sábado, 25 de dezembro de 2010

Dica de filme - Spider: Desafie Sua Mente

Spider - Desafie Sua Mente

Título original: (Spider)
lançamento: 2002 (Canadá)
direção:David Cronenberg
atores:Ralph Fiennes, Miranda Richardson, Gabriel Byrne, Bradley Hall.
duração: 98 min
gênero: Drama

Sinopse -
Spider (Ralph Fiennes) é um sujeito estranho e solitário. Após um longo período de internação em um hospital psiquiátrico, ele regressa às ruas do East End de Londres, lugar onde cresceu. As imagens, os sons e os odores dessas ruas começam a despertar lembranças de sua infância que há muito haviam sido esquecidas. No coração das memórias de Spider encontra-se o grande trauma da perda de sua mãe. Ele acredita que seu pai, o encanador Bill Cleg (Gabriel Byrne), matou a esposa para que uma prostituta tomasse seu lugar e fosse morar em sua casa.
--
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodmartino@ig.com.br
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

USO ABUSIVO DO ÁLCOOL


Gostaria de pedir um espaço na atenção do meu caro leitor para colocar algumas palavras sobre aquela que julgo ser a droga mais poderosa da atualidade. Chamo a assim, pois é diferente de drogas como a cocaína, da qual é necessário que o sujeito se arrisque e vá até o traficante para consegui-la. É diferente também das drogas farmacológicas que dependem de uma receita médica, quando não, exige que se burle a lei para se obter e assim usar as de “tarja preta”.
Falo aqui de certa droga que é vendida indiscriminadamente (muitas vezes para menores de idade) em qualquer esquina (custando centavos a dose) e o pior, de enorme acessibilidade nas prateleiras dos super mercados. Escrevo aqui sobre a droga que sorrateira e silenciosamente ajuda a destruir as personalidades, as relações entre pessoas, famílias, sem contar na promoção de acidentes catastróficos e isso tudo com o aval da sociedade e da lei. Essa droga é a mesma que patrocina os principais programas de TV e enriquece os cofres públicos (assim como o cigarro) com arrecadação de impostos.
Contudo, minhas palavras vêm, sem duvida, acompanhadas da consciência de que o mal não se encontra no álcool, que por si só não tem vontade própria e existe na civilização há tanto tempo quanto o homem. Parece-me que o mal está no desequilíbrio daquele que faz uso compulsivo e assim abusivo dessa poderosa droga.
Estamos aqui cogitando sobre mais um dos instrumentos que vem sendo eleito para dar conta de certa compulsão, hoje muito comum.
A frase estampada nas propagandas: “se beber não dirija” (em minha opinião visivelmente ineficaz), não se enquadra só no ato de dirigir um carro, mas, dirigir-se ao outro, dirigir-se ao mundo, dirigir a própria vida. O mal não está na bebida, mas em sua acessibilidade e a forma como vem sendo utilizada. O problema está naquele que conduz sua vida sob o efeito do álcool e assim dificilmente produzirá algo bom.
Na realidade a proposta aqui está menos focada naquele sujeito do qual o uso do álcool é representado como uma patologia de dependência, mas ao sujeito comum que está longe de admitir o perigo existente na forma como faz uso da bebida alcoólica.
Falo aqui de algo que é prazeroso apenas para aquele que bebe e isso, muitas vezes, à custa do desprazer do outro. Na realidade, onde existe um sujeito usando o álcool de forma abusiva, sempre existirá “no mínimo” mais alguém sofrendo.
--
Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A compulsão social


4. Luciano Alvarenga - "As pessoas tem trabalhado demais, comido demais, consumido muito, desejando mais ainda. Estas coisas podem ser apontadas como sintomas de que tipo de problemas emocionais na sua opinião?"
Prof. Renato Dias Martino - Tentativas inúteis de tampar um vazio que na realidade e inevitavelmente, habita cada alma desse mundo. Mecanismos de defesa da mente.
Entretanto, a presença interna de um modelo de ambiente tranqüilo nos sugere a esperança. Permite-nos desejar aquilo que esta fora do real, porém, dentro do possível. Capacita-nos a tolerar esse vazio interno sem que nos ocorra à urgência de arrancá-lo de nos. Para arrancar um desconforto elegemos um meio inesgotável de prazer, nas compulsões que nos levam a "fazer de mais" certas coisas, como você coloca.
Poder tolerar faltas, se distingui completamente da busca pela certeza, que só se consegue com o real concreto, ou o material. Ai então percebemos aquilo que poderíamos chamar de compulsão social. Uma ânsia desenfreada pelo "ter", mais e mais.
Isso coincide justamente com a ausência da formação de um modelo de paz interior, indispensável na vida do bebê e que será indispensável na vida do adulto, mas agora como ambiente interno, ou seja, dentro do peito. O que no fim não esta distante daquilo que abordamos nas questões anteriores.

Prof. Renato Dias Martino


São José do Rio Preto, SP, Brazil


tenho me dedicado à pratica clínica da psicanálise desde 2003 onde conclui graduação em Psicologia na UNORP -- S. J. Rio Preto/SP. No exercício desse trabalho clínico, tenho a abordagem psicanalítica na corrente de Freud, Klein, Winnicott e Bion, como principal instrumento, conduzindo esse pensamento através de constante estudo. Ministro aulas de teoria psicanalítica e desenvolvimento da personalidade na UNILAGO em Rio Preto e coordeno grupos de estudo na introdução à psicanálise. Mantenho um blog, onde se encontram disponíveis os materiais em forma de textos dedicados a reflexão. http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/ Além da dedicação ao estudo e a pratica da psicanálise, tenho atuado na área das artes, na musica onde trabalho a mais de 20 anos tanto na pratica quanto no ensino da musica. http://dmartinorb.blogspot.com/ renatodiasmartino@hotmail.com Twitter: @renatodmartino

Produção de audio - Leandro (UNILAGO)
Produção de video Desirèe Leonel D´Martino

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

‎3° parte da entrevista Luciano Alvarenga ao Prof. Renato Dias Martino.


3. Luciano Alvarenga- "Do ponto de vista da psicanálise como está sendo visto a questão gay".


Prof. Renato Dias Martino - Essa questão é extremamente delicada e que se deve cuidar com certa cautela. A idéia psicanalítica para o homossexualismo é de uma escolha narcisista de objeto sexual.

Algo deve ter ocorrido na primeira infância para deslocar o objeto sexual que estaria no outro, para si mesmo. Agora a escolha é de um "outro", mas com a condição que esse outro seja igual a si mesmo. O corpo que ele deseja é um espelho do seu.

No texto "Sobre o narcisismo, uma introdução" de 1914, Freud sugere um modelo interessante. Ele coloca que na impossibilidade do reconhecimento do desejo do outro, o sujeito deve desejar a si mesmo. Assim, quando buscar seu objeto de prazer, desejará apenas aquele que for igual (homo). O outro só poderá satisfazer seu prazer dessa forma.

Para que haja o desencadeador da escolha hétero, deve haver um corte na relação entre mãe e filho (função paterna). A presença do pai fará esse corte na relação, se responsabilizando pelo rompimento de alguns elementos da relação entre mãe e filho. Só dessa forma o sujeito se vê desimpedido para fazer suas escolhas sexuais adequadas. Poderíamos dizer que a criança deve reconhecer que foi desejado pela mamãe, mas que ela é do papai.

Freud chamava essa dolorida, mas necessária posição de terceiro excluído. A criança deve suportar ser o terceiro excluído na relação pai, mãe e filho. Caso contrario, buscará sempre um espelho que na realidade deveria ter vivido na sua tenra infância. Justamente com a mãe, contudo podendo contar com o pai para salva-lo desse paraíso escravizador que é o vínculo simbiótico com a mãe. Um modelo de vínculo que se permanecer sem mudanças, pode limitar severamente a escolha sexual. Quando procurar alguém agora, irá procurar alguém como aquele que ansiava que sua mãe desejasse, e isso coincide com ele mesmo. É como se dissesse: "Escolho agora o que eu desejava que minha mãe escolhesse, eu".

Entretanto, o homossexualismo é um fato e como nunca foi diferente nas culturas, está presente também na nossa sociedade contemporânea. Na realidade assumir a escolha homossexual é antes de tudo um recurso para continuar funcionando bem, mentalmente e continuar amando. É a busca de maneiras de se conseguir amar.
A ideia começa a ficar preocupante quando falamos de uma classe especial de homossexuais, os reprimidos. Aqueles que não podem conter em si mesmos, impulsos dessa espécie. E passam a odiar tudo que se parece com isso. Isso por odiar o homossexualismo que não encontra lugar em sua própria personalidade. Projeta isso que é seu, no outro e age com hostilidade para com ele. Como temos visto nos noticiários sobre agressão homofóbica.

Prof. Renato Dias Martino
São José do Rio Preto, SP, Brazil
tenho me dedicado à pratica clínica da psicanálise desde 2003 onde conclui graduação em Psicologia na UNORP -- S. J. Rio Preto/SP. No exercício desse trabalho clínico, tenho a abordagem psicanalítica na corrente de Freud, Klein, Winnicott e Bion, como principal instrumento, conduzindo esse pensamento através de constante estudo. Ministro aulas de teoria psicanalítica e desenvolvimento da personalidade na UNILAGO em Rio Preto e coordeno grupos de estudo na introdução à psicanálise. Mantenho um blog, onde se encontram disponíveis os materiais em forma de textos dedicados a reflexão. http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/ Além da dedicação ao estudo e a pratica da psicanálise, tenho atuado na área das artes, na musica onde trabalho a mais de 20 anos tanto na pratica quanto no ensino da musica. http://dmartinorb.blogspot.com/ renatodiasmartino@hotmail.com Twitter: @renatodmartino



Produção de audio - Leandro (UNILAGO)
Produção de video Desirèe Leonel D´Martino

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"A procura da mãe"


Texto: Entrevista de Luciano Alvarenga ao Prof. Renato Dias Martino.

Luciano Alvarenga - "Na sua experiência clinica em seu consultório, você escreveu recentemente que 90% das pessoas que você atende está a procura da mãe. O que é isso exatamente?"


Prof. Renato Dias Martino - Digo isso porque a figura materna, sobretudo, nos primeiros meses da vida é de importância crucial na formação da personalidade. Um pensador inglês chamado Donald Winnicott, chegou a dizer que o bebê não existe se não pela mãe (ou aquela que ocupa esse lugar). Se para existir o bebê necessita da mãe, então falhas ai, vão estar pra sempre relacionadas à capacidade de acreditar na própria existência.


Logo, absurdos dentro dessa ordem de experiências, são geradoras de dores psiquicas que podem nos acompanhar pela vida toda. Angustias e ansiedades que dificultam nossa capacidade de pensar, interferem em nossas relações com as pessoas e em nossa capacidade de amar.


Essa classe de dor emocional, muitas vezes não encontra palavra pra expressar. Justamente porque vem de uma época, onde não se podia contar com o recurso verbal, não se sabia falar.


Assim é a dor que recebemos nas clínicas psicológicas. Justamente algo que se sente, mas não se sabe dar nome. Não se consegue verbalizar. O maior papel do psicoterapeuta é bem esse. O de auxiliar nessa tarefa nomeadora de sentimentos.


Lembrando aqui, que quando falo da falta dessa mãe atribuo a metade da cota de responsabilidade à figura paterna. Uma mãe que decide criar um filho sem a presença de alguém que ocupe essa posição (paterna) talvez, não imagina como ele encontrara obstáculos na vida, por conta disso.

Prof. Renato Dias Martino


São José do Rio Preto, SP, Brazil


tenho me dedicado à pratica clínica da psicanálise desde 2003 onde conclui graduação em Psicologia na UNORP -- S. J. Rio Preto/SP. No exercício desse trabalho clínico, tenho a abordagem psicanalítica na corrente de Freud, Klein, Winnicott e Bion, como principal instrumento, conduzindo esse pensamento através de constante estudo. Ministro aulas de teoria psicanalítica e desenvolvimento da personalidade na UNILAGO em Rio Preto e coordeno grupos de estudo na introdução à psicanálise. Mantenho um blog, onde se encontram disponíveis os materiais em forma de textos dedicados a reflexão. http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/ Além da dedicação ao estudo e a pratica da psicanálise, tenho atuado na área das artes, na musica onde trabalho a mais de 20 anos tanto na pratica quanto no ensino da musica. http://dmartinorb.blogspot.com/ renatodiasmartino@hotmail.com Twitter: @renatodmartino



Produção de audio - Leandro (UNILAGO)


Produção de video Desirèe Leonel D´Martino

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

"Melancolia social e a figura do pai"

Um convite ao pensamento.
"Melancolia social e a figura do pai"


Texto: Entrevista de Luciano Alvarenga ao Prof. Renato Dias Martino.
  "Renato, você vem afirmando que a sociedade está vivendo uma grande melancolia, no que consiste exatamente isso, de que maneira podemos perceber essa melancolia, como ela se manifesta?"
Luciano Alvarenga -
Prof. Renato Dias Martino - Veja caro Luciano, falo quanto à forma como nos relacionamos com as coisas do mundo e com nós mesmos.


O estado de melancolia é uma forma que se contrapõe a capacidade de viver o processo do luto. A ideia de luto é onde se toma real consciência daquilo que se perdeu. Pelo contrario, o estado de melancolia (que é um estado, não é um processo, como no luto) não se tolera a idéia da perda.


O que eu percebo na sociedade que a gente está vivendo agora, é que ocorre um fenômeno muito parecido.


Um bom exemplo disso e tema já abordado por você nesse espaço é a falta da figura patriarcal. Figura da qual essa sociedade renunciou, e que pesa hoje na constituição da família.


Não se encontra mais lugar para essa figura do pai, mas ao mesmo tempo, se padece com a ausência desse semblante.


Freud tem um texto chamado LUTO E MELANCOLIA de 1917, onde propõe a ideia de estado de melancolia. Também na melancolia social que vivemos, não se consegue escolher outro objeto para substituir aquele que se foi. Situação que ocorreria naturalmente no processo do luto.


O que percebemos é que a ausência de algo que foi derrubado fez com que se desmoronasse algo muito importante. E isso toma uma proporção ainda maior se nos lembrarmos que, filhos que nascem de um ambiente desestruturado, dificilmente terão outras chances pra estruturar-se a si mesmo.



Prof. Renato Dias Martino


São José do Rio Preto, SP, Brazil


tenho me dedicado à pratica clínica da psicanálise desde 2003 onde conclui graduação em Psicologia na UNORP – S. J. Rio Preto/SP. No exercício desse trabalho clínico, tenho a abordagem psicanalítica na corrente de Freud, Klein, Winnicott e Bion, como principal instrumento, conduzindo esse pensamento através de constante estudo. Ministro aulas de teoria psicanalítica e desenvolvimento da personalidade na UNILAGO em Rio Preto e coordeno grupos de estudo na introdução à psicanálise. Mantenho um blog, onde se encontram disponíveis os materiais em forma de textos dedicados a reflexão. http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/ Além da dedicação ao estudo e a pratica da psicanálise, tenho atuado na área das artes, na musica onde trabalho a mais de 20 anos tanto na pratica quanto no ensino da musica. http://dmartinorb.blogspot.com/ renatodiasmartino@hotmail.com Twitter: @renatodmartino



Produção de audio - Leandro (UNILAGO)


Produção de video Desirèe Leonel D´Martino

sábado, 11 de dezembro de 2010

Algumas Palavras Sobre Vocação


De certo ponto de vista literal, ou em uma definição da semântica, encontramos um equivalente ao conceito de chamamento. Certo ato de chamar, ou aquilo que chama outrem. Algo que norteia, propondo uma forma de predestinação. Talvez poderíamos propor até um modelo de inclinação que possa sugerir uma tendência. Algo que, em alguns casos, pode ser descrito como talento, ou em um vocabulário coloquial, uma queda.


A vocação é aquilo que nos invoca. Convida-nos a trilhar um caminho e daí então passa a nos cobrar para que tentemos, a todo custo angariar recursos no intuito de justificá-lo. Essa ideia nos move para certa direção, muitas vezes até sem que percebamos. Algo que está de alguma forma, impresso no espírito




O que invoca não se cala. Não sossega, mesmo quando se está sossegado. A vocação tem uma relação direta com o sonhar, por conta disso mesmo quando dormimos nossa vocação está em plena atividade. Tem uma face da qual nunca se conhece por completo, mas que ao mesmo tempo, nos chama o tempo todo. Isso é o que a faz objeto de ambiguidade  como se amor e ódio disputassem espaço num mesmo pensamento. Apresenta-se num modelo artístico como um dom, do ponto de vista racional poderia chamar de mérito, ou através do vértice místico, quem sabe um chamado do destino.


Essa que pode até ser chamada de habilidade especial, é maior e claramente diferente do desejo daquele cuja alma ela habita. É uma forma de desejo, no entanto, que vem antes do eu desejante. Vocação é um exemplo claro de certo pensamento que estava no mundo antes do pensador, assim como propoe Wilfred Ruprecht Bion ( 1897 – 1979). 
Wilfred Ruprecht Bion
(1897-1979)
Uma aptidão não depende da vontade do sujeito para existir. Muitas vezes o que se deseja é exatamente não ter certa vocação. Assim como, podemos desejar ter certa vocação da qual pode parecer-nos completamente ausente em nós.


Seja qual for o modelo de relacionamento com a vocação, é um ambiente suscetível a geração da inveja. Alguém que de alguma forma não pode conhecer e assim desenvolver sua vocação, pode invejar aquele do qual, pelo menos aparentemente, desempenha bem a sua. Podemos pensar também em uma situação onde nossa vocação tenha nos levado por caminhos tão tortuosos, que invejemos aquele que (pelo menos a nossa vista) não da a mínima para essa história de vocação.


De qualquer forma, quando pensamos em um deus, sendo nós mortais e vulneravelmente destrutíveis, invejamos seu dote natural que o presenteia com a dadiva da onipotência. O mortal inveja o deus em sua capacidade de transformação do real naquilo que deseja. O mortal é fascinado com a faculdade do deus de assistir aquilo que imaginava se concretizar para seu deleite. Mas, pensando unicamente por esse vértice, deixamos de conhecer a experiência de um desafortunado que habita cada deus. O deus, de forma inversa ao mortal, inveja exatamente a possibilidade de viver cada dia como se fosse o último. Uma experiência negada a ele, um dom ausente em sua eterna existência.


A necessidade de conhecer a vocações é análoga ou, de alguma forma, coincide com a tarefa do conhecimento do eu. Descobri-la e criar um vínculo com a própria vocação é a criação de um instrumento para nos tornarmos reais no mundo. Em ultima analise, um veiculo para a realização. Uma permissão da alma para que um sonho seja percebido, contido, ou acolhido afetivamente no eu e que daí por diante se desenvolva, cunhando recursos através da criatividade, em prol da realização. Penso que alguém que pode se chamar de “bem sucedido na vida”, é aquele que conseguiu permitir que, assim como no modelo de geração do ato da copula, na própria concepção sexual da vida, algo pudesse ser recebido dentro de si e assim gerasse o novo.

Capítulo do livro Para Além da Clínica. Renato Dias Martino - 1. ed. São José do Rio Preto, São Paulo: Editora Inteligência 3, 2011.






Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor -
Fone: 17-30113866

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O modelo familiar humano


O que está na ordem dos instintos não se discute, apenas se respeita.



 Para que possa haver boa formação de espécimes de certa espécie é preciso respeitar certas condições mínimas necessárias, que aqui chamaremos de “CMN”. O prejuízo é certo na medida em que as “CMN” não são respeitadas. Inúmeras ameaças apresentam-se muito rapidamente. Com o ser humano não é diferente, existem “CMN” a serem respeitadas. 

Processo de reprodução do animal humano

A fêmea entra no cio e deve escolher um macho saudável o suficiente para copular. Prenha, ela inicia uma fase que a deixa cada dia mais vulnerável. Procura então um canto seguro, que, resguardado pelo macho deve ser velado.
Esse macho que já deve ter deixado claro sua capacidade , além de zelar pela proteção da mãe prenha, assim como do recém nascido, tem a função de angariar recursos  de subsistência para  garantir a tranquilidade da fêmea dedicada e em consequência disso, também da cria recente.
 
Isso enquanto a fêmea dedicar-se completamente a cuidar bem desse sujeito que  certamente está entre  as espécies mais vulneráveis quando bebê. O vínculo é a forma afetiva de se manter ligado ao outro, qualquer outra tentativa de relacionamento que não puder contar com uma base afetiva bem estruturada, revela-se superficial e frágil, desfazendo-se com grande facilidade. 
O ambiente familiar que possa contar com “CMN” torna-se o lugar onde os vínculos podem ser criados e assim, também capazes de evoluir, por conta da qualidade do acolhimento, fundamental para esse delicado processo.
Falhas na criação deste ambiente podem comprometer severamente a estruturação da personalidade daquele que nasce.



O modelo familiar em desuso

O sonho da constituição da família parece estar, cada dia, mais fora de moda. Digo sonho, me apoiando na “teoria do pensar”, de Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979); psicanalista Indiano naturalizado inglês que acredita em um modelo onde, o pensamento vem antes do pensador. 
Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979)


No exemplo da família, é importante que o pensamento de construí-la, esteja na mente do pensador que a realizará, antes mesmo da efetivação do projeto. Através do ensaio imaginativo ou da atividade lúdica, ensaia-se o pensamento e simula-se internamente aquilo que acontecerá. Isso proporciona uma situação onde, é preparado o espaço mental que acolherá toda a problemática emocional que acompanha a vida a dois, assim como a concepção de filhos.
O fato é que, a dificuldade narcisista de se sonhar com algo futuro, que possa incluir um “outro”, é cada vez mais frequente esse sonho parece diminui na mesma proporção em que se criam novas embalagens de produtos destinados a pessoas que optaram por viver só.
“Brincar de casinha” é algo que tem mudado de forma significativa. O espaço para o desenvolvimento do papel de mãe na vida de uma garotinha, por exemplo, quando é admitido, está condenado a um segundo nível. Isso acontece acompanhado da incapacidade de reconhecer que a probabilidade de ser mãe é maior do que qualquer outra função na vida da garotinha.
O homem que há algum tempo evadira-se da família, deixou um rastro que, agora é seguido pela mulher. Assim, o que assistimos (menos como meros observadores e mais como participantes ativos) é a formação de famílias não pensadas. Famílias que se estruturam sobre um solo arenoso de tentativas de evitá-la



Em nome de uma pseudoindependência, a dedicação à família é, comumente, encarada pelo jovem atual ou contemporâneo (muitas vezes orientados pelos pais), como uma falta de escolha, ou até mesmo como forma de comodismo. O que vemos acontecer no “lar” atual é que a dedicação à família é sem duvida função daquele que não pode ter outra escolha. A família transformou-se em uma ameaça ao crescimento do individuo, seja ele em que dimensão: profissional, pessoal... Sonhando com a independência, o homem contemporâneo acorda sozinho. Não se liga ao outro por medo de sofrer, mas, sofre, pois não pode se ligar ao outro.
Eros e Tânatos
Nesse momento é muito interessante pensarmos na teoria das pulsões, onde Sigmund Freud (1856 – 1939), médico austríaco e fundador da Psicanálise, propõem a dualidade entre pulsão de vida e pulsão de morte . A primeira estaria caracterizada pelo elo, o vínculo e em ultima metáfora, o mito de Eros, o cupido. Como deus do amor, tem a função de unir. Já a segunda traria a noção da tendência a buscar um estado anterior, ou seja, a repetição, a divisão ou desintegração das relações. Essa ordem de pulsões é caracterizada pelo mito de Thanatos, o deus grego da morte. Essas duas forças disputam naturalmente, lugar dentro de nosso funcionamento psíquico, entretanto o predomínio de uma sobre a outra é o que impede a realização do pensamento e assim, um funcionamento saudável da mente.
Pensemos agora: quem são os filhos dessas famílias não pensadas?
--

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conhece-te a ti mesmo

Conhece-te a ti mesmo

O reconhecimento da própria identidade é um processo árduo e em permanente construção, abastecido de crises existenciais, mas evitá-las pode colocar em xeque uma mente saudável.

Por Renato Dias Martino

clique aqui e leia: Portal Ciência & Vida - Filosofia, História, Psicologia e Sociologia - Editora Escala.

Prof. Renato Dias Martino
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

Sordidos prazeres

Sordidos prazeres

No dia-a-dia, estamos cercados por acontecimentos cruéis, que por si só já causam sofrimento. Mas fazemos questão de revivê-los, seja nos noticários, no cinema, nas músicas e até no turismo. Afi nal, de onde vem a satisfação humana em observar cenas e situações macabras?





Link para a matéria: Portal Ciência & Vida - Filosofia, História, Psicologia e Sociologia - Editora Escala.

Prof. Renato Dias Martino
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Das consequências da ausência dos pais



Tenho conversado muito lá na Unilago com o psicoterapeuta Renato Dias Martino, especialmente por que ambos nos interessamos por este tema fundamental que é a família e seus atuais desdobramentos.
Tenho ficado impressionado com o que ele vem me dizendo sobre o tema e as conseqüências, especialmente, para as crianças, de coisas que a sociedade já tem como normal e corriqueiro.
Em primeiro lugar: as conseqüências das separações dos casais na vida emocional da criança, quanto menor for a idade pior é. Segundo o Renato Martino a separação sempre causará transtornos emocionais no infante, isto é, na criança. A própria homossexualidade, na maior parte dos casos, segundo o Renato resulta de problemas familiares. Neste caso, a ausência do pai é o disparador para o desenvolvimento de uma sexualidade homo. Não vou entrar em detalhes aqui por que é impossível pelo espaço, mas apenas chamar a atenção para questões que sempre converso neste espaço e são muito importantes.
O Renato me lembrava ainda que 90% dos casos de adultos que ele atende em seu consultório são de pessoas procurando a mãe. O que é esse procurar a mãe? Solidão, carência emocional, falta de alto estima, falta de alto confiança, sentimentos e características que o individuo desenvolve no contato íntimo com a mãe. Lhe falei dos meus textos sobre a terceirização dos filhos para as creches, ele me falou que sem dúvida o envio da criança para as creches, ainda mais quando muito cedo, terá conseqüências devastadoras na vida emocional deste individuo já na adolescência. E os adultos que ale atende já evidenciam isso.
O Renato me dizia ainda que independente de como as pessoas discutam família, o fato concreto é que família é fundamental na vida do individuo. Disso todos sabem, mas agora parece que nem a ciência discorda. Esta idéia de uma pessoa que se forma sozinha, se prepara e amadurece por si mesma, bem americana alias, é uma falácia. Crianças sem família, serão adultos problemáticos e emocionalmente doentes.
Pai e mãe presentes, presentes mesmo, é fundamental na formação emocional da criança. Se crianças e adolescentes, a super Nanny está ai para mostrar, nos parecem esquisitas e um tanto diferentes daquilo que nos parece o certo, não é à toa.
O discurso propalado pela publicidade e propaganda de viver a vida, pensar em si, ser feliz e bonito está tendo conseqüências trágicas para a sociedade. Adultos problemáticos, dependentes de sua cota diária de cerveja, tomadores de tranquilizantes, calmantes, estimulantes, academia, agora as cirurgias plásticas, consumistas contumazes, uma sensação de descontentamento que não passa, um tédio sem fim; tudo isso é fruto das relações familiares problemáticas na infância. A ausência de pai e mãe, segundo me pareceu em minhas conversas com o Prof. Renato Dias Martino, é um dos elementos centrais.
Nestes sentido a ideia de algumas mulheres de produção independente, ou mesmo a multi mulher, a mulher que substitui o pai, ou pai que nunca aparece, o pai ausente, o pai imaturo e que não assume suas responsabilidades e o fato de que deve ser uma referencia clara para os filhos de conduta e comportamento, tudo isso resultará num quadro psicológico na criança e em sua futura vida de adulto, extremamente problemático.
Quem quiser entrar em contato com o Renato Martino para análise pode falar com ele no telefone 30113866 aqui em Rio Preto ou digita o nome dele no Google.


Luciano Alvarenga

Postado por Luciano Alvarenga no seu blog Cama de Prego
http://lucianoalvarenga.blogspot.com 

sábado, 27 de novembro de 2010

Homens: aprendam a finalizar relação

Homens: aprendam a finalizar relação
Diário da Região, São José do Rio Preto, 6 de julho de 2008
Orlandeli/Editoria de Arte

Renata Fernandes


“A fila andou. Eu te falei. Não deu valor. Como eu te amei. Agora chora. Já me perdeu, boa sorte. Vá embora. A fila andou...” A composição de Alexandre Peixe, cantada pela banda Chiclete com Banana, evidencia o jargão bastante usado pela juventude hoje. Mas, infelizmente, muitos homens não conseguem colocar o ponto final para que a fila avance. Simplesmente, decidem que não querem mais e, às vezes, sequer avisam diretamente a parceira. O fato é que a maioria dos homens tem dificuldade em colocar um ponto final na relação, seja ela de um dia, duas semanas, três meses ou vários anos. Segundo a psicoterapeuta comportamental neurolingüista Marcelle Vecchi, identificadora de perfis comportamentais certificada pela ONU, geralmente homens só finalizam a relação quando já têm alguém em mente para substituir, trocar. Ela afirma que eles agem assim pelo medo de se arrepender e não ter como voltar atrás com a pessoa que terminou. “Isso, normalmente, é motivado pelo orgulho, mas é claro que há exceções.”

O psicoterapeuta prof. Renato Dias Martino analisa que, em primeiro momento, aqueles que não aprenderam a dizer não, além de terem igual dificuldade em ouvir o mesmo não, deixam de pontuar a relação por resistência à mudança. “Em geral, o ‘não’, o ‘corte’, a ‘conclusão’ sempre trazem a promessa do novo. A efetivação da mudança.” Por isso, Marcelle diz que muitos enrolam a situação e empurram a relação com a ‘barriga’, pois esperam que a parceira tome a decisão de terminar. Há homens, inclusive, que provocam situações para elas tomarem a atitude de finalizar a relação, como: nunca estarem dispostos a sair, não atender aos telefonemas, ser brutos em situações que antes mostravam gentileza, procurar brigas por motivos irrelevantes e até mesmo marcar um encontro com alguém para ser visto pela parceira. Sob esse ponto de vista, prof. Martino explica que quando a relação alcança esse patamar já morreu e existe dificuldade na tarefa de se enterrar o que faleceu. De tal modo, o ‘morto’ inicia um processo de decomposição e traz todo o transtorno que isso pode ocasionar.

Martino coloca que a melhor maneira de concluir algo é sempre da mesma forma que se iniciou. ‘Isso com qualquer coisa, não só em uma relação amorosa. No entanto, o que deveria ser está bem distante do que realmente é.” De acordo com ele, sempre que se fala de relacionamentos é prudente lembrar que esses devem ter responsabilidades divididas, já que se vive em dois. A única relação em que um tem mais responsabilidade que o outro é entre mãe e bebê. Assim, principalmente nas relações amorosas, uma parte não deve ter mais ou menos que a outra.

Prof. Renato Dias Martino

Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com


sábado, 20 de novembro de 2010

Dicas de filme


Freud, Além da Alma (Freud, the Secret Passion)
DIREÇÃO:John Huston
GÊNERO:Drama
ORIGEM:EUA
DURAÇÃO:139 minutos
ANO:1962
Baseado no roteiro escrito pelo filósofo Jean-Paul Sartre, com uma linguagem metafórica e onírica, o filme pretende mostrar a teoria freudiana do inconsciente. Através do conflito interior que viveu Freud enquanto tentava penetrar o obscuro “inconsciente” de seus pacientes, pois temia encontrar o inefável, o impensável (na verdade, Freud temia encontrar a sua própria essência…). Freud Além da alma é um filme acadêmico, inteligente e instigante, que nos permite uma melhor compreensão das teorias freudianas sobre o funcionamento da mente e como o pensamento psicanalítico irrompeu na sociedade vienense e depois no mundo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Criança na internet e o conteúdo impróprio

Gostaria de convidar para pensarmos a questão da criança que tem acesso na internet a conteúdos impróprios ou proibidos. Percebo que o assunto vem sendo extremamente discutido entre profissionais da área da saúde mental e também entre educadores. Tentativas diagnósticas são levantadas por profissionais psicólogos e pedagogos de várias abordagens teóricas para suprir a crescente demanda de respostas e soluções para esse problema que cresce assim como cresce o acesso ao mundo on-line. Nesse mesmo ritmo cresce a pressa por obter soluções breves, práticas e certeiras para esse problema que emerge na sociedade como bolhas de gás num copo de coca cola, nos fast-food da vida. Sabe, aquele lugar onde se entra com o carro, se pega o lanche e sai dirigindo e comendo ao mesmo tempo?
Sim, não é novidade que vivemos na era “fast” e não só para os “foods”, mas para tudo que se imagina, então por que não para “fast-psic”?
Bem, o que vemos então, são profissionais propondo que, a essas crianças que um dia foram abandonadas na frente de um computador, pois os pais tinham “mais o que fazer”, tenham agora, regras duras para defende-los do perigo os rondando na rede.
Entretanto, não é necessário ser um profissional da psicologia para perceber que regras duras só existem para serem quebradas e transpostas. Quanto mais duramente são impostas, tanto maior é o desejo de transpô-las. Agora, pensemos essa experiência na criança, vivendo em sua idade, uma fase da existência psíquica onde se apoiam muito mais nas ilusões e imaginações que cria, do que na realidade dos fatos que compartilha com os adultos.
Se concordarmos até aqui, me parece então, que seria desnecessário mair argumentação, para perceber que medidas apressadas e com resultados eficazes e breves, estão distantes, nesse caso. Mas, me parece muito interessante nos atermos um pouco mais em certa questão que julgo de central importância.
Para uma criança, ser desejada é algo que está à cima de qualquer que seja o anseio. E isso é sinal de saúde mental, pois uma criança que elegeu qualquer que seja o outro objeto de interesse que não seja o da companhia do outro, certamente precisa de cuidado.
De inicio e na fase mais importante do desenvolvimento da vida emocional da criança, o desejo e o amor dos pais ( ou daquele que ocupou esse lugar) deve suprir toda necessidade que demanda dela. A partir de uma base suficientemente boa, a criança então, inicia a expansão à procura de novas experiências externas, mas com a realidade de que foi amada no seio de seu lar.


Entretanto, essa criança tentará ser desejada por seus pais ou aquele que ocupa esse papel, de todas as maneiras possíveis. Só se esgotará o esforço nessa direção quando realmente não puder mais fugir da realidade de que não terá mesmo isso. A partir daí buscará ser desejada de outras formas e em outros lugares, carregando uma enorme magoa pela experiência frustrada.


Falamos aqui de uma criança reprimida em seu desejo central, quando não conseguiu afeto necessário em lugar seguro, busca então, algo externo pra satisfazer seus desejos. Isso se nos apoiarmos aqui no pensamento psicanalítico que parte de Sigmund Freud (1856 – 1930) e se expande a cada dia mais.
Pensemos então, isso acontecendo numa época onde não existe muita capacidade de escolha. Torna-se um alvo fácil para os convites on-line.
Quem procura algo proibido só pode estar fugindo de outro algo. Mas, será que alguém fugiria se o lar fosse um ambiente onde se cultivasse a verdade com muito amor? Chegamos então no cerne da questão.
O conteúdo impróprio ou proibido é um convite que vem com a proposta tentadora e vingativa de libertar dos desejos frustrados do amor e da verdade dos pais.
As regras que nascem de um ambiente rico em afeto e verdade são regras internas, muito mais próxima da ética do que daquilo que chamamos moral e que na realidade só se sustenta sob os olhos da autoridade. Regras morais se dissolvem rapidamente enquanto a autoridade se distrai. Aquele que aprendeu ser respeitado dentro do lar, certamente não se envolverá em qualquer que seja a relação que não ofereça respeito.

Prof. Renato Dias Martino
é psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866 

prof.renatodiasmartino@igmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com.br

domingo, 14 de novembro de 2010

Dicas de filmes

Édipo Rei
(Edipo re, 1967)



• Direção: Pier Paolo Pasolini
• Gênero:
Drama
• Origem: Itália/Marrocos
• Duração: 104 minutos
• Tipo:
Longa-metragem

Antes da Segunda Guerra, na Itália, um casal de jovens tem um menino e, tentando fugir, a criança é tomada dos pais no deserto para ser assassinado. Mas a criança acaba nos braços do Rei e da Rainha de Corinth, que lhe dá o nome de Édipo (Franco Citti). O que Édipo não espera é que seu destino está traçado para uma terrível tragédia envolvendo sua família.



sábado, 6 de novembro de 2010

Violência e sociedade

Violência e sociedade
Renato Dias Martino


Quantas vezes não perguntamos a nós mesmos, se não em voz alta (talvez indiretamente procurando uma resposta do outro): “De onde vem essa onda de violência, corrupção, destruição da natureza?”

A perplexidade é certa ao se assistir cenas cruéis na TV. Somos espectadores (ou melhor, participarmos efetivamente) de um filme violento, onde não parece existir qualquer intenção na direção de uma diminuição da bestialidade, mas sim, em obter o monopólio desta forma perversa de vínculo com o outro. 
Thomas Hobbes (1588 — 1679)

É muito clara a realidade de que somos muito pouco capazes de nos responsabilizar pela violência que nasce em nós. Dificilmente nos propomos a dirigir atenção para o violento que habita o eu. Nos percebemos numa combinação muito próxima  da descrição deThomas Hobbes (1588 — 1679) no seu Leviatã  de 1651, onde propõe que o humano pode ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, mas isso não o livrará do medo de que o outro lhe possa fazer mal. Para Hobbes, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). 
No bíblico Sermão da Montanha, que pode ser lido no Evangelho de Mateus, mais precisamente do capítulo 4, versículo 23, ao capítulo 7, lê-se: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.”
Assim, a religião propõe um ideal de conduta que pouco leva em conta a capacidade do sujeito em cumpri-la. Isso, sem dúvida contribui, de forma importante para incapacidade de perceber o ódio no eu e estimula a percepção em notar o ódio no outro. O ódio é um eficaz agregador de massa. Quando odiamos funcionamos por identificação. Quando se tem algum outro para se odiar nos tornamos irmãos. 

Enquanto é muito difícil experimentar a situação de amarmos em comum, o ódio é quase que espontâneo. Isso pelo fato de que amar requer abnegação, enquanto odiar é prazeroso. Num mundo onde a insatisfação é algo muito pouco experimentado, a derrota do outro é sempre mais prazerosa que a minha vitória. Nos apressamos em retribuir um soco e refletimos antes de retribuir um carinho. A gratidão exige manutenção enquanto a vingança é geradora de prazer.

Cria-se um jogo de pressão e repressão que só faz aquecer o caldeirão. O crime, a falta de sinceridade, a violência atuada, seja perversamente escancarada, entre pessoas sem relações formais, ou mesmo, silenciosa, traiçoeira, acontecendo sem que percebamos, dentro dos lares.


De qualquer forma, está espalhada por todas as camadas sociais e econômicas. Da favela até o Palácio do Planalto. Apesar disso, mesmo sendo uma forma de tal abrangência, a violência ativa, assim como seu correspondente negativo, a submissão...




“... de homens e mulheres a quaisquer relações sociais de dominação e exploração não é de modo algum espontânea. Depende, em maiores ou menores doses, da coerção direta, da necessidade material ou da interiorização de tais idéias como necessárias, justas ou inevitáveis, e normalmente de alguma combinação dos três fatores.” Enguita, 1993. p. 208



Nas palavras de Mariano Enguita escritor espanhol, catedrático de Sociologia na Universidade de Salamanca, tentando cogitar sobre formas de aprendizagem das relações sociais e de que maneira a violência está ai implicada. Poderíamos entender a violência como certa forma primitiva, de relação interpessoal. Um padrão grosseiro de vincular-se às pessoas e coisas que como característica peculiar carrega a tendência a se repetir até que encontre no mundo, alguma oportunidade de conhecer formas mais aprimoradas de vinculação. Disso talvez sejam gerados os fatores ligados à necessidade material ou da interiorização de tais idéias como necessárias (assim como propõe Enguita), já que o “ter” é também um estagio primitivo do vínculo com o mundo, que busca evoluir até a condição do “ser”, isso quem sabe.
É importante compreender que esse tipo de relação perversa sempre esteve entre nós. Isso não me parece tão difícil constatar se nos arriscarmos em uma breve pesquisa histórica da humanidade. Num passeio pela filogênese humana, perceberemos que a violência é um elemento inerente ao encontro entre seres humanos e que amiúde se confunde com a forma como nos relacionamos com nós mesmos. Talvez seja a primeira forma de se relacionar com o outro, com aquilo que faz parte do não-eu, com aquilo que é diferente, o desconhecido. O pré-conceito é um exemplo muito claro de como o ser humano funciona ante a diferença. Uma forma de se precaver frente aquilo que o deixa inseguro e temeroso. No entanto, sem o pré-conceito é impossível se criar um conceito.


Poderíamos fazer uma menção à violência presente no ato do parto, onde o bebê se vê frente a uma seqüência de tarefas, que por mais cauteloso que possa ser aquele que cuida, terá sempre uma considerável cota de violência. O bebê está diante de uma seqüência de frustrações que terá que tolerar no caminho em direção ao reconhecimento da realidade. O caminho da independência, que se inicia biologicamente na substituição do mundo aquático, confortável do útero, por um mundo aéreo, onde experimentará uma cadeia de desconfortos e perceberá gradualmente que, para continuar vivo, dependerá exclusivamente de sua mãe. Ela é quem tem a tarefa de apresentar um modelo de realidade que seja interessante enquanto substituto das fantasias e ilusões criadas pelo bebê, na pesquisa e descoberta do mundo. A incumbência de sugerir um ambiente que retrate um mundo bom o bastante para ser trocado pela fantasia de mundo do bebê, ou aquilo que ele imagina sobre o mundo. Dessa forma, se o mundo externo não parece um lugar suficientemente seguro, a ilusão ainda será mais atrativa.


A ilusão é regida por uma forma mágica de realização, onde o desejo é realizado de uma maneira ou de outra, mesmo que para isso tenha que se passar por cima da realidade (lugar onde se encontra o outro). Um sujeito que funciona predominantemente regido por suas ilusões, nisso que em psicanálise chamamos de principio do prazer (Freud 1920), inevitavelmente, adota um modelo violento de se relacionar com as coisas do mundo (interno e externo). O resultado é que em sua vida, ou adota um modelo hostil para com o mundo que o rodeia, ou se comporta agredindo-se a si mesmo, se tornando um alvo dessa violência, a submissão.
De qualquer forma, me parece que diagnosticamos claramente o estado de caos e o ódio pairando sobre o ser humano, e sua organização social. A humanidade passa por uma fase histórica, onde o modelo familiar se encontra em desuso, porém, sem outro modelo adequado que possa substituí-lo. Assim, com a ameaça de extinção do modelo da família (mãe, pai e filho) como lugar seguro para que sejam vividas ás experiências que partem da violência e conduzem á humanização, a escola (despreparada para isso) tem recebido certa demanda que nem de longe corresponde somente à função didática ou a de ensino das confirmações cientificas do saber, mas que se estende ás necessidades básicas no nível da formação da personalidade, justamente o ponto onde se dá a elaboração dos impulsos violentos.

Se até aqui pudemos estar de acordo, poderíamos tentar avançar em direção a analise das ações tomadas para tornar mínimo o efeito dessa que poderíamos chamar de “forma grotesca de linguagem”, ou justamente a “incapacidade da linguagem”. Quando nos propomos avaliar de forma mais atida os aspectos das técnicas usadas frente a esse estado de funcionamento social, o que constatamos, a cada dia parece revelar-se além de bárbaro, ineficaz. Se percebermos de uma forma mais próxima da realidade, entenderemos um movimento muito mais regido pela vingança, do que por um intuito de penalização e ressocialização. Nesse ponto a educação social não encontra espaço. Até por que, não parece haver muito interesse que sociabilizemo-nos.
Esse texto não tem o intuito de causar desconforto, mas de revelar algo desconfortável que já existe. Talvez propor a responsabilização pela criação de novos modos de trabalhar esse estado de violência que conduz o funcionamento do ser humano em sua tarefa de se relacionar com as pessoas e as coisas. Porém, é uma incumbência não só da sociologia, mas, de cada um de nós.



Num ambiente emocionalmente saudável, a troca de ilusões por realidade se da de uma forma sutil. Nessa “desilusão a conta gota”, o bebê aprende com o amor entre os pais um modelo de companheirismo, respeito e afeto. Modelo que fará parte de seu objetivo de futuro. Um modelo interessante para que possamos refletir e aplicar em nossa sociedade e nosso ambiente educacional e social.


O exercício parece ser o de abrir um espaço para o afeto positivo. Um filho gerado com amor e pelo amor, ou seja, por duas pessoas que se amam, ganha a herança deste modelo de vínculo para próximas gerações. E definirá qual o nível de respeito permearão suas futuras relações. Isso indicará o quão violentas são e serão suas aproximações e ligações com pessoas e coisas, assim como a si mesmo e inevitavelmente a direção que tomará a sociedade.


Prof. Renato Dias Martino