A palavra “forte”,
“fortalecer”, dentro das formulações psicanalíticas, dentro do processo
emocional-afetivo, é muito perigosa.
SOBRE SER FORTE
Cada vez que eu busco me fortalecer, eu estou
cada vez mais distante da minha sensibilidade, da minha fragilidade, que faz
parte da minha realidade. Um sujeito forte é justamente aquele sujeito que
acaba permitindo que o outro passe do limite, porque ele não tem a noção da sua
fragilidade, da fragilidade real de cada um de nós. Então, quando eu acredito
que eu sou forte, eu acabo me colocando em situações que, na realidade, vão me
ferir e que por ter acreditado que eu era forte eu fui ferido. E aí, acontece
no mínimo duas desventuras, uma é eu me decepcionar com outro, porque o outro
me feriu e outra, eu me decepcionar comigo mesmo, porque eu tinha prometido que
eu era forte e eu acabei sendo ferido.
FRAGILIDADE E SENSIBILIDADE
Muito mais importante do que
me tornar forte, é reconhecer a minha fragilidade natural e real, para que eu
possa aprender a respeitá-la. E o sujeito que respeita a sua fragilidade, ele
pode desfrutar da sensibilidade e perceber inclusive as relações nocivas e se
afastar delas.
RECONHECIMENTO E FRAGILIDADE
É muito importante também, a
gente diferenciar fraqueza de fragilidade. Fragilidade, é uma condição natural
do ser humano. Fraqueza é quando o sujeito está de alguma forma debilitado, é
quando o sujeito está, de alguma forma, desnutrido. Então, precisamos estar
nutridos para que a gente possa reconhecer e assumir a nossa fragilidade. Para
então, podermos desfrutar da sensibilidade, que é justamente o que vai nos
orientar no fluxo da vida.
FORÇA E DEFESAS
O que faz um sujeito forte
são, justamente, os mecanismos de defesa. Então, quanto mais forte o sujeito
for, é porque ele está mais cheio de mecanismos de defesa. O sujeito que
acredita ser forte, ele só pode desfrutar desta fortaleza, porque está
extremamente defensivo, cheio de mecanismos de defesa.
DEFESAS NA PSICANÁLISE
No início da formulação da
psicanálise, acreditava-se que o trabalho psicanalítico seria retirar as
defesas do paciente. Ir tirando defesa por defesa do paciente, quando na
realidade, hoje, a psicanálise contemporânea tem muito mais a tarefa, a função
de acolher o sujeito, naquilo que realmente está gerando as defesas, para que
essas defesas, ao perceber uma certa segurança possam ir se dissolvendo.
DEFESA E RESPEITO
Se o sujeito está se
defendendo é porque existe um motivo para tal. E retirar essas defesas sem
cuidar daquilo que está gerando as defesas é uma brutalidade, é uma crueldade.
No modelo biológico, isso fica muito mais fácil de entender. Quando o sujeito
ele está com uma infecção o corpo começa a manifestar alguns sintomas e esses
sintomas são mecanismos de defesa para proteger o corpo contra esta infecção.
Só retirar os sintomas vai agravar a infecção. No entanto, quando essas defesas
começam a ficar muito proeminentes, com uma magnitude muito grande, elas
começam a ser prejudiciais também. Mas isso não quer dizer que você deve
combater as defesas. Isso quer dizer que existe a necessidade de acolher e
cuidar daquilo que está gerando essas defesas. Então, por exemplo, o sujeito
que tem uma infecção, ele desenvolve febre. Então, subir a temperatura do corpo
é uma tentativa de defender o corpo por conta da infecção. Se você toma um
antitérmico e só o antitérmico, ou seja, combatendo aquilo que está sendo
gerado pela infecção, a infecção vai se agravar e o corpo vai ficar mais
desprotegido. Com o aparelho emocional-afetivo é da mesma forma. O analista
precisa ser capaz de acolher aquilo que está gerando as defesas e não retirar
as defesas a força, ou através de qualquer técnica que seja. Isso é importante
na questão do medo, por exemplo. O medo é uma defesa. O medo é um sintoma de
algo que está por trás disso e que precisa ser cuidado. Quando eu proponho
técnicas de enfrentamento do medo, eu coloco isso que está gerando o medo mais
vulnerável do que estava anteriormente.
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