domingo, 5 de novembro de 2023

FORÇA, DEFESAS E SENSIBILIDADE - Prof. Renato Dias Martino


A palavra “forte”, “fortalecer”, dentro das formulações psicanalíticas, dentro do processo emocional-afetivo, é muito perigosa.

 

SOBRE SER FORTE

 

 Cada vez que eu busco me fortalecer, eu estou cada vez mais distante da minha sensibilidade, da minha fragilidade, que faz parte da minha realidade. Um sujeito forte é justamente aquele sujeito que acaba permitindo que o outro passe do limite, porque ele não tem a noção da sua fragilidade, da fragilidade real de cada um de nós. Então, quando eu acredito que eu sou forte, eu acabo me colocando em situações que, na realidade, vão me ferir e que por ter acreditado que eu era forte eu fui ferido. E aí, acontece no mínimo duas desventuras, uma é eu me decepcionar com outro, porque o outro me feriu e outra, eu me decepcionar comigo mesmo, porque eu tinha prometido que eu era forte e eu acabei sendo ferido.

 

FRAGILIDADE E SENSIBILIDADE

 

Muito mais importante do que me tornar forte, é reconhecer a minha fragilidade natural e real, para que eu possa aprender a respeitá-la. E o sujeito que respeita a sua fragilidade, ele pode desfrutar da sensibilidade e perceber inclusive as relações nocivas e se afastar delas.

 

RECONHECIMENTO E FRAGILIDADE

 

É muito importante também, a gente diferenciar fraqueza de fragilidade. Fragilidade, é uma condição natural do ser humano. Fraqueza é quando o sujeito está de alguma forma debilitado, é quando o sujeito está, de alguma forma, desnutrido. Então, precisamos estar nutridos para que a gente possa reconhecer e assumir a nossa fragilidade. Para então, podermos desfrutar da sensibilidade, que é justamente o que vai nos orientar no fluxo da vida.

 

FORÇA E DEFESAS

 

O que faz um sujeito forte são, justamente, os mecanismos de defesa. Então, quanto mais forte o sujeito for, é porque ele está mais cheio de mecanismos de defesa. O sujeito que acredita ser forte, ele só pode desfrutar desta fortaleza, porque está extremamente defensivo, cheio de mecanismos de defesa.

 

DEFESAS NA PSICANÁLISE

 

No início da formulação da psicanálise, acreditava-se que o trabalho psicanalítico seria retirar as defesas do paciente. Ir tirando defesa por defesa do paciente, quando na realidade, hoje, a psicanálise contemporânea tem muito mais a tarefa, a função de acolher o sujeito, naquilo que realmente está gerando as defesas, para que essas defesas, ao perceber uma certa segurança possam ir se dissolvendo.

 

DEFESA E RESPEITO

 

Se o sujeito está se defendendo é porque existe um motivo para tal. E retirar essas defesas sem cuidar daquilo que está gerando as defesas é uma brutalidade, é uma crueldade. No modelo biológico, isso fica muito mais fácil de entender. Quando o sujeito ele está com uma infecção o corpo começa a manifestar alguns sintomas e esses sintomas são mecanismos de defesa para proteger o corpo contra esta infecção. Só retirar os sintomas vai agravar a infecção. No entanto, quando essas defesas começam a ficar muito proeminentes, com uma magnitude muito grande, elas começam a ser prejudiciais também. Mas isso não quer dizer que você deve combater as defesas. Isso quer dizer que existe a necessidade de acolher e cuidar daquilo que está gerando essas defesas. Então, por exemplo, o sujeito que tem uma infecção, ele desenvolve febre. Então, subir a temperatura do corpo é uma tentativa de defender o corpo por conta da infecção. Se você toma um antitérmico e só o antitérmico, ou seja, combatendo aquilo que está sendo gerado pela infecção, a infecção vai se agravar e o corpo vai ficar mais desprotegido. Com o aparelho emocional-afetivo é da mesma forma. O analista precisa ser capaz de acolher aquilo que está gerando as defesas e não retirar as defesas a força, ou através de qualquer técnica que seja. Isso é importante na questão do medo, por exemplo. O medo é uma defesa. O medo é um sintoma de algo que está por trás disso e que precisa ser cuidado. Quando eu proponho técnicas de enfrentamento do medo, eu coloco isso que está gerando o medo mais vulnerável do que estava anteriormente.




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