quinta-feira, 19 de junho de 2025

SER MÃE - Prof. Renato Dias Martino




APRENDER COM A MÃE

Quando o Winnicott vai falar da mãe suficientemente boa, ou quando o Bion vai falar da mãe continente, não está querendo ensinar a mãe. A psicanálise não ensina a mãe, mas a psicanálise aprendeu com a mãe o que é ser continente, o que é ser amorosa, o que é ser suficientemente boa o que é ser dedicada comum. A psicanálise aprende com a mãe. A psicanálise não ensina a mãe, até porque, ensinar é sempre duvidoso.

MATERNÁGEM 

A psicanálise aprende com a mãe. Quando o Bion traz a ideia da capacidade negativa ele vai dizer assim: "Rebaixar o resgate dos dados da memória, rebaixar a expectativa no desejo e rebaixar a ânsia de saber, que na realidade é a ânsia de encaixar a experiência no já sabido." Quando ele vai propor isso, ele está propondo na realidade, justamente a função materna adequada. Uma mãe que está exercendo a sua função materna adequadamente é uma mãe que não fica apegado as coisas que ela se lembra do seu filho. O passado já passou é o aqui e agora com esta criança. E da mesma forma, é uma mãe que não fica projetando as suas expectativas e aquilo que ela gostaria que o filho fosse nesta criança. E da mesma forma, é uma mãe que aprende com cada experiência, logo, ela não está dentro do já sabido, do eu sei tudo. Então, a capacidade negativa coincide com o exercício da maternágem saudável.

SUFICIENTE

Como é que esta mãe suficientemente boa pode exercer esta função? Qual é o fundamental fator? O amor próprio! Ela precisa ser capaz de amar a si mesma. Quando ela é capaz de amar a si mesma, ela será capaz de amar o seu filho suficientemente bem. Algumas vezes exagerando, algumas vezes falhando, mas cumprindo suficientemente bem.

CULPA

É claro que a mãe que não conseguiu dar afeto, ou criar um ambiente propício para o desenvolvimento do afeto com o filho, foi uma mãe que não teve isso também. Em nenhum momento a psicanálise real, uma psicanálise saudável, tem o intuito de culpabilizar qualquer que seja a pessoa. Mas na realidade, é justamente o contrário, é dissolver o sentimento de culpa que não tem um fundamento na realidade. O sujeito chega na clínica se sentindo culpado porque não conseguiu estabelecer um vínculo saudável com a sua mãe. Mas na realidade, a sua mãe não foi capaz de propiciar este ambiente para que ele estabelecesse. Não é empurrar esta culpa para a mãe, mas é mostrar para ele que ele não pode se sentir culpado por isso porque tudo que está na esfera do vínculo é responsabilidade dos dois.

VÍNCULO E INTEGRAÇÃO

A única maneira que o sujeito encontra de criar uma conexão consigo mesmo é a partir da conexão com o outro. Não tem como o sujeito aprender a se vincular a si mesmo, a integrar-se a si mesmo sem que ele tenha vivido uma relação saudável com o outro. É só a partir disso, para que este modelo possa ser introjetado e eu aprenda a me vincular de maneira saudável comigo. E a psicoterapia tem este intuito.

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO

E tem uma frase do Abraham Lincoln, que foi presidente do dos Estados Unidos e depois virou tema de um filme de suspense muito bacana que é: A mão que balança o berço governa o mundo. A forma como a mãe cuida do bebê vai fazer com que ele se torne um exemplar do ser humano que irá configurar a sociedade, que irá trazer o futuro da própria humanidade. Então, não é deixar um mundo melhor para os filhos, mas é deixar filhos melhores para o mundo.

MODELO MATERNO-PATERNO

Uma pessoa que conseguiu ser uma mãe suficientemente boa será uma psicoterapeuta boa. Um sujeito que conseguiu ser um pai suficientemente bom, ele será um psicanalista suficientemente bom. Isso o qualifica para tal. Este mesmo modelo que a mãe usa com o filho, que a mãe generosa, que a mãe paciente, que a mãe tolerante, que a mãe suficientemente boa, que a mãe continente usa com o filho é o mesmo modelo que a psicoterapeuta vai usar com o seu paciente. 



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