quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Por que fazer psicoterapia

Por que fazer psicoterapia 

Não me parece exagero dizer que o mundo civilizado elege aquilo que é concreto ou palpável como indicativo ou referencial para definir aquele que possa ser chamado ou não de bem sucedido na vida. O ser humano vem dedicando seu interesse quase que exclusivo a essa modalidade de conquista. Assim me parece caminhar o sujeito humano civilizado.
A humanidade parece enfrentar um período da historia onde a infertilidade (para não dizer esterilidade) na produção do pensamento é algo preocupante. O bem material se tornou tão valorizado que sufoca a cada dia a capacidade de reflexão do homem. Lembro-me então do saudoso Raul Seixas quando cantava sobre...



“As mensagens que nos chegam sem parar, ninguém pode notar, estão muito ocupados para pensar...”.Raul Seixas, S.O.S.




Como poderia então um sujeito se dispor a momentos onde a concretude das coisas simplesmente perde o valor e dentro de uma sala, deitado num divã, propor junto com seu analista, pensar e tentar através da reflexão entender sua dor, ou de alguma forma aliviar o peso de perceber sua angustias? Essa angustia que com nome de dor, a cada dia se torna mais localizada no corpo físico e longe dos conflitos psicológicos, ou pelo menos sem chance de associação entre uma e outra. Poderíamos dizer: cada dia mais perto do corpo (concreto) e mais distante da alma (subjetivo).
A tecnologia se desenvolve assustadoramente para dar conta dessa dor que surge no corpo. Medicamentos são desenvolvidos cada vez mais eficazes para amenizar essa dor e o homem ganha assim status e onipotência de um Deus. A aceitação do próprio corpo que poderia ser um bom exercício de reflexão sobre si mesmo foi substituída por um avanço espantoso na medicina estética que coloca próteses de silicone para introduzir o que se imagina faltar e retira o que não é desejável. A “casca” do ser humano fica cada vez mais bela, por pequenas fortunas. A evolução medica cura as mais variadas formas de câncer (muitas delas adquiridas pelo consumo de substancias que ele próprio criou). Na psiquiatria elaboram-se antidepressivos e ansiolíticos cada vez mais desenvolvidos, que a cada dia se aplica menos em nome de uma patologia fisiológica, mas em nome de uma psiquiatria estética, onde talvez fosse uma oportunidade de certo trabalho psicoterapeutico, no sentido de restabelecer a capacidade de pensamento e reflexão da própria vida.

Cria armas cada vez mais elaboradas para destruição em massa; promove-se catástrofes na natureza de grandes proporções, como derramamento de óleo no mar, desmatamento e destruições de rios com descarga de esgoto. Como escreve Freud em 1930, no texto O mal estar nas civilizações:

S. Freud (1856-1939)
“... As épocas futuras trarão com elas novas e provavelmente inimagináveis grandes avanços nesse campo da civilização e aumentarão ainda mais a semelhança do homem com Deus...”.


Mas, esse desejo sendo realizado sem que se desenvolva a capacidade de pensamento, caracteriza um modo perigoso de caminhar. O indivíduo se vê impelido a buscar uma garantia concreta para o amanhã. Contudo, na busca pelo material a rivalidade e a competição são conflitos sempre presentes. Em uma sociedade onde a família e suas tradições são cada dia menos valorizadas, fica também ameaçado o ambiente de acolhimento e segurança para se sonhar, imaginar e pensar. Desenvolver o aparelho pensador.
Penso que esse modelo de ser humano que somos hoje, necessita urgentemente resgatar sua capacidade de pensar - a principal habilidade que o difere dos outros animais. Pois, ao colocar essa capacidade em prática, também passa a valorizar o subjetivo. Aquilo que ainda não é, mas pode vir a ser. Esquecemos completamente de que tudo aquilo que podemos constatar pelos órgãos dos sentidos é passageiro, mas aquilo que não se pode perceber pelo sensorial é eterno.
A psicanálise assim como as psicoterapias busca, sobretudo, reconstruir essa capacidade de pensamento e imaginação, propõe a produção de pensamento pelo pensamento, esse que constrói o amanhã. O amanhã que é sempre incerto e que na verdade ainda não existe, mas nos preocupa no que poderá nos trazer. O devir. O amanhã só existe hoje se pudermos imaginá-lo e pensá-lo em suas reais possibilidades. Na relação analítica, ou seja, naquilo que se constrói entre terapeuta-paciente, o sujeito tem chance de se conhecer em seus desejos e seus medos (que andam lado a lado). Nesta descoberta podemos criar um modo de ser mais adequado para vivermos em um mundo que também se adequará a nós. Falo antes de tudo de um movimento de expansão da capacidade de reflexão e pensamento.

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor-
renatodiasmartino@hotmail.com -
Fone: 17-30113866
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Doar e aprender, receber e ensinar



Tempo Verdade Poussin Olgagrd -
O Tempo resgata a Verdade da Disputa e da Inveja Nicolas Poussin,
1640-2 Musée du Louvre, Paris
  Doar e aprender, receber e ensinar
O ensino não existe a priori. Isso se partirmos de um pressuposto onde a capacidade de aprender, talvez seja o que revela o objeto de ensino, e quem sabe, origina o objetivo de ensinar. Só aprendemos, ou apreendemos do mundo, aquilo que sentimos como necessidade ou desejo. Freud, em 1915, descreve o inconsciente como sendo a base geral do psiquismo humano. Ele propõe um sistema de funcionamento em que tudo que chega à consciência do indivíduo, passa primeiro pelo inconsciente. Quando aqui, se fala em inconsciente, o que se pretende é mencionar o lugar do eu onde não existe conhecimento. As linguagens racionais acessíveis nesse nível são extremamente escassas. Não temos controle desta área do psiquismo. Não somos donos de nós mesmos, nessa parte do eu. Por isso, alguns sonhos(que trazem em seus conteúdos grande material inconsciente) são tão assustadores e sem nexo; ou às vezes que nos espantamos com pensamentos, e até mesmo certos comportamentos estranhos que pensamos ou fizemos e não conseguimos achar um sentido para tal. São todas manifestacãoes do inconsciente onde se sente, mas não se sabe.


Se pudermos expandir o pensamento até essa detenção de realidade, poderíamos dizer que, tudo que chegou ao saber, passou antes pelo sentir. Sentir, desejar, são experiências extremamente individuais, a não ser na relação umbilical. O que a mãe sente ou deseja, implicará diretamente no futuro daquele que se encontra no seu interior.


Só buscamos conhecer aquilo que é ou, um dia foi objeto de nosso desejo. A saber, desejo é aquilo que parte do nosso interior e se pronuncia em direção ao mundo externo. Podemos até fazer uma analogia com o modelo nutritório, onde o bebe aprende amar aquela que o nutre. Para que exista aprendizado realmente, me aprece que as idéias devem seguir certo caminho. A partir do reconhecimento da necessidade a criação de um ambiente rico em afeto que permitirá, através da gratidão, que a “dependência” se transforme em “amor”.


Assim, na medida em que propomo-nos a apreender as coisas do mundo externo, criamos vínculos que nos permitem um melhor discernimento entre o que é real e o que criamos imaginativamente. Ou seja, podemos descobrir os limites entre o eu e o outro. Quantas vezes nos pegamos querendo saber sobre o outro, porém; será que queremos saber realmente o que ele deseja, ou na verdade o que nos interessa é saber se ele quer aquilo que esperamos que quisesse?


Se pudermos estar de acordo até aqui, podemos dizer então que, aprender é algo muito mais próximo do doar que do receber. Quando guiados por certo vértice de pensamento que compreenda o modelo continente/conteúdo, aprender é doar espaço do eu para que o outro (em idéia) se instale. Da mesma forma, o ensinar se encontra bem mais próximo do receber do que do dar. Usando um vértice semelhante, receber a demanda do que realmente cabe ser ensinado. Diferente de “empurrar” a qualquer preço aquilo que se deseja que o outro aprenda, mesmo que isso não faça sentido a ele.


Assim como em nossas relações afetivas, proponho através destas linhas a tentativa de criação de um vínculo escritor-leitor num ambiente onde prevaleça a verdade e o amor. Na verdade a união dos dois termos em amor à verdade e a verdade que existe no amor.
Dessa forma, poderíamos levantar duas questões das quais imagino surgirem nas cogitações do leitor. De que verdade estaríamos falando aqui, já que estamos frente a um conceito extremamente dependente de uma experiência individual? Penso aqui na verdade enquanto direção, onde poderíamos nos orientar. Aquela verdade que nos faz eternos pesquisadores do mundo e da vida. Aquela verdade que não sossega. Aquela que nos acorda de manhã nos cobrando um tipo de resposta que não servirá mais ao depois de amanhã. Aquela que nos vira a cara a cada encontro. Aquela pela qual só podemos nos ver orientados, mas nunca possuidores.


A segunda pergunta talvez se referisse ao amor. Que amor poderíamos estar tentando propor aqui, enquanto condição para o vínculo? Penso naquele tipo de amor que atrai as diferenças. O que necessita da diferença se encantando com isso. Aquele que se desliga do eu e liga-se no outro. Aquele que enxerga ou outro além do eu no outro.
Aquele que se propõe ensinar deve ter desenvolvido a humilde idéia de que a maior parte do que se espera ensinar nunca será aprendida. E se isso acontecer, a pretensão da confirmação do resultado é algo contrario a real efetivação do vinculo aprender - ensinar.

Prof. RENATO DIAS MARTINO
Psicoterapeuta e Escritor
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

Fone: 17-30113866

sábado, 7 de novembro de 2009

Algumas publicações na revista Psique


Conhece-te a ti mesmo
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O reconhecimento da própria identidade é um processo árduo e em permanente construção abastecido de crises existenciais mas evitá-las pode colocar em xeque uma mente saudável

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No dia-a-dia estamos cercados por acontecimentos cruéis que por si só já causam sofrimento. Mas fazemos questão de revivê-los seja nos noticários no cinema nas músicas e até no turismo. Afi nal de onde vem a satisfação humana em observar cenas e situações macabras?

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Representa- te


Representa- te
Renato Dias Martino

De onde vem essa dor?
Angustia ou um buraco?
Um turbilhão, um rotor
Ou simplesmente o vácuo?
Preencher com ilusão?
Dos pés faltando o chão
Eu sei que é tudo em vão
Verdade, vida, amor...
Trocados pela dor
Sem imagem ou representação.



Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
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