terça-feira, 8 de agosto de 2023

O SABER SOBRE E A PSICANÁLISE REAL – Prof Renato Dias Martino


A gente está falando do “saber sobre” quando a gente trata de psicanálise. “Saber sobre” é sempre menos importante do que eu o “estar sendo”, dentro da psicanálise. “Saber sobre” é como se você pegasse um mapa para ir até certo lugar. Então, aquele mapa vai te mostrar o caminho de como chegar naquele lugar, no entanto, naquele mapa não tem os entraves e os obstáculos que você vai ter que enfrentar até ali. Você não vai ter no mapa, um lugar que esteja, por exemplo, cheio de buracos, um lugar que esteja, por exemplo, com alguma obra... Por mais que você tenha recursos de GPS de via satélite, que possa te trazer todo esse mapeamento detalhado, ainda assim, no percurso que você vai seguir, percorrer, você vai ter uma série de experiências imprevisíveis que aquele “saber sobre” antecipado, não vai poder te ajudar. Então, dentro da psicanálise é da mesma forma. É bacana você “saber sobre”? Sim, é! Mas o mais importante, é caminhar tendo consciência de cada passo que você dá no percurso que você vai percorrer. O sujeito que vai achando que, porque ele tem o mapa, ele vai conseguir fazer aquele caminho ali, naquele tempo preestabelecido, ele vai se dar mal. Muitas vezes, você coloca ali, no teu celular, um percurso que você quer, onde você quer ir e ali dá assim: Ó! Daqui até lá dá 5 minutos, mas na hora que você vai percorrer, tem um sinaleiro, uma obra, tem um buraco no caminho, tem uma pessoa atravessando... Aí, a hora que você chegar lá, deu 15 minutos. Esta previsão é muito delicada e precisa ser vista com muito cuidado. Tem um meme na internet assim, que os historiadores estão ali, vendo aquelas imagens no fundo da caverna. Assim, de um cavalinho desenhado, um sujeito jogando flecha no bichinho assim e aí os caras todos encantados, assim os arqueólogos todos encantados. Olha só! Descobrimos aqui, imagens registros dos homens da caverna. E aí, mostra um outro quadrinho assim, com a mãe falando assim: “Moleque! Para de rabiscar parede!” É um menininho que está rabiscando a parede. É uma precisão duvidosa. Isso tudo que a gente tem como registro, a gente não sabe muito bem o que é aquilo, existe uma hipótese e é bacana até saber isso aí, mas na realidade, é só hipótese. É um conflito muito grande dentro da própria psicanálise, porque a gente estuda a teoria, porque a gente faz supervisão, só que ao mesmo tempo, a gente precisa ter um cuidado muito grande, para não tentar enfiar as formulações das supervisões, ou dos estudos teóricos, na prática clínica, no momento que você está atendendo o seu paciente. Então, é muito perigoso isso, porque eu vi isso com o meu supervisor e isso é verdade agora vai ter que ser desse jeito e eu vou forçar na minha sessão que o paciente engula goela abaixo aquilo que foi determinado dentro da supervisão, ou dentro do estudo teórico, ou da alguma coisa que eu li acabei de estudar ali, que para mim fez um sentido danado. Agora tem que ser aquilo e eu vou fazer com que a que seja aquilo dentro da sessão. Isso é perigosíssimo. É a conduta de um psicanalista real. Quando ele recebe o seu paciente que muitas vezes está em análise há 10 anos, quando ele consegue receber este paciente como se fosse a primeira vez, como se fosse uma pessoa nova, como se ele nunca houvesse recebido aquela pessoa. Quanto mais o analista for capaz disso, mais ele vai ser bem sucedido nisso que a gente chama de psicanálise hoje. Uma psicanálise real é a psicanálise sem memória, sem desejo e sem compreensão.


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