domingo, 25 de fevereiro de 2024

AFINIDADES - Prof. Renato Dias Martino


Quando o sujeito não vive vínculos saudáveis que sejam nutridos de amor e de verdade ele tende a adoecer. Para ele nutrir um vínculo saudável consigo mesmo ele precisa estar se vinculando a pessoas que possam também nutri-lo desta forma. Que possam nutri-lo desses elementos. De amor e verdade. Quando o sujeito convive num ambiente que ele não pode estabelecer vínculos que tragam para ele amor e sinceridade ele tende a adoecer emocionalmente. A afinidade que se tem com o outro é a manifestação de que esse vínculo é saudável e conviver em ambientes onde não se tem afinidade é adoecedor.

AMOR E SINCERIDADE 

O vínculo de afinidade é aquele que traz amor e sinceridade. A palavra afines, ela diz respeito a algo que finda, que termina, ou seja algo que mostra um limite, entre o eu e o outro. Quando existe essa possibilidade do sujeito perceber o seu limite, reconhecer o seu limite e logo reconhecer o limite do outro, se estabelece um vínculo de respeito e afinidade entre duas pessoas. E quando eu falo afinidade, eu não estou falando de afinidade de coisas materiais fúteis ou banais, eu estou falando de afinidade no funcionamento emocional e afetivo. De você perceber que o outro funciona afetivamente como você. Se liga a você de maneira sincera. Se liga você de maneira afetiva e com sinceridade. Manifestando o limite que existe ainda.

IDENTIFICAÇÃO

Gostei daquela pessoa porque eu me identifiquei com aquela pessoa. Você se identificou com aquela pessoa, quer dizer que você se confundiu com ela. Uma ligação saudável precisa transcender a identificação que você se confundiu, se misturou com ela e expandir para uma afinidade porque a gente percebeu o limite entre o eu e o outro. AFINES quer dizer limite.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

EGO E DESAPEGO - Prof. Renato Dias Martino



O ego, ele é constituído por símbolos e os símbolos são formados através de experiências de desapego. Quando o sujeito é capaz de se desapegar de alguma coisa do mundo material, ele conseguiu uma “expansãozinha” no seu ego. Cada elemento que ele é capaz de dispensar a confirmação sensorial no mundo material, ele ganhou uma nutrição no seu ego. Quando o bebê é capaz de simbolizar a mãe, isso quer dizer que ele pode tolerar a ausência desta mãe material, física, concreta, porque ele consegue ter esta mãe dentro dele, conseguiu internalizar a imagem dessa mãe, logo, o ego dele foi nutrido. Logo, o ego dele começa a ser bem estruturado.

O EGO E O OUTRO

O sujeito que tem um ego bem estruturado, o sujeito que tem um ego nutrido, ele tem a característica da união, da junção, do acolhimento. Primeiro, de si mesmo e depois do outro. O ego é a parte da personalidade que organiza o funcionamento emocional e afetivo. Então, quanto mais bem nutrido o ego do sujeito estiver, mais capaz de se doar ao outro e ele será. Porque ele é capaz de doar-se a si mesmo, de confiar em si mesmo, de acreditar em si mesmo, de amar a si mesmo, de respeitar a si mesmo. Este é o ego. É a capacidade de estar de bem consigo mesmo. É a autoestima e esta autoestima quando bem nutrida se desdobra na estima do outro

EGO INFLADO 

Muitas vezes, quando a gente vê um sujeito manifestando uma característica que não inclui o outro, uma característica que a gente vai chamar de narcisista, isso não quer dizer que o sujeito tem um ego muito grande, quer dizer que o sujeito tem um ego inflado. Ego inflado não é um ego nutrido, ego inflado é um ego oco, que não tem nada dentro. Ego nutrido é um ego consistente. Quando, o sujeito tem um ego consistente, ele é um sujeito que é capaz de se compadecer com o outro. Então, muitas vezes, esse sujeito, o que ele tem muito grande é um superego, é um ideal de eu, é algo que exige que ele seja algo que ele não está sendo. O ego é aquilo que ele está sendo, o superego é aquilo que ele deveria ser e muitas vezes para conseguir aquilo que ele deveria ser, ele passa por cima do outro. Ele tem uma ideia de si mesmo, não por aquilo que ele está sendo, mas por aquilo que ele deveria ser e ele começa a tentar reafirmar isso que ele deveria ser, como se ele estivesse sendo, para o outro, de uma maneira impositora, muitas vezes sendo arrogante, prepotente.

ESTAR SENDO E DEVERIA SER

A gente tem o hábito de condenar o superego, condenar o ideal de eu. Ah, mas o meu superego é muito rígido, ele exige demais de mim. “Ah, mas meu ideal de eu é muito exigente, ele é muito severo!” Na realidade, o que está acontecendo é que você não está sendo capaz de acreditar em você mesmo. Você não está sendo capaz de acreditar naquilo que você está sendo. Então, o que vai te guiar é aquilo que você deveria ser, logo o ideal de eu, superego. Então, o vilão da história não é o superego. Ele está ali, para tentar administrar alguma coisa que você, enquanto estando sendo, não está dando conta de administrar. Todas as vezes que você não estiver acreditando em você mesmo, quem vai tomar conta do da sua vida é o “deveria ser”, é a exigência é a cobrança.

EGO E SOLIDÃO

Quando o sujeito é capaz de ficar sozinho, ele tolera a solidão, ele se qualifica para conviver com o outro de forma saudável. Quando o sujeito não tolera a solidão, não tolera ficar sozinho, ele está fadado a se tornar uma pessoa solitária, mesmo na presença dos outros. Então, o que qualifica o sujeito a conviver com as pessoas, a estar junto com as pessoas é a capacidade de estar sozinho consigo mesmo. O sujeito, muitas vezes, não tolera a sua própria companhia, ele não é uma boa companhia para si mesmo. Desesperadamente, precisa de alguém do lado dele e muitas vezes, esse alguém está do lado dele, não está do lado dele, na realidade. Está ali, fisicamente, mas emocionalmente e afetivamente, não está.

FUNÇÃO DE AMAR

É do Ego a função de amar. Só aprende a amar o outro aquele que ama a si mesmo e o amor que se tem para consigo mesmo coincide com um ego bem estruturado e bem nutrido. Sem um ego bem estruturado e bem nutrido o sujeito não é capaz de amar o outro. A definição mais próxima do que é ego, é a parte da personalidade que aprendeu com o amor do outro como é amar a si mesmo. O outro me amou, eu aprendi a me amar. A partir desse amor próprio, eu posso estender para o outro, eu posso me doar ao outro.

AMOR E EGOÍSMO

Lá em SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO, de 1914, o Freud coloca: “Um egoísmo forte constitui uma proteção contra o adoecer.”. Por que que ele fala isso? Porque, muitas vezes, você está implicado ali, envolvido num vínculo tóxico e você precisa de um egoísmo forte para te proteger desse vínculo tóxico. O Freud continua: “mas num último recurso devemos começar a amar a fim de não adoecermos.” Ou seja, depois de conseguir se distanciar desse vínculo, nós precisamos voltar a o exercício do amar, de se dedicar ao outro. E aí, ele continua: “estamos destinados a cair doentes se em consequência da frustração, formos incapazes de amar.” Categoricamente, o Freud coloca que, aquele sujeito que não está sendo capaz de amar, está fadado a cair doente emocionalmente e afetivamente.

VÍNCULO SAUDÁVEL 

Um vínculo saudável, um vínculo bem nutrido, um vínculo bem estruturado, impreterivelmente, precisa contar com dois elementos. Com amor e com sinceridade. Este amor é a doação e esta sinceridade é o limite para esta doação. Então, esses dois elementos juntos constituem a possibilidade de se estabelecer um vínculo saudável. A capacidade de renunciar a si mesmo pelo outro, mas dentro da sinceridade que vai trazer o limite do que isso é possível. Aí se estabelece um vínculo saudável.

EGOÍSTA FERIDO

Muitas vezes, o sujeito que manifesta características egoístas, na realidade, é um sujeito que está com o ego machucado, fragilizado, ou ainda, que este ego é um ego imaturo, que não conseguiu amadurecer. Quando o sujeito está manifestando características egoístas é porque o ego dele está precisando de cuidado. Mas quando se trata de um adulto, isso começa a se confundir, porque muitas vezes, ele não é capaz de pedir ajuda para isso. E aí, ele se manifesta de uma maneira arrogante, prepotente para se defender da sensação de ser alguém menor que o outro.

CORAGEM E AJUDA

Talvez a atitude mais corajosa que possa existir dentro do âmbito emocional e afetivo seja pedir ajuda ao outro. Muitas vezes, ele não tem coragem disso. “Cor + agem”. COR coração e AGEM ação. Ele não consegue agir pelo coração. Porque a razão dele diz assim: “Você não pode ficar pedindo ajuda. Você não pode dar o braço a torcer que você não consegue fazer as coisas sozinho.” E aí, ele se torna um sujeito arrogante e não age pelo coração.





quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

CATIVAR, SIMBOLIZAR E CONTEMPLAR - Prof. Renato Dias Martino



As três etapas da simbolização, que vai acontecer com o bebê, mas vai se estender como um funcionamento para a vida toda no adulto. Experimentamos de uma realidade concreta, de uma realidade física, de uma realidade sensorial, onde existe uma necessidade concreta, uma necessidade sensorial e existe um objeto concreto e sensorial no mundo externo, que vá suprir essa necessidade. Experimentamos, uma realidade concreta, uma realidade abrangida pelo sensorial, num segundo momento, no afastamento desta realidade sensorial, vamos viver uma imaginação sobre isso que não está presente naquele momento. Preciso de alguma coisa e esta coisa é concreta, é física e neste momento, esta coisa física e concreta não está presente, então, eu imagino sobre isso. Este é o real Imaginário. Se a relação que eu tive com este objeto real e concreto, foi bem-sucedida, esta imaginação vai me levar para a simbolização. Ou seja, eu internalizei este objeto concreto e por ter internalizado, por ter simbolizado este objeto, eu sou capaz de tolerar a ausência deste objeto que um dia foi concreto, imaginário. Isto se chama uma simbolização para psicanálise.

EU

Quando a gente fala de doação, de doar-se, de renunciar para o outro, antes a gente precisa estar de bem com a gente mesmo, antes a gente precisa ter sido nutrido o suficiente, antes do nós existe um eu. Então, eu não posso considerar o nós se eu não tiver de bem comigo mesmo. Eu preciso estar de bem comigo mesmo, para que eu possa estar de bem com o outro. Eu preciso amar a mim mesmo, para que eu possa amar ao outro. Eu preciso estar respeitando a mim mesmo, para que eu possa respeitar o outro. O ego é fundamental para que eu possa ter uma estrutura suficiente para me doar para o outro. Se o meu ego não estiver nutrido e bem estruturado, eu não consigo estender qualquer que seja a ação nobre para o outro.

LUTO E CONFIANÇA

O bom desenvolvimento da personalidade depende fundamentalmente, de ter vivido experiências bem-sucedidas com as pessoas e que estas experiências bem-sucedidas possam nutrir o eu nutrir o ego. Esta é a base de uma personalidade bem estruturada. O luto é fundamental! Quando se vive uma experiência bem-sucedida com um objeto externo e aqui objeto externo estou falando sobre pessoas vincula-se pessoas, quando essa pessoa se afasta, ela deixa recordações dessas experiências bem-sucedidas e essas recordações nutrem o ego. O sujeito vai ficando autoconfiante na medida em que ele sente que o outro confiou nele e ele pôde confiar nesse outro.

CATIVAR E ENTRISTECER 

A raposa do Pequeno Príncipe explica para ele o que quer dizer cativar. Quer dizer criar laços, quer dizer passar a ser necessário para o outro. Um precisar do outro. Um ser singular para o outro. Este é o primeiro passo da experiência. Primeiro cativa-me, depois inicia-se um processo de expansão do vínculo. A experiência da simbolização, a experiência do cativar, inclui a tristeza, inclui o entretecimento. É necessário se entristecer para simbolizar. Se eu evito o sofrimento, se eu evito o entretecimento, eu não consigo simbolizar. Para ter recordações, eu preciso ter perdido o objeto da recordação e isso é triste. O sujeito que não tolera se entristecer, ele não simboliza, ele não cativa, ele não vive.

EQUAÇÃO OU ANALOGIA

A Hanna Segal, ela traz a ideia da equação simbólica. O que que ela chama de equação simbólica? É a relação que o bebê tem com a mãe, enquanto a mãe ainda não está simbolizada. A mãe real, concreta, física a mãe do mundo externo e a mãe que está dentro dele coincidem, equacionam-se. Quando uma sai, a outra deixa de existir. Quando uma se ausenta, a outra deixa de existir. O bebê não é capaz de ter uma imagem internalizada da mãe, até então, para que possa sustentar a ansiedade e angústia da ausência dessa mãe. Aos pouquinhos ele vai simbolizando esta mãe. A partir das experiências bem-sucedidas que ele teve com essa mãe, ele vai simbolizando essa mãe. O que que é simbolizar? É introjetar experiências bem-sucedidas e sustentar-se na ausência dessa mãe com as recordações que ele tem dela. Então, a parte partir daí, este símbolo é como se fosse a mãe e aí a gente expande pra ideia da analogia simbólica na equação simbólica. “Isso” é “isso”. Se “isso” não existe, “isso” também não existe. Na analogia simbólica, “isto” é como se fosse “isso”. Então, se “isso” não está, “isso” sustenta a ausência “disso”. Porque “isso” é como se fosse “isso”. Dentro de um desenvolvimento do processo psicoterapêutico, o paciente pode viver de início a sensação de que a analista é a mãe dele, que o analista é o pai dele, ou que o analista é a mãe dele e quando ele está longe do analista ele sente uma angústia muito grande, porque quando ele está numa situação difícil ele não sabe o que fazer. Ou seja, ele vive uma equação simbólica. Aos pouquinhos ele vai internalizando as experiências que ele vai vivendo dentro do setting terapêutico e aí ele vai vivendo uma analogia simbólica.

ANALOGIA E RECORDAÇÃO

Não é só dentro do processo psicoterapêutico. Quando o sujeito começa por exemplo, um relacionamento amoroso, quando ele começa a se relacionar efetivamente com uma pessoa, ele vive isso também. No princípio, ele não consegue simbolizar esta pessoa e quando essa pessoa sai de perto, ele fica desesperado. Chama no WhatsApp e a pessoa não responde, liga e ela não atende e ele se desespera. Ou seja, ele ainda não tem essa imagem internalizada, ele ainda não conseguiu guardar experiências bem sucedidas com essa pessoa o suficiente para ter recordações desta pessoa. Recordar. “Re”, de novo, “cor”, coração e doar. Experiências que possam ser novamente dadas ao coração. Aos pouquinhos com vivências bem-sucedidas com esta pessoa, ele vai conseguindo simbolizar. E aí, ele vai conseguir fazer analogias simbólicas.

IDENTIFICAÇÃO

A ausência do outro é a ausência de mim mesmo. Porque existe ali, uma relação por identificação. Assim como Freud nos propôs, esta relação por identificação acontece quando o outro não é outro. O outro é um pedaço de mim e aí se o outro se ausenta é como se tivesse arrancado um pedaço de mim.

MELANCOLIA 

Por outro lado, quando a gente não consegue viver experiências bem-sucedidas e a gente perde o objeto sem poder ter vivido experiências bem-sucedidas com este objeto, o sujeito passa a olhar o mundo com maus olhos. Ele passa a ser uma pessoa invejosa, desgostosa, obstruída de contemplação.

SIMBOLIZAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO

Quando o sujeito é capaz de viver a experiência da simbolização, quando ele é capaz de viver a experiência do cativar, assim como ensinou a raposa ao Pequeno Príncipe, ele enriquece não só o ego, mas ele se enriquece da contemplação do mundo. Porque esta recordação das experiências bem-sucedidas que ele teve com o objeto vai fazer com que ele olhe para o mundo externo e consiga contemplar o mundo externo de uma forma que ele não fazia anteriormente. Então, a raposa não ligava para os campos de trigo, mas depois de ter cativado o principezinho, ela olhava para os campos de trigo e se lembrava dos cabelos dourados do principezinho. Ou seja, ela não contemplava os campos de trigo e depois da experiência bem-sucedida da simbolização da relação com o principezinho, ela passou a contemplar os trigos.


domingo, 11 de fevereiro de 2024

CURA - Prof. Renato Dias Martino




Quando a gente fala de alguma coisa que chega na clínica psicoterapêutica, a gente tem esse olhar popular de cura e muitas vezes o Freud promoveu isso. Essa ideia de cura. Mas, não existe cura naquilo que a gente tem dentro do funcionamento emocional-afetivo. O que existe é ser capaz de aprender a respeitar isso. Então, quando o sujeito traz uma dor, uma angústia, uma ansiedade, gerada por algum conflito emocional ou afetivo, ele precisa ser capaz de aprender a reconhecer, respeitar e se responsabilizar por isso. E aí, isso aí vai se integrar a sua personalidade. Não acredito de maneira alguma, que algo possa ser curado dentro dessa dimensão. O que pode haver é aprender a conviver com isso de tal maneira que isso passa a ser integrado à sua personalidade. Então, se o sujeito tem esse ímpeto de buscar a aprovação do outro isso não vai deixar de existir, mas de alguma forma, vai ser contido, vai ser reconhecido, vai ser respeitado e o sujeito passa a se responsabilizar por isso e a partir daí, passa a se integrar a sua personalidade e aí ele começa a dar conta disso. Talvez um dia isso vá se amenizando aos pouquinhos, mas o psicoterapeuta que promete para o sujeito que vai haver uma cura, ele é um charlatão. Porque isso é impossível. Existe uma “pró-cura”, uma eterna procura, mas não uma cura e isso vai desde os sintomas mais brandos de neurose, até as questões mais severas dentro do âmbito psicótico. O trabalho é reconhecer, aprender a respeitar e se responsabilizar. Quando isso acontece, a gente já conseguiu um grande avanço na direção dentro das experiências da psicoterapia.



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

RESPONSABILIZAÇÃO - Prof. Renato Dias Martino



Quando eu percebo que está se formando um vínculo, eu preciso reconhecer esse vínculo. Como é que eu reconheço esse vínculo? É percebendo se esse vínculo é saudável ou nocivo. Neste reconhecimento, eu vou, ou me aproximar mais, ou me afastar. Depois que eu reconheci, eu preciso passar a respeitar este vínculo. Respeitar, porque me aproximei, ou respeitar porque me afastei. Depois que eu aprendi a respeitar este vínculo, eu preciso passar a me responsabilizar por este vínculo. E aí, quando eu me responsabilizo por este vínculo, começa a se desdobrar em outras experiências nobres. Tanto na aproximação, quanto no distanciamento, eu preciso me responsabilizar. Quando o vínculo é bem-sucedido, e eu me aproximei mais, estreitei este laço, eu começo a criar uma confiança com o outro. Quando eu me afastei, porque eu percebi que este vínculo era nocivo, eu reafirmei a confiança em mim mesmo. Quando eu percebo que está havendo esta relação, está se formando, está se criando um vínculo e eu passo a reconhecer o formato desse vínculo, o teor desse vínculo. Se ele pode ser saudável ou nocivo. Eu não vou decidir me aproximar ou me afastar, eu vou avaliar e tomar uma atitude. Não tem decisão! Se eu decidir me aproximar, mesmo percebendo que é nocivo, eu estou iludido. E aí, essa decisão é um desdobramento da ilusão. Por outro lado, a mesma coisa. Se eu percebo que ali é uma possibilidade de criar um vínculo afetivo saudável e mesmo assim eu me afasto, eu decido me afastar. Também está havendo aí uma ilusão. Porque talvez eu não me sinta merecedor de estar num vínculo saudável. A questão central da responsabilização não passa pelo querer, não passa por eu não quero me responsabilizar. Na realidade, ele nunca teve alguém que foi responsável por ele e hoje ele não consegue se responsabilizar por si mesmo e por nada mais. Uma criança que teve que aprender a se responsabilizar por si mesmo muito cedo, ela não aprendeu a se responsabilizar, ela aprendeu a se virar, ela aprendeu a dar um jeito para continuar vivendo. Porque, a gente só aprende a se responsabilizar por nós mesmos a partir da responsabilização do outro. Quando eu percebo que meus pais se responsabilizaram por mim, eu aprendo a me responsabilizar por mim mesmo e passo a me responsabilizar pelas minhas ações, pelos meus atos. Nunca se responsabilizaram por mim, eu não aprendi a me responsabilizar por mim mesmo e não me responsabilizo por nada. Eu só me importo com aquilo que me é conveniente, que possa me trazer um benefício, que possa me dar uma recompensa. Esta é a máxima da sociedade contemporânea. Quando os pais não permitem que os filhos se desenvolvam e aprendam a se responsabilizar por si mesmo, eles têm um benefício com isso. Eles estão se tornando essa pessoa patologicamente dependente deles e se beneficiando disso. Estão garantindo ali, que não vão ser abandonados. Esses filhos não vão querer sair de perto deles. A fonte não seca e eles não têm que buscar água em qualquer outro lugar e eles com medo de abandono estão garantindo que não serão abandonados.