sexta-feira, 1 de abril de 2022

PSICANÁLISE DOS VÍNCULOS

 


Até as contribuições de Melanie Klein (1882 - 1960), tínhamos uma psicanálise do sujeito.  Nesse modelo de prática, o psicanalista teria a função de analisar o paciente, em suas características tentando, com isso que tomasse consciência daquilo que poderia estar obstruindo o funcionamento mental saudável. A partir da introdução das contribuições de Wilfred Bion (1897 - 1979), principalmente no que se refere às ideias de funções das relações (Bion, 1962), passou a ser possível o desenvolvimento de uma psicanálise dos vínculos. “Não se pode atribuir inveja a uma parte ou outra; na realidade ela é uma função da relação.”. (Bion, em ATENÇÃO E INTERPRETAÇÃO, 1970).
Logo, aquilo que precisa ser realmente analisado é o vínculo. Essa mudança de vértice ocorre a partir da percepção de que no âmbito emocional-afetivo não pode existir característica excepcionalmente do indivíduo. Tudo aquilo que ocorre no campo emocional-afetivo, depende sempre de duas ou mais pessoas. Sendo assim, é necessário que se estabeleça um vínculo entre o analista e o paciente, no que devemos denominar aliança terapêutica, para que se inicie efetivamente uma análise.
E isso coincide com o que Sigmund Freud (1856 – 1939) já nos orientava em 1912, sobre a necessidade de se estabelecer a transferência positiva, entre paciente e analista, para que a análise se inicie efetivamente. Dessa maneira, Freud espantosamente já deixava sementes, por assim dizer, para o futuro da psicanálise. Nesse modelo de prática clínica da psicanálise, o que importa realmente, não é o que o paciente relata ao analista, mas o que pode significar o ato de relatar aquilo ao analista. A análise de qualquer sujeito do qual o analista não se encontre vinculado, passa a ser duvidosa, baseada tão somente em suposições ou ainda deduções.


A saber, não acredito que uma psicanálise possa ser bem sucedida enquanto baseada em deduções ou suposições. Ora, se o paciente não estiver disposto a se vincular ao analista, não há o que se analisar. Se o paciente não está conseguindo cumprir minimamente o que foi acordado entre as partes, para que se possa iniciar o processo psicoterapêutico, nada pode ser realizado. Chamamos essa capacidade do paciente se dedicar ao processo psicoterapêutico de analisabilidade.
Condições mínimas necessárias precisam ser cumpridas, para que possa se estabelecer um bom vínculo. O vínculo saudável é o que fundamenta uma psicanálise bem sucedida.

Assim que for possível se estabelecer com sucesso, o vínculo deve então ser bem cuidado pela dupla. Esse cuidado propicia a expansão da relação, preparando o ambiente emocional saudável, para que os elementos que carecem ser acolhidos emerjam durante as sessões. 

Quando o vínculo foi realmente estabelecido, criando laços, assim como nos orienta a Raposa na obra de Antoine Saint-Exupéry (1900-1944), O PEQUENO PRÍNCIPE, sobre cativar:
“É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto ...” (SAINT-EXUPÉRY, 1963).

Pois bem, uma vez bem estabelecido, o vínculo nunca mais se desfará. Se por ventura se desfez o vínculo é sinal de que na realidade nunca existiu.

O rompimento é uma propriedade do plano material, não existe rompimento no mundo emocional-afetivo. O que pode ocorrer nessa ordem de experiências é tão somente uma adequação, no que seja possível se estabelecer entre as partes.

 

Bion, W. R. O APRENDER COM A EXPERIÊNCIA. (Paulo Dias Corrêa, Trad.) Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1962)

____________. ATENÇÃO E INTERPRETAÇÃO. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1970)

FREUD, S. A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA, (1912), in EDIÇÃO BRASILEIRA DAS OBRAS PSICOLÓGICAS COMPLETAS – Edição Standard Brasileira, Imago (1969-80).

SAINT-EXUPÉRY, A. de. O PEQUENO PRÍNCIPE, Rio de Janeiro: Ed. Agir, 1963.

 






Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor



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