domingo, 24 de novembro de 2024

MECANISMO EGOSINTÔNICO




SINTÔNICO OU DISTÔNICO 

Egossintônica é quando a defesa está em sintonia com o ego. Quando o sujeito desenvolve um mecanismo de defesa e este mecanismo de defesa está sintônico, em sintonia com o ego. Então, ele acredita que aquele mecanismo de defesa não é um mecanismo de defesa, mas é um elemento inerente ao ego, é parte do ego. E aí, é muito difícil de tratar aquilo que está gerando o mecanismo de defesa. Quando este mecanismo de defesa começa a ser egodistônico, ou seja, quando ele já não está mais em sintonia com o ego, o sujeito começa a se incomodar com aquilo, ele começa a perceber que aquele mecanismo de defesa é algo que não está mais trazendo para ele algum benefício, mas começa a atrapalhar o fluxo da sua vida. Egossintônico é quando aquilo está em sintonia com o ego, quando a gente fala aí, do saber como um mecanismo de defesa e o saber é, o conhecimento, a busca do conhecimento é um mecanismo de defesa, o sujeito se defende tentando saber. Quando este mecanismo de defesa está em sintonia com o ego, o sujeito é o dito intelectual. Aquilo faz parte dele, aquilo faz parte da personalidade dele. Ele se contenta com aquilo, ele agrega aquilo, ele está em sintonia com aquilo. Quando ele começa a perceber que esse saber não garante nada e ele começa a duvidar desse saber, este mecanismo começa a ser distônico. E aí, ele começa a questionar o saber admitir a sua ignorância e passa a ser um eterno aprendiz.

EU SOU ASSIM MESMO

Muitas vezes, o sujeito desenvolve mecanismos de defesa que estão tão incorporados no ego, tão incorporados nele mesmo, na sua personalidade, que a gente vai chamar esse mecanismo de defesa de egossintônico, porque ele está tão eficaz, incorporada ao funcionamento do ego, que parece que é uma característica do sujeito. É um mecanismo de defesa, mas por estar dentro da ordem do egossintônico, ele passa a ser admitido pelo sujeito como característica dele e não como uma defesa. Na realidade, ele desenvolveu isso num momento onde ele se sentia inseguro, onde ele se sentia ameaçado por alguma coisa e passou a usar aquele mecanismo de defesa constantemente, mesmo depois que aquela ameaça não estava mais ali. Então, passou a ser um mecanismo egossintônico. Ele não enxerga mais aquilo como um mecanismo de defesa, mas ele enxerga como característica dele e este tipo de mecanismo de defesa é quase que intransponível. Você não consegue enxergar mais o que está por trás daquilo. Você já não consegue mais olhar para o que gerou o mecanismo de defesa, porque ele já se agregou como característica do sujeito. E aí, quando o paciente, na clínica vem com este tipo de mecanismo de defesa, ele não consegue ver aquilo como mecanismo de defesa, mas ele vê aquilo como “eu sou assim mesmo”.

EXEMPLO

Uma mulher que teve uma experiência malsucedida com o seu pai, uma moça que não conseguiu ter uma experiência bem-sucedida com o seu pai, seu pai não conseguiu exercer a função paterna de maneira adequada, ela passa então a desenvolver uma repulsa a homens. Esta repulsa que ela tem por homens é uma defesa em relação ao pai, mas ela hoje, carrega esta repulsa em relação a qualquer homem e ela passa a dizer assim: “eu sou assim mesmo, eu não gosto disso” Isso não quer dizer que não seja uma defesa, mas é uma defesa egossintônico ego.

DISSOLUÇÃO

Para que as defesas egossintônico possam ser dissolvidas, elas carecem de autoconfiança. Por mais que a psicanálise possa trazer para o sujeito a possibilidade de desenvolvimento da autoconfiança, não é só na psicanálise. É claro que dentro do ambiente psicoterapêutico nós temos uma configuração privilegiada. A psicoterapia tem um uma configuração que é propícia para isso, mas esta relação, esta relação de confiança consigo mesmo pode ser desenvolvida, por exemplo, com o seu cônjuge, com o seu companheiro. É claro que vai demorar mais. O companheiro não está preparado para trazer esta possibilidade de estar isento de memórias, de estar isento de expectativas e de estar isento do conhecimento sobre a situação e o analista tem esse privilégio. Então, vira e mexe, alguma expectativa do companheiro vai interferir. Vira e mexe, alguma lembrança do companheiro vai interferir. Vira e mexe, alguma tentativa de saber de conhecer vai interferir. Coisa que dentro da psicanálise, pelo menos dentro dessa perspectiva da psicanálise que a gente estuda, que a gente comunga nos nossos grupos e na nossa análise pessoal vai estar isenta, ou pelo menos, rebaixada ao máximo o resgate da memória, a tentativa de enquadrar na expectativa, a tentativa de enquadrar no já sabido.

AUTOCONFIANÇA

A partir desse ambiente acolhedor do setting terapêutico, da relação com o analista, ele passa a desenvolver autoconfiança. Quando ele desenvolve autoconfiança, ele passa a perceber que estas defesas já não são mais úteis. E aí, essas defesas, por si só, vão se dissolvendo com a entrada da autoconfiança. Então, não passa pelo racional. Ele, muitas vezes, nem entende nada do que está acontecendo. Em algum momento da análise, pode ser que ele perceba tudo isso e venha emergir a oportunidade de fazer um mapeamento do que aconteceu. “Você percebe que eu já não tenho mais aqueles medos?” “Eu já, também não faço mais isso, porque talvez isso também não me ameace mais...” Toda essa problemática racionalizada, toda essa problemática não tem tanta relevância como a transformação emocional que vai acontecendo gradativamente, na medida em que o analista dá conta de proporcionar esse ambiente também, porque muitas vezes é difícil para o analista.

ILUSÃO

Toda defesa é uma ilusão. Os mecanismos de defesa estão apoiados, amparados em ilusões. Quando essa ilusão começa a ruir e esse mecanismo de defesa passa a não ser tão eficaz, quer dizer que ele já está começando a ficar egodistônico. Ele já não está mais em sintonia com o ego. E aí, ele passa a se dissolver, a se diluir. Por quê? Porque o sujeito se sente seguro o suficiente para questionar os seus mecanismos de defesa. O trabalho da psicoterapia não é derrubar a defesa, mas é criar um ambiente suficientemente tranquilo, confiável, saudável para que o sujeito possa desenvolver a autoconfiança e passar a questionar as formas como ele tem se defendido das coisas, se defendido das coisas que muitas vezes são ilusórias.

TRANSFERÊNCIA 

É a base do que o Freud chamou de transferência. Voltando no exemplo da moça que não conseguiu ter um relacionamento bem-sucedido com o pai e hoje tem repulsa homens. Cada homem que ela se aproxima, ela transfere a imago do pai, e aí, ela age com essa pessoa nova que ela está se relacionando, não como esta pessoa real, mas com como ela se relacionava com o pai e passa a se defender desta pessoa assim como ela se defendia do pai. Mesmo que essa pessoa não venha a trazer as ameaças que o pai trouxera.



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