CRÍTICA E FRUSTRAÇÃO
A crítica é uma defesa. O sujeito que critica, ele está denunciando a sua incapacidade através da crítica. Ele está denunciando uma frustração, através da crítica e a crítica nunca foi e nunca vai ser construtiva. Onde entrar a crítica vai gerar uma dissimulação. Ninguém. se transforma porque foi criticado. O sujeito aprende a dissimular através da crítica. A maioria, senão todos os críticos de arte, por exemplo, são artistas frustrados. Críticos de música são músicos frustrados, críticos de artes plásticas são artistas plásticos frustrados que não conseguiram se desenvolver na sua carreira e se sentiram aptos para criticar, falar o que que é bonito o que não é, o que é bem-feito o que não é.
FAZER JUNTO
Por trás de cada sujeito que está criticando se esconde uma frustração enorme de não ter conseguido realizar, de não ter tolerado os passos em falso e as falhas que o outro está cometendo, mas está caminhando. Então, cada vez que eu sentir em mim um ímpeto de criticar é interessante que eu possa me conter e pensar um pouquinho: “de onde está vindo aquela crítica?” “Será que não é uma incapacidade minha?” O sujeito que olha para alguma coisa e pretende que esta coisa seja bem realizada, ele não vai criticar a pessoa que está fazendo a coisa, que está realizando a coisa, ele vai até ali se dispor a fazer junto com a pessoa. Então, dizer para o outro que ele tem que fazer ou deixar de fazer é muito fácil, ir lá fazer junto, nem tanto.
ADMIRAÇÃO SEM CAPACIDADE
A crítica está sempre atrelada a inveja. E o que eu estou chamando de inveja aqui? Eu estou chamando de inveja a experiência de admirar alguma coisa da qual não se tem capacidade. Todas as vezes que eu admiro alguma coisa e eu não tenho capacidade daquilo, se configura numa experiência de inveja. Nós temos uma dificuldade muito grande de lidar com esse sentimento que está em cada um de nós. E nós evitamos chamar isso de inveja e evitar dar o nome dessa experiência de inveja vai fazer com que ela acabe passando sem que eu possa pensá-la. Então, todas as vezes que eu estiver desejando alguma coisa sem ser capaz daquilo eu estou invejando aquilo. E aí, é uma chance para que eu possa pensar e pensando esta inveja vai ter a possibilidade de se expandir e se tornar alguma coisa mais nobre, para além da própria inveja.
ACREDITAR EM SI MESMO
O que pode dissolver a inveja é a autoconfiança. É acreditar em si mesmo. O sujeito, ele só inveja o outro porque ele não está acreditando em si mesmo. Ele se julga inferior. E aí, as coisas do outro parecem mais interessantes. A possibilidade de amar a si mesmo, de acreditar em si mesmo, de reconhecer a si mesmo, aprender a respeitar a si mesmo e se responsabilizar por si mesmo, vem do vínculo afetivo saudável que eu possa estabelecer com o outro. Sem isso, sem chance de dissolver a inveja.
DEVERIA SER
A inveja é um desdobramento de uma ação do “deveria ser”, do superego. O superego cobra alguma coisa, ela não pode entregar aquilo que o superego cobrou, exigiu e ela começa a sentir inveja de quem supostamente consegue entregar isso. E aí, o que acontece? Sentir inveja por conta disso, também tem um desdobramento do próprio superego, de reprovar o fato de você está sentindo inveja. O próprio superego vai te reprovar dizendo assim: “Você é uma invejosa. Você não consegue fazer isso e ainda por cima inveja o outro.” Então, além dela estar sentindo inveja, ela não é capaz de reconhecer, porque existe ali, uma ação do “deveria ser”. Deveria ser assim, deveria ser de outro jeito e o “deveria ser” inclui o deveria ser alguém que não sente inveja.
ACREDITAR EM SI MESMO
É muito simples também a gente fica condenando a instância da mente que a gente chama de superego, mas o superego só vai atuar na medida em que o sujeito não estiver acreditando nele mesmo. Quando o sujeito confia em si mesmo, o superego fica quietinho no canto dele, mas quando ele começa a duvidar de si mesmo, o superego entra em ação como uma medida de segurança para que ele continue caminhando. Então, quando eu não acredito naquilo que eu estou sendo, que é o meu ego, o que vai conduzir, o que vai me guiar, o que vai me impulsionar é o que eu deveria ser, porque senão eu fico parado. Então, o problema não é o superego, o problema é a incapacidade de acreditar em si mesmo.
INVEJA DE SI MESMO
Eu costumo chamar o superego de “deveria ser”. O superego cria um critério daquilo que o sujeito deveria ser, daquilo que o sujeito deveria fazer. Então, é como se tivesse um avaliador crítico que iria julgá-lo o tempo todo nas coisas que ele está fazendo e como ele está sendo. Muitas vezes, o sujeito, por conta dessa desintegração, ele realiza alguma coisa e o superego invejoso disso que ele fez, começa a desdenhar e dizendo que isso não é bom. Não consegue reconhecer a realização do sujeito como algo bom, por mais que tenha falhas. Muitas vezes, o sujeito que carrega um sentimento de culpa, não uma culpa em si, porque a culpa em si é questionável, mas o sujeito carrega um sentimento de culpa, por conta de algum uma experiência que ele tenha vivido, este sentimento de culpa faz com que ele não se sinta merecedor de realizações na vida. Então, muitas vezes, ele realiza, ele conquista alguma coisa, mas o superego vem e ataca, dizendo que aquilo não presta, ou que ele não é digno de ter aquilo. É um superego invejoso e o superego é uma parte da minha personalidade, logo, eu estou invejando a mim mesmo.
INTEGRADO
O sujeito, quando está integrado, o superego, o ego e o id, fazem parte de um todo. Funcionam, um corroborando com o outro, interligados e interdependentes no funcionamento saudável da mente. Então, um sujeito integrado não inveja a si mesmo, porque o superego está ocupando um lugar que é adequado dentro do funcionamento emocional desse sujeito. O sujeito passa a invejar a si mesmo na medida em que ele carrega algum um sentimento de culpa, na medida em que ele não está acreditando em si mesmo o suficiente para estar integrado.
AUTOSSABOTAGEM
Muitas vezes, o sujeito, ele escreve bem, ele fala bem, ele tem talentos, ele tem habilidades, mas ele escreve alguma coisa, depois ele lê e ele é capaz de depreciar aquilo que ele leu, dizendo que aquilo é uma porcaria. Ele faz um vídeo para postar na internet, ele assiste aquilo ali, ele fala: “Nossa! Isso aí está muito ruim”. Então, isso é inveja de si mesmo. Ele não é capaz de tolerar as suas falhas o suficiente para que ele possa desenvolver-se naquilo. Ninguém nasceu pronto! Mas quando eu tenho um “deveria ser”, esse “deveria ser” vira um pressuposto que se eu não estiver dentro daquela expectativa do “deveria ser”, aquilo que eu estou fazendo fica invalidado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário