Acolhimento é vínculo; sendo assim, não há como acolher aquele que não esteja disponível a ser acolhido. Uma psicanálise verdadeira tem a função fundamental de acolher aquele que esteja disponível para tanto. O acolhimento é a configuração de certo ambiente emocional confiável o suficiente que propicia a emersão de elementos que necessitam ser reconhecidos. Essa predisposição à psicanálise pode ser chamada de analisabilidade. Pela intuição de Wilfred Bion, podemos cogitar sobre certos pensamentos que se alojaram nesse sujeito e que agora carecem de ser pensados.
Um psicanalista é um parteiro de pensamentos — mas, se o paciente não estiver “gestante”, não há o que se fazer. Um psicanalista real é um parteiro de pensamentos que não são do paciente, mas que estão ali sendo gestados. A função do psicanalista é a de acompanhar e cuidar do nascimento de ideias e insights a partir de elementos que o paciente carrega em seu mundo interno, muitas vezes sem perceber. Assim como um parteiro não gera o bebê, mas cuida do seu nascimento, o psicanalista não impõe verdades: ajuda o paciente a trazer à luz o que já está em gestação.
No entanto, se o paciente não estiver “gestante”, o processo não pode ocorrer. O trabalho psicanalítico deve ser colaborativo: exige entrega mútua, confiança e um compromisso com o desconhecido. O “bebê” — ou seja, o conteúdo gestante no paciente — pode ser frágil, confuso ou até doloroso ao nascer, mas é no acolhimento cuidadoso desse processo que a transformação pode vir a acontecer.
Por
outro lado, uma intervenção brusca, desrespeitosa ou mesmo precoce pode vir a
provocar um aborto do processo. Lembrando que, diferentemente do parto de um
bebê físico, no âmbito do parto de pensamentos não existe cesariana.
Prof. Renato Dias Martino
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