quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

INVESTIGAÇÃO, CONFUSÃO E COMPAIXÃO - Prof. Renato Dias Martino



Na literatura psicanalítica vamos encontrar a palavra investigação amiúde. Vamos encontrar a palavra investigação em Freud, em Melanie Klein, em Winnicott, em Bion... Não é função do psicanalista, que esteja praticando a psicanálise do acolhimento, a investigação.

INVESTIGAÇÃO

Não somos investigadores, não temos a função de investigar a vida do paciente. Não temos a função de investigar o funcionamento do nosso paciente. Isso é uma falácia, não funciona. Nós somos acolhedores. Não vamos escarafunchar a vida do paciente. Tudo aquilo que a gente precisa, emergiu espontaneamente por conta de um ambiente livre de críticas e bajulações. A nossa função é criar um ambiente saudável o suficiente para que, aquilo que precisa ser repensado, aquilo que precisa ser acolhido, possa emergir espontaneamente. Não é nossa função, ficar penetrando no funcionamento do paciente. Isso é um desrespeito. Corajosamente, estou aqui, novamente, tentando repensar elementos que são frequentes na literatura psicanalítica. O analista que fica procurando nas redes sociais a vivência dos pacientes por exemplo. Esse é um absurdo! Investigando o Facebook do sujeito, investigando o Instagram dele. Mas, não precisa fazer isso, pode ser, por exemplo, na própria sessão. Ficar com curiosidades para saber mais sobre aquilo que o paciente está falando. Não é função do analista a curiosidade. Eu estou ali para conter. Eu sou um facilitador para que o paciente possa se sentir à vontade o suficiente e permitir que os elementos possam emergir durante a análise e aí eu vou acolher. Você investiga um crime e eu não estou ali frente a um criminoso. A ideia de investigação é persecutória. O analista investigador é aquele sujeito que está ali, de uma maneira perseguidora. Está procurando qualquer coisa que o paciente fale e que possa contradizer alguma outra coisa que ele disse, para que eu possa pegá-lo e apontar. Não! Não é isso.

PERDIDO NA FLORESTA

Eu costumo comparar o processo psicoterapêutico com um sujeito que está perdido na floresta. A função do analista é estar junto com ele, perdido na floresta, não é mostrar o caminho para sair da floresta. Seu analista que é capaz de subir na árvore para olhar longe na floresta, para ver e te falar lá embaixo: “Olha, ali tem um rio ó... Lá tem uma estrada...” Ele não vai dizer: “Ó! O caminho é por aqui.” Mas ele vai te dar um panorama daquilo que está acontecendo na floresta. Porque, o caminho para sair da floresta do psicanalista não é o mesmo caminho de sair da floresta do paciente. Você está perdido na floresta sozinho é uma coisa e você está perdido na floresta junto com o seu analista é outra coisa.

COMPAIXÃO OU CONFUSÃO 

A compaixão é um elemento fundamental de um psicanalista, dentro da perspectiva do acolhimento. Com-paixão – “com”, quer dizer junto e “paixão”, nesse sentido, quer dizer sofrimento, sentimento. Este termo paixão é o mesmo que dá origem à palavra paciente. Paciente é o sujeito do sofrimento, o sujeito do sentimento, que será acolhido pelo analista. Então, o analista precisa estar junto do paciente no seu sofrimento. Isso é compaixão. Estar junto do outro no sofrimento. Para que isso possa acontecer, o analista precisa estar muito bem com o seu funcionamento e muito bem consigo mesmo. Acolhendo a si mesmo, tendo compaixão consigo mesmo, porque senão, o que vai acontecer é uma confusão. O analista se confundir com o paciente na sua dor. Confundir a sua dor com a dor do paciente não é compaixão, é confusão. E aí, você não pode ajudar seu paciente, porque você está confundido com ele.




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