quinta-feira, 26 de outubro de 2023

PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA - Prof. Renato Dias Martino


PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA 

Quanto menos o psicanalista se utilizar de terminologias psiquiátricas, tanto melhor. Não é função do psicanalista ficar decorando o CID, para saber o que que é transtorno não seu o que, o que é episódio de não sei o que mais, o que é síndrome do pânico... Não é função do psicanalista! O psicanalista não tem este compromisso com literatura psiquiátrica. Porque? Porque, todo rótulo, todo psicodiagnóstico que é colocado no sujeito, depois, para ser dissolvido, para ser desfeito, dentro de um trabalho de análise é muito dispendioso. Então, aquilo que o psiquiatra faz em dez, ou quinze minutos de conversa com uma pessoa, para depois ser desfeito dentro de uma experiência psicanalítica, leva anos. Porque o sujeito, é como se ele tivesse naufragado no mar e aí, o psiquiatra joga uma tábua chamando “transtorno bipolar” e aí ele agarra nessa tábua e depois que passa crise. Que na realidade, era só uma crise, era só um momento de crise e dentro da psicoterapia ele já consegue ter uma fluência, maior na sua vida, ele ainda continua abraçado naquela tábua. Ele já não está mais no mar, ele já não está mais à deriva. Hoje ele já está andando em terra firme, mas ele está segurando aquela tábua escrito “transtorno bipolar”, porque aquilo traz um benefício para ele. Depois que ele conseguiu aquele rótulo, as pessoas começaram a “respeitá-lo”, entre aspas. Então, quanto menos o psicanalista se utilizar dessas nomenclaturas, que na realidade, são nocivas para o processo psicoterapêutico, pelo menos dentro da psicanálise do acolhimento, tanto melhor. Muitas vezes você vê aí, psicanalistas tentando explicar o que que é transtorno dissociativo não sei o quê, porque saiu na imprensa que, não sei quem mais tinha aquilo ali. Isso na realidade, é um desserviço a aquilo que o psicanalista tenta fazer. A possibilidade de propiciar um ambiente que possa dissolver aquilo que ficou cristalizado e o nome do diagnóstico psiquiátrico é engessado.

NARCISISMO E PATOLOGIA 

Narcisismo, dentro da psicanálise, é um conceito que não é patológico, necessariamente. Para psiquiatria, a palavra narcisismo é patologia, é doença. Para psicanálise é um elemento integrante da personalidade de cada um de nós. Não só um elemento integrante, mas é também uma etapa do desenvolvimento da criança, da qual Freud chamou de narcisismo primário e o bebê precisa ser narcisista. Ele precisa viver a experiência de como se ele fosse a coisa mais importante do mundo para os pais. Ele precisa olhar para a mãe e ver a si mesmo no olhar da mãe. Dentro da psicanálise, narcisismo não é uma patologia, mas a palavra narcisismo, dentro da psiquiatria se caracteriza em uma patologia. 

PSICANÁLISE E TRANSFORMAÇÃO

A psicanálise trabalha dentro de um fluxo de transformação. Nada que estiver invariante por muito tempo, dentro da experiência psicoterapêutica, da psicanálise, pode ser saudável. Então, tudo precisa ser transformação. Coisas que são tóxicas e coisas saudáveis, também precisam viver transformações. Hoje, o que o paciente chama de amor, amanhã precisa ser alguma coisa muito maior, dentro do desenvolvimento da psicoterapia. Agora, dentro da formulação psiquiátrica tudo é engessado.


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