PSICOTERAPIA OU PSICANÁLISE
A psicanálise é uma teoria a psicanálise é aquilo que o Bion chamou de sistema dedutivo teórico, é uma série de conceitos que precisam ser preenchidos de experiência que interconectados vão formar um sistema. Psicoterapia é aquilo que pode ser realizado através da psicanálise. A análise propicia a psicoterapia. Tem muitos pensadores que tentam diferenciar o processo psicoterapêutico do processo psicanalítico, eu não vejo diferença alguma. Quando você está praticando a psicanálise, você está praticando uma psicoterapia. O que é psicoterapia PSICO é a parte do eu que não está disponível aos órgãos dos sentidos, a parte não sensorial do sujeito e TERAPIA é cuidado. A psicanálise propicia um cuidado com a psique. Tentar diferenciar processo psicoterapêutico do processo psicanalítico é uma perca de tempo, porque nós estamos psicoterapeutas.
PSICOTERAPIA PROFUNDA
Existem profissionais que tentam diferenciar psicoterapia de psicanálise dizendo que a psicoterapia é algo mais superficial e a psicanálise é algo mais profundo. A psicanálise é um método para se aplicar à psicoterapia, o cuidado com a mente a psicoterapia pode ser profunda, a partir da premissa da psicanálise. Se você estiver utilizando do método psicanalítico, a psicoterapia vai ser profunda.
COMPORTAMENTO OU FUNCIONAMENTO
Nós temos vários modelos de psicoterapias. Algumas trabalham o comportamento, tentam trazer para o sujeito, tarefas ou novos modelos de comportamento e propõem para o sujeito exercitar, fazer exercícios para que ele possa mudar o seu comportamento. Agora, existem outras propostas que trabalham o funcionamento do sujeito. Quando eu trabalho o funcionamento, o comportamento vai se transformar por si só. É uma consequência da transformação do funcionamento. A maturação emocional e afetiva vai trazer como desdobramento. A transformação do comportamento, mas mudar comportamentos não pode trazer maturidade emocional.
ANOTAR
Esse estereótipo de um psicanalista com uma prancheta na mão anotando aquilo que o paciente fala é uma caricatura. O psicanalista real não anota nada que o paciente fale ou faça, porque a anotação é um registro e o psicanalista precisa renunciar da memória. Cada sessão é sem passado e sem futuro. Inclusive o Freud até orientava assim: “Não escreva sobre os casos que você esteja atendendo” Freud nunca notou nada que o paciente estava falando.
CONTINENTE
A psicanálise, sobretudo a partir das propostas do Bion, do Wilfred Bion, passa a ser um continente para receber conteúdos. Se o paciente não trouxer um conteúdo para ser contido, eu não tenho o que fazer. Tudo aquilo que vai ser feito dentro de uma sessão psicanalítica precisa vir do paciente, eu vou acolher e tentar pensar junto com o paciente, tentar propiciar uma transformação daquele conteúdo, para devolver para o paciente. Se o paciente não trouxer nada, nada eu posso fazer, porque qualquer coisa que eu faça que não tenha sido trazido pelo paciente é meu e o meu eu trato na minha análise.
O NÃO DITO
A gente ouve muito orientações de psicanalistas assim ó: “Você precisa ouvir aquilo que não está sendo dito”. Precisamos ter muito cuidado com isso. Muitas vezes, quando você ouve aquilo que não está sendo dito, na verdade, você está projetando algo teu ali e chamando atenção por algo que não é do paciente. Então, se o paciente ficou em silêncio, sim, o silêncio dele está querendo dizer alguma coisa. Mas o que? Não sei! Enquanto ele não manifestar isso eu não posso fazer suposições através do seu silêncio. Psicanalista não é adivinho, nós não estamos ali para adivinhar as coisas. O paciente fica calado e eu começo a adivinhar o que que é que ele está querendo dizer com o silêncio dele. O paciente cruza as pernas, eu falo: “Ah! Cruzou as pernas porque não sei o que, não sei o que mais”. Não! Isso é dedução e nós trabalhamos com intuição.
SILÊNCIO
Quando o sujeito está num ambiente de paz. Quando o sujeito está num ambiente de silêncio, o caos interno começa a emergir, o barulho interno começa a emergir, aparecer e aí que é o grande problema. É por isso que, muitas vezes, o sujeito tem um benefício de estar em ambientes caóticos, perturbadores, barulhentos, porque aí, ele não precisa a se responsabilizar pelo barulho interno, pela bagunça interna. Então, muitas vezes, ele colabora para que o ambiente em volta dele seja perturbador e barulhento para que ele não precise reconhecer a realidade do barulho interno dele. Se o paciente ficar em silêncio, em silêncio eu ficarei. O silêncio dele será muito bem acolhido por mim, sem que eu precise ficar cutucando ele para que ele fale qualquer coisa. Quando ele começar confiar no ambiente, ele começa a trazer aquilo que precisa ser trazido, já que nós somos acolhedores. Então, nós só podemos acolher aquilo que estiver pronto para ser acolhido. Se não estiver pronto para ser acolhido. eu não posso fazer nada. Porque senão, não é acolhimento é captura, é investigação. Eu não investigo nada, eu não sou um investigador, eu só acolho aquilo que estiver pronto para ser acolhido. Quando você persegue alguma coisa, você promove, na verdade, mais defesas do que o sujeito já tinha. Quando você investiga um sujeito, o sujeito tenta fugir desta investigação.
DEDICAÇÃO OU ESFORÇO
Para que haja uma transformação verdadeira é necessário dedicação, mas para transformar, para mudar comportamentos é necessário esforço. Esforço não é dedicação. Esforço é forçar alguma coisa. Dedicação é persistência, é constância naquilo que se propõe fazer.
DISPUTA
A competitividade é sempre prejudicial a disputa é sempre nociva. Ah! Mas e o esporte? Pois é, o esporte é um recurso para que você possa elaborar esta competitividade, essa disputa, para que essa disputa e essa competitividade não transbordem para a sua vida cotidiana. Porque quando ela transborda pra vida cotidiana, ela passa a ser nociva e nós somos educados para competir. Nós somos educados para disputar. A escola promove isso. A educação dos pais promove isso. Mas isso é nocivo! Uma criança competitiva e ela vai ser competitiva porque isto é um ímpeto da criança, é importante que ela encontre um esporte, ou alguma atividade para que ela possa elaborar isso e não levar pra sua vida adulta, porque nada mais insuportável do que conviver com um adulto que está tentando competir com você o tempo inteiro. Muitas vezes, você está dando um grupo de estudo com a melhor boa intenção e vem um bonitinho lá no meio: “Eu não concordo!” Não é que ele não concorda com a ideia, é que ele está ali com um ímpeto de disputa, de competição. Muitas vezes, para uma palestra com centenas de pessoas ali, para discordar do sujeito que está falando ali em cima. Se você discorda, fica quietinho e leva embora para casa, tua discordância. Isso é impertinente! Então, o esporte é muito importante para quê? Para elaborar a competição. para elaborar a disputa, para que ela não transborde para sua vida cotidiana e com isso atrapalha e obstrua os vínculos afetivos. Do pai disputando com a mãe, do marido disputando com a esposa, do filho disputando com o pai, do pai vai disputando com o filho. Muitas vezes, com criança! Então, a disputa é nociva, ela precisa ser elaborada, você precisa encontrar recursos para elaborá-la. Pelo amor de Deus! Se você estiver educando seu filho para que ele seja competitivo, você está adoecendo esta criança e vai fazer com que ela se torne um adulto insuportável emocionalmente. Ele vai ser ótimo na empresa, ele vai ser ótimo no mundo corporativo, mas afetivamente, vai ser um chato. As pessoas vão gostar dele porque ele é muito bem-sucedido, mas as pessoas não vão amá-lo, porque ele é insuportável.
JOGO
Muitas vezes, o paciente você traz para ele uma interpretação e ele fala assim: “Ah! Me pegou, heim? Nessa você ganhou!” Não estou aqui competindo com você. Eu estou a favor, estou do teu lado, não estou contra você. Então, a psicoterapia precisa ser uma brincadeira, precisa ser lúdica, assim como propôs Melanie Klein e não um jogo, onde um ganha e outro perde. Não estamos competindo aqui.
INTUIÇÃO
Nós precisamos nos guiar pela intuição. Aí vem a pergunta: “Professor como é que eu posso saber se é intuição ou é uma alucinação? Como é que eu posso saber se essa intuição é realmente um reconhecimento da realidade, ou se eu estou ali imaginando, alucinando alguma coisa?” O que vai definir isso é a possibilidade de criar um vínculo saudável com a realidade. Quando eu estabeleço um vínculo saudável com a realidade, quando eu estabeleço um acordo com a realidade A minha intuição passa a ser a melhor via de reconhecimento das manifestações desta realidade agora quando eu não tenho vínculo com a realidade A minha intuição provavelmente vai ser muito mais referente a coisas que eu estou alucinando ou que eu estou iludido do que um reconhecimento da realidade.
INVESTIGAÇÃO
Quando a gente fala de protopensamento, a gente está falando de um elemento que está entre a ilusão e a realidade. Entre a associação com ilusões alucinações e a possibilidade de passar por aquilo que o Freud chamou de teste de realidade para entrar num acordo com a realidade. O que é que vai definir se o protopensamento vai se associar a Ilusões, ou ele vai tolerar a passagem do teste de realidade é um ambiente acolhedor. O ambiente acolhedor vai fazer com que, espontaneamente o protopensamento se disponha a ser pensado. Não é uma investigação. A investigação não pode fazer isso. Investigar protopensamento vai fazer com que este protopensamento se enfronhe com as Ilusões, seja reprimido. Porque está sendo perseguido, porque está sendo investigado. Então, por mais que a gente tenha esta palavra, “investigação” dentro das formulações psicanalíticas tradicionais, nesta clínica que a gente está conversando aqui, não estamos dispostos a investigar o paciente.
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