quinta-feira, 25 de abril de 2013

Alimento Espiritual


Pensando melhor o conceito de “verdade

A psicanálise nos ensina a compreender o ser humano, abarcando (além do corpo) um aparelho psíquico, a mente ou, ainda, a alma. Da mesma forma que o corpo se alimenta de comida e dela extrai seus nutrientes, a alma se alimenta da verdade da realidade, e por ela, se mantém viva.
Aquilo que chamamos de ego (ou popularmente autoestima) se desenvolve através do contato saudável com o real. De tal modo, um aspecto que pode indicar a qualidade da saúde mental é a forma como se está relacionando com a verdade. Longe da tentativa inútil de restringir o conceito, inclui-se aqui desde as mínimas questões cotidianas, até situações mais importantes da vida.
E, de fato, a verdade é sempre uma porta que se abre rumo ao desconhecido. Antes de tudo e depois do mesmo, é o que nos conduz a maturidade emocional. É o que gera o desenvolvimento e nos responsabiliza pela vida.
É importante lembrar que não se trata de algo que se encontra na ordem do sensorial, já que a verdade não se pode ter, mas deve esforçar-se em ser. A proposta aqui é: “propor uma visão sobre o grau de evolução da capacidade de perceber a verdade e relacioná-la com aspectos da própria vida.”
Mais do que definir uma ou outra verdade, a tentativa é no sentido de desenvolvimento de um modelo de funcionamento mental guiado pela  verdade.
Devo lembrar que se compreendem aqui os conteúdos de verdades internas, ou seja, aquilo que se tem pra si, diferente, em sua maior parte, daquilo que compartilhamos com o outro, a verdade externa.
Até por que, um turbilhão de emoções pode ser gerado no conflito entre verdade interna e externa, e esses conflitos promovem um desassossego, no funcionamento da mente. Portanto, no intuito de evitar ou mesmo adiar esse desequilíbrio, amiúde, a mente é tentada a se livrar da verdade. 

Hora negamos a verdade interna, hora negamos a verdade externa. Na maioria das vezes, cada novo movimento de reconhecimento de “verdade” vem acompanhada por sensações que são agentes de sentimentos de tristeza, susto, vergonha e inveja. Assim, essas sensações quase sempre geram alguma forma de hostilidade.
Hostilidade tanto do eu para com o outro quanto do eu para com o si mesmo. Sendo assim, para nos defendermos desse grupo de sentimentos, colocamos a verdade fora de nós, como se valesse só para o outro.
De alguma forma, negamos a verdade. E, temos aqui um grande problema na investigação da verdade. Isso por que uma verdade a mais é sempre uma ilusão a menos.
Na pesquisa dos fatos com intuito de se conhecer a verdade, alguns elementos são imprescindíveis, assim como outros dificultam, obscurecendo o caminho. Tentaremos então cogitar sobre alguns deles.
a) Tolerância
Não seria exagero mencionar a tolerância como instrumento fundamental na pesquisa da verdade. A tolerância vem do latim tolerantia, do verbo tolerare, que significa suportar. É, a priori, uma atitude de respeito aos pontos de vista dos outros e de compreensão para com eventuais fraquezas. A capacidade de ser tolerante quanto às frustrações que se encontram na busca pela verdade, me parece à única forma de manter-se em sua direção ou conservar-se orientado por ela.
Penso que todo aquele que não tolerou a dúvida ficou com meia verdade.
Dessa mesma forma, a experiência mostra que aquele que pode manter-se afastado da pressa, por maior parte do tempo, pode chegar a um melhor resultado em qualquer que seja a tarefa. O que não é diferente na busca elo fato, aqui alvo de estudo.
Esse é um fator que proporcionou à psicanálise status de seriedade, viva, intensa e produtiva em nossos tempos. Mesmo com o questionamento impiedoso da ciência que cobra resultados claros, a psicanálise se mantém paciente em suas pesquisas e cuidadosa em seus diagnósticos.

Wilfred R. Bion
 (Índia, 1897- Inglaterra, 1979)
“Assim, a capacidade para tolerar frustração capacita a psique a desenvolver pensamentos como um meio de tornar a frustração tolerada ainda mais tolerável.” Wilfred R. Bion (Índia, 1897- Inglaterra, 1979), 1961, pp.186/187

O desejo dissolve a tolerância. O desejo pretensioso de que a verdade que se busca (portanto ainda não conhecida), coincida com aquilo que já se conhece, pode conduzir tendenciosamente a pesquisa. A busca é de se confirmar o que já se sabia, o que nada tem a ver com uma pesquisa real que conduziria ao conhecimento.
Gaston Bachelard (França, 1884-1962)
Gaston Bachelard (França, 1884-1962), filósofo e poeta francês que estudou as ciências e as filosofias, nos aponta essa direção de pensamento quando propõe que: “A verdade é filha da discussão e não da simpatia” (La Filosofia de In, 1973, p.111)
Bachelard nos mostra que é só no confronto daquilo que já se conhece com o  desconhecido, que podemos extrair a realidade.
Deparamo-nos com a ameaça do uso do conteúdo da memória como referência. Isso impede a chegada desse desconhecido: “o novo”. De tal modo, o ponto de vista limita-se. É como se o sujeito dissesse: “não tenho em minha memória, não existe (não é verdade)”. O contexto da memória é de tal importância (juntamente com o desejo e a compreensão) que dedico um grande tópico do meu trabalho, para tratar sobre o uso dos conteúdos da memória. Uma orientação deixada por Freud e aprimorada por Wilfred R. Bion.

b) Afeto
O afeto é condição imprescindível. Qualquer que seja a forma de buscar a verdade que não seja com, e pelo amor, logo indica um modelo tóxico. O amor e a verdade são duas formulações inseparáveis na plenitude: o amor pela verdade e a verdade pelo amor.
Aquele que ama e não se preocupa com a verdade, está apaixonado. Isso se admitirmos um modelo onde o verdadeiro amor sugere muito mais durabilidade do que intensidade. De tal modo, o que será deste amor / paixão quando vier a verdade?
Na relação verdade e amor, vejamos o inverso. Aquele que busca a verdade, por qualquer motivo que não seja por amor, pratica a arrogância.
Este é um fator deturpador que, na pesquisa da verdade a transforma em instrumento de tortura, uma espécie de arma ou aparelho de ataque. Serve para ferir e matar. É, antes de tudo, uma ação de crueldade.
O que será que queremos, quando dizemos frases do tipo: vou te dizer umas verdades! Comunicar realmente o que se descobriu, ou ferir aquele que ouve?
A proposta aqui é uma ligação de amor com aquilo que se deseja conhecer, o que é diferente de estar ligado a certa “verdade”, tão profundamente e de mais próximo que limite o ponto de vista.
Na prática percebemos como é difícil conhecer alguma coisa da qual “amamos” muito, ou odiamos demais. O conhecimento real depende da suspensão tanto do “amor cego” quanto da “crítica arrogante”.

c)
Mas, e se levarmos em conta o fato de que o que é verdade pra um, pode não ser para o outro?
Estamos aqui refletindo sobre a verdade que não se encontra saturada ou completa. A verdade aqui proposta compreende sempre a fé, pois é desconhecida a priori, como em Imanuel Kant (Prússia, 1724-1804), sem que deixemos de lado a conjectura de que sem a esperança, a tolerância altera-se em comodismo
Imanuel Kant
(Prússia, 1724-1804)
A esperança, que é um desejo do possível fora do real se distingue completamente da certeza. Isso acontece, já que, quem tem fé não está certo daquilo que, ainda assim, o mantém orientado. Logo, quem busca insaciavelmente a certeza não conhece a fé. Contudo, a fé é um caminho que deve contar com a recusa quanto ao conteúdo da memória e ser desvinculado do desejo de perfeição.

d) Distanciamento
Quando podemos entender o fato de que, nunca se conhece a verdade por completo, o distanciamento se apresenta com a característica marcante da falta. Deste modo, percebemos como é importante o distanciamento, principalmente daquilo que pretendemos conhecer. Cogito sobre a verdade que só se percebe na falta, na ausência onde podemos perceber fatores que na presença não é possível. Lembro-me de alguém me dizendo:
“eu só percebi o valor dele em minha vida quando o perdi”.


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor

São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866 
renatodmartino@ig.com.br
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

segunda-feira, 22 de abril de 2013

ALIANÇAS E ALIENAÇÕES



Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e Escritor

São José Do Rio Preto - SP
Fone:             17-30113866      
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com  


Esse texto é um capitulo do livro “O amor e a Expansão do Pensar - Das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva” publicado em 2013. Ocasião que tento tratar do amor, que durante séculos foi um tema reservado somente aos romancistas, poetas e filósofos, a partir de Sigmund Freud (1856-1939) passou a ser um objeto de estudo das teorias do pensar. Tento, nessa oportunidade, levantar a hipótese de que também na ciência, presentemente admite-se que a capacidade de amar - que se desenvolve, sobretudo, nas mais tenras fases da infância - é fundamental no bom desempenho do aparelho psíquico. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Medo do antigo



Não é novidade alguma o fato de que o novo é recebido com estranhamento e causa medo em seu prenúncio. Experimentamos certo desconforto sempre que nos é apresentada uma situação nova.

A psicanálise nos ensinou que a criança vive em constante estado de identificação.
Ela só se aproxima das coisas por identificar-se com elas, rechaçando eementemente, com um choro compulsivo, tudo aquilo que lhe é estranho ou diferente.
O inusitado é motivo de desconforto, seja quando não houve chance de se preparar para o que iria ocorrer; experimentando assim de certa dor traumática, ou mesmo
quando somos anunciados anteriormente sobre o novo e a partir dai passamos a sofrer cada período de ansiedade até que chegue seu momento.
A ideia do novo sempre traz consigo o estigma assustador do diferente. É a ausência de garantias, e o ser humano em geral é bem primário ao lidar com a falta de garantias. Na maioria das vezes, nos desesperamos ao perceber que estamos sem garantias. Clamamos por certezas e, muitas vezes, chegamos a criar certezas sem
nos preocupar muito se estão fundadas na realidade ou se são frutos de fantasias geradas muito mais pelo “desejo de que fosse”, do que pelo que “realmente é”.
Amiúde nos vemos criando formas para o adiamento do que esta por vir, na criação de mecanismos que capacitam a defesa da mente, quanto ao que aguarda no futuro ou mesmo, na tarefa de adaptação, para vivermos a situação nova. Chegamos a negar o novo ao ponto de não enxergarmos que na realidade ele já chegou.
Negamos que o novo chegou e recusamos, com ironia, qualquer sinal que venha da realidade.
De qualquer forma, e se excluirmos inúmeras questões conflituosas que rodeiam esse tema, imagino que poderíamos chegar à conclusão de que, no mínimo o novo assusta.
A proposta então é percebermos que o fato mais assustador, que ocorre no encontro com o novo, é justamente o risco de que ele nunca venha. É quando nos percebemos andando em círculos.
Vemo-nos repetindo certos padrões antigos e primitivos de relacionamentos com pessoas novas que acabamos de conhecer. Ligamo-nos ás coisas como se elas
nos dominassem.
Assim, surge a questão: o que nos bota medo é o novo, ou justamente a desesperança em forma de repetição?
Muito complexo o processo de desligamento daquilo que passou. Difícil a tarefa de se libertar do passado. Tememos o passado, pois, nele está nossa culpa e assim ficamos devedores submissos a ele. Sedentos pelo novo, que liberta, contudo temerosos da culpa por abandonar o passado, lugar de nossa origem.
Esse é, talvez, o maior medo, o de não darmos conta da tarefa de receber o novo e ceder a mais uma volta repetitiva do passado.
É dura a tarefa de se propor sofrer com a chegada do novo, porém o verdadeiro infortúnio é a impossibilidade de vivê-lo.






Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
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domingo, 14 de abril de 2013

Dicas de Filmes - A Caça (2012)


Um belo filme dinamarquês que retrata o drama de Lucas (Mads Mikkelsen) que trabalha em uma creche. Um sujeito tranquilo e amigo de todos, tentando reconstruir a vida depois da separação conturbada, em que perdeu a guarda do filho. Apesar disso, tudo corre bem até que, um dia, a filha de seu melhor amigo, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas lhe mostrou suas partes íntimas. A garotinha, na verdade, apenas tenta se vingar por ter se sentido rejeitada em uma paixão infantil que nutre por Lucas, que a repreende por ela ter o beijado na boca durante uma brincadeira. A acusação da menina faz com que ele perca o emprego, tenha problemas com a policia e então seja perseguido pelos habitantes da cidade em que vive, mesmo sem que haja qualquer tipo de prova, além da invenção da criança.


terça-feira, 2 de abril de 2013

Prof. Renato Dias Martino Fala Sobre Mentira para Rede Vida




Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
São José Do Rio Preto - SP
Fone: 17-30113866 
renatodiasmartino@hotmail.com 
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