Não é intuito aqui de julgar
quem praticou o aborto, condenar quem praticou, ou punir. Não é nossa função
essa, mas é a função refletir sobre isso.
HUMANO INCOERENTE
Muito se fala que essa liberação acontece é
porque até doze semanas não é uma vida, até então é alegado, para defender a
liberação do aborto. No entanto, é muito interessante que, quando o homem
encontra uma bactéria, por exemplo e num outro planeta, esta bactéria é uma
vida. Uma bactéria no outro planeta é uma vida, um feto com doze semanas não é
vida. Incongruente, isso. Outra questão muito interessante é que, se você, por
exemplo, mexer num ninho de tartarugas, ou ainda, se você mexer numa muda de
algumas espécies de orquídeas raras, você pode ser preso e uma prisão
inafiançável. Mas, mexer numa vida no ventre da mãe pode ser liberado. As
incoerências dos seres humanas. O sujeito que o boizinho que ele criou desde
bezerrinho estava doente e ele gastou um dinheirão e conseguiu um veterinário
que por fim conseguiu curar o seu bezerrinho. E aí, ele ficou contente que seu
boizinho estava curado e foi comemorar com a sua família numa churrascaria.
Este é o ser humano e as suas incoerências.
PARADIGMAS
Eu não acredito que a lei
possa fazer um sujeito melhor. Não acredito que liberar, ou não liberar, o
aborto vá fazer pessoas melhores ou piores. O que faz o sujeito melhor, ou
pior, são as experiências emocionais-afetivas que ele pode viver. Isso é claro.
Agora, quando a gente tem uma instância do governo, uma instância superior, uma
instância que tem esta função de administrar as leis de um país que é conivente
com o assassinato de crianças no ventre da mãe, aí a gente começa a ter uma
configuração muito delicada dentro do âmbito de um caos que vai se instalando e
uma permissividade nos estágios de paradigmas que a gente vem assistindo na
sociedade se desmoronando. Elementos que são proibidos, que são reprovados,
passam a ser tolerados e aos pouquinhos vão sendo negociados, e acabam sendo
aceitos. Acabam sendo aprovados por lei. E aí, talvez o próximo passo seja a
imposição social disso. A mulher que não abortar, agora vai ser olhada com
estranheza pela sociedade. Porque ela permitiu que o filho nascesse e não
abortou.
ÉTICA, FAMÍLIA E VIDA
Levantar a questão da
liberação do aborto é, antes de qualquer coisa, um sinal da falência da
família. Não existe aborto dentro de uma estruturação saudável da família. Não
se cogita viver essa experiência onde há uma mãe suficientemente boa, um pai
que seja capaz de cumprir a sua função paterna de maneira saudável, não tem
espaço para aborto. Ou seja, onde existe uma família bem estruturada, existe
ética. O que que a gente entende como ética? Eu não faço mal para o outro
porque eu não faço mal para mim mesmo. Eu faço bem para o outro, eu respeito o
outro, porque eu respeito a mim mesmo, eu faço o bem para mim mesmo. Este é o
princípio da ética. Mas, faltando a ética, nós ainda temos a chance de nos
organizarmos como sociedade pela moral. O que é a moral? Eu não faço mal para o
outro, porque eu não quero que o outro faça mal para mim. No entanto, quando a
gente vê esse tipo de lei liberando o aborto, a gente está vendo também a
falência da moral. E aí, não sobra nada... A família se desestruturou, não posso
contar com a ética, as leis se desestruturam, eu não posso contar com a
moral... Eu vou contar com o quê?
DEPRESSÃO PÓS-ABORTO
Uma situação que acontece
depois que uma mãe teve o seu bebê que a gente chama de depressão pós-parto.
Toda mulher, dentro de uma cota, vai experimentar de certa depressão após o
parto. Não só, toda mulher, mas todo ser humano que realiza alguma coisa, sentirá
uma depressão pós esta realização. Todas as vezes que você realiza alguma coisa
e se responsabiliza por aquilo que você realizou, a sua vida não vai ser mais
como era antigamente. Uma mãe nunca mais será como era antigamente. Uma parte
dela, uma parte das expectativas, uma parte dos desejos, uma série de elementos
que constituíam a sua vida, vão ter que ser renunciados a favor daquela vida
que nasce e isso impreterivelmente causa depressão. Existe, então, uma cota de
depressão pós-parto em cada mãe e em cada ser humano dentro da perspectiva de
filhos que nascem. Não efetivamente o filho biológico que nasceu ali, mas um
livro que você escreve, uma realização que você faça... Agora, vocês imaginem
como é que deve ser a depressão pós-aborto. Como será a relação dela com ela
mesma? Qual é o tamanho do estrago que isso causa no desenvolvimento
emocional-afetivo numa mulher e em todas as pessoas que vivem com ela?
RENÚNCIA E ABORTO
Cada caso é o caso, não é um
caso, e precisa ser cuidado e acolhido de maneira cuidadosa, sem comparações,
ou tentando generalizá-los. Estamos tratando aqui de uma instância superior que
tenta legalizar uma prática de aborto, nós estamos falando aqui de uma
configuração social que não é capaz de tolerar desconfortos, que não é capaz de
renunciar de desejos e que não é capaz de se responsabilizar por si mesmo. Não
é capaz de perceber que, muitas vezes aquele filho que está no ventre desta
pessoa pode trazer para ela a possibilidade de crescimento, de aprender com
aquela experiência e crescer a partir daquele filho que está nascendo. Mas vê
este filho no ventre como uma coisa ruim, que obstruir a sua vida, que vai
obstruir a realização dos seus desejos. O filho não é uma vida que está ali
sendo gerada e vai nascer, o bebê é uma coisa ruim, que vai obstruir a sua
vida. Somos cada vez mais despreparados para renunciarmos dos nossos desejos,
para vivermos a vida dentro do seu fluxo natural daquilo que vem e que nos pede
a responsabilização.
RESPONSABILIDADE DE DOIS
Não há como responsabilizar a
mulher pelo aborto, porque este filho que está sendo gerado foi fruto do
encontro entre um homem e uma mulher e os dois têm responsabilidade para com
isso. Existe a responsabilidade de dois naquilo que foi feito em dois.