O ser humano é um ser desejante e assim como Sigmund Freud (1856 – 1939) coloca em 1914, Eros é o que o impulsiona em direção aos vínculos que deve fazer com o mundo externo, ou com aquilo que existe para além do eu. Contudo, porém não obstante Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981) da escola psicanalítica francesa, propõe que o primeiro e maior desejo do ser humano é o de ser desejado. Isso é de fácil compreensão se partindo de um pressuposto onde o bebê passa a primeira fase (a mais delicada e importante) do desenvolvimento da vida emocional, em inteira dependência do outro (mãe).
Nessa mesma direção o psicanalista e pediatra inglês Donald Woods Winnicott (1896 - 1971) coloca em 1941, numa reunião científica da British Psychoanalytical Association, – ‘There’s no such a thing like a baby’ – ‘Isso que chamam de bebê, não existe’, isso se não pela mãe. Em seu texto A Deformação do Ego, em Termos de um Self Verdadeiro ou Falso (1960), Winnicott contribui com a ideia de que a personalidade tem duas partes constitutivas. O eu verdadeiro, que é a parte mais primitiva, onde estão guardadas as sementes do eu, como na polpa mais profunda de uma maçã. São conteúdos referentes a essência do eu, onde estão as reais capacidades emocionais da personalidade. Contudo, uma parte da personalidade que não é muito atrativa ao outro, pois guarda características primitivas e não evoluídas. Ainda assim são partes do eu, mesmo que amiúde indesejáveis. O verdadeiro eu não tem recursos para retribuir o amor, logo, é preso ao amor do outro. Frágil e dependente da proteção do outro, é um eu-objeto que anseia por ser escolhido.
Essa parte do aparelho emocional disputa lugar com o eu falso, que por sua vez tem a função de defender o eu verdadeiro. Como a casca de uma árvore que tem o objetivo de proteger o miolo (eu verdadeiro). Se até aqui estamos de acordo com a hipótese de que no princípio da vida a criança depende exclusivamente da mãe, e que isso que chamamos de bebê não pode existir, se não pelo outro (mãe), então o falso eu tem o objetivo de se fazer aceito e desejado por ele. Em nome de sua sobrevivência o falso eu fará de tudo para se adequar a aquela que cuida dele, isso naquilo que ela deseja, e assim necessariamente em suas falhas também.
Um vive para o outro, mas a situação patológica pode se instalar quando o falso eu suprime ou sufoca o verdadeiro.
Essa parte do aparelho emocional disputa lugar com o eu falso, que por sua vez tem a função de defender o eu verdadeiro. Como a casca de uma árvore que tem o objetivo de proteger o miolo (eu verdadeiro). Se até aqui estamos de acordo com a hipótese de que no princípio da vida a criança depende exclusivamente da mãe, e que isso que chamamos de bebê não pode existir, se não pelo outro (mãe), então o falso eu tem o objetivo de se fazer aceito e desejado por ele. Em nome de sua sobrevivência o falso eu fará de tudo para se adequar a aquela que cuida dele, isso naquilo que ela deseja, e assim necessariamente em suas falhas também.
Um vive para o outro, mas a situação patológica pode se instalar quando o falso eu suprime ou sufoca o verdadeiro.
Isso coincide de alguma forma com a teoria da Segunda Tópica de Freud, na medida em que diz respeito à experiência da criança em poder contar com a possibilidade de satisfazer o id de forma satisfatória, sem graves conflitos com a realidade e abrindo assim certo espaço de desenvolvimento do ego, ou quando isso não pode ser realizado e então passa a ser passivo de censura se agrega ao precipitado chamado de superego ou ideal de eu.
Assim como Winnicott coloca, o “bebê não existe” e dessa forma tenta mostrar que o bebê nunca existe por si só, sempre e essencialmente como parte de uma relação. Winnicott demonstra que, quem vê um bebê nunca vê apenas um bebê, vê também, inevitavelmente, alguém mais, um adulto ou mesmo uma criança maior com os olhos grudados no bebê. Direcionando o vértice com referencia ao gênero, Lacan coloca a ideia de que a mulher não existe.
Se o primeiro e maior desejo do humano é o de ser desejado, também é quebrando esse desejo narcísico que se olha pra o verdadeiro eu. Quebramos assim o espelho do qual dependia nosso desenvolvimento. Um processo inexorável de construção e destruição de espelhos no mundo, assim como a inteiração dos conceitos a priori e a posteriori da “Crítica da Razão Pura” e “Crítica da Razão Pratica” de Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão muito aludido na obra freudiana.
Segundo Freud em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade“ (1905), numa fase do desenvolvimento emocional (fase fálica), a criança vive a fantasia de que todo ser humano possui pênis. Aprende a justificar a ausência nos que não possui, através da crença de que ainda não cresceu ou perderam por alguma razão. O reconhecimento do valor do órgão genital feminino só é feito bem mais tarde na vida da criança. Esse é um dos motivos da desistência do amor da mãe pela menina, e o interesse no pai e conseqüentemente no sexo oposto. Freud denomina essas experiências como representadas no complexo de Édipo.
A experiência do reconhecimento fálico é muito confusa e dolorida para a criança. A capacidade racional nos auxilia reprimir grande parte dessas experiências doloridas e que foram incompreendidas. Aprendemos a esquecer até certo ponto que hoje, parece quase inviável admitir conscientemente. Contudo, como a sina de qualquer que seja o impulso reprimido, também a descoberta da ausência do falos, perdura inconscientemente e, amiúde é projetada naquilo que temos ou naquilo que não temos. Muitas vezes, justificamos nossas experiências de frustrações e vitorias e criamos valores em cima dessa fantasia de alguns são fálicos e outros castrados.
Capítulo do livro Para Além da Clínica. Renato Dias Martino - 1. ed. São José do Rio Preto, São Paulo: Editora Inteligência 3, 2011.
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
prof.renatodiasmartino@gmail.comr
2 comentários:
Muito bom!
Confesso que li e reli.
Que bom receber esses trabalhos do professor, é material que vai valer pra sempre.
obrigada.
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