quinta-feira, 2 de novembro de 2023

PSICOSSOMÁTICA - Prof. Renato Dias Martino



Psicossomática. Psico, quer dizer aquilo que está na dimensão da mente, do aparelho psíquico, do funcionamento emocional e afetivo e soma quer dizer carne, quer dizer corpo físico. Doenças psicossomática seriam aquelas doenças que deslocam-se da configuração psíquica e se instalam no corpo. Quando, o sujeito tem algo que ele não consegue elaborar, que ele não consegue digerir, que ele não consegue dissolver dentro do processo emocional-afetivo, ele tende a levar para o corpo. Ele tende a somatizar, ou passar para carne, passar para o corpo orgânico, físico. Tem várias formas de a gente pensar de que maneira isso pode acontecer. Isso pode acontecer, por exemplo, dentro de uma perspectiva hereditária. Existe uma tendência em se defender com essa somatização, uma tendência que o a mãe, ou o pai, experimentam e o filho herda também. Ele não escolhe. Ele não tem a intenção disso. Uma configuração da histeria. Da neurose de histeria, que o Freud nos colocou, é mais propenso a isso. Porque o sujeito vai embotando, ele vai reprimindo, ele vai colocando para dentro, ele vai se retraindo, até que isso retorna para carne. Retorna, porque a libido é, antes de qualquer coisa, uma necessidade fisiológica. Como uma energia sexual e psíquica, que se desdobra no funcionamento emocional-afetivo. Ele retorna para o corpo físico isso. Ele repreende de uma maneira tão severa, que isso se torna uma moléstia orgânica. Nós podemos pensar de uma maneira muito prática, por exemplo, quando o sujeito tem um problema muito sério, que ele não consegue resolver e ele começa a roer a unha, ou apertar o dedo, ou coçar a cabeça. Um movimento repetitivo compulsivo, que envolve o corpo físico. Isso é uma ação direta e manifesta, mas o corpo faz isso sem que eu perceba que ele faça. Ele pode fazer isso de maneira interna, nos órgãos internos por exemplo. Freud falava isso. Ele trazia essa ideia de que um órgão do corpo adoece muito semelhante a manifestação da excitação do órgão sexual. E muitas vezes, pelo sujeito não poder manifestar a excitação do órgão sexual, ele pode eleger inconscientemente outro órgão que fica entumecido e excitável da mesma forma que o órgão sexual. Só que esse órgão não está preparado para isso, assim como o órgão sexual está. E aí, gera certa doença psicossomática.

 

AGRAVAMENTO PATOLÓGICO

 

No entanto, a gente não pode confundir doenças psicossomáticas, com doenças que foram estimuladas por uma confusão no nível emocional-afetivo, por um transtorno, uma turbulência psíquica. Então, o sujeito já tem uma doença fisiológica, uma doença no corpo físico e por estar ali, num momento de turbulência, de perturbação psíquica, ou emocional-afetiva, esta doença começa a se agravar. Estimula-se essa doença a se agravar. Então, isso não é psicossomático, não foi gerado por conta de um problema psíquico, mas o problema psíquico agravou a situação.

 

AMBIENTE SAUDÁVEL

 

Não só dentro da psicossomática, mas todas as questões que envolvem os transtornos, ou as turbulências emocionais-afetivas, elas vão acontecer no nível que não é um nível intelectual, não é um nível do saber, não é o nível do conhecimento. Essas, coisas vão se dissolvendo vão ser elaborando, num nível em que o sujeito não tem acesso. Ele pode até, depois, tentar encontrar um sentido no mundo racional e associar com questões racionais e isso acaba fazendo sentido, mas na realidade, não foi a partir de algo dito, de um livro que ele leu, ou qualquer coisa nesse sentido, mas isso vai acontecer a partir de uma experiência de acolhimento. O sujeito se sente acolhido, ele se sente amparado e a partir deste amparo, ele passa a se qualificar a se sentir segura o suficiente para que essas questões comecem a se elaborar dentro dele próprio, mas num nível em que ele não tem conhecimento. Ele não pode ter acesso racional a isso. Vai acontecendo sem que ele possa acessar, mas impreterivelmente, ele precisa estar num ambiente saudável, pacífico. Ele precisa estar num ambiente emocional que não traga para ele ameaças e as ameaças são sempre de ilusões. Então, existem ameaças, tanto hostis, como julgamento, como crítica, quanto ameaças sedutoras como elogios, bajulações, falsidades, que também são elementos obstrutores para que o sujeito possa estar se sentindo num ambiente que tenha o afeto, o amor, o carinho e sinceridade, franqueza, verdade, limites. Essa configuração enriquecida por esses elementos que eu acabei de dizer, propicia a reparação das experiências emocionais afetivas do sujeito.





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