quarta-feira, 22 de novembro de 2023

ANALISTA REAL, ACOLHIMENTO E TRANSFORMAÇÃO - Prof. Renato Dias Martino



A NEUTRALIDADE E O ANALISTA REAL


O Bion traz a contribuição do analista real. Com isso, cai por terra a ideia da neutralidade. O analista é um ser humano, um ser humano que se entristece, um ser humano que se alegra, um ser humano que fica bravo, que fica nervoso, que ama, que odeia e não é nem um pouco terapêutico querer dissimular a humanidade do analista. Não pode ser terapêutico isso. O paciente precisa ter consciência de que o analista é um ser humano assim como ele. Porque senão, isso gera idealização, gera idolatria e o paciente acredita que o analista é um ser equilibrado, que vive numa esfera superior a ele e isso é uma mentira. É por isso que o analista precisa estar num trabalho constante do tripé analítico. O que é o tripé analítico? É a análise pessoal em dia. Ele precisa estar em dia com a sua análise pessoal. É fundamental, antes de qualquer coisa, para estar praticando a clínica psicanalítica, que ele precisa estar com a sua análise em dia. Precisa ter a chance de, periodicamente submeter os seus atendimentos, os atendimentos que ele esteja fazendo com os seus pacientes, por uma supervisão de um colega mais experiente. E grupos de estudos semanais. Precisa ser grupo de estudo! Leitura sozinho, particular, não funciona. Porque, a sua leitura vai ser seletiva e num grupo de estudo são cogitadas situações que você nunca iria cogitar lendo sozinho. Isso vai qualificar o analista para atender os seus pacientes e vai qualificá-lo também para que ele não precise ficar se escondendo atrás de uma suposta neutralidade e possa ser real, porque ele está cuidando do seu funcionamento.

 

ACOLHIMENTO E TRANSFORMAÇÃO

 

O acolhimento é a base de qualquer psicoterapêutica. A psicoterapia sem acolhimento é uma falácia. E o que eu estou chamando de acolhimento aqui é a relação entre um sujeito que está disposto a ser acolhido e um sujeito que esteja qualificado a acolher. Impreterivelmente, precisa haver a qualificação para acolher e a predisposição a ser acolhido senão não existe acolhimento. Quando esse acolhimento é possível, o sujeito que está inundado de culpa, pode transformar esta culpa em responsabilização. A partir do processo psicoterapêutico do acolhimento, o sujeito vai conseguindo transformar esta culpa em responsabilização. Algo que ele se sentia culpado, ele passa a ser capaz de se responsabilizar por aquilo e isto é libertador. Da mesma forma o sujeito que sente inveja através do acolhimento desta inveja que ele sente pode ser transformado em gratidão o sujeito ele sente inveja e a partir de ser acolhido nessa inveja que ele sente e que ele é capaz de reconhecer que sente ele passa a desenvolver um processo que o levará a sentir gratidão.

 

EXEMPLO DE TRANSFORMAÇÃO: Da Inveja à Gratidão

 

O paciente chega com uma angústia muito grande na clínica. O analista começa a trazer para ele um novo vértice sobre aquilo que está fazendo gerar angústia. E ele percebe que essa angústia começa a apaziguar, começa a diminuir. E o superego dele começa a cobrá-lo, exigir, pelo fato dele não ter conseguido apaziguar a sua angústia por si só e precisou do analista para isso. então, o superego dele diz assim: “como que você não consegue nem cuidar de si mesmo e você precisa do outro para apaziguar a sua angústia?” A partir dessa intervenção superegóica, ele começa a sentir inveja do analista porque o analista consegue trazer para ele uma paz que ele, sozinho não consegue. No entanto, a partir do acolhimento do psicoterapeuta, a partir da intervenção acolhedora deste psicoterapeuta, ele vai conseguindo dissolver esta intervenção superegóica e aprendendo com o psicoterapeuta como é que faz para ele apaziguar as suas angústias, com ele mesmo, aos pouquinhos, devagarinho, dentro do processo do seu próprio tempo. E, a partir daí, ele começa a sentir uma gratidão muito grande pelo psicoterapeuta. Porque ele não só conseguiu apaziguar a sua angústia a partir da intervenção do psicoterapeuta, mas a relação que ele teve com o psicoterapeuta fez com que ele aprendesse como apaziguar as suas próprias angústias. E aí, o que um dia foi inveja se tornou gratidão.

 

TÉCNICA E ACOLHIMENTO

 

O psicoterapeuta que não esteja sendo capaz de acolher, ele vai estudar, ele tentará buscar técnicas mirabolantes para usar com seus pacientes e não vai conseguir nada! Não vai haver avanço algum. Porque o avanço dentro do processo psicoterapêutico só pode se dar através do ato de acolhimento. O psicoterapeuta se qualificar a ser acolhedor daquele que está disponível a ser acolhido. Não existe técnica que possa suprir a incapacidade do psicoterapeuta de acolher e também não existe técnica que possa suprir a incapacidade do paciente de ser acolhido. Se ele não está disponível a ser acolhido, não existe técnica que possa trazer para ele a possibilidade de elaboração, de reparação de expansão. Qualquer que seja a experiência de transformação, dentro do âmbito psicoterapêutico.

 

ELABORAÇÃO

O próprio Freud disse que assim, uma vez que o paciente consiga elaborar as suas questões junto ao analista, ele vai conseguir levar essas elaborações para sua vida cotidiana, nos seus vínculos familiares e de convívio. Todos esses exercícios que a gente faz dentro da clínica psicanalítica, são elaborações exercícios e experiências que vão trazendo a possibilidade de reparação, de crescimento e que posteriormente o paciente vai levar pra sua vida cotidiana.

 

 









Prof. Renato Dias Martino

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