Até onde é possível perceber, no plano material, a vida segue o fluxo num ciclo onde, a partir de um encontro bem sucedido nasce algo novo. Assim como afirma Wilfred Bion (1897 – 1979): “A unidade biológica é o casal” (BION, 1977), numa tríade do sujeito junto do outro num vínculo profícuo das relações fecundas, que faz gerar o novo. Sem esse encontro nada novo pode nascer, o que pode ocorrer é uma reles repetição, ou ainda uma simples replicação.
Essa nova vida que nasce, quando encontra condições mínimas necessárias, deve crescer em desenvolvimento e se mantém por certo tempo num referencial cronológico até que em certa fase dessa permanência, inicia-se um processo de declínio, onde a vida vai se quebrando, num processo de dissolução até se esgotar.
No vértice místico-religioso nas tradições milenares como da filosofia da Índia, nas escrituras védicas assim como no Budismo, a roda de Samsara significa o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos. O ciclo ternário de nascimento, permanência transitória e morte. Dentro da cultura védica, a realidade material é conduzida pelo fluxo, regida pela trimûrti, da qual faz parte as divindades Brahma, com a função de criar, e funciona no modo da paixão (guna raja); Vishnu que é quem mantem e funciona no modo da bondade (guna sattva) e Shiva que se reserva à função de destruir e age pelo modo da ignorância (guna tama).
Quando existe a possibilidade de estar contida num ambiente suficientemente saudável, cada fase pode ser vivida de maneira bem sucedida. Na configuração ambiental saudável no nascimento pode haver um estabelecido, onde é possível fixar-se em si mesmo, fundando um alicerce profundo e se consolidado, no que servirá de base para as próximas etapas do processo da vida.
A saúde na atmosfera que circunda a vida também é imperiosa no sucesso do amadurecimento, já que é por conta dela que passa a ser possível conservar condições favoráveis na preservação do acondicionamento adequado para permanecer o maior tempo possível livre de intervenções nocivas. Isso permite continuar o fluxo da vida num desenvolvimento prospero.
Na fase do declínio, o ambiente suficientemente saudável também é imperioso para um suceder paulatino das experiências o mais suave possível, num envelhecer de forma razoavelmente lenta, mas que seja com bem estar e minimamente aconchegante. Por se tratar de uma fase difícil, onde vão surgindo inúmeras limitações, num processo repleto de situações dolorosas, o ambiente tranquilo, de tolerância e benéfico é de fundamental importância.
Na perspectiva do desenvolvimento emocional humano as experiências parecem seguir um fluxo análogo. A saber, o ambiente emocionalmente saudável é aquele que mantém um clima carinhoso, amoroso, afetivo, onde a ternura esteja presente. Isso é propiciado a partir da lealdade nos vínculos que sejam realmente autênticos e espontâneos. Sendo que não podem existir técnicas que tragam a possibilidade de instalação e manutenção desse clima, que não seja deforma natural, simples, sincera e verdadeira. Em outras palavras, é fundamental que o acordo com a realidade seja genuíno. A configuração emocionalmente saudável tem o intuito de propiciar um clima calmo, sereno, num transcorrer tranquilo.
Tanto na configuração material, quanto no desenvolvimento emocional, o processo de maturação segue uma progressão, numa espiral de expansão que não permite reversão. Sendo a maturidade um percurso sem volta, não se pode "desamadurecer".A maturação é um caminho difícil e doloroso, seja ela no âmbito que for e não seria diferente no que se refere à expansão emocional. Os processos psíquicos não possuem a propriedade de reversibilidade, sendo que as tentativas de se reverter os processos psíquicos se caracterizam numa experiência nociva, regida pela onipotência numa produção alucinatória.
Nesse caminho é imprescindível a ajuda do outro. A vida se propaga através dos vínculos e sem eles ela tende a definhar.
Por mais que as condições pareçam às mesmas, cada um tem seu tempo para amadurecer. Ainda que fosse possível uma mãe e um pai dedicarem o mesmo cuidado a cada filho, impreterivelmente, cada um apresentará características da personalidade completamente diferentes, um do outro.
A evolução da maturidade emocional depende da capacidade de tolerar o processo de abrir mão das ilusões rumo ao reconhecimento da realidade, onde aprender a viver a ausência é o que fundamenta essa experiência. Maturidade emocional não depende da idade cronológica. A verdade se encontra muito mais na inocência das crianças do que nas dissimulações dos adultos.
REFERÊNCIAS:
BION, W. R. (1992) CONVERSANDO COM BION. Quatro discussões com W. R. Bion (1978) Bion em Nova York e em São Paulo (1977) Rio de janeiro: Imago.
Fone: 17- 991910375
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