Realidade é talvez o termo mais abstrato que se possa encontrar. Isso gera a impressão de que cada sujeito tem sua realidade, sendo que a realidade de um sujeito não é a mesma realidade do outro. No entanto, esse é mais um atalho, tão confortável quanto ilusório, dentre outros, utilizado pelo conhecimento humano, nas tentativas de ampliação do que é possível saber. A realidade é uma só, o que muda e a capacidade de cada um em reconhecê-la.
O que chamamos de realidade, na verdade, é apenas uma aproximação. O que podemos ter da realidade parece ser, no máximo, um contato eventual e isso dependerá do grau de disponibilidade na tolerância aos desconfortos que essa experiência deve gerar. Não me parece possível ter um discernimento integral, ou ainda, não acredito que seja possível à alguém estar o tempo todo em contato com a realidade. Grande parte do tempo estamos nos guiando por aquilo que aprendemos, situamos como caminho preestabelecido e que não necessariamente enquadra-se na realidade. Isso quando não estamos orientando-nos por ilusões, das quais acreditamos ser realidade.
A realidade não pode ser apreendida pelo aparelho cognitivo. Não se pode conhecer a realidade, ainda que se possa reconhecer e diferenciar aquilo que é real, no que é verdadeiro, daquilo que é falso e esteja sendo mantido pelas ilusões. No entanto, isso depende muito mais da maturidade emocional, na capacidade de tolera frustrações, do que da habilidade intelectual, que se refere ao “saber sobre”. Esse exercício se refere a capacidade de percepção e reconhecimento daquilo que não podemos controlar.
Se o saber não pode dar conta do reconhecimento da realidade, logo, isso não pode ser feito através de dados armazenados na memória. Aquilo que se pode lembrar sobre o passado, não condiz com a realidade que, por sua vez, se manifesta no tempo presente. Sendo assim, da mesma maneira, aquilo que se pode desejar, nas expectativas de futuro, também não coincide com a realidade.
A realidade só pode ser reconhecida na ocasião da falta. O amor é um bom exemplo disso. Se aprende a amar realmente, na ausência do objeto a ser amado. Além do mais, não é possível saber o que é realmente amor, mas o que não é amor fica evidente à aquele que realmente ama a si mesmo. Um relacionamento verdadeiro é aquele que permanece mesmo nas faltas.
Na verdade, o que parece realmente possível ter com a realidade é um acordo e isso se dá no nível emocional/afetivo. A palavra “acordo” tem origem no Latim, accordare, variação do verbo concordare, na junção do prefixo ad, “a, para”, mais cor, “coração”. Sendo assim, a verdade só pode se manifestar através da configuração de um clima de concórdia. O acordo que se possa estabelecer com a realidade só pode ocorrer por meio de renúncias e isso requer tolerância às frustrações.
O primeiro contato que se tem com a realidade é sempre doloroso, perturbador, gerador de desconforto e estranhamento. Muitas vezes, esse contato ocorre por conta de alguma situação de extrema adversidade, já que antes disso acontecer, nada parece levar o sujeito ao reconhecimento da realidade. Ainda assim, depois de se viver experiências catastróficas, abre-se a possibilidade de expansões de proporções nunca antes experimentadas. A realidade, que num primeiro momento pode parecer dura, quando se está sendo capaz de se firmar um acordo com ela, passa a ser a maior aliada no fluxo da vida.
O reconhecimento da realidade só acontece quando já se esgotaram todos os recursos que pudessem manter as ilusões. Evitamos o reconhecimento da realidade, pois a partir de então nos tornamos conscientes da nossa real fragilidade e isso revela nossa verdadeira vulnerabilidade frente ao mundo. Quando passamos a perceber e reconhecer a realidade, isso nos leva a respeitá-la, assim como ela é e isso faz manifestar nossa vã tentativa de controlar, seja lá o que for. A partir do reconhecimento da realidade passamos a nos tornar responsáveis por ela.
Quando se está em acordo com a realidade não existe escolha, já que ela está configurada independente das nossas expectativas. Quando entramos num acordo com a realidade percebemos que o caminho verdadeiro é um só e os outros somente se dispõem enquanto estamos iludidos.
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