quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O modelo familiar humano


O que está na ordem dos instintos não se discute, apenas se respeita.



 Para que possa haver boa formação de espécimes de certa espécie é preciso respeitar certas condições mínimas necessárias, que aqui chamaremos de “CMN”. O prejuízo é certo na medida em que as “CMN” não são respeitadas. Inúmeras ameaças apresentam-se muito rapidamente. Com o ser humano não é diferente, existem “CMN” a serem respeitadas. 

Processo de reprodução do animal humano

A fêmea entra no cio e deve escolher um macho saudável o suficiente para copular. Prenha, ela inicia uma fase que a deixa cada dia mais vulnerável. Procura então um canto seguro, que, resguardado pelo macho deve ser velado.
Esse macho que já deve ter deixado claro sua capacidade , além de zelar pela proteção da mãe prenha, assim como do recém nascido, tem a função de angariar recursos  de subsistência para  garantir a tranquilidade da fêmea dedicada e em consequência disso, também da cria recente.
 
Isso enquanto a fêmea dedicar-se completamente a cuidar bem desse sujeito que  certamente está entre  as espécies mais vulneráveis quando bebê. O vínculo é a forma afetiva de se manter ligado ao outro, qualquer outra tentativa de relacionamento que não puder contar com uma base afetiva bem estruturada, revela-se superficial e frágil, desfazendo-se com grande facilidade. 
O ambiente familiar que possa contar com “CMN” torna-se o lugar onde os vínculos podem ser criados e assim, também capazes de evoluir, por conta da qualidade do acolhimento, fundamental para esse delicado processo.
Falhas na criação deste ambiente podem comprometer severamente a estruturação da personalidade daquele que nasce.



O modelo familiar em desuso

O sonho da constituição da família parece estar, cada dia, mais fora de moda. Digo sonho, me apoiando na “teoria do pensar”, de Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979); psicanalista Indiano naturalizado inglês que acredita em um modelo onde, o pensamento vem antes do pensador. 
Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979)


No exemplo da família, é importante que o pensamento de construí-la, esteja na mente do pensador que a realizará, antes mesmo da efetivação do projeto. Através do ensaio imaginativo ou da atividade lúdica, ensaia-se o pensamento e simula-se internamente aquilo que acontecerá. Isso proporciona uma situação onde, é preparado o espaço mental que acolherá toda a problemática emocional que acompanha a vida a dois, assim como a concepção de filhos.
O fato é que, a dificuldade narcisista de se sonhar com algo futuro, que possa incluir um “outro”, é cada vez mais frequente esse sonho parece diminui na mesma proporção em que se criam novas embalagens de produtos destinados a pessoas que optaram por viver só.
“Brincar de casinha” é algo que tem mudado de forma significativa. O espaço para o desenvolvimento do papel de mãe na vida de uma garotinha, por exemplo, quando é admitido, está condenado a um segundo nível. Isso acontece acompanhado da incapacidade de reconhecer que a probabilidade de ser mãe é maior do que qualquer outra função na vida da garotinha.
O homem que há algum tempo evadira-se da família, deixou um rastro que, agora é seguido pela mulher. Assim, o que assistimos (menos como meros observadores e mais como participantes ativos) é a formação de famílias não pensadas. Famílias que se estruturam sobre um solo arenoso de tentativas de evitá-la



Em nome de uma pseudoindependência, a dedicação à família é, comumente, encarada pelo jovem atual ou contemporâneo (muitas vezes orientados pelos pais), como uma falta de escolha, ou até mesmo como forma de comodismo. O que vemos acontecer no “lar” atual é que a dedicação à família é sem duvida função daquele que não pode ter outra escolha. A família transformou-se em uma ameaça ao crescimento do individuo, seja ele em que dimensão: profissional, pessoal... Sonhando com a independência, o homem contemporâneo acorda sozinho. Não se liga ao outro por medo de sofrer, mas, sofre, pois não pode se ligar ao outro.
Eros e Tânatos
Nesse momento é muito interessante pensarmos na teoria das pulsões, onde Sigmund Freud (1856 – 1939), médico austríaco e fundador da Psicanálise, propõem a dualidade entre pulsão de vida e pulsão de morte . A primeira estaria caracterizada pelo elo, o vínculo e em ultima metáfora, o mito de Eros, o cupido. Como deus do amor, tem a função de unir. Já a segunda traria a noção da tendência a buscar um estado anterior, ou seja, a repetição, a divisão ou desintegração das relações. Essa ordem de pulsões é caracterizada pelo mito de Thanatos, o deus grego da morte. Essas duas forças disputam naturalmente, lugar dentro de nosso funcionamento psíquico, entretanto o predomínio de uma sobre a outra é o que impede a realização do pensamento e assim, um funcionamento saudável da mente.
Pensemos agora: quem são os filhos dessas famílias não pensadas?
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Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866

Um comentário:

Rosangela Brunet disse...

Demais esse artigo..família é meu tema favorito na vida...e vc abordou questões fundamentais levantando problemas atuais e pertinentes ao nosso cotidiano...por ser tão cotidiano não pensamos mais sobre isso...parabéns!!