ANALISABILIDADE
Analisabilidade. O que a gente chama de analisabilidade? Tecnicamente, a gente poderia dizer assim a capacidade do paciente de estabelecer uma transferência positiva, uma cooperação com o analista para o progresso do processo psicoterapêutico. Mas, para isso ele precisa ter tido o mínimo de experiências bem-sucedidas na vida dele. ele porque se ele não teve experiências bem-sucedidas minimamente, ele não tem elementos para projetar no analista como esperança de evolução, de crescimento. Então, ele precisa ter isso. E aí é que entra a ideia de que a psicanálise está aí para todo mundo, mas nem todo mundo está aí para a psicanálise. A gente precisa quebrar essa ideia de que a psicanálise cabe em qualquer situação. Não! Ela não cabe em qualquer situação. Ela cabe na situação onde houver a capacidade do paciente de cooperar com o processo. E para isso ele precisa ter vivido algumas experiências que antecederam aquela experiência da análise.
CONJUNÇÃO CONSTANTE
Muitas vezes, o analista, principalmente o sujeito que está iniciando a sua carreira, pode cair numa cilada no sentido de que, muitas vezes o paciente pode não aderir ao processo. Muitas vezes, o paciente não consegue não tem a capacidade para cooperar com o processo, ou seja, não tem analisabilidade e o aspirante analista, ou aquele que está iniciando a sua carreira, pode começar a questionar a sua capacidade enquanto analista. Mas quando a gente fala de psicanálise, nós estamos falando de vínculo, nós estamos falando das duas partes. Precisa haver uma cooperação mútua. Precisa haver aquilo que o Bion chamou de conjunção constante continente contido para que alguma coisa possa acontecer.
ACOLHIMENTO
O acolhimento é vínculo. Você só pode acolher alguém que esteja disponível a ser acolhido, porque se ele não estiver disponível, isso que você está tendo com ele não é acolhimento. E se ele não estiver disponível a ser acolhido, ele não tem analisabilidade, ele não pode ser submetido à psicoterapia dentro da perspectiva da psicanálise.
PROMESSAS
É uma capacidade do sujeito. Um sujeito que tem analisabilidade não vai aderir a processos rasos, ou tentativas de promessas milagrosas de cura, ou qualquer coisa nesse sentido. Porque, na verdade, ele está de acordo com a realidade o suficiente para perceber que isso tudo é uma mentira.
VULNERÁVEL
É muito interessante a gente pensar que, aquele sujeito que passa a ser influenciado, ou por instituições religiosas, ou por promessas políticas de benefícios ilusórios, são justamente aquelas pessoas que não tiveram um lar bem estruturado. Esses são vulneráveis a essa influência que venha de religiosos políticos e de instituições que venham trazer ali, promessas fantasiosas.
TRÍADE SIMBÓLICA
Cria-se aí então, uma tríade simbólica e esta tríade que eu vou dizer agora nada tem a ver com a proposta da tríade do Lacan, da Tríade lacaniana da qual eu não tenho conhecimento qualquer. Mas nós estamos falando aqui de uma tríade onde existe um real concreto, um real imaginário e um real simbólico. Então, o real concreto é aquele que engloba apenas e tão somente o corpo físico, o fisiológico. A necessidade física. Então, o bebê tem a necessidade fisiológica do corpo da mãe. O corpo do bebê precisa do corpo da mãe. È uma realidade concreta é uma fome real e concreta que precisa de um seio real e concreto. Esta realidade concreta, esta dimensão concreta vai se desdobrar numa realidade imaginária. O bebê precisa do seio real concreto da mãe, ele encontra esse seio, cria um referencial, uma referência desse seio e na próxima vez que ele precisar desse seio, que ele sentir fome, por exemplo, ele vai imaginar esse seio. Então, eu tive a realidade concreta, passo a ter então uma realidade imaginária. Imaginar o seio que um dia eu experimentei de maneira concreta, física, material. Se essa experiência que eu tive com o seio material, físico, concreto, foi bem-sucedida, a realidade imaginária, o real Imaginário vai abrir espaço para o real simbólico. Ou seja, eu vou conseguir internalizar o seio que eu experimentei de forma concreta, que eu imaginei e agora ele está internalizado, ou seja eu simbolize o seio.
SEIO
Nós usamos a palavra seio, mas a palavra seio é um ícone de qualquer objeto em que se desenvolve uma experiência afetiva. Ser capaz de pensar o objeto que se ama dispensa a confirmação sensorial deste objeto.
REMÉDIO OU VENENO
A substância vai ser um remédio ou um veneno dependendo da dosagem. No filme A VIDA É BELA, o pai mente para o filho o tempo inteiro. Ali mentira foi fundamental para que o filho pudesse tolerar a situação.
DESILUSÃO
Normalmente, a gente tem a ideia de que a função do analista, a função da psicanálise é de desfazer ilusões, de destruir ilusões, quando na verdade, é o contrário. A função da psicanálise a função do psicanalista é aquela de, junto com o paciente, ir, a conta gotas, se desiludindo. Mostrar para o paciente que ele não precisa desfazer das suas ilusões porque alguém está dizendo para ele que aquilo é ilusão. A função da psicanálise é estar junto do paciente até que ele consiga entrar num acordo com a realidade, ser capaz de se desiludir e não destruir Ilusões.
REVOLTA
Quando você tenta desiludir alguém, ele pode se revoltar. E o que que é revoltar? É dar uma volta em falso. É re-voltar. Então, o revoltado é aquele que fica correndo assim como um cachorro atrás do próprio rabo Este é o revoltado porque não tolerou a desilusão como é que trabalha a espiral a espiral trabalha através de voltas que vão se alargando num eixo horizontal Cada Volta o sujeito alarga um tanto e caminha outro tanto no eixo horizontal O que é que vai propiciar a possibilidade de alargamento da volta e expansão no eixo horizontal é justamente o vínculo afetivo se não há vínculo afetivo o sujeito fica na revolta E aí ele dá uma volta em falso quando ele consegue este vínculo afetivo quando ele é acolhido ele consegue expandir uma volta a mais na espiral progressiva
ALUCINAÇÃO CIENTÍFICA
O sujeito está envolvido e fixado nas imaginações, nas fantasias, porque na verdade não teve uma relação bem-sucedida com a realidade, não conseguiu estabelecer um acordo com a realidade. Então, ele passa a afirmar as suas fantasias como realidade e passa a criar um sistema dedutivo teórico racional para justificar aquela sua ideologia. E é mais maluco ainda quando isso atinge as prateleiras acadêmicas, quando isso vira ciência, quando o sujeito começa a afirmar dentro de estudos científicos que aquela configuração alucinada que ele afirma tem embasamento teórico, porque ele se juntou com mais meia dúzia, sessenta, seiscentos outros iludidos e alucinados que afirmam a mesma coisa, dentro do ambiente acadêmico. Isso se chama “alucinação científica”.
SABER PENSAR
Por isso é importante a gente desenvolver a capacidade de pensar de pesar e não engolir conhecimentos goela baixo que foi dito pelo outro porque o outro é doutor. Que é o que o meio acadêmico faz, estabelece um certo e errado e te obstrui de avaliar o que é falso e verdadeiro. É justamente o que a psicanálise se propõe a se opor. A função da psicanálise é pensar, pesar e não conhecer, saber. Então, quando o sujeito é convidado para dar uma palestra de psicanálise, ele não vai ali para levar conhecimento, ele não vai ali para promover o saber, ele vai ali para pensar junto.
REPENSAR
O abismo que existe entre saber e pensar. Cada vez que eu penso novamente, cada vez que eu penso melhor alguma coisa, eu coloco em xeque, eu coloco em jogo tudo aquilo que eu imaginava saber. Porque eu estou repensando. Será que é assim mesmo? E é o que a gente faz aqui isso aqui. Não é um espaço do saber, não é um espaço do conhecimento, é um espaço do pensamento.
PENSAMENTO FRIO
Nós vemos aí agora cursos de psicanálise aprovados pelo MEC. Impossível, gente! A não ser que seja essa psicanálise lacaniana, aí talvez, pode ser que seja, porque é acadêmica, porque é intelectualizada, porque vira uma equação, porque vira uma conta matemática, que você soma “lé” com “cré” e dá “ré”. Pensamentos frios calculados.
DO IMAGINAR AO PENSAR
a gente não pode esquecer que a imaginação a ilusão é um protop pensamento sem a ilusão não pode haver pensamento é a partir da ilusão que o sujeito pode vir a pensar primeiro ele se ilude depois ele pensa o sujeito que foi cerceado em sua ilusão o sujeito que foi tolhido que foi privado das suas imaginações é um sujeito que não aprendeu a pensar
ILUSÃO CRISTALIZADA
Se a gente pudesse pensar no que definiria uma ilusão saudável ou uma ilusão tóxica, uma ilusão que não fosse saudável, o aspecto fundamental para essa definição é a cristalização, a impossibilidade de transformação. Quando, a ilusão está disponível a ser transformada ela é saudável. Quando ela está cristalizada engessada ela é nociva.
RACIONALIDADE
Vai pela razão! Seja racional! Muitas vezes, isso traz uma conotação de que se o sujeito for pela razão, ou for racional, ele vai conseguir uma decisão acertada e é justamente isso. Ele vai conseguir uma decisão acertada. Mas isso não quer dizer que ele esteja de acordo com a realidade, porque muitas vezes a ilusão pode fazer com que o sujeito crie um sistema dedutivo teórico racional que vai justificar aquela ilusão. Não é porque ele tem razões que ele não esteja iludido. Muitas vezes, o sujeito que está com a razão pode estar muito mais iludido do que o outro que talvez não esteja com a razão. A racionalidade não garante o acordo com a realidade.
DECISÃO OU ATITUDE
Tomar uma decisão é uma coisa, tomar uma atitude é outra. Decisão quer dizer cindir do todo. A decisão, quando ela é tomada, ela é tomada excluindo o todo. De-cisão = separação! Atitude é uma ação. Decidir é uma coisa, avaliar e tomar uma atitude é outra. Quando você está de acordo com a realidade, você não precisa decidir nada, é só você avaliar a realidade e tomar uma atitude conforme esta avaliação. Decidir, ou tomar atitude. Tomar atitude a partir da avaliação é para quem está de acordo com a realidade, decisão é para aquele que está parcialmente desejando alguma coisa.
ADULTO ILUDIDO
O adulto que está iludido e insistindo nas suas ilusões, muitas vezes criando racionalidades racionalizando para justificar as suas ilusões é um sujeito que não pode viver essas ilusões no tempo adequado. Ou seja, na sua infância. Por que que ele não pôde? Porque ele não foi resguardado pelo pai, pela mãe, pela família, que pudesse trazer para ele, um espaço lúdico para que ele vivesse essa ilusão. Então ele carrega essa ilusão para a vida adulta e inadequadamente ele tenta implantar esta ilusão nos lugares mais sensíveis.
A BOLHA
A gente vê bastante hoje no discurso popular a ideia da bolha e a bolha, ela é um modelo muito interessante, porque ela protege o sujeito, mas, ao mesmo tempo, ela aprisiona o sujeito. Ele está aprisionado dentro da bolha que supostamente o protege. Mas a bolha o protege ilusoriamente, porque a película da bolha é extremamente vulnerável. Qualquer coisa fura. O sujeito, quando está dentro da bolha, ele não tem consciência de que ele está dentro da bolha, ele acredita que o universo é a bolha. O universo de Ilusões que ele vive é a bolha. E ele ignora aquilo que existe para além da bolha. Agora, a função do psicanalista não é estourar a bolha, é acolher o sujeito que percebeu que existe uma vida fora da bolha. O psicanalista precisa ser capaz de transitar dentro e fora da bolha.
ASFIXIA
Quanto mais a bolha protege, mais perigosa ela se torna. Porque fica intransponível, a película. Quanto mais ela te proteger, menos ela permite a troca interna e externa e um sujeito que está dentro de uma bolha com uma película espessa, ele corre o risco de ser asfixiado.
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