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segunda-feira, 10 de março de 2025

ESCOLHA, DECISÃO E RESPONSABILIZAÇÃO - Prof. Renato Dias Martino


UMA CONFIGURAÇÃO MAIOR

Vamos refletir então, sobre três conceitos: escolha, decisão e responsabilização. Não existe escolha! Ninguém é capaz de escolher dentro da realidade. Quando a gente está escolhendo, a gente está iludido. Porque existe uma configuração muito maior que nos conduz para aquele caminho que é um só. Você pode se iludir que esteja escolhendo, mas na verdade, aquilo que você está chamando de escolha é uma determinação de uma configuração maior que te levou para aquele caminho. E aí, você vai dizer: “Então, se eu não escolhi, eu não vou me responsabilizar”. É aí que entra a maturidade. Ser capaz de se responsabilizar mesmo não sendo você que escolheu. Se responsabilizar por alguma coisa acreditando que foi você que escolheu é muito fácil.

SEM ESCOLHA

Quando a gente fala de algo maior que determina aquilo que a gente chama de escolha, nós vamos desde a questão do inconsciente que vai nos levando para uma direção sem que a gente tenha ciência de porque nós estamos caminhando nessa direção, até uma configuração do universo que se desdobra e que se articula fazendo com que a gente caminhe numa direção determinada. Então, a realidade é uma só e você está caminhando na realidade, por mais que você não tenha consciência disso. Nós estamos falando desde a configuração do inconsciente, ou seja, fatores que vão se articulando dentro da sua vontade e dos seus desejos que foram vontades reprimidas e que hoje você faz essas escolhas, que você chama de escolha, por conta disso que você não tem total consciência, ou seja, por conta da configuração da natureza, ou do todo que vai se desdobrando, vai se articulando para que você siga um caminho. Desde a coisa mais interna, até a coisa mais externa.

AMOR E ESCOLHA

Muitas vezes, a gente tem essa expressão: “Eu te escolhi”, como uma declaração de amor, mas a real declaração de amor é assim: “Eu me responsabilizo e te amo mesmo sem ter te escolhido”. Amor é aprendizado. Quando eu supostamente escolhi o meu companheiro, eu não tinha qualquer vivência com ele, aí é fácil escolher, mas depois que você convive com a pessoa, que você reconhece as falhas da pessoa, é que é a questão de desenvolver a capacidade de amar esta pessoa.

AVALIAR

Quando você está de acordo com a realidade, não existe escolha, o caminho é um só. Existe uma avaliação avaliar. O caminho que está mais de acordo com a realidade. Não é escolher, é avaliar o caminho que é real, que é verdadeiro. Porque todos os outros são Ilusões.

CAPACIDADE

Quando a gente fala, então do âmbito emocional-afetivo, a gente está falando de capacidade, ser capaz ou não. Se o sujeito é capaz, ele não tem escolha. Amar por exemplo, respeitar por exemplo, o sujeito que tem capacidade de respeitar, ele não escolheu respeitar, ele é capaz de respeitar e se se ele for realmente capaz de respeitar, ele não vai conseguir desrespeitar, porque ele é capaz de respeitar e este respeito faz parte do funcionamento emocional dele. Então, não é uma escolha. Amar é da mesma forma, o sujeito que é capaz de amar, ele não escolheu amar, ele é capaz de amar e se ele for capaz de amar, ele não pode escolher não amar.

FORMULAÇÕES RELIGIOSAS 

Se eu puder me utilizar das formulações religiosas, então fica mais interessante. A vontade é dEle, não é minha. Muitas vezes, quando a gente reza o Pai Nosso e diz assim “seja feita a vossa vontade”, a gente tem a impressão de que nós estamos abrindo mão de nossa vontade para que a vontade dEle possa ser feita. Ou seja, eu deixo de escolher para que a vontade dele seja feita É como se eu tivesse autorizando Deus, para que ele possa exercer a sua vontade, quando na realidade isso, é um absurdo. A vontade dEle já está sendo feita. Quando você acredita que você está escolhendo, você está iludido. Toda escolha é um desvio do caminho de Deus. Toda escolha te conduz ao Karma e obstrui o caminho do Dharma.

O EGO NÃO É SENHOR DA SUA CASA 

O Freud vai dizer lá em UMA DIFICULDADE NO CAMINHO DA PSICANÁLISE 1917: “O ego não é senhor da sua casa”. O ego não escolhe. A escolha vem de alguma coisa que o ego não tem relevância. As escolhas são uma configuração do id e do superego. Ainda assim, a função do ego é se responsabilizar por isso. Aquilo que faz com que eu caminhe em uma direção não vem da minha consciência. Ninguém escolhe aquilo que deseja, o sujeito deseja e depois tenta reconhecer isso que ele desejou.

DE-CISÃO 

Nós adoramos falar que a gente decidiu, que nós tomamos uma decisão. Isso traz para gente assim, uma onipotência, um poder. Eu decidi! Quando você decidiu, você fragmentou a realidade, você dividiu a realidade, você desintegrou a realidade e se desintegrou junto com a realidade. Decisão quer dizer cortar. De quer dizer cortar e cisão reafirma este corte, esta separação. A minha capacidade de reconhecer a realidade não vai me fazer decidir, vai me fazer avaliar. Avaliar qual é o caminho adequado. E aí, não é uma decisão. Na melhor das hipóteses é uma atitude. Tomar uma atitude de caminhar nesse caminho do qual eu avaliei como verdadeiro e não é decidir. Eu não decido nada. Quem decide é a realidade. Se é que a gente pode chamar de decisão, porque quando a gente toma o caminho da realidade, o que acontece é uma integração, não é uma decisão. Eu estou integrado ao todo, eu estou integrado a mim e ao todo, logo não tem cisão alguma.

HUMILDADE

Para que eu possa admitir que não existe escolha, antes eu preciso ter desenvolvido a humildade. A capacidade de tolerar a minha pequenez frente ao universo, frente à configuração da vida. A minha vulnerabilidade frente às experiências da vida, que não existe escolha. A questão a questão mais complicada é essa. A gente se sente extremamente inseguro quando a gente admite que não existe escolha.

AMAR O IGUAL

Então, o sujeito diz assim: “eu escolhi a minha esposa”. Quando você escolhe uma pessoa, você está baseado na superfície. Você está baseado naquilo que aparenta ser, não naquilo que realmente está sendo. Você escolhe por algo que você imagina ser e não por aquilo que realmente está sendo. Se responsabilizar mesmo que não seja aquilo que você imaginou ser. A maturidade é se responsabilizar pelo que está sendo, mesmo que não coincida com aquilo que você gostaria que fosse. Quem ama só o igual ainda não aprendeu a amar.

CRIME

Que o bandido escolheu ser bandido. O ladrão escolheu ser ladrão. O sujeito violento escolheu ser violento. Não! Ele não escolheu ser violento. O fato dele ser uma vítima da contingência, da sociedade, ou da família que falhou, não quer dizer que ele não tenha que ser detido. Ele precisa ser detido. Ele precisa ser preso, porque ele é um perigo pessoas e a ele mesmo. Isso não quer dizer que foi ele que escolheu aquilo. Ele não escolheu! Ninguém escolhe isso. Mas o fato dele precisar ser detido não tem a ver com ele escolher ou não. Foi toda uma configuração que levou esse sujeito a cometer aquele crime. Isso não justifica mantê-lo solto. E não é puni-lo, é detê-lo, para que ele não continue fazendo o que ele fez.

PEDOFILIA

Vou dizer outra polêmica que é a questão da pedofilia. A pedofilia é uma patologia. Ninguém escolhe ser pedófilo. E ao dizer isso não estou passando pano para os pedófilos, pelo contrário defendo a castração química para barrar esse sujeito de continuar fazendo isso. Porque ele não escolheu. Não existe qualquer medida que possa ser aplicada para que ele deixe de fazer este ato perverso que não seja obstruía libido. Mas isso não quer dizer que deixou de ser uma patologia. É uma patologia, não é uma escolha. Ninguém escolhe ser perverso. É uma configuração da personalidade dele, permeada de falhas no suprimento das funções maternas e paternas, que o levou a esta conduta perversa. Não estou defendendo ninguém.

MATURIDADE 

A gente tem essa onipotência de eu escolho, eu decido, eu resolvo e eu só vou me responsabilizar se isso for verdade, porque se não for verdade então não vou me responsabilizar. É justamente o contrário! A maturidade é se responsabilizar pela vida, mesmo não sendo eu que escolho, mesmo não sendo eu que decido, mesmo não sendo eu que resolvo. A maturidade emocional me traz a possibilidade de me responsabilizar pela vida, pela realidade, por mim inserido na realidade, não somente por aquilo que eu acredito que foi a minha escolha, até porque, não existe escolha. A vida não está nem aí para os seus planos, ninguém escolhe a vida que vive, a gente vive aquilo que dá conta de viver, que foi possível.


domingo, 29 de setembro de 2024

DESAPEGO E VONTADE - Prof. Renato Dias Martino


DESAPEGO


Toda a configuração da prática do desapego, e quando eu falo prática do desapego aqui, nós estamos falando diretamente do intuito da própria psicanálise, porque a psicanálise propõe essa ideia de se desapegar. São inúmeras formas de se dizer isso, uma delas por exemplo está proposta lá em 1917 no LUTO E MELANCOLIA, que é ser capaz de viver o processo do luto e aqui nós estamos chamando de desapego. Então, a proposta do desapego coincide com a proposta psicanalítica. Esta proposta tem um desafio que é a vontade. A vontade que, na medida em que não é satisfeita no seu tempo, na medida que não é cumprida, suprida no seu tempo adequado, vai se desdobrar em desejo. Um sujeito que está saudável, que está funcionando de maneira saudável é aquele que é capaz de se desapegar, é aquele que é capaz de renunciar dos seus desejos e capaz de adiar suas vontades. Isso se configura num fluxo do desenvolvimento emocional e afetivo.


VONTADE


Quando a gente fala de vontade, a gente está falando daquilo que ao mesmo tempo que é a manifestação da vida, também é aquilo que pode obstruir o próprio fluxo da vida. Muitas vezes, a manifestação da vontade atenta contra a própria vida do sujeito. Ele, muitas vezes, está com tanta vontade que ele, por si só, pode se colocar em uma cilada. Um Bom exemplo disso é quando a molecadinha, lá no sítio, arma uma arapuca para pegar passarinho. A arapuca está cheia de milho para que o passarinho possa se alimentar e é justamente a vontade de viver que leva o passarinho buscar o milho. E esta vontade de viver faz com que ele caia na arapuca. Então, a vontade de viver é também aquilo que leva sujeito, muitas vezes, para a própria morte.


DESEJO


Essa ideia do desejo, ela é extremamente polêmica, principalmente dentro de outras escolas aí, por exemplo, dentro da escola lacaniana. Vou ser bem sincero, tenho um conhecimento extremamente limitado das propostas do Lacan, mas me parece que ele trata, os lacanianos tratam da ideia de desejo diferente da forma como nós tratamos aqui. Nós tratamos aqui o desejo como algo que não é necessário, mas que ainda assim, o sujeito quer. Então, quanto mais o sujeito for capaz de se desapegar, renunciar desse desejo, mais ele vai estar de acordo com a realidade, que está configurada naquilo que é necessário.

NECESSÁRIO


A vontade é genuinamente do sujeito. O sujeito tem vontade de alguma coisa e isso diz respeito à sua necessidade básica. O desejo diz respeito à interferência, ou a contaminação do que o outro quer. Então, vontade é básica, a vontade se manifesta através do corpo, por conta de necessidades básicas. E aí, o Schopenhauer nos orienta muito bem, lá no MUNDO COMO VONTADE DE REPRESENTAÇÃO. O desejo já é algo que se elegeu um objeto substitutivo para tentar suprir algo que não foi adequadamente suprido no nível da vontade.


REPRIMIDO


Existe um instinto e o instinto está ali, assim como o Freud nos orientou, está ali na barreira entre o somático e o psíquico, entre o somático e o psíquico, entre a carne e a mente. De início é uma manifestação orgânica que nós vamos chamar de instinto. Então, o instinto está ali naquela barreira, o instinto se manifesta pelo corpo, mas já não é mais do corpo. O corpo é o soma, o corpo são manifestações orgânicas. O instinto já transcende o orgânico. Primeiro o instinto. O instinto está ali, na barreira do somático e do psíquico. Este instinto vai se manifestar através da pulsão. A pulsão é algo que acontece por conta da demanda instintiva, ou instintual, melhor dizendo. Esta pulsão vai gerar o que a gente vai chamar de impulso. Então, o impulso é a ação da pulsão. Este impulso vai ser a ação em direção a um possível objeto que possa vir suprir a demanda do instinto. Quando essa satisfação não acontece o impulso retorna. E aí, a gente vai chamar de reprimido. Por quê? Porque não houve a satisfação, não houve o suprimento da demanda do instinto. Retorna este impulso. E aí, a gente vai chamar de impulso reprimido. Este impulso reprimido agora não vai mais se satisfazer com o objeto original, ele vai eleger um outro objeto para satisfazê-lo. Este outro objeto é um objeto de desejo, não mais um objeto de vontade, que seria a demanda do instinto.


NASCE UM DESEJO


Para que se desenvolva o desejo é necessário ter havido a repressão. Reprimiu-se a vontade e agora a vontade já não se satisfaz mais com o objeto original, mas agora, precisa de algo a mais, para ser supostamente satisfeito. Porque não vai ser satisfeito. Desejo nunca se satisfaz, o que se satisfaz é a vontade. O sujeito que deseja, ele quer sempre mais. A vontade se satisfaz até que haja novamente a sua demanda.


AMBIENTE 


Quando o Winnicott propõe a mãe ambiente, ele está propondo a mãe, não como outro, mas como o ambiente. Ela vai dar conta da demanda das necessidades. Ela vai dar conta da demanda da vontade e se ela der conta disso, tanto menor vai ser a geração de desejos. Quando ela não é capaz de suprir essas necessidades, quando ela não está sendo suficientemente boa, ele começa a desenvolver desejos, porque a vontade não foi satisfeita. Então ele começa a vincular aquela vontade à relação com o outro que já não é mais ambiente, mas é realmente um outro. Então ele precisa fazer alguma coisa para que esse outro venha suprir isso. E aí, já não é mais vontade é desejo.


PULSÃO DE VIDA 


Quando Freud propõe pulsão de vida, ele está ali, se baseando na ideia de vontade do Schopenhauer, falando sobre a manifestação do instinto, daquilo que é mais primitivo no ser humano. Então, não tem a ver com desejo. Quando isso não é satisfeito, começa a se desenvolver o desejo que já não é mais básico, mas que já tem uma contaminação de algo a mais do que a satisfação da necessidade básica.


VORACIDADE


A voracidade é uma expressão do desejo. Quando a criança começa desenvolver voracidade é porque ela não foi satisfeita, ou não foi suprida no tempo adequado, aí ela começa a ter vontade para além da conta. E aí, se torna desejo. O Winnicott vai falar assim, que a criança alucina o seio e a mãe encaixa o seio real na alucinação do bebê. Quando essa alucinação que o bebê tem do seio não é suprida no seu tempo, esta alucinação cresce. A vontade não foi satisfeita e começa a crescer, então aquela vontade que gerou uma alucinação x, agora é x elevada a tanto. Aquele seio que vai se encaixar nessa alucinação já não vai mais suprir, porque essa alucinação já virou um desejo.


SUJEITO DESEJANTE


Então a gente vai partir da ideia do objeto. O que é um objeto? Ser um objeto é ser alguma coisa que alguém deseja. Objeto é algo que é desejado. O bebê precisa ser um objeto desejado. Ele precisa ser alguma coisa que o outro deseja. Um objeto precisa ser desejado para que ele possa se mover. Um vaso é um objeto. Se alguém não desejar esse vaso, ele vai ficar esquecido lá. Então, eu preciso desejar o vaso para que o vaso saia do lugar. Eu desejo o vaso, eu pego o vaso e levo pra minha casa. Quando o sujeito vai se desenvolvendo emocionalmente, ele deixa o lugar de objeto desejado para sujeito desejante ele passa a desejar. A maioria das escolas psicanalíticas acabam a história aí. O sujeito é um sujeito desejante, está ótimo! Não! Não está ótimo. Agora ele precisa se qualificar para ser capaz de renunciar do seu desejo. Aí sim, ele está aberto. Aí sim, ele desobstrui o caminho do acordo com a realidade. Porque a realidade existe independente do seu desejo e se você continuar sendo um sujeito desejante, você não vai conseguir entrar num acordo com a realidade, que existe independente do seu desejo.


RENÚNCIA


No senso comum a gente vincula a ideia de liberdade à possibilidade de satisfazer os desejos, mas na realidade, a verdadeira liberdade é ser capaz de renunciar dos desejos, de não satisfazer os desejos. Ser capaz de tolerar que o seu desejo não vai ser satisfeito. Para quê? Para que você possa investir a sua libido na necessidade básica, na vontade, naquilo que realmente vai te trazer enriquecimento para o fluxo da sua vida. Então, a liberdade não está em satisfazer desejos, mas está em ser capaz de investir naquilo que é necessário.


ESCOLHA


Se a gente estiver falando de vontade, não tem escolha, o caminho é um só. Você pode até adiar, mas não tem como escolher você não tem como escolher se alimentar ou não, mas você pode adiar a alimentação. O desejo tem escolha. Você pode escolher ou não. Eu posso escolher por exemplo até não suprir a minha vontade e tentar realizar o meu desejo. Vou ter um prejuízo com isso, mas o livre arbítrio está ali. Para que eu possa, talvez reconhecer que, quando eu estou satisfazendo o meu desejo, eu tenho prejuízo da minha necessidade básica. E aí, eu aprendo com a experiência e percebo que o caminho é um só não são dois.


QUERER


A semântica da palavra vontade, ela diz respeito a querer. Querer está ligado tanto à vontade, quanto ao desejo. Quem deseja quer alguma coisa e quem tem vontade também quer alguma coisa. Querer é a base, mas esse querer é de desejar ou de ter vontade. Se for de ter vontade é necessidade básica, se for de desejar é alguma coisa que não é necessário.


TOLERAR


A vontade, ou o desejo geram ansiedade. Ansiedade é ânsia, busca. Quando eu sou frustrado nisso que eu fui buscar, eu sinto angústia. Angústia diz respeito à frustração. Quando eu estou falando de adiamento da vontade, ou de renúncia do desejo, nós estamos falando de ser capaz de tolerar a frustração, de ser capaz de tolerar a angústia gerada por não conseguir aquilo que se buscava. Eu preciso me tornar capaz de renunciar, ou adiar. Renunciar se for desejo e adiar se for vontade. Se eu conseguir isso, eu vou conter essa ansiedade e aí, eu inclusive, posso até direcionar para alguma outra coisa mais adequada, ou suprir essa vontade num momento mais adequado.


TROFÉU 


O sujeito, quando está com sobrepeso, quando ele está mais gordo do que o saudável, isso quer dizer que está havendo uma obstrução na vontade de viver. Quando você está pleno na sua vontade de viver, o seu corpo está adequado ao fluxo da sua vida. Então, emagrecer dentro da vontade de viver é se adequar ao peso que vai te trazer a possibilidade do fluxo da sua vida. Agora, muitas vezes, o sujeito tem uma configuração mais fofinha, o sujeito tem uma configuração natural mais gordinha, por conta de inúmeros fatores hereditários, inúmero... isso não é, de maneira alguma, nocivo. Mas, o que acontece? Existe um padrão social de beleza e quando esse padrão fala mais alto, o sujeito começa a questionar a sua configuração corpórea para se adequar a este modelo. Aí já não tem a ver com vontade, aí tem a ver com desejo, aí tem a ver com o desejo de se adequar àquilo que é o desejo do outro. Então, eu preciso ser de uma forma ou de outra, para ser desejado pelo outro. Quando estou falando de uma adequação da saúde, nós estamos falando da vontade. E aí, você pode realmente adiar o emagrecimento, mas você não pode renunciar, porque senão você morre. Você vai engordando até morrer, até uma obesidade mórbida. Agora, quando você é fofinha, sempre foi desde menininha, a tua mãe é fofinha, todo mundo da tua família tem, mais ou menos esse estereótipo e você por algum motivo, por alguma experiência malsucedida, não conseguiu reconhecer a si mesmo e se contentar com o seu corpo e começa a estabelecer um ideal de corpo que a sociedade pregou, então, você está desejando ser de outra forma, então isso não é simplesmente adiar o emagrecimento, mas é renunciar a esse emagrecimento. Porque, por mais que você seja fofinha, você está saudável e muitas vezes, qualquer tipo de dieta, ou de exercício excessivo, vai fazer muito mais mal do que continuar sendo fofinha e linda como você é. Uma cilada! Porque, um sujeito que procura uma mulher com o corpo no padrão pré-estabelecido da sociedade, ele não está disposto a se aproximar de uma mulher para amá-la, mas ele quer um troféu para mostrar, para exibir a mulher. Quer se tornar bela para ser desejada pelo outro e o homem quer uma mulher bela para ser desejado pelo outro por ter essa mulher bela. Uma sociedade podre! Uma sociedade nociva, que só pega os desavisados, que só pega os estruturados, que só afeta o sujeito que não está sendo capaz de reconhecer a si mesmo, que não está de bem consigo mesmo.


TEORIA


Nós estamos aqui tentando refletir. Ninguém aqui está tentando colocar uma verdade acabada, ou saturada. Até porque, isso aqui é uma formulação nova, nós estamos formulando agora. Ah! Mas onde é que eu encontro isso, na literatura? Eu não sei! Sinto muito! Vou ficar devendo para vocês. Se não estiver fazendo sentido através da nossa reflexão, passa o vídeo, não precisa assistir. Não tem problema. Agora, se estiver fazendo o sentido, ótimo, vamos pensar juntos. É muito mais interessante que a gente possa, através das nossas experiências, refletir sobre o que a gente está chamando de instinto, sobre o que a gente tá chamando de pulsão, do que a gente tá chamando de desejo, ou de vontade, do que revisar literaturas. É muito importante que a gente possa reconhecer esse desencadeamento que vai do corpo até a alma. Não por uma especulação teórica, ou literária, mas por conta de algo que você reconhece no seu próprio funcionamento. Isso é muito mais importante do que qualquer leitura teórica, seja desde Kant, Schopenhauer, Platão, até Bion. ou qualquer outro contemporâneo.





domingo, 7 de julho de 2024

ADIAMENTOS E RENÚNCIAS NO FUNCIONAMENTO DA MENTE - Prof. Renato Dias Mar...


FUNCIONAMENTO MENTAL
 
O que realmente existe é o processo primário. O processo secundário é simplesmente uma consequência de ser capaz de adiar satisfações imediatas e adiar a evitação de desconfortos. Quando o sujeito tem esta capacidade de tolerar frustrações, ele entra num processo secundário. Ele deixa o princípio do prazer/desprazer em standby, por assim dizer. Ele não deixa de existir, porque ele é um fluxo do inconsciente, da pulsão e ele passa a admitir o outro além da minha satisfação, além da minha evitação de desconforto existe o outro.

ADIAR OU RENUNCIAR

Quando a gente fala de renúncia, a gente está falando necessariamente de desejo. Você não pode renunciar de vontades. O que eu estou chamando de vontades? De necessidades básicas. Não tem como renunciar necessidades básicas. Se você renunciar as necessidades básicas, você morre. Mas você pode adiar e esse adiamento, esta capacidade de adiar necessidades básicas é que faz com que o sujeito se adeque à vida com o outro. O bebê vai amadurecendo emocionalmente, o bebê vai se capacitando emocionalmente, essa capacitação se desdobra na capacitação afetiva, a partir da capacidade de adiar a satisfação imediata, adiar as necessidades básicas. Adiar a necessidade de se alimentar, lá na fase oral. Ele já é capaz de adiar a necessidade de se alimentar, de mamar. Por quê? Porque ele reconhece que existe a mãe e a mãe tem suas vontades, independente dele. Na segunda fase, na fase anal, ele vai aprender a adiar a necessidade de evacuar e a partir daí ele vai desfraldar. E por aí a fora, no desenvolvimento.

DESEJO

Agora, quando a gente fala de renúncia, nós estamos falando de desejo. O bebê não deseja, ele passa a desejar quando, no decurso do suprimento da satisfação desta vontade, acontece alguma falha. Ocorreu alguma falha; desenvolve-se um desejo. O é o desejo? O desejo é um substituto da vontade. Eu tenho uma vontade, que é necessidade básica, essa vontade teve uma falha, não foi suprida de maneira suficientemente boa, então eu elenco, eu elejo um objeto substitutivo para isso. Não é somente aquilo, mas é aquilo, mais alguma outra coisa do mundo externo que eu escolhi. E aí, é uma escolha, porque tem a ver com ilusão. Imaginando que vai dar conta daquilo que falhou, mas aquilo que falhou já ficou lá atrás, já não tem mais jeito. Mas esse objeto de desejo passou a ser uma ilusão de satisfação daquilo que ficou lá atrás, por isso que o desejo é uma grande ilusão e precisa ser renunciado. Porque ele nunca vai trazer essa satisfação, essa satisfação ficou lá atrás. A criança precisa da atenção dos pais. A atenção dos pais é necessidade básica. A criança precisa que os pais prestem atenção nela, deem atenção a ela e ela não consegue isso. Falha esse suprimento da vontade de ser o centro das atenções. No quê? Naquilo que o Freud chamou de “narcisismo primário”. A criança precisa se sentir o centro das observações dos pais, das atenções dos pais. Quando a criança não consegue isso, ela vai procurar no mundo externo, algum objeto substitutivo para isso. Hoje, por exemplo, existe o videogame, o celular, então ela encontra o celular e este celular vai ser, agora, o objeto de desejo dela. Supre aquilo que faltou? Não! Nunca vai suprir e é justamente isso que faz com que ela se torne compulsiva no uso desse objeto substitutivo. Eu estou trazendo um exemplo, mas são inúmeros exemplos que a gente pode eleger como objeto de desejo, que traz a ilusão de suprir aquilo que um dia foi da vontade, ou seja, da necessidade básica, seja ela fisiológica ou emocional-afetiva.

PSICOTERAPIA E DESILUSÃO

O espaço da psicoterapia, do processo psicoterapêutico, traz a possibilidade do sujeito se desiludir a conta gotas, devagarinho, até que ele seja capaz de renunciar daquele desejo. Renunciar daquele desejo que, na realidade só está fazendo com que ele desperdice suas energias e não consiga aquilo que ele imaginava poder conseguir. Por que renunciar desse desejo? Porque é pecado? Porque é proibido? Não! Porque é um desperdício de energia. Então, o nosso papel, enquanto psicoterapeutas é acolher o sujeito para que ele possa entrar num acordo com a realidade. Este acordo com a realidade vai mostrar para ele que, aquilo ali, que ele tá fazendo é uma ilusão e que ele está se auto prejudicando fazendo aquilo. Ele tem que se livrar daquilo? Não! Ele não tem que se livrar daquilo. Não é papel do psicanalista dizer: “você tem que largar disso!” Não! Você não tem que largar disso, pelo contrário, você pode continuar fazendo isso, mas você precisa aos pouquinhos ir reconhecendo que isso é uma ilusão.




quarta-feira, 1 de maio de 2024

PODCASTS GEPA – TEMAS DA PSICANÁLISE - Prof Renato Dias Martino



Então, quando a gente fala de psicologia, nós estamos falando do estudo da parte psíquica do sujeito. Logos quer dizer conhecimento, estudo, saber sobre o aparelho psíquico. Psicologia estudo da mente. Quando a gente fala de psicoterapia, a gente está falando do sujeito que cuida da mente. Terapia cuidado e psique parte psíquica, da mente. Um psicólogo não é necessariamente um psicoterapeuta e um psicoterapeuta não precisa necessariamente ser psicólogo. Eu posso ser um psicoterapeuta e me utilizar de inúmeros outros recursos que não seja aquele que a faculdade de psicologia se propõe a ensinar. E um psicólogo não é, necessariamente um psicoterapeuta. Ele é um estudioso da mente, não é um sujeito que se propõe a cuidar da mente. Psicanálise, nós estamos falando de um modelo de psicoterapia. Psicanálise é uma forma de aplicabilidade de uma terapêutica do psíquico. É uma forma de se cuidar do psíquico. A psicanálise não é uma psicologia. A psicanálise não se propõe saber sobre a mente, ela se propõe cuidar da mente e a partir deste cuidado, você vai adquirindo ali, um reconhecimento do funcionamento emocional e afetivo que é a parte psíquica. Então, um psicanalista, ele não se propõe a conhecer, mas ele se propõe a cuidar e nesse cuidado ele acaba conhecendo. Mas, ele não pode se convencer disso que ele está conhecendo.

NASCE UM PSICANALISTA

O psicanalista ele nasce a partir da percepção de uma dor psíquica. Sentiu, essa dor psíquica, buscou a psicoterapia. E aí então, existe a possibilidade de se nascer um psicanalista.

TENTAR CONVENCER 

Essa propensão do psicólogo, do psicoterapeuta comum, de tentar convencer o outro de alguma coisa e na realidade, tentar convencer o outro é uma grande falta de respeito. Quando o outro está aberto, uma palavra é transformadora, mas se ele não tiver aberto milhões de tentativas vão ser em vão.

MATURIDADE E ESCOLHA

A partir do desenvolvimento dessa maturação emocional, que vai se desdobrar na maturação dos vínculos afetivos, o sujeito vai, cada vez menos tendo escolhas, porque ele vai entrando num acordo com a realidade. E aí, ele vai começar a ser guiado por um caminho que é um só. Ele vai perceber aquilo que é nocivo e por ser nocivo ele não vai se aproximar mais disso, que pode intoxicar, pode machucá-lo, e aí, não tem escolha, o caminho é um só. O caminho é o da saúde e o da construção, da expansão, do próprio aparelho psíquico. A psicoterapia, dentro da psicanálise do acolhimento, propõe justamente, propiciar um ambiente afetivo, livre de tentativa de convencimento, de bajulação, de crítica, de julgamento, para que possa haver uma reparação do aparelho emocional-afetivo e que ele possa estar de acordo com a realidade e perceber que o caminho é um só.

AMBIENTE SAUDÁVEL

Para que o ambiente seja emocionalmente saudável ele precisa contar com dois elementos básicos, que é o amor e a sinceridade. E quando a gente coloca esses dois elementos juntos a gente vai pensar assim, o amor dentro do limite que o sujeito é capaz de se doar. Lembrando que a gente, quando fala amor aqui, a gente está falando dentro da conotação da doação, da dedicação. Amor aqui, de maneira alguma, está vinculado a desejo, a se sentir atraído, mas na capacidade do sujeito se doar ao outro. Amor, dentro do limite, logo, vinculado a sinceridade. A psicoterapia precisa estar configurada nesse formato, nesse modelo.

PSICANÁLISE PARA TODOS

A psicanálise está aí para todo mundo, mas nem todo mundo está aí para psicanálise.

SUFICIENTEMENTE BOM

Imprescindível que a gente possa contar para desenvolver essa tolerância, um ambiente suficientemente bom, como recomendaria o nosso grande Winnicott. Quando a gente fala de suficientemente bom, tanto dentro da perspectiva da mãe suficientemente boa, ou do ambiente suficientemente bom, a gente está falando de uma proporção saudável.

VAI PASSAR

O suicídio acaba sendo uma atitude definitiva por uma situação que é temporária. É resolver de uma vez por todas alguma coisa que na realidade, tanto a situação ruim quanto a situação boa, vai passar.

CONCORDAR

Dentro da psicanálise do acolhimento, a gente tem uma mudança catastrófica dessa ideia de concordar. Concordar, para gente não é quem está certo, ou quem está errado, se você está certo e eu concordo com você, mas é estar junto de coração. “COM + CORDES” COM = conjunto e CORDES de coração e esta é uma questão extremamente difícil. É muito mais fácil se a gente tiver dentro da perspectiva do saber. De concordar, quem está com a razão, de quem está certo e é muito mais difícil você estar junto de coração, porque se você estiver junto de coração não importa quem tá com a razão.

REALIDADE E DESILUSÃO

Que você vai se afastando cada vez mais da realidade e cada vez vai ficando mais distante de aprender a lidar com esta mesma realidade. E o grande problema da realidade é que cada aspecto da realidade que você reconhece é uma desilusão.

O QUE É PSICANÁLISE 

Hoje a psicanálise é bem diferente do que aquilo que foi quando o Freud começou a desenvolver. Quando o Freud desenvolveu, ele tinha, ele começou pela técnica da hipnose. Ele tinha propostas que na nossa prática clínica hoje não fazem muito sentido. A gente tem uma outra metodologia. Uma das questões fundamentais é que o Freud tinha uma característica muito mais paterna, da figura paterna, dos fatores da função paterna. A prática clínica dele acabava sendo formatada como o modelo do pai. A partir da introdução da Melanie Klein, a gente vai criando, vai introduzindo, a gente vai vendo ser introduzido, um modelo materno, um modelo que inclui os fatores da função materna. O Winnicott traz a questão do holding, do handling, da apresentação do objeto, que são características que também são presentes na prática clínica. E aí, com o Boin isso fica mais evidente ainda, quando ele coloca a ideia da continência, da função-alfa. Todos esses elementos que estão presentes também na função materna. Isso não quer dizer que os fatores da função paterna foram perdidos, mas que acrescentou-se as questões da função materna também na prática da psicoterapêutica psicanalítica.


AMBIENTE DE PASSAGEM

A gente tem a noção, dentro dessa prática psicanalítica contemporânea de que a psicanálise é um ambiente de passagem. Então, não é um ambiente de conhecimento. mas é um ambiente de reconhecimento. A cada encontro, se propor a conhecer novamente, como se nunca tivesse conhecido.

DEPRESSÃO PUERPERAL

Quando a gente fala dessa depressão puerperal, depressão pós-parto, quando o casal está integrado, o companheiro, o pai ele vai sofrer tanto quanto a mãe. E a gente não está falando aqui de uma depressão pós-parto patológica, a gente está falando deste luto da mãe que precisa abrir mão da sua própria vida pela vida do bebê que está nascendo e depois uma série de outros lutos, essa coisa do afastamento, do desmame do afastamento da a criança, que vai se desenvolvendo. Então, o companheiro, o pai também vai sofrendo tudo isso, se ele estiver integrado no casal. A mãe se afastando do bebê é um modelo de desintegração. Algo que estava junto que agora se separa fisicamente, mas emocionalmente, acontece o inverso, que é a integração. O físico desintegra, o emocional se integra. E a função paterna é justamente aquela que vai vir para dar esse formato, esse acolhimento, continência para essa integração.

MULHER E MÃE

A mulher deixa de ser mulher para ser mãe e depois que a criança começa a se desenvolver, ela precisa voltar a ser mulher. Claro, que isso tudo simbólico. Ninguém está falando aqui, que uma coisa anula outra, mas ela precisa colocar em standby, por assim dizer, a sexualizada feminina, no momento em que ela está ali na maternagem e depois ela precisa retornar com esse teor feminino. Assim que a criança começa a se desenvolver e isso é um grande problema. Muitas vezes, a mãe nunca se sentiu muito bem integrada sendo mulher. Ela sempre se sentiu muito insegura sendo mulher e ela acaba se implicando na função materna de uma maneira tão viciante, por assim dizer, que depois ela sente uma dificuldade muito grande em voltar a ser mulher, que é num formato onde ela tinha grande segurança.

DEIXAR DE SER

O fluxo da vida está muito mais em “deixar de ser”, do que “tornar-se”. Maturação é tolerar deixar de ser, não tornar-se alguma coisa. Desde pequeno, a gente aprende aquilo que a gente deveria ser. Existe uma expectativa, na verdade, existe uma expectativa antes mesmo da gente nascer, já existia uma expectativa. Um fluxo saudável da vida é justamente desobstruir todos esses “deveria ser” para conseguir um “deixar de ser”.

NECESSIDADE DA FUNÇÃO PATERNA

O homem foi se afastando da família, essa família foi aprendendo “dar um jeito” de viver sem esse homem e acaba com que a sociedade hoje recusa o reconhecimento da necessidade da função paterna presente. E aí, a gente vai percebendo homens inseguros do que é ser homem quando ele precisa tomar uma atitude e mulheres que não são capazes de avaliar os homens dos quais ela vem se envolver. São dois desdobramentos dentre vários que são os prejuízos da ausência da função paterna.

AUSÊNCIA PATERNA

Dos maiores prejuízos na função paterna e não do pai, porque não é necessariamente o pai biológico, mas é um sujeito masculino que possa exercer a função paterna. A ausência dessa função paterna, me parece que traz dois grandes prejuízos. Um deles a dificuldade de reconhecimento de limites e o outro é a dificuldade de provisão, de ser capaz de prover. Um primeiro momento, prover-se a si mesmo, em segundo momento prover o lar. Então, nós vemos umas uma sociedade onde a falta de limites, a falta da capacidade de reconhecimento de limite, de respeitar o limite de si mesmo, seja se colocando em situações de risco e dificuldade de reconhecer o limite do outro, onde o sujeito abusa do outro e também a dificuldade de dar manutenção a sua auto-provisão, administração financeira. E quando o sujeito não consegue fazer isso consigo mesmo, muito menos ele vai conseguir com a família, ou qualquer outra instancia que ele precisar.

VÍCIO NO FRACASSO

Muito se fala hoje de relacionamentos tóxicos. Essa ideia se expande, não só para os relacionamentos, mas ela também se expande à substâncias tóxicas, ou qualquer coisa que possa fazer mal para o sujeito. O grande problema está por trás do uso da substância, ou por trás do relacionamento tóxico. Muitas vezes, existe algo por trás que faz com que o sujeito busque o relacionamento tóxico, busque o uso da substância. Um dos casos mais difíceis de tratar, esse tipo de situação, é quando o sujeito se sente merecedor daquilo. Quando, o sujeito não é viciado na substância, mas ele é viciado no fracasso de estar usando aquela substância. Ele não está implicado num relacionamento tóxico com o outro, mas ele está implicado num relacionamento tóxico com ele mesmo e não se sente merecedor de um relacionamento saudável e aí, isso é extremamente difícil de tratar.

DEVERIA SER

Na realidade, o sujeito acaba não confiando em si mesmo, não confiando na sua autoavaliação e ele acaba usando o critério do outro para estabelecer aquilo que ele deveria ser e é uma grande emboscada, porque esse deveria ser é insaciável. Ele não vai conseguir nunca exatamente suprir isso.

SENTIR DOR OU SOFRER

Parece que existe uma diferença muito grande de sentir a dor e sofrer a dor. O sujeito pode estar sentindo a dor, mas não ser capaz de se submeter ao processo de sofrer essa dor. Porque, quando ele sofre a dor acontece a transformação. Uma coisa é você padecer da dor e outra coisa é você sofrer a dor. Quando você padece da dor, você está num estado cristalizado que não tem transformação. Quando você passa a sofrer a dor, aquilo ali, vai te proporcionando a possibilidade de mudança e transformação.


RECONHECIMENTO

Transformação é um resquício daquilo que falhou lá atrás, na primeira infância.  A criança não pode ser reconhecida pelos seus pais e ele acaba tendo um autoreconhecimento deficitário e ele passa a vida toda procurando a aprovação do outro, porque na realidade não foi reconhecido.





quinta-feira, 28 de março de 2024

MATURIDADE E ESCOLHAS - Prof. Renato Dias Martino


E AS ESCOLHAS?

Acredita-se que para escolher, se tem liberdade.
Mas, a escolha não passa de um delírio de vaidade. 
Quando a escolha é bem-sucedida de verdade,
não foi uma escolha, mas o único caminho na realidade.
 Quando se está num acordo com o fato, 
não se tem escolha, mas é do 'Todo' a vontade.

DUAS PONTES

Quero propor uma alegoria, quero fazer uma pausa e retornar a essa alegoria no final da explanação. Vamos conjecturar aqui, que vocês vão ganhar, vão conseguir uma coisa que vocês desejam muito. Para conseguir essa coisa que vocês desejam muito, vocês têm que ir em certo lugar o mais rápido possível, o quanto antes, porque se você demorar muito para chegar nesse lugar, pode ser que você não consiga isso que você deseja muito. No caminho para esse lugar, para conseguir isso que você deseja muito, tem um rio muito perigoso. Um rio onde muitas pessoas morreram até, de tão perigoso que é este rio. Para cruzar esse rio você tem a “ponte A” e a “ponte B”. A “ponte A” vai te levar para este lugar, para esse teu objetivo, para você conseguir o que você tanto deseja, está condenada. A estrutura dela, muito provavelmente, não aguenta o peso de uma pessoa. Só que essa ponte te leva para este lugar, que você precisa chegar para conseguir o que você deseja, com muita rapidez. Um caminho curto. E tem uma outra ponte, a “ponte B”, que é uma ponte segura, que aguentaria dez pessoas, tranquilamente. Muito bem estruturada. Só que este caminho iria demorar mais. É um caminho mais longo para chegar até onde você precisa ir para conseguir aquilo que você tanto deseja e pode ser que você não consiga chegar se você pegar este caminho na “ponte B” e você tem que escolher. Qual ponte você pega? Eu vou dar uma pausa nessa história e nós vamos retomar essa história no final da nossa conversa aqui.

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS

Se a gente fizer uma breve pesquisa aí na internet, a gente vai encontrar inúmeras afirmações de que a vida é feita de escolhas. Dentre as pesquisas aqui, eu encontrei esta frase muito interessante de uma pessoa chamada Vitória Demante. A frase dela é assim: “A vida é feita de escolhas e uma hora você é obrigado a escolher o que quer, seja certo ou errado.” A gente idealiza o poder de escolha, a liberdade de escolha. Tem até a ideia de que o poder de escolha faz um sujeito bem-sucedido. Um sujeito bem-sucedido é aquele que tem o poder de escolha, que tem liberdade de escolha. E por outro lado, o sujeito fica muito desconfortável quando ele não pode escolher. Quando ele é obstruído de fazer as suas escolhas. 

IMPEDIDO DE ESCOLHER

A nossa vida cotidiana nos obriga a escolher, a decidir. A escolher, a decidir o que é certo, o que é errado. Esse critério é uma lei. Além disso, o sujeito que tem a liberdade de escolha se sente onipotente. Ele pode tudo! O sujeito que pode escolher pode tudo e quando ele não pode escolher ele se sente inseguro, se sente fracassado. Quando a gente é impedido de escolher, a gente acaba até se enfurecendo, sendo muitas vezes hostil, se revoltando.

ESCOLHA INCONSCIENTE 

Nós estamos falando de psicanálise aqui. Não estamos falando? Qual que foi a primeira e maior descoberta do Freud? O inconsciente. Não é isso? a ideia da instância inconsciente da mente a parte consciente da mente é ínfima é muito pequena como é que a gente pode ser psicanalista e acreditar na escolha lá em 1917, em UMA DIFICULDADE NO CAMINHO DA PSICANÁLISE, o Freud coloca assim o ego não é senhor da própria casa ou seja o “eu” não escolhe, ele simplesmente, sai correndo atrás de justificar aquilo que foi escolhido que não tem consciência e nunca terá.

VONTADE DE VIVER

Antes do Freud trazer a ideia do inconsciente, o Schopenhauer já falava disso. Schopenhauer falava da VONTADE DE VIVER. O que comanda o sujeito, o que rege o sujeito é a vontade de viver. Direciona o sujeito para onde ele for. É o que move o sujeito, é o que orienta o sujeito e a vontade de viver é inconsciente. Eu não sei o porquê, eu não sei o porquê eu estou caminhando para essa direção. Eu só estou caminhando para essa direção, depois a gente sai atrás tentando encontrar justificativas do porquê você está andando para aquele lado. O motivo real não está dentro da consciência do sujeito, não está dentro da possibilidade do sujeito saber.


DESEJO 

Quando o sujeito deseja alguma coisa... E aí, se a gente está falando de desejo a gente está falando daquilo que o sujeito vai escolher. Ele escolheu porque ele deseja aquilo. O sujeito deseja alguma coisa, não porque na realidade, ele quer aquilo, mas porque aquilo foi impedido para ele em certo tempo da vida dele. Ele foi impedido de fazer alguma coisa e agora isso se tornou um desejo para ele. Quando o sujeito deseja alguma coisa, aquilo ali está cheio de “eu não podia isso”, “eu fui impedido disso”. Muitas vezes, uma revolta, tentando conseguir isso daí, para provar para si mesmo que, agora ele pode, ou ainda, conseguir aquilo para ter aprovação do outro. Ele deseja algo, não para ele, mas ele deseja algo para que as pessoas o desejem o desejo. Não é genuinamente do sujeito. O primeiro desejo do da criança é que ela seja desejada pela mãe. Porque, se ela for desejada pela mãe ela está garantida. Ela passa a existir a partir do olhar da mãe. O primeiro e o maior desejo é o de ser desejado e não vai deixar de ser. Esse desejo vai se transformando, mas a essência continua sendo a mesma. Então, o desejo, ou é porque ele foi impedido, ou seja, elemento reprimido, ele foi impedido de alguma coisa e agora ele deseja isso a qualquer custo, se revolta contra essa proibição e agora ele quer ou ele deseja para ter a prova do outro aprovação do outro, ou ele deseja alguma coisa para se isentar de um sentimento de culpa, também. Mas, de qualquer forma não é dele. Não é genuinamente dele esse desejo.

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO 

Então, o desejo do outro é genuíno? Porque, se o desejo do sujeito é o desejo do outro, então, o desejo do outro é genuíno? Não! Não é! Porque vai passando de geração em geração, uma certa incapacidade de tolerar e desconfortos, ao ponto de renunciar a esse desejo que não era dele e ele vai empurrando de geração para geração. O vô não conseguiu, empurrou para o pai, o pai não conseguiu, empurra para o filho, que empurrará para o neto, até que um, por assim dizer, “mate no peito” e diga: “daqui não vai passar, eu vou renunciar a esse desejo”.

DOIS MOTIVOS PARA ESCOLHER

Então, a gente chega num ponto onde dois motivos, ou a vontade que é a necessidade do id, inconsciente, que impulsiona o sujeito para um caminho sem que ele tenha consciência de porque ele está seguindo aquele caminho. Assim como Freud colocou, assim como Schopenhauer falava da VONTADE DE VIVER, que impulsiona o sujeito, ou o desejo que é do outro. É isso que faz o sujeito escolher. Um é da pulão de vida, da VONTADE DE VIVER e a outra é de um desejo reprimido, que foi empurrado para ele, projetado nele e agora ele tem que sair correndo atrás para resolver.

LIVRE ARBÍTRIO

A gente tem o conceito do livre arbítrio. Não é a gente? Tem na filosofia. O próprio Schopenhauer fala do livre arbítrio, Espinoza fala do livre arbítrio. Dentro do vértice místico-religioso, nas formulações religiosas, a gente tem também. Deus dá o livre arbítrio. Não é isso? No entanto, o que é o livre arbítrio? O que é o poder de escolha? É aquilo que vai fazer com que você viva uma experiência para que você possa ter consciência de que você, enquanto escolhendo, estava iludido. O livre arbítrio é uma chance de você viver a experiência de escolher e perceber que, na verdade, ao escolher, você estava iludido. Porque, a escolha não é tua. Se eu não posso escolher, eu também não tenho responsabilidade quanto a isso. É aí que entra o problema. Apesar de você não poder escolher, a responsabilidade é sua. Você precisa responder por aquilo.

AMOR FATI

Aí, entra uma formulação filosófica importante do Nietzsche. Lá no HUMANO DEMASIADO HUMANO, 1878, ele propõe a ideia do AMOR FATI. O que o Nietzsche quer dizer com AMOR FATI? Amar o fato, amar a realidade, independente do desconforto que essa realidade possa trazer. “Minha fórmula para a grandeza no homem é amor fati: nada querer diferente, seja para trás, seja para a frente, seja em toda a eternidade. Não apenas suportar o necessário, menos ainda ocultá-lo – (...) – mas amá-lo...”

AMOR

O que eu estou chamando de amor e o que que o Nietzsche estava querendo propor como amar. Amar não é gostar. Gostar é uma coisa, amar é outra. Amar é doar-se, dedicar-se, mesmo que não goste. Se você perguntar para uma mulher o que que ela espera de um homem, ela vai dizer assim: “que ele goste de mim”, não que ele tenha a capacidade de me amar. Você percebe como que o desejo é de ser desejada e não que alguém se dedique a mim? Porque, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu gosto de alguma coisa porque aquela coisa me traz um benefício e eu amo alguma coisa porque eu beneficio essa coisa. Então, amar a realidade é dedicar-se à realidade não é gostar da realidade. Não adianta, porque você não vai gostar da realidade. Quanto mais você tiver clareza da realidade, quanto mais você estiver num acordo com a realidade, menos você vai gostar da realidade e mais você precisa se capacitar para amar esta realidade. E enquanto de acordo com a realidade, não existe escolha, porque a realidade é uma só, porque o caminho é um só, não tem dois. O amor verdadeiro é aquele que diz respeito a doar-se ao outro, a renunciar de desejos, a adiar vontades, a sacrificar-se pelo outro. Não quer dizer desejar o outro, não quer dizer estar fascinado com o outro, não quer dizer se sentir atraído pelo outro. Isso não é amor. Isso é paixão. 

AMAR É UMA ESCOLHA

E aí você vê ali assim na rede social: “amar é uma escolha”. Não, amar não é uma escolha. “Amar é uma decisão” Não, amar não é uma decisão. Amar é uma capacidade e uma capacidade que precisa ser desenvolvida. Se o sujeito não estiver sendo capaz de amar ele não pode amar, mesmo que ele escolha amar. Ninguém escolhe se dedicar a alguém ou não. Ou ele é capaz daquilo ou ele não é.

FORMULAÇÕES RELIGIOSAS

Aí mais uma vez a as formulações religiosas a gente vai encontrar lá: “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Aí você vai encontrar em Mateus, 22:37,38,39, vai encontrar em Marcos, 12:30 e Lucas, 10:27. Não sou pastor, não estou aqui pregando. Não é nada disso! É simplesmente, mais uma possibilidade de ilustração, dentro de uma literatura riquíssima que são as escrituras bíblicas. Um modelo. O que que é amar a Deus sobre todas as coisas? É amar a realidade. Então, amar a Deus sobre todas as coisas e o AMOR FATI de Nietzsche, estão ali coincidindo. E o sujeito não precisa acreditar em Deus, ele pode ser ateu. Então, ele pode seguir o AMOR FATI e não o mandamento de Jesus Cristo. Amar aquilo que está fora das suas expectativas, que não depende do seu desejo. Por mais que a gente fale que este é um mandamento de Jesus Cristo, ninguém ama porque mandaram ele amar. Isso é absurdo! Ninguém ama porque escolheu amar, ninguém ama porque decidiu amar, ninguém ama por ser obrigado a. Você pode até fingir que você está amando, mas não é verdadeiro. A capacidade de amar só vai começar a acontecer a partir do momento que você for qualificado para isso. Como é que se qualifica para amar? Como é que o sujeito pode se qualificar para amar? Sendo amado! Não tem como aprender a amar sem ter sido amado. Eu aprendo a amar a partir do amor do outro e o outro faz parte da realidade. O outro faz parte dessa realidade que eu não controlo. Então, quando eu sou amado por esta realidade, que está independente da minha expectativa, eu passo a ter um relacionamento com essa realidade. Eu passo a ser capaz de amar esta realidade. Mas primeiro eu precisei ser amado, para criar um vínculo com essa realidade. Eu sou amado por essa realidade, aprendo a amar a mim mesmo, a partir desse amor que eu tive da realidade e agora eu devolvo esse amor. Eu retribuo esse amor para a realidade. Não é uma moeda de troca, é um processo.

AMAR O OUTRO

Lá em 1914, SOBRE O NARCISISMO UMA INTRODUÇÃO, Freud vai dizer assim: “um verdadeiro amor feliz”... ele vai chamar de amor feliz, talvez ali num erro de tradução, ou ainda numa colocação não muito adequada, porque amor e felicidade são dois conceitos que não estão juntos. Porque, se amor é renúncia ninguém é feliz renunciando, se amor é abrir mão da satisfação, ninguém é feliz insatisfeito. Mas, de qualquer forma, ele coloca lá que o amor feliz é quando a libido do ego corresponde a libido objetal. Ou seja, quando, o quanto eu amo a mim mesmo coincide com quanto eu amo o outro. E Olha que bacana! Se, no primeiro mandamento de Jesus Cristo, “amar a Deus sobre todas as coisas”, coincide com a colocação ali do Nietzsche, do AMOR FATI, amar o outro como a si mesmo, coincide com a colocação do Freud, que um amor feliz seria amar a si mesmo, assim como ama o outro.

MOEDA DE TROCA

Se você for grato você vai ter uma vida próspera. Então, eu vou ser grato para ter uma vida próspera. Não é assim! Não é uma moeda de troca. Ser grato é uma capacidade. Quando eu for capaz de ser grato, a minha vida vai começar a prosperar. Uma vida de fartura se inicia com um ato de generosidade, mas eu não posso ser generoso para ter uma vida de fartura. Ser generoso não pode ser uma atitude esperando uma recompensa. Por que, senão, não é nobre, senão, não é real. Eu preciso ser capaz de desenvolver a generosidade e a partir dessa generosidade, da minha atitude generosa, a minha vida começa a ser farta. Mas, por outro lado, eu só vou conseguir ser generoso, se um dia foram generosas comigo. Se não foram generosos comigo, eu não consigo desenvolver a generosidade com o outro. Então, tudo se inicia no colo da mãe. “Ah! ó o clichê da psicanálise”. Pois é! Por isso que a psicanálise faz tanto sentido. A mão que balança o berço move a nação. Uma mãe generosa, configura uma personalidade generosa, que sendo generosa irá configurar, por sua vez, uma vida de fartura. “Ah! Mas é só com a mãe?” Não! Nós somos psicanalistas. Então, a gente tem ali, a possibilidade de configurar um ambiente emocional-afetivo saudável para que possa haver experiências reparadoras nesse nível. Há uma esperança, por mais que eu possa não ter tido isso no seio do lar. Esse é o papel da psicanálise, propor um ambiente reparador dentro do nível emocional e afetivo.

DESINTEGRAÇÃO

A escolha está subordinada à ilusão. Enquanto escolhendo estou iludido. E a ilusão tem a suas consequências e eu preciso arcar com essas consequências, ou então empurrar para próxima geração. Escolher diz respeito a desintegração. DECISÃO! “D” quer dizer cortar e cisão reafirma este corte. Então, cada vez que eu decido, eu estou cindindo, desintegrando. E cada vez que eu renuncio de decidir eu estou integrando, estou integrado e estou me integrando com o todo. Porque é do todo a vontade e não minha. Porque é do todo a escolha e não minha. E como é que eu me conecto com o todo? A partir do meu inconsciente. A partir daquilo que é mais primitivo em mim. A partir da minha vontade de viver. Dentro da formulação religiosa, “seja feita a vossa vontade”. E mais uma vez, não sou o pastor, não estou aqui tentando pregar religião alguma, mas estamos trazendo mais uma ilustração, que é dentro das escrituras bíblicas do cristianismo. Que é extremamente rica.

MATURIDADE E ESCOLHA

Então, a maturidade traz a liberdade de escolha? Não! É o contrário. Quanto mais amadurecido emocionalmente você vai ficando, mais você vai tendo clareza da realidade, que o caminho é um só e não tem escolha. Quanto mais você amadurece emocionalmente, mais integrado você fica com seu instinto de autopreservação, que é a coisa mais primitiva que uma criatura pode ter e este instinto de autopreservação vai te mostrar o caminho que é um só.

PARA O INTOLERANTE

Para o sujeito que não tolera desconfortos, para o sujeito que não aprendeu a tolerar frustrações, ou ainda, para o sujeito que não está sendo capaz de tolerar frustrações é melhor acreditar que ele é livre para escolher. E aí, a realidade é aquilo que eu quero que seja, independente do que ela é na realidade. Se eu decidir que eu sou um cachorro agora, eu vou começar a latir e todo mundo precisa começar a me chamar de cachorro, porque se não me chamar de cachorro, eu vou protestar, vou mandar aprender. Independente da natureza da biologia estar escancarando na minha própria cara que eu sou um ser humano. Eu vou começar a latir e todo mundo vai ter que engolir.

AINDA SOBRE AS DUAS PONTES

Voltando na proposta da alegoria. Então, qual o caminho que eu devo escolher? O da “ponte A”, ou o da “ponte B”. A “ponte A” é uma ponte que está danificada. Muito provavelmente não aguentará o peso de uma pessoa, mas ela é um atalho e te leva mais rápido para o ponto, para você conseguir aquilo que você tanto deseja. A “ponte B” é uma ponte bem estruturado e aguentaria aí umas dez, vinte pessoas, numa boa. Mas você demoraria mais para chegar ao ponto para conseguir aquilo que você deseja e poderia correr o risco de não chegar a tempo. Embaixo da ponte, um rio extremamente perigoso, onde morreram várias pessoas. Qual ponte você escolhe? A “ponte A”? Você pode escolher. Não pode? É tua escolha! É o livre arbítrio! Para conseguir o seu desejo, muito provavelmente você vai escolher a “ponte A”, mas se você for capaz de renunciar o seu desejo. Não é de maneira alguma dizer não vou conseguir isso que eu desejo, mas é ser capaz de ser prudente o suficiente para não arriscar a sua vida, para obter aquilo que você deseja. E se você tiver de acordo com esta realidade que inclui, o instinto de autopreservação, não tem escolha o caminho é um só é a “ponte B”. Segura!

VERDADEIRO EU

Ninguém escolhe como quer ser e então,
passa a ser o que escolheu.
Na melhor das hipóteses,
pode vir a reconhecer
como esteja sendo e assim,
poderá aprender a respeitar
e se responsabilizar pelo verdadeiro eu.