terça-feira, 9 de janeiro de 2024

TER OU ESTAR SENDO - Prof. Renato Dias Martino



Suprir uma necessidade básica. Quanto mais bem suprida esta necessidade, mais o sujeito vai estar qualificado para desapegar desta dimensão, que foi necessária por um período da vida. O bebê tem a necessidade de ter. Ele tem a necessidade de sentir que ele obtém a mãe, que a mãe é dele. Quando ele pode viver essa experiência de obter a mãe, de sentir que a mãe é dele, ele aos pouquinhos, vai sendo capaz de desapegar dessa dimensão do “ter” e vai passar para a dimensão do “estar sendo”. Quando ele não consegue esta experiência bem-sucedida, ele, muito provavelmente vai se cristalizar, vai fixar-se nesta dimensão do “ter” e obter as coisas para ele, vai ser uma forma de funcionamento na vida adulta.

SER OU ESTAR SENDO

A dimensão do “ter” e a dimensão do “ser”. É mais importante “ser” do que “ter”. Na realidade, é mais importante “estar sendo”. “Ser” é também uma ilusão de obter. “Eu sou” é uma ilusão. No máximo, eu posso “estar sendo”, porque aquilo que “eu sou” agora, logo mais, eu não serei mais. Então, ser é uma ilusão, a realidade é o “estar sendo”. A vida é fluxo, a existência está dentro da perspectiva do “estar sendo”, nunca do ser.

MATERIALISTA

Quando a criança não pode ter satisfeita a sua demanda de obter, quando ela não pode viver realmente esta ideia de que ela tem, que é dela aquilo e a partir dessa experiência bem-sucedida que ela possa evoluir expandir para perceber que isso, na realidade, é uma ilusão, ela vai ficar fixada neste modelo e a vida dela vai ser configurada no “ter”. As pessoas que têm esta característica materialista, ela tem, na sua maioria, um histórico de não poder ter vivido essa experiência de maneira bem-sucedida, ela passa a obter as coisas a tentar adquirir bens, coisas do mundo concreto, para tentar suprir alguma coisa que, na verdade, nunca vai ser suprido. Nós estamos falando aqui de, desde dinheiro, obter dinheiro, obter títulos, obter o autoconhecimento, obter as pessoas, obter um corpo bonito... Ter, ter e mais ter, tentando suprir o “estar sendo”, que na realidade, fica desprotegido, fica vulnerável. Todas as vezes que o sujeito está é supervalorizando o “ter” ele está deixando vulnerável o “estar sendo”.

COMPULSÃO E VAZIO 

O sujeito vai eleger um objeto do mundo externo, cria uma compulsão em relação a este objeto do mundo externo, que vai trazer para ele uma ilusão de satisfação desta falta, que na realidade, ele precisaria aprender tolerar. Compulsivo em comprar, em fumar, em beber em comer, em sexo, seja lá no que for. Ele vai ficar compulsivo naquilo, numa tentativa inútil de entulhar o seu vazio, porque ele não tolera este vazio. Este vazio, que é fundamental para um bom funcionamento. Nada se constrói que não seja no vazio. Se já tem alguma coisa, você não pode construir nada ali.

COMPULSÃO NO FRACASSO

A pior das compulsões não é do objeto externo, é daquilo que o sujeito, por si só, faz gerar. Então, muitas vezes, o sujeito é compulsivo na angústia, na tristeza, ele é compulsivo na sensação de fracasso. Você, por exemplo, vê um sujeito que é compulsivo no álcool, no uso do álcool e acredita que ele é viciado naquela substância, mas muitas vezes, ele é viciado em se sentir fracassado por ter usado o álcool novamente. Ele tem um sentimento de culpa, ele se julga por aquele sentimento de culpa, ele se condena por aquele sentimento de culpa e esta condenação vem com uma autopunição de estar sempre no papel do fracassado.

MATERIALISMO CONTEMPORÂNEO 

Nós vivemos num tempo, onde toda a configuração é formada para que o sujeito não fique sem, para que ele não aprenda conviver sem, para que ele não aprenda a tolerar a ausência. E aí, o que acontece? Quando ele realmente precisa, não está preparado para isso.

RETRIBUIÇÃO

Quando ele vai percebendo que na realidade a mãe não é dele, porque na realidade, ela é um ser autônomo e não tem uma ligação com ele, assim como ele gostaria que tivesse, ele vai expandindo a sua forma de funcionar e passa a ser grato a ela. Reconhecer tudo isso que ela fez por ele e a partir da gratidão ele vai desenvolver a possibilidade de retribuir isso que ele recebeu dela. Então, a retribuição é filha da gratidão.




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