sábado, 9 de dezembro de 2023

SOBRE AMAR - Prof. Renato Dias Martino




Amar não é um sentimento amar, é uma capacidade, é uma capacidade de se doar, é uma capacidade de, a partir da tolerância a frustração, se dedicar ao outro. Adiar a sua própria satisfação a favor do outro. É dedicar-se ao outro. Amar é se importar com o outro. Para que o sujeito seja capaz e desenvolver o amor, ele precisa antes ter sido amado. Quando ele é amado, ele aprende a amar a si mesmo, a partir do referencial do amor do outro, ele aprende a amar a si mesmo e a partir deste amor próprio, ele estende esse amor ao outro.

AMOR SUFICIENTE

Quando a gente fala: “ter sido amado”, nós não estamos falando de um amor perfeito, nós estamos falando de um amor verdadeiro e um amor suficiente. Não é um amor maravilhoso e não é uma falha na capacidade de amar, mas é amar suficientemente bem.

DIFICULDADE NO AMOR PRÓPRIO 

Uma das maiores dificuldades dentro da clínica psicanalítica é o amor próprio, é o sujeito que não desenvolveu a capacidade de amar a si mesmo. E aí, o que acontece? O sujeito fica obstruído de todas as outras experiências afetivas saudáveis, porque ele tem uma dificuldade muito grande de amar a si mesmo. E isso não tem outra raiz que não seja não ter sido amado adequadamente. E ele acaba acreditando que ele precisa ter dinheiro, ele precisa ter bens, ele precisa estar bonito fisicamente, ele precisa ter um título, ele precisa ter uma formação acadêmica, para que ele possa ser amado e que isso é a chave do sucesso para ele. Quando, na realidade, isso tudo é uma grande ilusão.

FAMÍLIA E AMOR PRÓPRIO

O mal do século e da contemporaneidade está na estruturação da família. O sujeito se desenvolve longe do pai e da mãe, senão fisicamente, emocional e afetivamente. Isso vai formando sujeitos despreparados para lidar consigo mesmo e com o outro. Formando uma sociedade incapaz de amar, porque não foi amada, não aprendeu a amar a si mesmo e não consegue amar a ninguém mais. Este sujeito é um alvo muito fácil pras porcarias na gôndola do supermercado, das porcarias que se oferecem para comer, as porcarias que se oferecem na televisão, na internet, as porcarias que se oferecem na farmácia. O sujeito hoje é um sujeito extremamente perdido, porque não foi cuidado adequadamente, porque não teve uma mãe dedicada que pudesse exercer a sua função materna, porque não teve um pai presente que pudesse suprir a sua função paterna. E aí, cresceu um sujeito vulnerável que, qualquer porcaria pega esse sujeito. Quando o sujeito ama a si mesmo, está de bem consigo mesmo, ele não consome porcaria, ele não consome porcaria, seja ela alimentar, seja ela cultural, medicamentosa, seja ela do que for. Aquele “corpo estranho” chega a ela e ela repele aquilo por conta do seu instinto de autopreservação estar em consonância com a sua integração.

PSICOTERAPIA DO AMOR 

O processo psicoterapêutico é, por excelência, um recurso para restaurar a capacidade de autorreconhecimento, de amor próprio. Por isso, é muito importante que o psicanalista seja capaz de amar o seu paciente. Que seja capaz de realmente se dedicar a seu paciente, se importar com o seu paciente, dar atenção a seu paciente. Isso é amor e a partir disso, o paciente vai desenvolver esta capacidade de fazer isso consigo mesmo. Ele vai se importando com ele. Ele vai prestando atenção em si mesmo, ele vai se auto-reconhecendo. E aí, vai restaurando esta capacidade, ao ponto de ele conseguir estender isso às outras pessoas do seu convívio.




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