quarta-feira, 9 de julho de 2025

DÚVIDA, INCERTEZA E NUTRIÇÃO AFETIVA - Prof. Renato Dias Martino



NUTRIÇÃO AFETIVA

 

Muitas vezes o sujeito chega na clínica psicanalítica, chega para fazer psicoterapia e ele se queixa de uma dor psíquica, seja ela uma ansiedade ou uma angústia, e ele busca que isso seja reparado. No entanto, ele vive num ambiente extremamente empobrecido de vínculos saudáveis. Logo, isso fica inviável, porque o vínculo que não seja saudável, além de não nutrir o sujeito dessa saúde afetiva, que inclui amor e verdade, que inclui doação e limite, ele ainda retira do sujeito o pouco de saúde emocional que esse sujeito possa ter. Para que o sujeito possa ter um funcionamento emocional saudável, ele carece de ser nutrido de afeto saudável. Ele carece de vínculos saudáveis. Ele carece desse tipo de nutrição. Assim como o corpo se alimenta de comida, a mente se alimenta de amor e verdade. Quando o funcionamento emocional não tem isso, ele tende a se desnutrir e com isso adoecer. A psicoterapia precisa ser por excelência um ambiente nutridor de amor e verdade, de dedicação e de limites.

 

APRENDER A TOLERAR

 

Professor, como é que eu aprendo a tolerar frustrações? Já que a tolerância frustração é a base de um bom funcionamento emocional, somente a partir de vínculos saudáveis, somente através de vínculos de confiança. É a partir desse tipo de vínculo que o sujeito aprende a tolerar frustrações.

 

INCERTEZAS

 

Viver num acordo com a realidade é viver na dúvida, é viver na incerteza. E a dúvida e a incerteza são geradoras de desconforto. E para que eu possa viver num acordo com a realidade, eu preciso tolerar esse desconforto que é gerado pela dúvida e pela incerteza. O bebê aprende a lidar com a dúvida e com a incerteza a partir do vínculo saudável com a mãe e, posteriormente, com o pai. São eles que vão trazer para o sujeito um ambiente seguro o suficiente para que ele possa aprender a tolerar qualquer incerteza que venha a acontecer.

 

O CAMINHO

 

O ambiente psicoterapêutico também tem esta função. Muitas vezes o paciente chega cheio de dúvidas e cheio de incertezas, imaginando que isto é o fim, imaginando que isso é o colapso da sua mente. No entanto, a partir das experiências bem-sucedidas com o psicoterapeuta, ele vai percebendo que a dúvida e a incerteza são elementos que fundamentam o acordo com a realidade. O caminho é dúvida, o caminho é incerteza. A gente até cria objetivos, a gente até cria ideais, mas aqueles ideais e aqueles objetivos não são o final da história, não vão trazer segurança alguma para gente, não vão trazer certeza alguma para gente. Um sujeito que está caminhando de forma saudável, quando ele chega lá, o lá não é mais lá, porque o que importa é o caminho e não a chegada.

 

APOIAR OU INCENTIVAR

 

O vínculo saudável é aquele que permite dependência, mas que propicia a independência. Para que um vínculo seja saudável, este vínculo deve permitir que haja a dependência, mas que esteja propício à independência assim que for possível. Deve apoiar a independência, não deve sugerir, não deve promover, não deve incentivar, mas deve apoiar, porque assim que esse vínculo for realmente estabelecido, de maneira saudável, a independência começa a se desenvolver.

 

DESPREPARO DOS PAIS

 

A criança é um grande para-raios, é uma grande esponja de tudo que acontece dentro da casa, tudo que acontece no lar, tudo que acontece na família. A criança acaba sendo um grande porta-voz. E muitas vezes, aquele que nos procura na clínica é o sujeito mais saudável da família, porque é aquele que deu conta de tudo aquilo e ainda foi capaz de pedir ajuda, enquanto os outros estão extremamente envolvidos com as suas defesas, com as suas neuroses, com as suas psicoses, responsabilizando o outro, culpando o outro. Então, muitas vezes a gente tem quando criança a impressão de que a gente é o problema. E quando a gente cresce, a gente começa a perceber que grande parte desses problemas vinham dos pais, o despreparo desses pais de cuidarem dessa criança. E aí mandam a criança para o neurologista, pro psicopedagogo, para o psiquiatra, sabe lá para quem? Para dar conta daquilo que na realidade foram os pais que não deram conta.

 

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO

 

As mazelas que são transmitidas de geração para geração, passando de pai para filho, onde um não é capaz de reconhecer a realidade e cuidar de si mesmo para que ele possa reparar o seu funcionamento emocional. E ele passa isso para os filhos e os filhos passam pros netos e vão vai passando de geração em geração, porque ninguém foi capaz de dar conta disso, porque o meu filho não pode sofrer daquilo que eu sofri em relação aos meus pais.

 










Prof. Renato Dias Martino


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