domingo, 3 de dezembro de 2023

SOBRE REGREDIR - Prof. Renato Dias Martino


Qual é a grande importância de refletir sobre essa questão da reversibilidade, de retroagir nos processos emocionais-afetivos? Daquela famosa expressão psicanalítica “regredir”. Por que a importância disso? Porque, me parece que isso é quase que um consenso dentro da psicanálise. No entanto, isso é um absurdo. Ninguém regride. Não existe a possibilidade de regressão. Uma vez que você cresceu, uma vez que você amadureceu, uma vez que você expandiu, uma vez que você deu um passo à frente, não tem como voltar, dentro dos processos emocionais-afetivos. É de imperiosa a importância que a gente possa tratar com os nossos pacientes de uma maneira muito cuidadosa sobre isso. Quando existe a crença na reversibilidade, na possibilidade de regressão, o sujeito vive numa constante insegurança de que em qualquer momento, tudo aquilo que ele construiu, tudo aquilo que ele cresceu, tudo aquilo que ele amadureceu, pode se desfazer como um castelo de areia. Quando, na realidade, isso é impossível. Então, é muito importante que a gente possa observar que, quando o paciente apresenta uma característica imatura, ou infantilizada, deixar muito claro que na realidade aquilo nunca amadureceu. Justamente para mostrar que uma vez que tenha amadurecido, não tem retorno. Até para que ele possa se responsabilizar por esta parte do aparelho emocional-afetivo dele que ainda não conseguiu crescer, para que ele possa, a partir do reconhecimento desta parte que ainda não evoluiu, que ainda não amadureceu, passar a respeitar essa imaturidade e a partir daí começar um trabalho de responsabilização. Essa etapa de reconhecer, respeitar e responsabilizar, é justamente o que vai conduzi-lo à maturação desta parte e de outras partes da sua personalidade. Muitas vezes, o paciente através das experiências com o analista, ele percebe o que seria melhor para ele. Por exemplo, um paciente que tenha a característica da arrogância. Ele percebe o quanto é inadequada aquela característica. Quanto é inadequado aquele funcionamento arrogante. Então, ele começa implementar um trabalho de se livrar daquela característica. Isso não quer dizer que ele amadureceu o suficiente para que isso não se manifeste mais. Então, muitas vezes, ele empurra aquilo para debaixo do tapete e acredita que ele cresceu e quando aquela arrogância, por acaso, escapa debaixo do tapete, ele tem a impressão de que ele regrediu.



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