A
NEUTRALIDADE E O ANALISTA REAL
O Bion
traz a contribuição do analista real. Com isso, cai por terra a ideia da
neutralidade. O analista é um ser humano, um ser humano que se entristece, um
ser humano que se alegra, um ser humano que fica bravo, que fica nervoso, que
ama, que odeia e não é nem um pouco terapêutico querer dissimular a humanidade
do analista. Não pode ser terapêutico isso. O paciente precisa ter consciência
de que o analista é um ser humano assim como ele. Porque senão, isso gera
idealização, gera idolatria e o paciente acredita que o analista é um ser
equilibrado, que vive numa esfera superior a ele e isso é uma mentira. É por
isso que o analista precisa estar num trabalho constante do tripé analítico. O
que é o tripé analítico? É a análise pessoal em dia. Ele precisa estar em dia
com a sua análise pessoal. É fundamental, antes de qualquer coisa, para estar
praticando a clínica psicanalítica, que ele precisa estar com a sua análise em
dia. Precisa ter a chance de, periodicamente submeter os seus atendimentos, os
atendimentos que ele esteja fazendo com os seus pacientes, por uma supervisão
de um colega mais experiente. E grupos de estudos semanais. Precisa ser grupo
de estudo! Leitura sozinho, particular, não funciona. Porque, a sua leitura vai
ser seletiva e num grupo de estudo são cogitadas situações que você nunca iria
cogitar lendo sozinho. Isso vai qualificar o analista para atender os seus
pacientes e vai qualificá-lo também para que ele não precise ficar se
escondendo atrás de uma suposta neutralidade e possa ser real, porque ele está
cuidando do seu funcionamento.
ACOLHIMENTO
E TRANSFORMAÇÃO
O
acolhimento é a base de qualquer psicoterapêutica. A psicoterapia sem
acolhimento é uma falácia. E o que eu estou chamando de acolhimento aqui é a
relação entre um sujeito que está disposto a ser acolhido e um sujeito que
esteja qualificado a acolher. Impreterivelmente, precisa haver a qualificação
para acolher e a predisposição a ser acolhido senão não existe acolhimento.
Quando esse acolhimento é possível, o sujeito que está inundado de culpa, pode
transformar esta culpa em responsabilização. A partir do processo
psicoterapêutico do acolhimento, o sujeito vai conseguindo transformar esta
culpa em responsabilização. Algo que ele se sentia culpado, ele passa a ser
capaz de se responsabilizar por aquilo e isto é libertador. Da mesma forma o
sujeito que sente inveja através do acolhimento desta inveja que ele sente pode
ser transformado em gratidão o sujeito ele sente inveja e a partir de ser
acolhido nessa inveja que ele sente e que ele é capaz de reconhecer que sente
ele passa a desenvolver um processo que o levará a sentir gratidão.
EXEMPLO
DE TRANSFORMAÇÃO: Da Inveja à Gratidão
O
paciente chega com uma angústia muito grande na clínica. O analista começa a
trazer para ele um novo vértice sobre aquilo que está fazendo gerar angústia. E
ele percebe que essa angústia começa a apaziguar, começa a diminuir. E o
superego dele começa a cobrá-lo, exigir, pelo fato dele não ter conseguido
apaziguar a sua angústia por si só e precisou do analista para isso. então, o
superego dele diz assim: “como que você não consegue nem cuidar de si mesmo e
você precisa do outro para apaziguar a sua angústia?” A partir dessa
intervenção superegóica, ele começa a sentir inveja do analista porque o
analista consegue trazer para ele uma paz que ele, sozinho não consegue. No
entanto, a partir do acolhimento do psicoterapeuta, a partir da intervenção
acolhedora deste psicoterapeuta, ele vai conseguindo dissolver esta intervenção
superegóica e aprendendo com o psicoterapeuta como é que faz para ele apaziguar
as suas angústias, com ele mesmo, aos pouquinhos, devagarinho, dentro do
processo do seu próprio tempo. E, a partir daí, ele começa a sentir uma
gratidão muito grande pelo psicoterapeuta. Porque ele não só conseguiu
apaziguar a sua angústia a partir da intervenção do psicoterapeuta, mas a
relação que ele teve com o psicoterapeuta fez com que ele aprendesse como
apaziguar as suas próprias angústias. E aí, o que um dia foi inveja se tornou
gratidão.
TÉCNICA
E ACOLHIMENTO
O
psicoterapeuta que não esteja sendo capaz de acolher, ele vai estudar, ele
tentará buscar técnicas mirabolantes para usar com seus pacientes e não vai
conseguir nada! Não vai haver avanço algum. Porque o avanço dentro do processo
psicoterapêutico só pode se dar através do ato de acolhimento. O psicoterapeuta
se qualificar a ser acolhedor daquele que está disponível a ser acolhido. Não
existe técnica que possa suprir a incapacidade do psicoterapeuta de acolher e
também não existe técnica que possa suprir a incapacidade do paciente de ser
acolhido. Se ele não está disponível a ser acolhido, não existe técnica que
possa trazer para ele a possibilidade de elaboração, de reparação de expansão.
Qualquer que seja a experiência de transformação, dentro do âmbito
psicoterapêutico.
ELABORAÇÃO
O
próprio Freud disse que assim, uma vez que o paciente consiga elaborar as suas
questões junto ao analista, ele vai conseguir levar essas elaborações para sua
vida cotidiana, nos seus vínculos familiares e de convívio. Todos esses
exercícios que a gente faz dentro da clínica psicanalítica, são elaborações
exercícios e experiências que vão trazendo a possibilidade de reparação, de
crescimento e que posteriormente o paciente vai levar pra sua vida cotidiana.
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