Bion lembra-se que quando era uma criança, na escola o professor punia os alunos usando a régua para bater na palma da mão. “Não era para isso que a régua foi feita ou porque era marcada em polegadas e centímetros, mas funcionava. Isto é tudo a respeito do qual eu posso pretender para a grade. Algumas pessoas podem estar aptas para usá-la para diferentes propósitos” (Bion, 1974). Mesmo a psicanálise pode se enquadrar nisso, onde o suposto psicanalista pode se utilizar dos recursos psicanalíticos para infringir dor, ferir, menosprezar, se colocando superiores ao outro.
Enquanto
o que determina a habilidade no uso de certo instrumento é a capacidade
intelectual, o que define o bom ou mau uso que se possa fazer deste utensílio é
a maturidade emocional. A saber, o intelecto se desenvolve independente das
condições afetivas, por outro lado o desenvolvimento da maturidade emocional
está diretamente subordinado à qualidade na saúde dos vínculos. O conhecimento
intelectual se desenvolve pela doutrinação na educação, já a maturidade se
desenvolve a partir de vínculos que possam nutrir de amor e sinceridade. A
expansão da capacidade emocional se dá a partir da possibilidade de se viver
situações difíceis, onde se possa contar com o amparo que proporcione o
acolhimento nessa dificuldade. Qualifica o sujeito a lidar com suas emoções, o
que é o fundamental para que tenha boa qualidade de vida, já que aquele que não
consiga tolerar suas emoções encontrará dificuldade em qualquer que seja a
experiência que possa se envolver.
A
maturidade emocional está configurada justamente na capacidade de se
responsabilizar por si mesmo. A criança percebe que existe alguém que se
responsabiliza por ela e assim se sente confiante no campo das experiências.
Quando a criança sente que alguém realmente se responsabiliza por ela, não
apenas desfruta da proteção na situação atual, mas também tem um modelo para
que ela possa aprender a se responsabilizar por si mesma. Sendo assim, a
auto-responsabilização passa a ser um atributo da maturidade emocional.
Saber
sobre, ou ter um conhecimento intelectual de algo não qualifica um sujeito a
ser capaz de realmente viver uma experiência com o que supostamente se imagina
saber. O que realmente importa é a disponibilidade para se experimentar da
experiência de lidar com aquilo que realmente acontece. Uma coisa é saber sobre
algo, outra coisa é ter vivido isso que se supõe saber. Um bom desempenho na
experiência, onde seja possível o aprendizado e consequentemente o crescimento
depende diretamente da vinculação saudável, que traga respaldo na vivência
desse processo e propicie a maturação emocional.
Até onde é possível se perceber, a configuração da sociedade contemporânea fornece inúmeras garantias que protegem o sujeito de possíveis abusos que possa sofrer no que se refere a serviços e produtos oferecidos ao consumidor, ou ainda, quanto ao empregado, em relação ao empregador. Órgãos governamentais ou não são criados, em defesa do consumidor, assim como do empregado. Uma conquista onde o sujeito se previne quanto a possíveis abusos, no entanto, por outro lado, vai gradualmente estimulando a isenção da autoresponsabilização. Isso obstrui a ampliação da maturidade emocional no desenvolvimento da autonomia da personalidade saudável, com prejuízo na possibilidade de se aprender com a experiência. Com isso, me parece ocorrer um fenômeno mórbido. O sujeito tem desenvolvido grande inteligência para se resguardar com seus direitos e muito pouco se dedica a assumir sua cota de responsabilidade nas experiências.
Até onde é possível se perceber, a configuração da sociedade contemporânea fornece inúmeras garantias que protegem o sujeito de possíveis abusos que possa sofrer no que se refere a serviços e produtos oferecidos ao consumidor, ou ainda, quanto ao empregado, em relação ao empregador. Órgãos governamentais ou não são criados, em defesa do consumidor, assim como do empregado. Uma conquista onde o sujeito se previne quanto a possíveis abusos, no entanto, por outro lado, vai gradualmente estimulando a isenção da autoresponsabilização. Isso obstrui a ampliação da maturidade emocional no desenvolvimento da autonomia da personalidade saudável, com prejuízo na possibilidade de se aprender com a experiência. Com isso, me parece ocorrer um fenômeno mórbido. O sujeito tem desenvolvido grande inteligência para se resguardar com seus direitos e muito pouco se dedica a assumir sua cota de responsabilidade nas experiências.
A vida
em sociedade parece treinar as crianças (cada dia mais cedo) para serem
empregados e consumidores. Na melhor das hipóteses, a expectativa é que se
tornem doutores ou empresários bem-sucedidos. Em contrapartida, a instrução
quanto às tarefas de cuidado com os filhos é cada dia mais rara. Quando na
realidade, é isso que propiciará o desenvolvimento emocional. Mais rara ainda é
a vivência num ambiente onde haja cuidados maternos dedicados e a presença da
função paterna até, ao menos, o terceiro ano de vida, o que garantiria o mínimo
de chance para se desenvolver a maturação emocional suficiente para se iniciar
a experiência de sociabilização.
BION, Wilfred R. Bion’s brazilian lectures. 2 – Rio/São Paulo, 1974. Rio de Janeiro: Imago, (1974).
Fone: 17- 991910375
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Um comentário:
Parabéns professor Renato , perfeito , quando não há modelo de funções materna e paterna , a criança terá que contar com a sorte, de encontrar alguém p acolhe la , e sendo assim sua criança terá grande dificuldade de maturidade emocional 😞
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