DA
CONTRATRANSFERÊNCIA À INTUIÇÃO
Quando
a gente fala de intuição, dentro da psicanálise e o Wilfred Bion (1897 -
1979) trouxe essa proposta de que o psicanalista não usa os seus órgãos
sensoriais. Ele não usa a visão, ele não usa olfato, ele não usa audição, como
um instrumento fundamental, mas ele usa a intuição. O que que ele está chamando
de intuição? Alguma coisa mágica que acontece com o sujeito? Não! Não é isso.
Ele está falando de uma percepção de algo que está acontecendo ali, durante a
sessão, mas que não pode ser percebida com os órgãos do sentido. Quando você
fala de uma ansiedade você não pode ouvir ansiedade você não pode sentir o
cheiro da ansiedade, você não pode ver a ansiedade. Mas você percebe a
ansiedade a partir da intuição. Por mais que o paciente possa falar que está
ansioso, ele pode não estar se sentindo ansioso. Por mais que o paciente não
diga que está ansioso, você pode perceber através da tua intuição que ele está
ansioso.
CONTRATRANSFERÊNCIA
A
contratransferência é quando o analista projeta as suas questões no paciente,
não é quando ele percebe o que está acontecendo com o paciente, ou o que está
acontecendo no vínculo. É quando ele sobrepõe as suas questões particulares as
questões do paciente. Então, a contra transferência impede a intuição. Intuir é
ver internamente o que está acontecendo ali, no mundo externo. Perceber e
reconhecer aquilo que está acontecendo por um órgão que não é aquele que
constata a partir dos sentidos. Quando a gente está falando de
contratransferência, a gente mais adequadamente, poderia chamar de neurose de
contratransferência. Porque é quando o analista projeta suas questões mal
elaboradas no paciente e aí isso obstrui, isso polui o vínculo. Eu já não
percebo mais o vínculo entre eu como analista e meu paciente, mas eu percebo o
vínculo entre eu como analista e eu mesmo como analista. Eu mesmo, dentro das
minhas questões mal elaboradas e isso é contratransferência.
CONTRATRANSFERÊNCIA:
memoria, desejo e compreensão
Dentro
dessa perspectiva da contratransferência, o analista não é capaz de renunciar
do seu desejo, o analista não é capaz de renunciar da sua memória, o analista
não é capaz de renunciar da sua compreensão, da sua ânsia de saber. Ele é
convidado a atuar dentro da contra transferência. E aí, o paciente precisa
corresponder a sua ilusão. Ele veste isso no paciente e é muito triste quando o
paciente põe a carapuça, quando o paciente corresponde a contratransferência. E
aí, começa a acontecer as atrocidades, que normalmente a gente recebe dentro da
clínica da psicanálise do acolhimento. Sujeitos que padeceram nas mãos de
supostos analistas, que nunca, na realidade, se dedicaram na sua análise
pessoal e estão ali, “pingando” a contratransferência e inundando o paciente
das suas questões mal elaboradas.
ATUAÇÃO
NA CONTRATRANSFERÊNCIA
A
contratransferência é uma coisa, a atuação na contratransferência é outra.
Contratransferência paralisa o sujeito. Paralisa em que? Paralisa o analista no
desempenho da sua intuição. Ele deixa de intuir. Por que? Porque ele ativa o
seu desejo, ele começa a desejar que as coisas aconteçam dentro do seu script.
Mas isso não quer dizer que ele atuou, mas ele é convidado a atuar. Então,
acting out, para fora, atuação no mundo externo, daquilo que está acontecendo
no mundo interno. Porque, não está sendo possível pensar. Quando não é possível
pensar, ele reproduz, ele repete. Normalmente, quando acontece a
contratransferência, isso vem com uma força tão grande, que na melhor das
hipóteses, o analista é obstruído no seu funcionamento intuitivo. Porque gera
um desconforto muito grande, uma necessidade de evacuação. Essa tensão faz com
que o sujeito tenha uma tendência a evacuar e isso aí obstruiu o funcionamento
adequado da renúncia do seu desejo, do rebaixamento das memórias, do
rebaixamento da sua ânsia de saber, para que ele possa intuir. Então, ele tende
a evacuar isso. E aí, quando se instala contratransferência, por exemplo,
dentro de uma sessão, é muito difícil que ele consiga, dentro dessa mesma
sessão, restituir ali, o funcionamento, o bastante, para que ele consiga passar
a desempenhar a intuição. Não estou dizendo que não pode acontecer. Pode ser
que aconteça, mas é muito difícil, porque é muito forte isso.
CONTRATRANSFERÊNCIA
E IMPACIÊNCIA
A
palavra impaciência é justamente o que retrata. É icônica para dizer quando o
sujeito está imbuído de desejo, inundado das suas memórias e ansioso por saber.
Ele se torna impaciente. A impaciência causa um desserviço a análise. Ninguém
está livre disso. Todos nós estamos arriscados a viver isso. Por mais que você
tenha 20, 30 anos de análise e por 20, 30 anos sendo analista, você não está
livre de viver isso.
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