terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

EGO E DESAPEGO - Prof. Renato Dias Martino



O ego, ele é constituído por símbolos e os símbolos são formados através de experiências de desapego. Quando o sujeito é capaz de se desapegar de alguma coisa do mundo material, ele conseguiu uma “expansãozinha” no seu ego. Cada elemento que ele é capaz de dispensar a confirmação sensorial no mundo material, ele ganhou uma nutrição no seu ego. Quando o bebê é capaz de simbolizar a mãe, isso quer dizer que ele pode tolerar a ausência desta mãe material, física, concreta, porque ele consegue ter esta mãe dentro dele, conseguiu internalizar a imagem dessa mãe, logo, o ego dele foi nutrido. Logo, o ego dele começa a ser bem estruturado.

O EGO E O OUTRO

O sujeito que tem um ego bem estruturado, o sujeito que tem um ego nutrido, ele tem a característica da união, da junção, do acolhimento. Primeiro, de si mesmo e depois do outro. O ego é a parte da personalidade que organiza o funcionamento emocional e afetivo. Então, quanto mais bem nutrido o ego do sujeito estiver, mais capaz de se doar ao outro e ele será. Porque ele é capaz de doar-se a si mesmo, de confiar em si mesmo, de acreditar em si mesmo, de amar a si mesmo, de respeitar a si mesmo. Este é o ego. É a capacidade de estar de bem consigo mesmo. É a autoestima e esta autoestima quando bem nutrida se desdobra na estima do outro

EGO INFLADO 

Muitas vezes, quando a gente vê um sujeito manifestando uma característica que não inclui o outro, uma característica que a gente vai chamar de narcisista, isso não quer dizer que o sujeito tem um ego muito grande, quer dizer que o sujeito tem um ego inflado. Ego inflado não é um ego nutrido, ego inflado é um ego oco, que não tem nada dentro. Ego nutrido é um ego consistente. Quando, o sujeito tem um ego consistente, ele é um sujeito que é capaz de se compadecer com o outro. Então, muitas vezes, esse sujeito, o que ele tem muito grande é um superego, é um ideal de eu, é algo que exige que ele seja algo que ele não está sendo. O ego é aquilo que ele está sendo, o superego é aquilo que ele deveria ser e muitas vezes para conseguir aquilo que ele deveria ser, ele passa por cima do outro. Ele tem uma ideia de si mesmo, não por aquilo que ele está sendo, mas por aquilo que ele deveria ser e ele começa a tentar reafirmar isso que ele deveria ser, como se ele estivesse sendo, para o outro, de uma maneira impositora, muitas vezes sendo arrogante, prepotente.

ESTAR SENDO E DEVERIA SER

A gente tem o hábito de condenar o superego, condenar o ideal de eu. Ah, mas o meu superego é muito rígido, ele exige demais de mim. “Ah, mas meu ideal de eu é muito exigente, ele é muito severo!” Na realidade, o que está acontecendo é que você não está sendo capaz de acreditar em você mesmo. Você não está sendo capaz de acreditar naquilo que você está sendo. Então, o que vai te guiar é aquilo que você deveria ser, logo o ideal de eu, superego. Então, o vilão da história não é o superego. Ele está ali, para tentar administrar alguma coisa que você, enquanto estando sendo, não está dando conta de administrar. Todas as vezes que você não estiver acreditando em você mesmo, quem vai tomar conta do da sua vida é o “deveria ser”, é a exigência é a cobrança.

EGO E SOLIDÃO

Quando o sujeito é capaz de ficar sozinho, ele tolera a solidão, ele se qualifica para conviver com o outro de forma saudável. Quando o sujeito não tolera a solidão, não tolera ficar sozinho, ele está fadado a se tornar uma pessoa solitária, mesmo na presença dos outros. Então, o que qualifica o sujeito a conviver com as pessoas, a estar junto com as pessoas é a capacidade de estar sozinho consigo mesmo. O sujeito, muitas vezes, não tolera a sua própria companhia, ele não é uma boa companhia para si mesmo. Desesperadamente, precisa de alguém do lado dele e muitas vezes, esse alguém está do lado dele, não está do lado dele, na realidade. Está ali, fisicamente, mas emocionalmente e afetivamente, não está.

FUNÇÃO DE AMAR

É do Ego a função de amar. Só aprende a amar o outro aquele que ama a si mesmo e o amor que se tem para consigo mesmo coincide com um ego bem estruturado e bem nutrido. Sem um ego bem estruturado e bem nutrido o sujeito não é capaz de amar o outro. A definição mais próxima do que é ego, é a parte da personalidade que aprendeu com o amor do outro como é amar a si mesmo. O outro me amou, eu aprendi a me amar. A partir desse amor próprio, eu posso estender para o outro, eu posso me doar ao outro.

AMOR E EGOÍSMO

Lá em SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO, de 1914, o Freud coloca: “Um egoísmo forte constitui uma proteção contra o adoecer.”. Por que que ele fala isso? Porque, muitas vezes, você está implicado ali, envolvido num vínculo tóxico e você precisa de um egoísmo forte para te proteger desse vínculo tóxico. O Freud continua: “mas num último recurso devemos começar a amar a fim de não adoecermos.” Ou seja, depois de conseguir se distanciar desse vínculo, nós precisamos voltar a o exercício do amar, de se dedicar ao outro. E aí, ele continua: “estamos destinados a cair doentes se em consequência da frustração, formos incapazes de amar.” Categoricamente, o Freud coloca que, aquele sujeito que não está sendo capaz de amar, está fadado a cair doente emocionalmente e afetivamente.

VÍNCULO SAUDÁVEL 

Um vínculo saudável, um vínculo bem nutrido, um vínculo bem estruturado, impreterivelmente, precisa contar com dois elementos. Com amor e com sinceridade. Este amor é a doação e esta sinceridade é o limite para esta doação. Então, esses dois elementos juntos constituem a possibilidade de se estabelecer um vínculo saudável. A capacidade de renunciar a si mesmo pelo outro, mas dentro da sinceridade que vai trazer o limite do que isso é possível. Aí se estabelece um vínculo saudável.

EGOÍSTA FERIDO

Muitas vezes, o sujeito que manifesta características egoístas, na realidade, é um sujeito que está com o ego machucado, fragilizado, ou ainda, que este ego é um ego imaturo, que não conseguiu amadurecer. Quando o sujeito está manifestando características egoístas é porque o ego dele está precisando de cuidado. Mas quando se trata de um adulto, isso começa a se confundir, porque muitas vezes, ele não é capaz de pedir ajuda para isso. E aí, ele se manifesta de uma maneira arrogante, prepotente para se defender da sensação de ser alguém menor que o outro.

CORAGEM E AJUDA

Talvez a atitude mais corajosa que possa existir dentro do âmbito emocional e afetivo seja pedir ajuda ao outro. Muitas vezes, ele não tem coragem disso. “Cor + agem”. COR coração e AGEM ação. Ele não consegue agir pelo coração. Porque a razão dele diz assim: “Você não pode ficar pedindo ajuda. Você não pode dar o braço a torcer que você não consegue fazer as coisas sozinho.” E aí, ele se torna um sujeito arrogante e não age pelo coração.





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