sábado, 9 de setembro de 2023

ANGÚSTIA E ANSIEDADE - Prof. Renato Dias Martino


Os desconfortos emocionais se dividem em dois modelos. Essencialmente, ansiedades e angústias.

ANGÚSTIA

A angústia é aquele sentimento de aperto, é um sentimento que leva a um embotamento, a um estado depressivo, a um estado deprimente. Então, a angústia é essencialmente, e a palavra que vem do latim já sugere isso, é aperto, estreito. O sujeito que tem a mente angustiada, não consegue pensar, porque não existe espaço. Para pensar é necessária uma mente ampla, expansiva. A angústia está diretamente ligada a noção de espaço, que na realidade é uma criação do humano para apaziguar esta angústia. Quando existe a criação da divisão em pedaços, de espaço é para dar conta desta demanda, porque na realidade, o ser humano tem uma dificuldade enorme de lidar com a ideia do infinito. O infinito é angustiante. Pensar sobre o infinito, reconhecer o infinito gera angústia.

ANSIEDADE

Enquanto a angústia está ligada à noção de espaço, a ansiedade está ligada à noção de tempo. O sujeito ansioso é aquele sujeito que está sempre com pressa. O sujeito ansioso é aquele que sente que não vai dar tempo. O sujeito quando tem ansiedade começa a dividir a vida dele em horas minutos, em dias e anos... Um ansioso é sempre aquele cara que consegue guardar datas, que está o tempo todo olhando no relógio.

ESPAÇO E TEMPO

Quando a gente reconhece o conceito de eterno, a gente se sente ansioso. O mundo existia antes do ser humano, o tempo existia antes do ser humano e vai continuar existindo depois que não houver mais humanos. Para o ser humano, o tempo existe ao seu serviço. Ou seja, ele criou essa divisão de tempo, de anos, de dias, de meses. Não é? Ele criou isso para dar conta da incapacidade de lidar com a ideia do eterno. Então, dois conceitos aí: eterno e infinito. Quando a gente fala de infinito, infinito não é a soma de todos os pedaços, é ausência de pedaço e o eterno não é a soma de todos os tempos né de todos os anos, de todos os séculos, mas é ausência desses conceitos. Angústias, ansiedade, são resultado de desconforto pela introdução de espaço e tempo no funcionamento inconsciente. Porque, nessa dimensão psíquica não se tolera esse tipo de lógica, esse tipo de limitação. Para o inconsciente não existe divisão de tempo. Para um inconsciente não existe divisão de espaço.

CULPA

O angustiado fica embotado, ele fica deprimido e o ansioso é aquele que fica agitado. Enquanto angústia é para dentro a ansiedade é para fora. O sujeito, quando está se sentindo culpado, ele se angustia. O ansioso tende a tentar fazer alguma coisa para apaziguar a sua culpa. Então, ele tem uma atitude. “Vai trabalhar, vai fazer alguma coisa para ver se você se sente menos culpado.” O angustiado já é o contrário, ele já se rende essa culpa. Então ele se autopune, porque ele é culpado e não tem mais nada para ser feito.

DUAS FACES

A angústia gera ansiedade e ansiedade gera angústia. Essas, duas coisas estão sempre juntas. O sujeito pode acordar ansioso e dali a pouco já está angustiado. Tempo e espaço estão sempre juntos. Conceitos juntos, noções que estão juntas. Muitas vezes, o sujeito está ansioso, tentando fazer alguma coisa para tentar apaziguar a sua culpa e em outro momento, ele se rende a aquilo e diz: “Olha, não tem jeito mesmo, eu sou um fracasso e não tem o que ser feito. Porque eu sou culpado mesmo e só me resta me auto por nele.”

MELANCOLIA 

A melancolia é o quadro. Um quadro de melancolia pode gerar ansiedades a angústias. O melancólico é um sujeito essencialmente angustiado, é um sujeito que desistiu, mas ele pode ter episódios de ansiedade, que a gente vai chamar de mania. O Freud vai chamar isso de mania. Então, a mania é a tentativa desesperada de fazer alguma coisa para se livrar daquele sentimento de embotamento, de angústia, que a melancolia traz. O quadro de melancolia, que é a incapacidade de lidar com a perda, vai trazer episódios de angústia e episódios de ansiedade. Essencialmente, de angústia essencialmente, de embotamento, mas com algumas experiências externas de mania, que são movidas pela ansiedade.


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