O vínculo é uma função do
funcionamento mental que permite manter duas pessoas unidas, independente do
fator físico na confirmação sensorial. “O vínculo é o que pode nos manter
ligados naquilo que fisicamente não está (mais) presente.”. (Martino, 2015). Quando
é possível se formar um vínculo afetivo com o outro, tem inicio a formação de
símbolos, que é a impressão bem sucedida obtida na experiência com o real
sensório.
A primeira experiência dessa
ordem acontece entre mãe e bebê, onde a ligação umbilical no nível físico é
rompida, dando lugar à possibilidade de desenvolvimento do vínculo afetivo.
Essa é a primeira etapa de muitas outras que virão dentro do processo de
desenvolvimento do vínculo. “Do ‘colo da mãe’ à ‘mãe no coração’”. (Martino,
2015). O desapego necessário para que possa se estabelecer o elo de ligação num
vínculo saudável é sempre uma extensão do período de apego que
impreterivelmente deve ter ocorrido entre aqueles que se vinculam.
Toda saúde mental está
subordinada aos vínculos, sendo que “o nível de organização mental não pode ser
mensurado de outra maneira que não seja através da capacidade de criação e
manutenção dos vínculos afetivos.”. (Martino, 2018). Um sujeito que não esteja
conseguindo ligar-se e manter-se ligado afetivamente de forma saudável, carece
de ajuda psicológica, na medida em que consiga reconhecer esse fato.
Ainda assim, relações
verdadeiras são raras, já que vivemos implicados em instituições sociais e a
base dessas organizações é a dissimulação. Os relacionamentos verdadeiros são
comparáveis a um garimpo, onde a pedra preciosa encontra-se entre inúmeras
outras. Isso não é bom ou ruim, simplesmente é assim. Penso não ser possível a
estruturação da formação grupal de outra maneira. Para que uma sociedade
mantenha a ordem é imperativo que o sujeito esconda seus sentimentos e emoções.
Quando expomos alguma emoção mais intima, logo somos julgados com olhares
desaprovadores.
O sujeito mais sociabilizado parece ser aquele que consegue
melhor esconder suas características verdadeiras e expõe aquilo que o outro
normalmente espera dele. A saber, dificilmente o primeiro fator coincide com o
segundo.
“Na história da evolução dos
vínculos afetivos, o ser humano, definitivamente, ainda se encontra
engatinhando, e a capacidade de amar ainda é algo muito primitivo no
funcionamento mental do humano atual.”. (Martino, 2013).
Por conta disso é
naturalmente muito difícil conseguirmos nos aprofundar nas relações e então
experimentarmos vínculos onde seja possível desempenhar o verdadeiro eu, com o
mínimo possível de dissimulações.
Ao contrário disso, enquanto vivendo em
sociedade, normalmente os vínculos acabam por acumularem características
efêmeras, onde a conveniência, a recompensa e os benefícios egoístas são
condições fundamentais para que se mantenha. Domina nessa dimensão a
descartabilidade. Sendo assim, após o uso, o vínculo social é normalmente
excluído, até porque nunca passou de dissimulação conveniente.
“O perigo se pronuncia na
medida em que, sem um bom vínculo de confiança, as ilusões podem ser percebidas
como fatos.”. (Martino, 2018).
Por outro lado, para que um
vínculo possa estar sendo saudável, deve configurar-se entre pessoas que
estejam sendo capazes de exercer seu verdadeiro eu, o mais livre possível de
disfarces. Dessa maneira, a necessidade de se tornar aquilo que o outro deseja
é completamente inadequada nessa ordem de vinculações. Nesse contexto,
enaltecimentos e bajulações, são danosos a um vínculo benéfico. O enaltecimento
é “um alimento que, apesar de ser extremamente prazeroso, é extremamente pobre
em nutrientes da manutenção da auto-estima.”. (Martino, 2013). Também críticas
e julgamentos são nocivos ao estabelecimento e desenvolvimento do vínculo
saudável. “O crítico se fortalece criticando o outro. Isso porque despeja o
peso de sua incapacidade no objeto da crítica.”. (Martino, 2013).
O vínculo
saudável sobrevive necessariamente sendo nutrido de reconhecimento sincero e
afetuoso das partes. O reconhecimento depende da capacidade de percepção da
realidade dos fatos. “Distante do enaltecimento do elogio, que se encontra na
ordem do idealizado, muito afastado do real.”. (2013). Uma relação em que são
permitidas cobranças e exigências, não pode ser chamada de saudável.
Vínculos saudáveis se formam
e se mantém de maneira natural e espontânea. Sempre permeados de tolerância
quanto ao tempo de desenvolvimento das capacidades. O respeito é o que
fundamenta os vínculos que estejam sendo saudáveis, onde cada novo dia é uma
oportunidade de conhecer o outro e a si mesmo novamente.
São relações que tem
sempre pouca intensidade de impulsos, onde explosões de prazer e de hostilidade
são muito pouco frequentes e com mínima magnitude.
Entretanto, o vínculo ganha
com isso grande durabilidade, num cultivo tolerante e compassivo de afeto e
sinceridade.
MARTINO, Renato Dias. O AMOR E A EXPANSÃO DO
PENSAR: das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade
reflexiva – 1ª ed. São José do Rio Preto, SP: Vitrine Literária Editora, 2013.
______ O LIVRO DO DESAPEGO – 1ª ed. São José
do Rio Preto, SP: Vitrine Literária Editora, 2015.
______ ACOLHIDA EM PSICOTERAPIA – 1ª ed. São José do Rio Preto, SP: Vitrine
Literária Editora, 2018.
Fone: 17-991910375
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