terça-feira, 26 de agosto de 2025

AMOR, DESAPEGO, SOCIEDADE E RELAÇÃO COM A DEIDADE- Prof. Renato Dias Mar...


CAPACIDADE DE AMAR

Tendo como claro que a capacidade de amar não é um fator inato do sujeito, ou seja, ninguém nasce sabendo amar, ele precisa desenvolver esta capacidade, o bebê não é capaz de amar, a criança não é capaz de amar, ela vai passar a se capacitar a amar na medida em que ela for amada. Ela precisa ser amada por alguém para que ela passe a amar a si mesma e estender este amor-próprio ao próximo, ao outro. Este é um processo que não tem como pular fases. Ela precisa, primeiro se sentir amada para que ela possa aprender a amar a si mesma. Depois que ela amou a si mesma, ela passa a estender este amor ao outro. Então, na formulação religiosa, onde Jesus diz assim: "Amar a Deus sobre todas as coisas e amar o outro como você ama a si mesmo". Então, você precisa ter um referencial da qualidade do amor que você tem por si mesmo para que você possa estender este amor ao outro. E o amor que eu tenho pelo outro tem um limite no amor-próprio. Eu preciso respeitar o amor-próprio para que eu possa amar o outro. Quando eu amo um outro e este outro não é capaz de retribuir, não é capaz de reconhecer este amor, é prudente que eu possa me afastar deste outro para que eu possa preservar o meu amor-próprio.

AMOR E DESAPEGO

A única forma que o sujeito pode encontrar para desenvolver a possibilidade de se desapegar é a partir do desenvolvimento da capacidade de amar. Quando o sujeito é capaz de amar, ele é capaz de se desapegar da confirmação sensorial. Ele não precisa mais compulsivamente confirmar com os órgãos dos sentidos.

AMOR VERDADEIRO 

Para que eu possa estabelecer um relacionamento de amor verdadeiro, eu preciso me tornar desnecessário. Enquanto eu for necessário, o vínculo de amor verdadeiro está ameaçado. Se encontra ameaçado. No entanto, este é um grande impasse, porque o sujeito que não é capaz de estabelecer um vínculo saudável, um vínculo de amor verdadeiro, pode prolongar a dependência que o outro tem dele. Ele tem medo de se tornar desnecessário e ser abandonado, porque não se sente capaz de cultivar um amor verdadeiro.

VÍNCULO DE QUALIDADE

Como é que a gente poderia definir um vínculo afetivo de qualidade, um vínculo afetivo saudável? Por dois fatores básicos: amor e verdade. Amor, na capacidade de se doar ao outro, de se dedicar ao outro e verdade na manifestação do limite da realidade, daquilo que é possível. Então, a capacidade de se dedicar e a capacidade de reconhecer o seu próprio limite em relação ao outro, nesses dois fatores vão constituir um vínculo saudável.

RECOMPENSA OU PUNIÇÃO

Esta coisa da recompensa e da punição começa dentro de casa. Os pais é que fazem isso. Os pais é que punem ou prometem recompensas para que os filhos façam as coisas. Eles não fazem as coisas mais pela coisa. Vai tomar banho que senão você “não sei o quê”. Se você não fizer isso eu tiro o teu joguinho. Se você passar de ano você ganha “não sei o que mais”. É dentro de casa que começa isso. Esse sujeito vai fazendo parte de uma sociedade que vai funcionar dessa forma. Uma sociedade que só funciona se ela tiver um ganho para além daquilo que ela está fazendo, ou se ela não fizer ela vai ser punida. Então, o sujeito não trabalha mais pela realização do trabalho que ele está fazendo, ele trabalha porque ele quer receber. “Ah! Então, receber não é importante?” É claro que é importante, mas, mais importante do que o dinheiro que você recebe pelo que você trabalha, é a realização que você tem no seu trabalho.

CONFIGURAÇÃO SOCIAL

A criança nasce sem ter espaço na vida dos pais. Sem ter espaço, no primeiro momento, emocional, afetivo, financeiro, de disponibilidade de atenção... A criança é jogada no mundo sem ter espaço para estar no mundo. Logo nos primeiros meses, ela já é terceirizada na mão de um desconhecido para cuidar dela e ela cresce sem autonomia, sem ser capaz de se responsabilizar por si mesmo. E aí as promessas de manutenção da sua vida são muito bem-vindas, seja pelo psiquiatra que vai dar para ela um psicodiagnóstico e ela não vai precisar mais se responsabilizar pelas suas características emocionais e afetivas, seja por um político que promete para ela programas sociais que vão trazer para ela benefícios financeiros sem ela precisar trabalhar, seja políticos que vão prometer para ela programas de saúde, de educação, ou prometer dar dinheiro para ela para ela ir para escola. Pagar para o sujeito ir pra escola. Você já parou para pensar nisso? O sujeito não quer ir para escola, mas agora ele vai ganhar um dinheiro para ele ir para escola. Tudo bem,  para vocês, gente? E ainda vamos fazer propaganda disso, porque isso é uma inovação do governo. Você não quer ir pra escola? Tó dinheiro, vai pra escola.

RELAÇÃO COM A DEIDADE 

E isso se estende em todo o campo religioso por exemplo. O Deus do sujeito é aquele Deus que ele só tem relação com esse Deus porque o esse Deus vai trazer aquilo que ele pede. E ele fica pedindo o tempo todo. Ele reza para pedir. Ai! Deus me dá isso! Ai! Deus me faz aquilo! Ai! Deus me faz “não sei o que mais”! Ai! Deus não deixa isso acontecer com a minha mãe! Ai! Deus não faz aquilo com o meu pai! Ou então, ele faz a coisa porque ele tem medo de que esse Deus vai puni-lo. “Ah! Se eu não fizer isso aí Deus vai me castigar.” A relação que o sujeito tem com Deus é uma relação completamente imatura e nociva. Porque Deus não vai te dar nada meu amiguinho. Deus já te deu! Acorda! Olha em volta de você, reconhece, agora é com você. Deus propiciou, Deus não proporciona nada. E a tua parte, não conta? Eu costumo brincar que o a Bíblia para o cara é igual um catálogo da Avon, ele só abre para fazer pedido. Ah! Eu estou rezando muito a Deus pedindo para Deus. Pedindo o que pedindo meu amigo? Deus sabe de tudo. Deus é onisciente. O que você precisa, ele já está te dando, é você que não está conseguindo trabalhar e administrar isso aí. Acorda!

RELAÇÃO DE CONVENIÊNCIA

O cara estava procurando vaga para o carro dele no estacionamento do shopping e ele não encontrava e aí ele parou o carro e falou assim: "Deus, se o senhor me arrumar uma vaga nesse estacionamento eu prometo que eu vou parar de beber por um ano". No momento que ele fez esse pedido, saiu um carro e abriu uma vaga. Aí ele olhou para cima e falou assim: "Deus pode deixar, pode deixar, já achei uma vaga. Deixa para lá.”

A VOSSA VONTADE

Lá no Pai Nosso diz a frase: "Seja feita a vossa vontade", mas o sujeito pensa que aquele momento que ele fala aquilo ali, ele está autorizando Deus que a vontade dele seja feita e só durante a oração. Acabou a oração acabou o direito de Deus exercer a sua vontade. Aí é ele que manda. Não, meu amiguinho! Quando você diz assim: "Seja feita a vossa vontade". Você simplesmente está reconhecendo que é a vontade dele que está sendo feita, meu amiguinho. Você pode até bater de frente com isso. Mas sabe o que que vai acontecer com você? Você vai quebrar a cara e isso está em direta sintonia com o que o Bion disse sem desejo. Sabe por que que ele falou sem desejo? Porque quando você renúncia do seu desejo, você entra num acordo com a realidade. Porque a realidade não está nem aí para o teu desejo, meu amiguinho. Quando você quer que o teu desejo aconteça, sabe o que que tá acontecendo? Você está se enfiando numa ilusão enorme que depois vai dar um trabalhão para você sair dela. Então, acorda! Reconhece a realidade e perceba que é a vontade dele, a vontade da realidade, a vontade da natureza, não é a tua.



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