A dificuldade de acreditar em si mesmo pode se desdobrar de inúmeras formas. Enquanto não está sendo capaz de confiar em si próprio, encontra-se vulnerável e aberto para várias formas tóxicas de vinculação. O amor próprio, quando em proporções muito baixas acaba por gerar manifestações nocivas nos vínculos. Aquele que não está sendo capaz de confiar em si mesmo tende a procurar falhas nos outros. Por outro lado, pode se desenvolver no sujeito que não confia em si mesmo, uma disposição para o enaltecimento e bajulação. A adulação tem sempre um intuito de se conseguir um benefício oculto, ou mesmo explicito. Quando definitivamente não consegue o que se pretendia, o bajulador passa a atacar aquele que antes adulava. Quem bajula espera um benefício especial e quando não obtém, passa a criticar. A base do vínculo de bajulação parece estar na incapacidade de acreditar em si mesmo.
A bajulação não é uma característica excepcionalmente do indivíduo, mas atua como ocupação da relação. A bajulação depende de duas ou mais pessoas dispostas a isso.
O ditado popular “quando um não quer dois não brigam”, corresponde a
realidade. Depende da ação de pelo menos duas pessoas e não necessariamente de
uma só. O bajulador, por não acreditar que possa ser amado sendo sincero, e o
bajulado, se satisfaz com as bajulações por não acreditando que possa reunir em
si, virtudes admiráveis. No entanto, por se tratar de um modelo de vinculo
parasítico, tanto o bajulador (parasita) quanto o bajulado (hospedeiro) tem
enorme prejuízo.
Assim como propõe Wilfred Bion (1897 - 1979): “Por
parasítica”, quero representar uma relação na qual um objeto depende do outro para
produzir um terceiro, que é destrutivo para todos os três.” (Bion, 1970)
Um
fica obstruído de desenvolver o reconhecimento de si mesmo, pois imaginar que o
outro é sempre melhor que ele, e o outro se contentando com elogios sobre
atributos falsos, fica impedido de reconhecer suas reais características, para
então desenvolve-las.
Bion, Wilfred R. Atenção e interpretação. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1970)
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2 comentários:
Uma reflexão sempre atual de relação tóxica,que afasta os envolvidos de encontrarem autenticidade.
Vínculos parasiticos nos impedem de evoluirmos, excelente reflexão professor Renato , muito grata por compartilhar conosco 🙏
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