quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cerimônia de Lançamento do Livro - O Amar e o Pensar: Das Perspectivas dos Vínculos no Desenvolvimento da Capacidade Reflexiva

O amor, que durante séculos foi um tema reservado somente aos romancistas, poetas e filósofos, a partir de Sigmund Freud passou a ser um objeto de estudo das teorias do pensar.

Também na ciência, presentemente admite-se que a capacidade de amar - que se desenvolve, sobretudo, nas mais tenras fases da infância - é fundamental no bom desempenho do aparelho psíquico.

O tema dessa obra mostra-se, de forma essencial, não só na perspectiva da saúde biológica, mas é fator de base e organizador emocional, logo imprescindível na expansão do exercício do pensar.

Serviço:
Lançamento do livro - O amor e a Expansão do Pensar: 
Das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva

Autor: Renato Dias Martino
Editora: Vitrine Literária
Nº de páginas: 90
Data: 20 de setembro de 2013
Horário: 19:30
Local: Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto
Contato: 17 30113866

domingo, 25 de agosto de 2013

Dicas de filmes - De Porta em Porta

Bill Porter (William H. Macy) é um carismático sujeito que apesar da paralisia cerebral, por conta de uma falha médica em seu parto, tem grande apoio de sua mãe e consegue um emprego de vendedor na empresa de produtos domésticos Watkins Company, em Portland, Oregon, 1955. Depois de ser descriminado pelas pessoas que se julgavam normais, faz sua primeira venda para Gladys Sullivan (Kathy Baker), uma alcoolista que vivia sozinha. A partir daí, ele não parou mais e por mais de 40 anos, peregrinou 16 quilômetros por dia em suas vendas. Para auxiliá-lo nesta trajetória, encontra Shelly Soomky Brady (Kyra Sedgwick) sua secretária. Uma História emocionante baseada em fatos reais.




Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866 
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SOBRE A FUNÇÃO DO PAI

Não acredito que exista uma receita que ensine como ser um bom pai, entretanto, não existe dúvida que é preponderante no desempenho da função paterna grande capacidade de tolerância. Se estivermos falando de experiências emocionais, a definição de limites, sempre enriquecida de carinho é a principal característica dessa função e é exatamente por isso que sua presença se faz tão importante. É através das vivencias com o pai que o sujeito tem chance de desenvolver seus próprios limites sem agredir a si mesmo.
O estabelecimento de limites é característica central da presença emocional paterna. É do pai a função de dizer “não”, por exemplo, quando a mãe faz isso é sempre em nome do pai: “Espera só seu pai chegar!”, entretanto essa definição deve contar com uma boa dose de afeto. A ausência do afeto nessa experiência resulta na criação de um funcionamento cruel com ele mesmo. Formam-se limites preestabelecidos para si próprio, através de mecanismos rígidos de imposição de regras. Isso é gerador de uma série de conflitos psicológicos, podendo até, em alguns casos, se manifestar fisicamente. Em casos extremos o sujeito pode romper com esse modelo e de forma inversa se entregar a formas subversivas, desregradas e sem limites, como o resultado de uma revolta às leis impostas sem afeto.
Ora, não deve ser motivo de surpresa afirmar que o perfil da figura paterna e também da presença materna, sofreram algumas alterações nas últimas décadas. No estudo da psicanálise aprendemos que o ser humano tem duas formas de funcionar mentalmente; uma delas com características egoístas ou narcisistas, que usa normalmente para se defender; e outra forma que, quando mais confiante de si, se dispõe a ligar-se e dedicar-se ao outro. Essas duas formas de funcionar disputam lugar na personalidade do sujeito, contudo, encontram convites sedutores na constituição de uma sociedade consumista. Esses convites têm forçado o sujeito a funcionar muito mais de forma narcisista e isso compromete diretamente as funções básicas, como é o caso da materna e também a paterna. 
A vivencia no desempenho da psicanálise clínica, assim como o exercício da docência no ambiente de ensino, revela que na verdade a realidade que vivemos hoje existe muito pouco espaço para essas funções básicas, pois, são raros os lares que podem contar com a presença da mãe, as crianças são criadas pelas avós ou por babás. A presença paterna, então, é mais rara ainda.
Uma criança é gerada no encontro entre duas pessoas, e só através desse encontro de realidades é que será garantida certa saúde emocional. A privação da experiência dessa incidência de realidades, porém, resulta na formação de sérios conflitos que, sem duvida comprometerão essa criança na forma de se relacionar com ela própria e assim, também com o outro.
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Prof. Renato Dias Martino 
Psicoterapeuta e  Escritor
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

SE TORNAR DESNECESSÁRIO

A proposta de tornar-se desnecessário para o outro merece aqui um olhar atento. Logo de inicio essa reflexão já deve causar algum desconforto, se não for pensada com muito cuidado pode facilmente ser confundida com certo movimento de desprezo, falta de cuidado, ou de ausência afetiva. No entanto, a proposta aqui é a de abrirmos um espaço para reavaliarmos a qualidade dos vínculos estabelecidos na ordem emocional. 
A situação da imaturidade emocional-afetiva, ou mesmo a ocasião de certa fragilidade nessa ordem de funcionamento, pode induzir a uma visão de descrédito quanto à capacidade de amar e isso, sem dúvida pode levar o sujeito a travar vínculos menos saudáveis e de menor qualidade afetiva. Entretanto, através de que elemento poderia manter-se um vínculo que não contasse com afeto? Pois bem, se o vínculo não pode contar com o amor, para que se mantenha ligado pode cultivar então certa condição de dependência, que na verdade é natural no início dos relacinamntos que podem via a desenvolver o amor. Ainda assim, na ocasião da obstrução no processo de maturação-emocional afetiva, a dependência pode via a ser um elemento que mantém pessoas ligadas por muito tempo, se não pela vida toda.

O vínculo de dependência está compreendido na ordem das alienações. Quando cristalizado, pode via atrazer a ilusão prazerosa da resposta, traz a sensação de garantia e saciedade que desmotivam o sujeito de questionar. A certeza é sedutora e envolve o sujeito num micro mundo de impossibilidades. Relações que se mantém obstruidas nessa ordem e não conseguem evoluir alem disso, são limitadas de tal forma que não podem abranger características como a de consideração com o outro, ou respeito mutuo. O outro passa a existir somente para satisfazer e sendo assim não pode ser chamado de outro. A introdução do respeito na experiência do vínculo é o que pode possibilitar a reflexão, prejudicial aos estados cristalizados na dependência. A reflexão coloca em xeque a situação de dependência e propicia a expansão para um modelo mais maduro. 
Ainda assim, o modelo de vínculo da dependência é inevitável e se dispõem como condição imprescindível para que haja a evolução em modelos mais bem elaborados e que possam contar com a capacidade afetiva. De início o bebê não é capaz de amar. Não pode retribuir o amor dedicado da mãe, ele simplesmente é dependente dela e necessita dela para viver. Só aos poucos e sendo irrigado de muito afeto, ele passa a desenvolver a capacidade de retribuir esse amor. 
Dediquemo-nos agora a refletir um pouco sobre necessidade. Aquilo que está na ordem das necessidades básicas, funda um vínculo de dependência. Depende-se daquilo e isso passa a configurar-se assim, como um ponto inquestionável. Não se encontrando nos domínios de nossas escolhas, distante de qualquer questionamento.  A palavra necessidade tem sua origem no Latim NECESSITAS, “compulsão, necessidade de atenção”, de NECESSE, “inevitável, indispensável”, originalmente denotando “sem volta”, composto por NEC, “não” e CEDERE, que quer dizer “recuar, ceder”. 
Assim como do oxigênio somos dependentes e se não inalarmos o suficiente desse elemento do ar, morreremos. Por conta desse modelo de relação, não cabe nessa experiência o gostar ou não gostar, simplesmente se necessita disso. Assim também o bebê não ama a mãe, simplesmente necessita dela e a partir disso pode aprender, ou não a amá-la.
Quando aplicamos esse modelo na perspectiva emocional fica claro que, o estabelecimento de vínculos saudáveis é o que pode trazer recursos para esse desapego das satisfações sensoriais. Sendo assim, abrem-se as possibilidades de ligações, onde aquilo que une o eu ao outro não se encontra simplesmente, ou tão somente no nível da satisfação da necessidade. Se tornar desnecessário é uma chance de permitir que o outro estabeleça um amor verdadeiro e para isso essa experiência deve se encontrar para além do modelo primitivo de vínculo da dependência. 
Quando nos propomos a reconhecer as experiências emocionais-afetivas, percebemos que, para que uma mente possa funcionar bem e de maneira saudável, é fundamental que seja irrigada e muito bem nutrida por vínculos afetivos de qualidade. As relações afetivas saudáveis abrem a possibilidade de reconhecimento da verdade do mundo, da realidade tanto do eu quanto do outro, propiciando um acordo com a realidade. A partir dessa experiência o sujeito se vê mais capacitado para conviver com a dúvida e os questionamentos que são à base da consciência da realidade. Esse pressuposto aqui postulado é necessário para que possamos prosseguir no intuito reflexivo desse texto. Isso equivale dizer que sem essa premissa de que o afeto é fundamental para o bom funcionamento mental, todo o ensaio perde o sentido.
A ação de maternagem suficientemente boa é aquela em que a mãe, gradativamente, vai se fazendo desnecessária conforme o desenvolvimento da criança. Diante da missão realizada e tendo a maturidade do filho como sinal do resultado disso, agora a mãe e o pai, devem iniciar um doloroso processo de tornarem-se dispensáveis. Sendo então desnecessários, poderão agora desfrutar do verdadeiro amor, livre de dependências. O amor quando nutrido da verdade, liberta.
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O uso do “eu sei”

Por que dizer “eu sei”?
Será porque sabemos realmente?
“Só sei que nada sei”.
Sócrates (496-470 a.C. / 399 a.C.) tornou essa máxima como seu lema e o imortalizou.
Sócrates 
(496-470 a.C. / 399 a.C.) 
Mas, se não conhecemos a nós mesmos, o que
sabemos então?
Estudamos anos a fio certa coisa e um dia nos damos conta que sabemos muito pouco sobre ela. A satisfação que obtemos com a sensação do “saber” é realmente gratificante, mas penso ser útil encará-la como um domingo de descanso em uma semana de
labuta, onde o ponto de interrogação é o norte do desenvolvimento e da expansão. Quando não temos dúvidas, nos acomodamos. As certezas são as maiores ilusões criadas pela mente humana. Contentamo-nos com a certeza quando nos vemos incapazes de continuar a questionar e não porque estamos realmente certos.
Maurice Blanchot (1907-2003)

Maurice Blanchot (1907-2003) diz:
“La réponse est le malheur de la question” - 
“A resposta é a desgraça da pergunta”. (2002)

A única certeza é a morte.
Logo, buscar incessantemente certezas e garantias é o equivalente a buscarmos a morte: a morte da pesquisa, a morte do amor (sentimento rico em incertezas), a morte da busca da vida.

“Navigare necesse, vivere non est necesse” no latim, “navegar é preciso, viver não é preciso”, frase de Pompeu, general romano (106-48 a.C.), foi dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.
O poeta português Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935), ressuscita a ideia com a condição de que: “viver não é necessário,  o que é necessário é criar”.
A criação parte da falta de algo. Criamos aquilo que ainda não existe e, se não existe, logo não sabemos. Quando dizemos: “eu sei”, encerramos a busca. Já sabemos, logo; não há nada a aprender. Muitas vezes, pronunciamos “eu sei” antes mesmo do outro concluir o que quer dizer. É uma maneira de não dar muita atenção
ou de ignorar alguém.
Quando respondemos automaticamente: “eu sei”, o que realmente dizemos é “não estou ouvindo o que você diz”. Assim, tiramos o valor do discurso do outro. É como se parássemos de ouvi-lo por achar que já sabemos tudo o que há para saber.
Sempre que ameaçados, nos vemos impelidos a nos defender.
Pode-se dizer, “eu sei” quando encontrar-se tomado por ansiedade, enquanto se espera a vez de falar. Também quando, simplesmente, não estamos dispostos ou interessados em ouvir. Seja qual for o motivo, essa reação impede que possamos aprender coisas que podem ser importantes.
Em um ato de descrédito em si mesmo e na própria capacidade de aprender, criamos um abismo entre o “eu” e o outro.
O “eu sei” pode servir como uma defesa para aquele que se sente ignorante e envergonhado, por realmente não saber.
Defendendo-se assim, acaba por não aprender.


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17 991910375
renatodiasmartino@hotmail.com
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