualquer situação. Ela cabe na situação onde houver a capacidade do paciente de cooperar com o processo. E para isso ele precisa ter vivido algumas experiências que antecederam aquela experiência da análise.

CONJUNÇÃO CONSTANTE

Muitas vezes, o analista, principalmente o sujeito que está iniciando a sua carreira, pode cair numa cilada no sentido de que, muitas vezes o paciente pode não aderir ao processo. Muitas vezes, o paciente não consegue não tem a capacidade para cooperar com o processo, ou seja, não tem analisabilidade e o aspirante analista, ou aquele que está iniciando a sua carreira, pode começar a questionar a sua capacidade enquanto analista. Mas quando a gente fala de psicanálise, nós estamos falando de vínculo, nós estamos falando das duas partes. Precisa haver uma cooperação mútua. Precisa haver aquilo que o Bion chamou de conjunção constante continente contido para que alguma coisa possa acontecer.

ACOLHIMENTO

O acolhimento é vínculo. Você só pode acolher alguém que esteja disponível a ser acolhido, porque se ele não estiver disponível, isso que você está tendo com ele não é acolhimento. E se ele não estiver disponível a ser acolhido, ele não tem analisabilidade, ele não pode ser submetido à psicoterapia dentro da perspectiva da psicanálise.

PROMESSAS 

É uma capacidade do sujeito. Um sujeito que tem analisabilidade não vai aderir a processos rasos, ou tentativas de promessas milagrosas de cura, ou qualquer coisa nesse sentido. Porque, na verdade, ele está de acordo com a realidade o suficiente para perceber que isso tudo é uma mentira.

VULNERÁVEL

É muito interessante a gente pensar que, aquele sujeito que passa a ser influenciado, ou por instituições religiosas, ou por promessas políticas de benefícios ilusórios, são justamente aquelas pessoas que não tiveram um lar bem estruturado. Esses são vulneráveis a essa influência que venha de religiosos políticos e de instituições que venham trazer ali, promessas fantasiosas.

TRÍADE SIMBÓLICA 

Cria-se aí então, uma tríade simbólica e esta tríade que eu vou dizer agora nada tem a ver com a proposta da tríade do Lacan, da Tríade lacaniana da qual eu não tenho conhecimento qualquer. Mas nós estamos falando aqui de uma tríade onde existe um real concreto, um real imaginário e um real simbólico. Então, o real concreto é aquele que engloba apenas e tão somente o corpo físico, o fisiológico. A necessidade física. Então, o bebê tem a necessidade fisiológica do corpo da mãe. O corpo do bebê precisa do corpo da mãe. È uma realidade concreta é uma fome real e concreta que precisa de um seio real e concreto. Esta realidade concreta, esta dimensão concreta vai se desdobrar numa realidade imaginária. O bebê precisa do seio real concreto da mãe, ele encontra esse seio, cria um referencial, uma referência desse seio e na próxima vez que ele precisar desse seio, que ele sentir fome, por exemplo, ele vai imaginar esse seio. Então, eu tive a realidade concreta, passo a ter então uma realidade imaginária. Imaginar o seio que um dia eu experimentei de maneira concreta, física, material. Se essa experiência que eu tive com o seio material, físico, concreto, foi bem-sucedida, a realidade imaginária, o real Imaginário vai abrir espaço para o real simbólico. Ou seja, eu vou conseguir internalizar o seio que eu experimentei de forma concreta, que eu imaginei e agora ele está internalizado, ou seja eu simbolize o seio.

SEIO

Nós usamos a palavra seio, mas a palavra seio é um ícone de qualquer objeto em que se desenvolve uma experiência afetiva. Ser capaz de pensar o objeto que se ama dispensa a confirmação sensorial deste objeto.

REMÉDIO OU VENENO

A substância vai ser um remédio ou um veneno dependendo da dosagem. No filme A VIDA É BELA, o pai mente para o filho o tempo inteiro. Ali mentira foi fundamental para que o filho pudesse tolerar a situação.

DESILUSÃO

Normalmente, a gente tem a ideia de que a função do analista, a função da psicanálise é de desfazer ilusões, de destruir ilusões, quando na verdade, é o contrário. A função da psicanálise a função do psicanalista é aquela de, junto com o paciente, ir, a conta gotas, se desiludindo. Mostrar para o paciente que ele não precisa desfazer das suas ilusões porque alguém está dizendo para ele que aquilo é ilusão. A função da psicanálise é estar junto do paciente até que ele consiga entrar num acordo com a realidade, ser capaz de se desiludir e não destruir Ilusões.

REVOLTA

Quando você tenta desiludir alguém, ele pode se revoltar. E o que que é revoltar? É dar uma volta em falso. É re-voltar. Então, o revoltado é aquele que fica correndo assim como um cachorro atrás do próprio rabo Este é o revoltado porque não tolerou a desilusão como é que trabalha a espiral a espiral trabalha através de voltas que vão se alargando num eixo horizontal Cada Volta o sujeito alarga um tanto e caminha outro tanto no eixo horizontal O que é que vai propiciar a possibilidade de alargamento da volta e expansão no eixo horizontal é justamente o vínculo afetivo se não há vínculo afetivo o sujeito fica na revolta E aí ele dá uma volta em falso quando ele consegue este vínculo afetivo quando ele é acolhido ele consegue expandir uma volta a mais na espiral progressiva

ALUCINAÇÃO CIENTÍFICA 

O sujeito está envolvido e fixado nas imaginações, nas fantasias, porque na verdade não teve uma relação bem-sucedida com a realidade, não conseguiu estabelecer um acordo com a realidade. Então, ele passa a afirmar as suas fantasias como realidade e passa a criar um sistema dedutivo teórico racional para justificar aquela sua ideologia. E é mais maluco ainda quando isso atinge as prateleiras acadêmicas, quando isso vira ciência, quando o sujeito começa a afirmar dentro de estudos científicos que aquela configuração alucinada que ele afirma tem embasamento teórico, porque ele se juntou com mais meia dúzia, sessenta, seiscentos outros iludidos e alucinados que afirmam a mesma coisa, dentro do ambiente acadêmico. Isso se chama “alucinação científica”.

SABER PENSAR

Por isso é importante a gente desenvolver a capacidade de pensar de pesar e não engolir conhecimentos goela baixo que foi dito pelo outro porque o outro é doutor. Que é o que o meio acadêmico faz, estabelece um certo e errado e te obstrui de avaliar o que é falso e verdadeiro. É justamente o que a psicanálise se propõe a se opor. A função da psicanálise é pensar, pesar e não conhecer, saber. Então, quando o sujeito é convidado para dar uma palestra de psicanálise, ele não vai ali para levar conhecimento, ele não vai ali para promover o saber, ele vai ali para pensar junto.

REPENSAR 

O abismo que existe entre saber e pensar. Cada vez que eu penso novamente, cada vez que eu penso melhor alguma coisa, eu coloco em xeque, eu coloco em jogo tudo aquilo que eu imaginava saber. Porque eu estou repensando. Será que é assim mesmo? E é o que a gente faz aqui isso aqui. Não é um espaço do saber, não é um espaço do conhecimento, é um espaço do pensamento.

PENSAMENTO FRIO

Nós vemos aí agora cursos de psicanálise aprovados pelo MEC. Impossível, gente! A não ser que seja essa psicanálise lacaniana, aí talvez, pode ser que seja, porque é acadêmica, porque é intelectualizada, porque vira uma equação, porque vira uma conta matemática, que você soma “lé” com “cré” e dá “ré”. Pensamentos frios calculados.

DO IMAGINAR AO PENSAR

a gente não pode esquecer que a imaginação a ilusão é um protop pensamento sem a ilusão não pode haver pensamento é a partir da ilusão que o sujeito pode vir a pensar primeiro ele se ilude depois ele pensa o sujeito que foi cerceado em sua ilusão o sujeito que foi tolhido que foi privado das suas imaginações é um sujeito que não aprendeu a pensar

ILUSÃO CRISTALIZADA 

Se a gente pudesse pensar no que definiria uma ilusão saudável ou uma ilusão tóxica, uma ilusão que não fosse saudável, o aspecto fundamental para essa definição é a cristalização, a impossibilidade de transformação. Quando, a ilusão está disponível a ser transformada ela é saudável. Quando ela está cristalizada engessada ela é nociva.

RACIONALIDADE

Vai pela razão! Seja racional! Muitas vezes, isso traz uma conotação de que se o sujeito for pela razão, ou for racional, ele vai conseguir uma decisão acertada e é justamente isso. Ele vai conseguir uma decisão acertada. Mas isso não quer dizer que ele esteja de acordo com a realidade, porque muitas vezes a ilusão pode fazer com que o sujeito crie um sistema dedutivo teórico racional que vai justificar aquela ilusão. Não é porque ele tem razões que ele não esteja iludido. Muitas vezes, o sujeito que está com a razão pode estar muito mais iludido do que o outro que talvez não esteja com a razão. A racionalidade não garante o acordo com a realidade.

DECISÃO OU ATITUDE 

Tomar uma decisão é uma coisa, tomar uma atitude é outra. Decisão quer dizer cindir do todo. A decisão, quando ela é tomada, ela é tomada excluindo o todo. De-cisão = separação! Atitude é uma ação. Decidir é uma coisa, avaliar e tomar uma atitude é outra. Quando você está de acordo com a realidade, você não precisa decidir nada, é só você avaliar a realidade e tomar uma atitude conforme esta avaliação. Decidir, ou tomar atitude. Tomar atitude a partir da avaliação é para quem está de acordo com a realidade, decisão é para aquele que está parcialmente desejando alguma coisa.

ADULTO ILUDIDO

O adulto que está iludido e insistindo nas suas ilusões, muitas vezes criando racionalidades racionalizando para justificar as suas ilusões é um sujeito que não pode viver essas ilusões no tempo adequado. Ou seja, na sua infância. Por que que ele não pôde? Porque ele não foi resguardado pelo pai, pela mãe, pela família, que pudesse trazer para ele, um espaço lúdico para que ele vivesse essa ilusão. Então ele carrega essa ilusão para a vida adulta e inadequadamente ele tenta implantar esta ilusão nos lugares mais sensíveis.

A BOLHA

A gente vê bastante hoje no discurso popular a ideia da bolha e a bolha, ela é um modelo muito interessante, porque ela protege o sujeito, mas, ao mesmo tempo, ela aprisiona o sujeito. Ele está aprisionado dentro da bolha que supostamente o protege. Mas a bolha o protege ilusoriamente, porque a película da bolha é extremamente vulnerável. Qualquer coisa fura. O sujeito, quando está dentro da bolha, ele não tem consciência de que ele está dentro da bolha, ele acredita que o universo é a bolha. O universo de Ilusões que ele vive é a bolha. E ele ignora aquilo que existe para além da bolha. Agora, a função do psicanalista não é estourar a bolha, é acolher o sujeito que percebeu que existe uma vida fora da bolha. O psicanalista precisa ser capaz de transitar dentro e fora da bolha.

ASFIXIA 

Quanto mais a bolha protege, mais perigosa ela se torna. Porque fica intransponível, a película. Quanto mais ela te proteger, menos ela permite a troca interna e externa e um sujeito que está dentro de uma bolha com uma película espessa, ele corre o risco de ser asfixiado.