quinta-feira, 16 de novembro de 2023

INTEGRAÇÃO, DESCONFORTO E TOLERÂNCIA - Prof. Renato Dias Martino



Muitas vezes, quando a gente fala de integração, da personalidade integrada, de da experiência de integração da personalidade, dentro dos processos emocionais e afetivos, a gente tem a impressão de que a gente está falando de um processo que traz uma sensação agradável, quando na realidade é o contrário. Agradável é poder dividir o mundo em bom e mal. Agradável é poder projetar todo o mal em uma coisa e todo o bem em outra coisa. Tudo que é bom numa coisa e tudo que é mal em outra coisa. Acreditar que nós somos puros, enquanto o outro é maléfico. Isto é agradável. Quando a gente integra, quando a gente está integrado, isso impreterivelmente, causa um desconforto. 

DESCONFORTO E TOLERÂNCIA

É claro que na medida que você vai vivendo experiências de integração e vivendo experiências com a integração você vai aprendendo a tolerar esse desconforto gerado pela integração e aí talvez você consiga uma experiência de paz de tranquilidade de bem-estar emocional e afetivo. Ele evita a todo custo a integração, justamente por isso, por conta do desconforto.

DA CULPA À RESPONSABILIZAÇÃO

A integração, logo de início, inclui culpa que ele começa a ter consciência de que ele odiou alguém que não merecia ódio e isso gera culpa. Normalmente, a gente tem nas literaturas psicanalíticas: “Amor e Ódio”. Odiado aquele objeto que ele também ama, na realidade odeia o objeto que ele também idealiza, ele atribui toda maravilha, todo o bom do mundo e isso não é amor. O amor é integração. O amor vai acontecer na medida em que ele consiga elaborar a posição esquisito-paranoide, possa experimentar a posição depressiva, na integração. Quando ele sente essa culpa de ter odiado o objeto, a pessoa, ou a mãe que ele tanto idealizava. Porque, na realidade, é uma só. Ele sente culpa, na medida em que ele consiga elaborar esta culpa, consiga tolerar esta culpa ao ponto de elaborá-la, ele vai viver uma experiência de transformação desta culpa, responsabilização. Ele percebe essa culpa, ele reconhece essa culpa, admite que essa culpa existe, ele passa a respeitar esta culpa, respeitar a si mesmo sentindo culpa, passa a se responsabilizar. Quando ele consegue a responsabilização, existe uma transformação e ele passa a crescer, a se expandir, a nutrir-se com as experiências.



DEPRESSÃO INTEGRAÇÃO E DIAGNÓSTICO 


A gente vê diagnósticos de depressão, seguido de administração medicamentosa em pacientes que, muitas vezes, estão experimentando a integração. Quando ele experimenta a integração, ele impreterivelmente, vai viver uma depressão. Ele vai viver uma posição depressiva e esta posição depressiva é muito desconfortável e geradora de dores psíquicas, de angústias, de ansiedades. E quando o sujeito não está conseguindo tolerar esses desconfortos decorrentes da experiência depressiva, muitas vezes, ele pode procurar um psiquiatra que, despreparado, pode administrar medicamentos que irão arrancá-lo dessa experiência de integração, que gera depressão e abortar a experiência que, na realidade, iria trazer pro sujeito a possibilidade de crescimento. E muitas vezes, então, o que a gente vê diagnosticado como depressão patológica, na verdade, era uma experiência de integração que o sujeito estava vivendo.

MEDICAMENTO E DEFESA

O pior mecanismo de defesa é aquele que encontra um medicamento que corrobora com esse mecanismo de defesa. Quando o sujeito está atuando num mecanismo de defesa e ele começa a se medicar com uma substância química psiquiátrica, este mecanismo de defesa pode cristalizar e passar a se engessar como um funcionamento contínuo no sujeito. Então, ele estava apenas se defendendo, por conta de alguma confusão, de algum conflito e assim que este conflito pudesse ser elaborado ele iria dissolver esse mecanismo de defesa, inclusive se estivesse vivendo um processo psicoterapêutico. Na medida em que ele começa a usar um medicamento psiquiátrico, ele corre o risco de não conseguir elaborar isso que precisava ser elaborado e estava gerando a defesa e cristalizar esse mecanismo de defesa como um funcionamento contínuo, na sua vida. 



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