domingo, 9 de fevereiro de 2025

AMOR INCONDICIONAL E LIMITE - Prof. Renato Dias Martino



INTEGRAÇÃO

O fundamento de um bom funcionamento emocional é estar de acordo consigo mesmo. E quando eu falo estar de acordo é concordar estar junto de coração, estar junto de coração consigo mesmo. Ser o seu melhor companheiro ser o seu cúmplice. Por mais que você esteja fazendo a maior besteira do mundo, ainda assim, estar junto de si mesmo, amar a si mesmo. Amor-próprio não pode estar subordinado a gostar de si mesmo. Eu posso não estar gostando daquilo que eu estou fazendo, eu posso não estar gostando daquilo que eu estou sendo, mas ainda assim, eu me amo, ainda assim, eu me considero, ainda assim, eu estou do meu lado. “Ah! Mas você está fazendo uma besteira com o outro e consigo mesmo!” Não importa! É o que eu estou dando conta de fazer agora. E isso, dentro da teoria psicanalítica, sobretudo esta teoria que a gente está cogitando aqui, a gente vai chamar de integração.

AMOR-PRÓPRIO OU NARCISISMO

E não vamos confundir amor-próprio com narcisismo. Narcisismo não é amor-próprio. Narcisismo é gostar de si mesmo, amor-próprio é independente de gostar. O Narciso, ele olhou para imagem dele no rio e gostou. Ele foi atraído por aquilo e aí ele ficou ali, encantado, ele ficou ali apaixonado pela sua imagem. Ele não se dedicou a aquilo. Ele estava interessado naquilo. Então, amor-próprio não é narcisismo.

AMA OU GOSTA

O amor é construído a partir de relacionamentos bem-sucedidos. O outro me amou, eu aprendi a amar a mim mesmo e agora eu sou capaz de amar as outras pessoas. O outro se dedicou a mim, o outro foi meu companheiro o outro esteve do meu lado, mesmo eu fazendo a pior besteira do mundo, eu passei a estar do meu próprio lado, mesmo eu fazendo a pior besteira do mundo e agora eu sou tolerante com as besteiras dos outros. Gostar é outra coisa. Gostar é se sentir atraído, gostar é se sentir atraído porque aquilo que me atrai sugere que vai me trazer um benefício e quando eu não vejo mais esse benefício, eu abandono porque eu não gosto mais.

AMOR E DESRESPEITO 

A expressão “amor incondicional” é um pleonasmo. Amor é incondicional. Se não for incondicional, não é amor. Se houver condição, então não é amor. Agora, é importante a gente pensar o seguinte: quando eu estou falando de uma relação amorosa, esta relação precisa partir do amor-próprio. Eu me amo e a partir daí, eu sou capaz de amar o outro e eu me amo porque fui amado pelo outro. Agora, não é porque eu tenho um amor incondicional que eu vou permitir abuso, desrespeito, agressão, violência. Então, o amor incondicional é que eu não estou esperando qualquer coisa para que eu passe a amar, mas isso não quer dizer que eu vá permitir abusos e desrespeitos.

LIMITES

O amor incondicional está dentro da perspectiva do limite. Qual o limite? O limite entre “eu” e “você”. Nós somos duas pessoas. Amor incondicional não é fusionamento. Não é me fundir com o outro. É justamente o contrário. É ser capaz de estar integrado o suficiente para que você possa reconhecer o limite entre “eu” e o “outro”. E quando começa a haver desrespeito, quando começa a haver agressão, quando começa a haver aí, uma um abuso é porque está havendo um fusionamento, já que, quando eu desrespeito o outro é porque eu já estou me desrespeitando há muito tempo. E através desse fusionamento eu passo a desrespeitar e abusar do outro também.

PERMISSIVIDADE

Amor incondicional não inclui a permissividade. Se eu não estiver amando a mim mesmo incondicionalmente, eu não posso chamar isso que eu tenho com o outro, de amor. O amor não inclui a permissividade. Quando um filho desrespeita a mãe, quando um filho começa a passar do limite, na adolescência, por exemplo, ele já estava fazendo isso desde pequeno, porque a mãe foi permitindo que ele fizesse. Quando não há ali, a possibilidade de uma configuração de desenvolvimento que deixa muito claro o limite, lembrando que quem mostra o limite, quem traz a possibilidade de reconhecimento do limite é a função paterna na figura do pai, quando isso não pode acontecer e chega no adolescente ou na idade adulta isso passa a ter que sofrer imposições e a imposição nunca é saldável.

DISTANCIAMENTO NECESSÁRIO 

Muitas vezes, para que eu possa amar incondicionalmente o outro eu preciso respeitar um distanciamento necessário. Isso não é impor condições, porque de outra forma o outro vai me provocar e me desrespeitar e eu vou ter muita dificuldade para construir e manter este amor.


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