quinta-feira, 18 de abril de 2024

BREVE REFLEXÃO SOBRE A PSICANÁLISE NOS TEMPOS DE HOJE

Das Mudanças Culturais e Tecnológicas


É função da psicanálise, independente da capacidade de cada psicanalista, a de transformação e adequação a novos modelos. Uma psicanálise enrijecida, ou cristalizada nos seus modelos é uma psicanálise morta e isso vale para cada sujeito que se propõe à sua prática. Com o fenômeno recente da pandemia do coronavírus, houve grande necessidade de adaptação tecnológica. O formato virtual, nos atendimentos online tornaram-se um importante recurso por conta da necessidade do afastamento físico, pelo risco de contágio. No entanto, no que se refere às questões culturais, não acredito que a psicanálise deva se ocupar de adaptação.  A atenção da psicanálise deve estar no âmbito do funcionamento emocional que, por sua vez, dá sustentação ao funcionamento afetivo e isso está compreendido numa dimensão independente das tendencias culturais ou ideológicas.

Não vejo diferença entre a psicanálise que possa ser aplicada num sujeito que viva na cultura brasileira, com a psicanálise que possa ser aplicada num outro sujeito de uma cultura diferente, ou ainda, na cultura do passado, ou mesmo, na contemporânea. A real psicanálise se presta a cuidar de elementos como amor, respeito, tristezas, ansiedades, angústias, e outros elementos do funcionamento emocional, desdobrando-se no âmbito afetivo. Estes elementos estão incluídos numa ordem que independem da tendencia cultural ou propostas ideológicas.

Da Ética Psicanalítica na Era Digital


A ética deve estar presente na prática da psicanálise, independente da modalidade de atendimento. A saber, a possibilidade de rebaixamento da influência moral para o enriquecimento ético é justamente, uma função da psicanálise. O respeito é elemento indispensável tanto no modelo presencial como no atendimento online. Da mesma maneira, dentro do âmbito das redes sociais, penso que um psicanalista real irá se manifestar dentro de uma atmosfera de respeito.


Da Patologização, do Diagnóstico Rotulador e o Medicamento que Alivia a Dor


Numa psicanálise real, que esteja cumprindo sua função, não se inclui os diagnósticos nas catalogações psiquiátricas. O respeito à forma de funcionar de cada um, em suas peculiaridades, assim como o respeito ao tempo que cada um leva nas transformações dentro do dos processos emocional e afetivos é indispensável numa prática bem-sucedida na clínica psicanalítica. A medicação psiquiátrica parece ser um fator obstrutor no fluxo bem-sucedido do processo psicanalítico, já que todo o trabalho da análise se inicia, se mantem, pela dor psíquica que é sua motriz. O que move o processo psicanalítico são as ansiedades e angústias, logo, quando esses sentimentos são suprimidos, o motivo da análise também se ausenta. A analisabilidade, ou seja, o nível de disposição ao processo psicoterapêutico, inclui a coragem de sofrer a dor para que se aprenda a tolerar desconfortos. Sem dor, sem psicanálise.

 

Da Formação dos Novos Psicanalistas


Vejo frequentemente nas redes sociais, divulgações de cursos de formação, cada vez mais breves. Na realidade, independente da época, a orientação de Freud, feita em 1919, em seu importante texto, SOBRE O ESTUDO DA PSICANÁLISE NAS UNIVERSIDADES, é elemento invariante na formação do psicanalista. O pai da psicanálise é categórico quando propõe o tripé contínuo e constante.

A análise pessoal, a supervisão feita por um colega mais experiente sobre os casos atendidos e o estudo teórico, de preferência em grupo. Isso qualifica o sujeito à prática da psicanálise, não um curso de formação. A dedicação à sua análise pessoal é mais importante do que os estudos teóricos, na formação do psicanalista. 




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