quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

SOBRE A PSICOTERAPIA - Prof. Renato Dias Martino


PSICOTERAPIA OU PSICANÁLISE

A psicanálise é uma teoria a psicanálise é aquilo que o Bion chamou de sistema dedutivo teórico, é uma série de conceitos que precisam ser preenchidos de experiência que interconectados vão formar um sistema. Psicoterapia é aquilo que pode ser realizado através da psicanálise. A análise propicia a psicoterapia. Tem muitos pensadores que tentam diferenciar o processo psicoterapêutico do processo psicanalítico, eu não vejo diferença alguma. Quando você está praticando a psicanálise, você está praticando uma psicoterapia. O que é psicoterapia PSICO é a parte do eu que não está disponível aos órgãos dos sentidos, a parte não sensorial do sujeito e TERAPIA é cuidado. A psicanálise propicia um cuidado com a psique. Tentar diferenciar processo psicoterapêutico do processo psicanalítico é uma perca de tempo, porque nós estamos psicoterapeutas.

PSICOTERAPIA PROFUNDA

Existem profissionais que tentam diferenciar psicoterapia de psicanálise dizendo que a psicoterapia é algo mais superficial e a psicanálise é algo mais profundo. A psicanálise é um método para se aplicar à psicoterapia, o cuidado com a mente a psicoterapia pode ser profunda, a partir da premissa da psicanálise. Se você estiver utilizando do método psicanalítico, a psicoterapia vai ser profunda. 

COMPORTAMENTO OU FUNCIONAMENTO

Nós temos vários modelos de psicoterapias. Algumas trabalham o comportamento, tentam trazer para o sujeito, tarefas ou novos modelos de comportamento e propõem para o sujeito exercitar, fazer exercícios para que ele possa mudar o seu comportamento. Agora, existem outras propostas que trabalham o funcionamento do sujeito. Quando eu trabalho o funcionamento, o comportamento vai se transformar por si só. É uma consequência da transformação do funcionamento. A maturação emocional e afetiva vai trazer como desdobramento. A transformação do comportamento, mas mudar comportamentos não pode trazer maturidade emocional.

ANOTAR

Esse estereótipo de um psicanalista com uma prancheta na mão anotando aquilo que o paciente fala é uma caricatura. O psicanalista real não anota nada que o paciente fale ou faça, porque a anotação é um registro e o psicanalista precisa renunciar da memória. Cada sessão é sem passado e sem futuro. Inclusive o Freud até orientava assim: “Não escreva sobre os casos que você esteja atendendo” Freud nunca notou nada que o paciente estava falando.

CONTINENTE 

A psicanálise, sobretudo a partir das propostas do Bion, do Wilfred Bion, passa a ser um continente para receber conteúdos. Se o paciente não trouxer um conteúdo para ser contido, eu não tenho o que fazer. Tudo aquilo que vai ser feito dentro de uma sessão psicanalítica precisa vir do paciente, eu vou acolher e tentar pensar junto com o paciente, tentar propiciar uma transformação daquele conteúdo, para devolver para o paciente. Se o paciente não trouxer nada, nada eu posso fazer, porque qualquer coisa que eu faça que não tenha sido trazido pelo paciente é meu e o meu eu trato na minha análise.

O NÃO DITO

A gente ouve muito orientações de psicanalistas assim ó: “Você precisa ouvir aquilo que não está sendo dito”. Precisamos ter muito cuidado com isso. Muitas vezes, quando você ouve aquilo que não está sendo dito, na verdade, você está projetando algo teu ali e chamando atenção por algo que não é do paciente. Então, se o paciente ficou em silêncio, sim, o silêncio dele está querendo dizer alguma coisa. Mas o que? Não sei! Enquanto ele não manifestar isso eu não posso fazer suposições através do seu silêncio. Psicanalista não é adivinho, nós não estamos ali para adivinhar as coisas. O paciente fica calado e eu começo a adivinhar o que que é que ele está querendo dizer com o silêncio dele. O paciente cruza as pernas, eu falo: “Ah! Cruzou as pernas porque não sei o que, não sei o que mais”. Não! Isso é dedução e nós trabalhamos com intuição.

SILÊNCIO  

Quando o sujeito está num ambiente de paz. Quando o sujeito está num ambiente de silêncio, o caos interno começa a emergir, o barulho interno começa a emergir, aparecer e aí que é o grande problema. É por isso que, muitas vezes, o sujeito tem um benefício de estar em ambientes caóticos, perturbadores, barulhentos, porque aí, ele não precisa a se responsabilizar pelo barulho interno, pela bagunça interna. Então, muitas vezes, ele colabora para que o ambiente em volta dele seja perturbador e barulhento para que ele não precise reconhecer a realidade do barulho interno dele. Se o paciente ficar em silêncio, em silêncio eu ficarei. O silêncio dele será muito bem acolhido por mim, sem que eu precise ficar cutucando ele para que ele fale qualquer coisa. Quando ele começar confiar no ambiente, ele começa a trazer aquilo que precisa ser trazido, já que nós somos acolhedores. Então, nós só podemos acolher aquilo que estiver pronto para ser acolhido. Se não estiver pronto para ser acolhido. eu não posso fazer nada. Porque senão, não é acolhimento é captura, é investigação. Eu não investigo nada, eu não sou um investigador, eu só acolho aquilo que estiver pronto para ser acolhido. Quando você persegue alguma coisa, você promove, na verdade, mais defesas do que o sujeito já tinha. Quando você investiga um sujeito, o sujeito tenta fugir desta investigação.

DEDICAÇÃO OU ESFORÇO

Para que haja uma transformação verdadeira é necessário dedicação, mas para transformar, para mudar comportamentos é necessário esforço. Esforço não é dedicação. Esforço é forçar alguma coisa. Dedicação é persistência, é constância naquilo que se propõe fazer.

DISPUTA 

A competitividade é sempre prejudicial a disputa é sempre nociva. Ah! Mas e o esporte? Pois é, o esporte é um recurso para que você possa elaborar esta competitividade, essa disputa, para que essa disputa e essa competitividade não transbordem para a sua vida cotidiana. Porque quando ela transborda pra vida cotidiana, ela passa a ser nociva e nós somos educados para competir. Nós somos educados para disputar. A escola promove isso. A educação dos pais promove isso. Mas isso é nocivo! Uma criança competitiva e ela vai ser competitiva porque isto é um ímpeto da criança, é importante que ela encontre um esporte, ou alguma atividade para que ela possa elaborar isso e não levar pra sua vida adulta, porque nada mais insuportável do que conviver com um adulto que está tentando competir com você o tempo inteiro. Muitas vezes, você está dando um grupo de estudo com a melhor boa intenção e vem um bonitinho lá no meio: “Eu não concordo!” Não é que ele não concorda com a ideia, é que ele está ali com um ímpeto de disputa, de competição. Muitas vezes, para uma palestra com centenas de pessoas ali, para discordar do sujeito que está falando ali em cima. Se você discorda, fica quietinho e leva embora para casa, tua discordância. Isso é impertinente! Então, o esporte é muito importante para quê? Para elaborar a competição. para elaborar a disputa, para que ela não transborde para sua vida cotidiana e com isso atrapalha e obstrua os vínculos afetivos. Do pai disputando com a mãe, do marido disputando com a esposa, do filho disputando com o pai, do pai vai disputando com o filho. Muitas vezes, com criança! Então, a disputa é nociva, ela precisa ser elaborada, você precisa encontrar recursos para elaborá-la. Pelo amor de Deus! Se você estiver educando seu filho para que ele seja competitivo, você está adoecendo esta criança e vai fazer com que ela se torne um adulto insuportável emocionalmente. Ele vai ser ótimo na empresa, ele vai ser ótimo no mundo corporativo, mas afetivamente, vai ser um chato. As pessoas vão gostar dele porque ele é muito bem-sucedido, mas as pessoas não vão amá-lo, porque ele é insuportável.

JOGO

Muitas vezes, o paciente você traz para ele uma interpretação e ele fala assim: “Ah! Me pegou, heim? Nessa você ganhou!” Não estou aqui competindo com você. Eu estou a favor, estou do teu lado, não estou contra você. Então, a psicoterapia precisa ser uma brincadeira, precisa ser lúdica, assim como propôs Melanie Klein e não um jogo, onde um ganha e outro perde. Não estamos competindo aqui.

INTUIÇÃO

Nós precisamos nos guiar pela intuição. Aí vem a pergunta: “Professor como é que eu posso saber se é intuição ou é uma alucinação? Como é que eu posso saber se essa intuição é realmente um reconhecimento da realidade, ou se eu estou ali imaginando, alucinando alguma coisa?” O que vai definir isso é a possibilidade de criar um vínculo saudável com a realidade. Quando eu estabeleço um vínculo saudável com a realidade, quando eu estabeleço um acordo com a realidade A minha intuição passa a ser a melhor via de reconhecimento das manifestações desta realidade agora quando eu não tenho vínculo com a realidade A minha intuição provavelmente vai ser muito mais referente a coisas que eu estou alucinando ou que eu estou iludido do que um reconhecimento da realidade.

INVESTIGAÇÃO

Quando a gente fala de protopensamento, a gente está falando de um elemento que está entre a ilusão e a realidade. Entre a associação com ilusões alucinações e a possibilidade de passar por aquilo que o Freud chamou de teste de realidade para entrar num acordo com a realidade. O que é que vai definir se o protopensamento vai se associar a Ilusões, ou ele vai tolerar a passagem do teste de realidade é um ambiente acolhedor. O ambiente acolhedor vai fazer com que, espontaneamente o protopensamento se disponha a ser pensado. Não é uma investigação. A investigação não pode fazer isso. Investigar protopensamento vai fazer com que este protopensamento se enfronhe com as Ilusões, seja reprimido. Porque está sendo perseguido, porque está sendo investigado. Então, por mais que a gente tenha esta palavra, “investigação” dentro das formulações psicanalíticas tradicionais, nesta clínica que a gente está conversando aqui, não estamos dispostos a investigar o paciente.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

IMATURIDADE, SIMBOLIZAÇÃO, VÍNCULO E ESPERANÇA - Prof. Renato Dias Martino




IMATURIDADE

Nós vivemos numa sociedade de adultos imaturos, adultos imaturos e perigosamente inteligentes. Sujeitos que têm uma inteligência grande, o sujeito que tem um conhecimento muito vasto, mas que são extremamente imaturos emocionalmente e um sujeito imaturo emocionalmente condiz com um sujeito incapaz afetivamente, ou seja, incapaz de amar. Ele não é capaz de se dedicar ao outro, ele não é capaz de considerar o outro, ele não é capaz de respeitar o outro. Porque, apesar de inteligente é imaturo e sendo guardando, fixado uma criança ou inúmeras crianças dentro dele, ele vai priorizar aquilo que o interessa e não aquilo que seja bom para todos.

PRINCÍPIO DO PRAZER 

O Freud propôs que nós funcionamos de duas formas diferentes. No processo primário e no processo secundário. O processo primário é regido pelo princípio do prazer, ou seja, eu busco satisfação imediata o tempo todo e evito desconfortos o tempo todo. Esta é a função do processo primário, no princípio do prazer. Na medida em que o sujeito vai desenvolvendo a sua capacidade de tolerância, ele começa a funcionar também por um outro processo chamado processo secundário, que então é regido pelo princípio da realidade. Ele começa admitir, considerar alguma coisa que já não é só o seu prazer, não é só a sua satisfação, não é só evitar desconfortos, mas é também considerar o mundo externo e a realidade como um todo. Nós estamos falando então, de uma sociedade onde um adulto não é capaz de considerar a realidade como um todo, mas ele simplesmente e tão somente busca a sua satisfação e muitas vezes usando, de maneira inteligente, narrativas dizendo que aquilo ali é para o bem do outro também.

NO ADULTO

Nós funcionamos, mesmo depois de adulto a maioria do tempo, pelo processo primário. Não deixamos de funcionar, no entanto, nós aprendemos a conter os desdobramentos do processo primário e a partir de então, somos capazes de funcionarmos também pelo processo secundário. Na maioria do tempo a gente está buscando afastar desconfortos e buscando satisfação imediata, no entanto, somos capazes, a partir da maturação emocional, de conter este processo para que ele não se manifeste o tempo todo e nesta continência a gente passa a ser capaz de considerar o mundo externo também. Ou seja, o processo primário e o processo secundário vão funcionar concomitantemente. Um não anula o outro. Existe uma cota do sujeito funcionando por um processo e outra cota funcionando por outro processo, mas a maior parte do tempo nós estamos funcionando pelo processo primário, por mais maduro, por assim dize,r que nós possamos ser.

SIMBOLIZAÇÃO 

Como é que o processo psicoterapêutico entra nessa tarefa de transformação da forma que o sujeito funciona? Através da simbolização. Como é que se dá esse trabalho de simbolização? Se dá de uma maneira muito bonita, muito bela, porque o sujeito, a partir do vínculo bem-sucedido com o psicoterapeuta, com o psicanalista, o sujeito, enquanto paciente, ele vai internalizando a relação que ele tem com o analista e a partir dali esta relação que ele tem com analista vai se tornando um modelo que ele vai aos pouquinhos trazendo para a relação com ele mesmo. Então, a forma como ele se relaciona consigo mesmo vai ganhar um novo modelo a partir da relação que ele tem com o analista. Então, em primeiro momento ele vai levar a figura do analista internalizada e na medida em que ele se encontra em algum conflito na sua vida cotidiana, ele provavelmente vai pensar: “o que seria que o meu psicoterapeuta, o meu psicanalista me diria agora, nessa situação?” E na medida em que ele vai conseguindo internalizar e essa simbolização vai se efetivando e vai se consolidando, ele passa a levar esse diálogo na relação com ele próprio, ou seja, ele não pensa mais o que o psicanalista dele diria para ele, mas hoje ele já tem essa forma de funcionar e ele mesmo passa a lidar com seus conflitos de uma forma própria, que leva em conta as experiências que ele teve com o analista.

SUPORTAR 

Esse processo de simbolização faz com que o sujeito seja cada vez mais capaz de tolerar desconfortos e menos capaz de aguentar desconfortos. Porque o sujeito quando ele aguenta é porque ele não aprendeu a tolerar. O desdobramento bem-sucedido é na capacidade de tolerar na esperança de que aquilo vai passar. O sujeito que aguenta ele aguenta porque não tem esperança de passar. Ele suporta. Ele carrega o peso o sujeito que tolera, tolera até que passe. 

ESPERANÇA 

O processo de tolerância está diretamente subordinado à esperança. Sem esperança, sem tolerância. Precisa haver a esperança de que algo acontecerá e que possa trazer o alívio daquela situação, senão é aguentar e aguentar não é saudável por quê porque é acumulativo, porque é estressante, porque traz para o sujeito um adoecimento, mesmo que ele não esteja percebendo.


VÍNCULO E ESPERANÇA 

A esperança é algo desenvolvido, impreterivelmente a partir de um vínculo bem-sucedido. Não existe o desenvolvimento de esperança sem que anteriormente possa ter havido um vínculo afetivo saudável.

SIM E DIA

Símbolo é juntar, diábolos é separar. SIM é juntar, DIA é separar. Quando eu sou capaz de simbolizar, eu estou integrando. A partir da minha integração com o outro eu tenho um modelo de integração comigo mesmo. O processo de diabolização, por assim dizer, é o processo de separação de fragmentação. Então, enquanto eu, a partir do processo psicoterapêutico consigo simbolizar, a sociedade me propõe diabolizar por várias vias. Seja pelas ideologias que separam negros de brancos, homossexuais de heterossexuais, de homens de mulheres e outras coisas parecidas, vão separando as coisas e dentro do processo psicoterapêutico, a gente tem a chance de juntar as coisas e a partir de um processo extremamente desconfortável, reconhecer a realidade como um todo.

ESTAR SENDO

A diferenciação básica do ato de fé e da esperança é que o ato de fé diz respeito a algo que está acontecendo naquele momento, no aqui e agora, apesar de eu não conseguir constatar pelos meus órgãos dos sentidos, apesar de não estar dentro da perspectiva do sensorial, ainda sim está acontecendo. Então, isso carece o ato de fé para que eu possa, a partir da minha intuição, perceber isso, reconhecer isso aprender a respeitar isso e me responsabilizar por isso. A esperança diz respeito àquilo que há de vir. Então, por mais que agora a situação esteja me frustrando, ainda assim eu vou tolerar com a esperança de que isso vai se transformar e essa esperança diz respeito à percepção do “estar sendo”, do fluxo da vida e não de um estado cristalizado, engessado que, a partir do “eu sou”, não me permite perceber que a vida é um fluxo.

SOBRE O SABER

Intuição sem que eu possa dar um nome, ela é cega. Um nome que não esteja preenchido de intuição é vazio. No entanto, a partir da nossa vivência psicoterapêutica, a gente percebe que muitas vezes, a intuição não precisa sequer levar um nome para que ela possa ser considerada. Muitas vezes eu não vou encontrar nome para uma experiência vivida e a ainda assim, essa experiência que não foi nomeada é nutridora, é passiva de aprendizado, nos ensina, mesmo sem nome. Priorizar o conhecimento, ainda ficar ligado ao saber, ao conhecer, é limitar a nossa experiência como um todo. Porque o saber é limitado, é limitado e limitante em qualquer esfera, seja numa ciência extremamente rebuscada e tecnológica, ainda assim, esse saber é limitante, porque o saber não inclui o amor. O saber é frio, o saber é racional, o sujeito só vai desenvolver a sua capacidade afetiva a partir do seu desenvolvimento emocional, da sua qualificação afetiva, que venha de um preparo, de uma maturação emocional, que tem a ver com simbolizações e tolerância.

EQUAÇÃO OU ANALOGIA 


O termo “equação simbólica” foi criada pela Hanna Segal, inspirada na Melanie Klein. Equação simbólica é quando o objeto coincide com o símbolo, equaciona com o símbolo. Aquilo que está dentro é aquilo que está fora. Quando aquilo que está fora não está presente, aquilo o que tá dentro também não fica presente. Não traz a possibilidade de desenvolver tolerância, porque a ausência de um equaciona a ausência do outro e isso vai para além, num exemplo dentro da clínica. O analista é meu pai! Isto é uma equação simbólica. O analista se torna o pai do sujeito. A analista se torna a mãe do sujeito. Na analogia simbólica é assim: isto que está dentro é como se fosse aquilo que está fora, então não é aquilo que está fora, mas é como se fosse. O analista é como se fosse meu pai. Isso é analogia. O analista é análogo ao meu pai, ele não está numa equação com o meu pai. A analista é como se fosse a minha mãe, ela não é minha mãe equacionada. A parte psicótica da mente funciona por ação simbólica e não por analogia simbólica. A equação simbólica só tem igualdades, a analogia simbólica tem igualdades e também admite diferenças.

BEZERRO DE OURO 

Um exemplo muito interessante de equação simbólica, nas formulações religiosas é a passagem do bezerro de ouro. Quando Moisés sobe a montanha para ter com Deus e o povo fica ali esperando, quando ele volta o povo juntou todo o ouro que tinha, derreteu e fez um bezerro de ouro. Para o povo, Deus tinha que ser materializado em algo valoroso, porque senão eles não conseguiam adorar Deus. Então, existe a necessidade de concretizar alguma coisa para que este elemento concreto e físico possa coincidir com o símbolo interno.



domingo, 12 de janeiro de 2025

DA INOCÊNCIA À CAPACIDADE DE AMAR - Prof. Renato Dias Martino


INOCÊNCIA

Criança tem o direito de ser inocente. Ela precisa viver a inocência, ela precisa ser resguardada pelos pais para que ela possa viver a sua inocência. Uma criança que é obrigada a se desfazer das suas ilusões e da sua inocência precocemente, vai, na realidade, se fixar nessa inocência e nesta ilusão e vai carregar isso para o resto da vida. Só que latente, só que escondido, só que reprimido e vai ser manifestado no pior momento no momento, mais inadequado. Quando ela mais precisar contar com a sua maturidade esta inocência, essa ilusão que ficou fixada lá, vai se manifestar como imaturidade. Que é o que a gente vê na sociedade contemporânea, adultos infantilizados porque não puderam viver a sua inocência. Porque tiveram que crescer muito rapidamente. O que é uma mentira, porque ninguém cresce rapidamente, ninguém amadurece rapidamente. Cada um tem seu tempo.

CRIANÇA NÃO AMA

Criança não ama! Criança não tem capacidade de amar. Criança precisa ser amada, porque ela está aprendendo a amar. É muito triste quando um adulto exige que a criança ame. Não tem nada mais constrangedor, quando um adulto fica obrigando a criança a beijar o outro, abraçar o outro, seja a avó, seja o tio, em festas familiares. Isso é extremamente constrangedor e gera na criança, uma repulsa ao carinho espontâneo.

TEM QUE

Me assusta ver esses profissionais, principalmente tento da perspectiva da psicologia, dizendo para o outro o que ele tem que fazer, o que o outro precisa, o seu filho precisa disso, ele tem que fazer outra coisa... Não! Ninguém “tem que” nada! Cada um vai se desenvolver no seu próprio tempo. Cada um vai se desenvolver dentro da sua configuração ambiental que propicia esta expansão. Ninguém “tem que” nada, porque se você “tem que” alguma coisa, você começa a ativar um falso eu. Você vai ser aquilo porque você tem que ser, logo você vai tender a dissimular isso.



domingo, 5 de janeiro de 2025

SOBRE VÍNCULOS SAUDÁVEIS - Prof. Renato Dias Martino




AVALIAR A REALIDADE

A possibilidade de avaliarmos a realidade de maneira segura e posteriormente entrarmos num acordo com esta realidade depende exclusivamente e fundamentalmente do vínculo afetivo que a gente possa estabelecer. Não há como entrar num acordo com a realidade sem que a gente tenha um bom vínculo afetivo, ou bons vínculos afetivos. Este vínculo afetivo saudável é que vai servir de ponte para o acordo com a realidade. Um sujeito que não tem vínculos afetivos saudáveis, muito provavelmente, vai tomar como verdade, suas ilusões. Vai tomar como realidade aquilo que ele imagina que seja.

SUPERFICIAL E PROFUNDO

O vínculo afetivo, ele se estabelece a partir de dois “verdadeiros eus”. Um verdadeiro eu que se relaciona com outro verdadeiro eu. Isso se chama vínculo afetivo. Diferente do vínculo social que é estabelecido por dois “falsos eus”. Um falso eu que se relaciona com outro falso eu. Por mais que essa palavra, “falso”, possa suar pejorativa, não é pejorativo. É um constituinte da personalidade do sujeito. Mas é falso. E o ser social é um ser dissimulado. Então, uma ligação é profunda, a ligação afetiva é profunda e a ligação social é superficial.

CASCA

Quando o sujeito, por exemplo, vai se desenvolvendo e aí, dentro de uma metáfora, ele vai soltando as suas cascas, assim como a cigarra faz, assim como muitos animais, a cobra faz, outros animais vão soltando as cascas, esses vínculos sociais tendem a serem abandonados. Porque eles são superficiais e estavam ligados à casca e vão ficando os vínculos afetivos que são ligados profundamente.

VÍNCULO COM A REALIDADE

O vínculo saudável é um vínculo verdadeiro. O vínculo saudável é aquele que traz a possibilidade de se desvencilhar de defesas. O vínculo saudável é aquele que está ligado por afeto. Por afeto e sinceridade. Esta ligação de afeto e sinceridade não carece de defesas porque são dois “verdadeiros eus”. Sendo verdadeiro e sendo um vínculo com algo que está além do eu, passa a ser uma ponte com a realidade. O outro é uma realidade e uma possibilidade de estar ligado ao outro verdadeiro, que faz parte da realidade externa sem defesas sem impedimentos.

ACORDO

Tem pessoas que não conseguem se ligar ao outro de maneira afetiva. Ele só se liga ao outro de maneira social. Ele só se liga ao outro de maneira falsa e dissimulada. E eu não estou criticando aqui, eu não estou, de maneira alguma, criticando o sujeito que faz isso. Pelo contrário, esse sujeito ele é digno de compaixão, porque ele não aprendeu a amar. Então, ele só se liga ao outro a partir do falso eu, logo ele nunca está num acordo com a realidade, porque ele está sempre ligado ao outro através de ilusões, de dissimulações, de mentiras, de falsidades, de imaginações. Para que ele possa estabelecer um acordo com a realidade ele precisa ter vínculos afetivos e não tão somente vínculos sociais.

AFINIDADE

O vínculo afetivo é construído. O vínculo social se cria automaticamente, instantaneamente porque o vínculo social se dá a partir de aparências, de identificações. O vínculo afetivo se dá a partir de afinidades e as afinidades vão sendo reconhecidas gradativamente.

AFINADO 

Cada corda do violão emite uma nota diferente. Tem duas cordas do violão que são a mesma nota, só que em oitavas diferentes. Todas as notas estão afinadas num só tom, mas emitindo notas diferentes. As cordas são diferentes, mas elas estão afinadas entre si. Se tiver uma corda que não esteja afinada, ela vai dar uma dissonância. O som vai ficar desconfortável. Para que haja harmonia, as cordas precisam estar afinadas, precisam ter afinidades uma com a outra. Então, quando a gente fala de afinidade, nós não estamos falando de gostar da mesma coisa, nós estamos falando de uma frequência, de uma vibração dentro da mesma tonalidade.

NO QUE É FUNDAMENTAL

Quando a gente está falando de gostar, a gente está falando de desejo e a afinidade, ela é muito mais profunda do que aquilo que eu gosto ou deixo de gostar. Dentro de uma família bem estruturada, todas as pessoas estão afinadas emocionalmente e afetivamente. Existe uma forma de afinidade afetiva que vai estar regendo esta família. Não tem a ver com, eu gosto de música sertaneja e você gosta de rock n’ roll, eu gosto de manga e você gosta de pera, eu gosto de macarrão e você gosta de pizza. Não tem a ver com isso. Tem a ver com estar afinado emocionalmente, naquilo que é fundamental, naquilo que é base de um vínculo como respeito, como responsabilidade, como afeto como dedicação.

AFINIDADE E RESPEITO

Quando existe afinidade, eu posso não aceitar aquilo que você faz, mas eu respeito o que você faz. Quando existe afinidade, eu posso não gostar do mesmo estilo de música que você gosta, mas eu respeito o estilo de música que você gosta. A afinidade está dentro da perspectiva do respeito e não da aceitação. Eu não aceito, mas eu respeito, logo tenho afinidade. Estou afinado.

CONFIANÇA

Dentro da configuração do vínculo saudável do vínculo afetivo saudável e não tão somente um vínculo social, a gente tem a ideia da confiança. A gente tem a experiência da confiança este conceito que vai ser preenchido por uma experiência é muito importante. A confiança - COM quer dizer junto e FIANÇA quer dizer acreditar. confiança é vínculo, é o fio, “com-fio”. Esse fio é o que liga uma pessoa a outra afetivamente. Então, a confiança traz a possibilidade de se relacionar com o outro não somente no âmbito social, mas no âmbito afetivo, onde um afeta o outro criando um vínculo.

CONCORDAR

COM quer dizer junto e CORDES quer dizer coração. Então, concordar é estar junto de coração, não é aceitar a ideia que o outro traz. Concordar a estar junto de coração, independente da opinião de cada um, independente de quem está com a razão. Então, um ambiente de afinidade é um ambiente de concórdia, de concordância, onde um concorda com o outro, apesar de não compartilhar da mesma ideia. Porque a racionalidade porque a razão, ela está num nível onde tudo é relativo. Então, eu posso dizer para você que a minha mão é branca e você vai dizer não a sua mão é rosa, é rosada. Eu vou falar não é branca, não é rosada... Então, a gente vai começar a debater aqui sobre uma coisa que é infecunda, porque na realidade, se a gente estiver concordando, tanto branco quanto rosado, vai solucionar a questão.

RAZÃO 

Enquanto houver a necessidade de alguém ter razão, não há concórdia. Enquanto houver a necessidade de uma verdade prevalecer sobre a outra, não existe verdade, porque a verdade é soberana, independente do que eu acho, ou o que você acha. Quando nós somos capazes de estarmos num ambiente de concórdia, a verdade vai emergir, vai se desvelar. Ela vai aparecer, independente daquilo que eu acho, ou da sua opinião. E aí, nós temos, realmente a possibilidade de entrar num acordo com a realidade.

PERFAZER 

A identificação é quando eu vejo no outro, algo que está em mim. Não tem a ver com afinidade. Afinidade é quando as partes se perfazem pelo reconhecimento do limite. Nós reconhecemos o limite, logo podemos nos encaixar, podemos casar uma parte com a outra. Na identificação as duas partes se misturam e eu já não sei mais o que que é de um o que que é do outro.



quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

FALSO OU VERDADEIRO - Prof. Renato Dias Martino


Quando a gente está muito preocupado em classificar as coisas dentro de um critério de certo e errado, nós estamos desatentos e não nos importando com critério de falso ou verdadeiro. Aquilo que é falso não é necessariamente errado e aquilo que é verdadeiro não é necessariamente certo. Depende do critério que foi estabelecido. O que é real, é real, independente de ser certo ou errado. O que é falso, é falso, independente de ser certo ou errado. O sujeito pode estar iludido e ele age iludido. Não quer dizer que ele esteja errado. Ele está iludido. Ele não está sendo capaz de reconhecer a realidade. Reconhecer a realidade não garante que você seja capaz de lidar com ela. E o critério de certo ou errado é muito cômodo. O sujeito ele se acomoda nisso, porque aquilo é oferecido para ele com toda a garantia. Então, ele não precisa pensar, ele não precisa pesquisar, ele não precisa, de maneira alguma, perceber, reconhecer ou qualquer outro tipo de dedicação àquela informação da qual ele está defendendo. Porque, aquilo vem pronto. Agora, o falso e verdadeiro já requer uma certa atitude mais amadurecida, por assim dizer. Logo, mais trabalhosa, mais incômoda, mais desconfortável.