Desenvolvemos a fala com o intuito de comunicarmos percepções ao outro. Porém, por outro lado, muitas vezes, por conta da dificuldade em tolerar frustrações, usamos também a fala, como forma de evacuarmos sensações de desconforto. O que parece diferenciar uma maneira da outra é a capacidade de introdução do amor como elemento dessa tentativa de comunicação. Quando se evacua através da fala, isso deve gerar reações defensivas naquele que recebe o que foi expelido. A suposta verdade que seja colocada ausente de amor, irá provocar defesas no outro, ao invés de desdobrar-se numa apreensão disso que se tem como verdade e que se tenta comunicar. No entanto, no caso daquele que receba a evacuação não conseguir se defender, o que ocorrerá é uma intoxicação, já que absorver evacuações é sempre tóxico. Quanto maior a capacidade intelectual do sujeito que ora evacua, mais bem formulada pode ser a evacuação. Portanto, maior a dificuldade de se defender, por conta da complexidade da evacuação verbal. Um sujeito muito inteligente deve usar teorias bem articuladas, assim como vocabulário rebuscado em suas evacuações. Ainda assim, isso não serve de aval. A veracidade do conteúdo de uma teoria não pode ser garantida por um vocabulário requintado. Sendo assim, corremos um grande risco de nos intoxicarmos com discursos muito bem elaborados, mas que na realidade, não passam de evacuações. Porém, quando estamos integrados em nossa personalidade, desempenhando de forma saudável nosso verdadeiro eu, somos menos vulneráveis a essa forma de intoxicação. Mesmo que o discurso possa vir com palavras refinadas e com explicações detalhadas, quando na ausência de amor e verdade, algo muito primitivo do funcionamento mental, deve ativar defesas. Quando existe a possibilidade da autoconfiança, numa integração consigo mesmo, o instinto de autopreservação deve alertar por meio da intuição, para possíveis perigos, sejam eles da ordem do material ou no âmbito emocional afetivo. E isso nada tem a ver com capacidade intelectual.
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