sábado, 30 de dezembro de 2023

SENTIMENTO DE EXCLUSÃO E ABANDONO - Prof. Renato Dias Martino



Uma das maiores dores que o ser humano pode experimentar é o medo do abandono, é o medo da exclusão. Talvez seja a maior dor no âmbito emocional e afetivo. Uma experiência frequente de medo de abandono, de medo de exclusão numa criança, pode trazer para o adulto inseguranças indeléveis, inseguranças que dificilmente podem ser reparadas. Só através de um trabalho muito dedicado de psicoterapia pode ser reparado danos nesse sentido e quando eu falo reparado aqui, eu não estou falando de deletar, de fazer sumir isso, mas aprender a conviver com esta insegurança gerada na primeira infância e isso decorre de briga dos pais na frente da criança, de ameaça de separação.

FOBIA ESCOLAR

Quando a gente vê esse diagnóstico de fobia escolar, de fobia social da criança que não consegue ir pra escola, porque chora o tempo todo e tem medo de ficar ali na escola, não consegue ficar na escola, na realidade, esta criança está manifestando a ausência de recordação da mãe. Ausência de recordação do pai. Ausência de recordação do vínculo com a mãe e com o pai e de uma paz na família. Quando ela vai para a escola, ela não consegue se sustentar com essa imagem internalizada da relação que ela tem com a mãe e com o pai e ela se desespera e não consegue fazer nada na escola, porque ela se sente abandonada, porque ela se sente excluída, porque a escola não é algo que vem para somar, mas é como se fosse uma punição por alguma coisa. Ela já está vivendo um caos dentro da família dela e ela chega na escola e por estar extremamente ansiosa e angustiada, por conta disso, desorganizada, desintegrada, ela não consegue suprir o tal do currículo pedagógico proposto para ela e ela se sente mais uma vez excluída, num outro ambiente.

CHEGOU UM IRMÃOZINHO 

O nascimento de um irmão mais novo pode causar na criança um medo de abandono, um medo de exclusão. Por conta disso, a função materna bem exercida e a presença paterna acolhedora e protetora, vai ser fundamental para aplacar este medo. Onde esta criança vai se sentir acolhida e incluída para que este medo não domine esta criança. Mas quando chega este irmãozinho mais novo e a família está num caos, isso pode potencializar este medo de abandono e esta sensação de exclusão.

ABANDONO DA CRIANÇA E DO IDOSO

Se o sujeito não é capaz de produzir, de ser útil, não tem importância na sociedade contemporânea. São bebês, crianças e idosos. Então, as crianças são colocadas muito cedo em instituições e os idosos igualmente, também são colocados, em... hoje com o nome belíssimo de Casa de Repouso. E não estou criticando a instituição, porque, na realidade é a única coisa que essas pessoas vão poder contar. E aí, acontece outro fenômeno muito interessante, porque estas crianças que são abandonadas em instituições, muito precocemente, são aquelas que vão abandonar os seus pais em casas de repouso, assim que eles não puderem mais ser úteis.

CUIDADO COM AS CRIANÇAS

A criança precisa estar junto da mãe e do pai até no mínimo 3 anos e meio ou 4 anos de vida. Antes disso, não deve ser colocada em instituição alguma. “Ah! Mas a mãe precisa trabalhar, porque o pai tá ausente!” Bom, aí eu não sei o que fazer! Se não dá para fazer de outro jeito, faça sim, mas que vai haver um prejuízo, vai haver. Na realidade, a busca por qualquer relação social fora do âmbito mãe, pai e filho, deve ser buscada pela criança, não imposta pelo adulto. A criança deve buscar. Isso deve se mostrar pronta para a vida social, não obrigar a criança ir para vida social porque isto é um protocolo estabelecido sabe lá por quem. A vida social é dissimulação, é falsidade e a criança precisa estar preparada para enfrentar isso. E não é o adulto que sabe disso é a criança que percebe e o adulto precisa respeitar.

EDUCAÇÃO E O FALSO EU

O Winnicott traz a teoria dos selfs. A teoria de que existe um verdadeiro self e um falso self. O verdadeiro eu e um falso eu. O “falso eu” é necessário, ele precisa existir, a dissimulação precisa existir. Mas para ser saudável, ele precisa estar a serviço do verdadeiro eu. O falso eu saudável é aquele que está a serviço de proteger o verdadeiro eu. É necessário que o sujeito aprenda a dissimular, é necessário que o sujeito aprenda a fingir, para que ele possa proteger a sua verdade. Dentro do lar, a criança vive o verdadeiro eu, ou precisa viver o verdadeiro eu. A sua verdade dentro do lar. A criança precisa ser respeitada na sua verdade para que ele desenvolva um respeito para consigo mesmo. Desenvolvendo esse respeito, ele está pronto para desenvolver a educação que não é respeito, que é dissimulação. A educação é fingimento, o sujeito pode ser educado e não ser respeitoso. Na escola ele vai precisar ser educado. Desenvolve-se a educação para ir pra escola, para aprender na escola. Então, a criança desenvolve a educação para ser bem educadinho na escola, mas para isso, ela precisa ter vivido um respeito para consigo mesmo e aí, ela está pronta para usar o seu falso eu, lá na escolinha.

AMAR DE MAIS OU DE MENOS

No âmbito afetivo saudável, não existe “muito mais”. O amor tem uma configuração que não tem mais, nem menos. Se for menos, ou for mais, não é amor. Então, quem ama, ama. Quem ama, nunca ama demais. Se for demais, não é amor. Quem ama, nunca ama de menos, se for menos ainda não é amor.


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