sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Participação no Podcast Frequência Elevada - Prof. Renato Dias Martino




O QUE É PSICANÁLISE?


Uma definição legal da psicanálise é: Um recurso para se aprender a conviver com aquilo do qual não está de acordo com a minha expectativa. Então, muitas vezes, a gente se depara com a realidade e esta realidade não condiz com o meu desejo, então, a psicanálise é um recurso para que você possa aprender a lidar com esse desconforto que a realidade traz e que não coincide com aquilo que a gente gostaria que fosse.

ACEITAR

O aceitar ele é passivo. O aceitar, ele te leva para um lugar de comodidade, de comodismo, melhor dizendo. Então, talvez a gente pudesse usar a palavra respeitar, aprender a respeitar a realidade. Porque, aceitar a gente não vai aceitar e se a gente aceitar, a gente entrou num âmbito patológico. Todas as vezes que você aceita alguma coisa é porque você olha para aquilo e perdeu a esperança de qualquer transformação. Entendi! Olha só, eu não tinha pensado para esse lado. Por isso que eu tinha falado até “aceitar”. Realmente, quando a gente aceita algo está tudo certo. Aceito, então já... Pois é. Se acomoda e fica ali. Seria meio que ficar na zona de conforto. Pois é, é isso mesmo.

INCONSCIENTE 

Quais são as principais os principais conceitos da teoria psicanalítica? Assim... A psicanálise foi criada pelo Freud, Sigmund Freud. Foi ele que criou, mesmo? Ele que criou, ele que elaborou esta psicoterapêutica que hoje a gente chama de psicanálise. Os conceitos, o conceito fundamental da psicanálise é o inconsciente, a parte inconsciente da mente, isso é o esteio da psicanálise. A psicanálise está estruturada nisso. Onde você encontrar e inconsciente, você tem um viés psicanalítico.

DIFÍCIL É ADMITIR

Se você me permitir só fazer uma introduçãozinha. Assim, a psicanálise ela criou um ranço vocabulário particular e que traz uma complexidade do leigo entender isso é extremamente nocivo. A psicanálise é algo que precisa ser acessível a qualquer um. Então, entender psicanálise não é difícil, o difícil é admitir aquilo que a psicanálise traz.

ID, EGO E SUPEREGO

Id, ego e superego. Tem como falar para gente, explicar melhor isso para gente? Como que a gente como que a gente consegue entender isso aí? Vou explicar para você rapidamente o que o Freud chamou de segunda tópica, que é o modelo estrutural da mente. A personalidade se estrutura a partir dessas três instâncias. O id é a parte animal do ser humano, é a parte indomada, é aquilo que vem puro como uma vontade, como um instinto de impulsionar o sujeito em direção a as coisas da vida. Básico. Quando age por impulso. Seria dentro desse id? Seria a força do id. O id é puramente fome, é necessidade sexual... O id é aquilo que está numa num limiar do corpo para o psíquico. O superego é uma instância que é censora. O superego é aquilo que traz o “não”. Estabelece um deveria ser e o ego é aquilo que eu “estou sendo”. O ego é isto que eu estou sendo. Agora, todas as vezes que eu falar de ego, eu estou falando para você de algo que é fluxo e constante construção. Id, vontades instintuais, superego, instância censora, que determina o que eu deveria ser e ego aquilo que eu estou sendo. O ego é aquilo que eu estou sendo e o superego é aquilo que eu deveria ser. Então, todas as vezes que eu não... Esse deveria seria o que eu gostaria de ser? O que eu gostaria, o que a sociedade... Quando a gente pensa assim: poxa eu gostaria de ser assim, eu gostaria de fazer tal coisa, mas não consigo fazer... Isso, isso, isso... Isso comandado pelo superego. É um “ideal de eu”. Todas as vezes que você não está confiando no seu ego, que é aquilo que você está sendo, o que vai te guiar é o seu “ideal de eu”. Quando eu estou confiando e quando eu estou reconhecendo e respeitando aquilo que eu estou sendo o espaço do superego na minha vida é muito pequeno. Se aquilo que eu estou sendo me basta aquilo que eu deveria ser não me importa tanto. Se a gente tem muita coisa que deveria ser seria ruim? Se você estabelece muito o que você deveria ser é porque você não está contente com aquilo que você está sendo.

FILOSOFIA

Tem um pouco de filosofia nisso. Ah! com certeza! O Bion que é um psicanalista contemporâneo que eu gosto muito, ele diz assim, que “a psicanálise é a praxes de uma certa filosofia”. A diferença da filosofia e da psicanálise é a aplicabilidade.

CONVECER

Quando a gente fala assim para alguém: “Ah! Você precisa, de repente, você passar por um psicólogo, um psiquiatra, a pessoa fala assim: ah! Eu não estou louco! Ah! eu não preciso disso!” Existe esse tipo de é um preconceito? Existe sim, existe sim, Marlon. Mas, assim ó: a psicanálise que eu acredito é aquela em que o sujeito vai espontaneamente. Que ele percebe que ele precisa e ele vai. Como que a gente consegue convencer uma pessoa de que isso não é ruim, pelo contrário... Se você precisa se você precisar convencer uma pessoa ela já ela não está pronta para isso. Não está preparada. Até porque, eu acredito que tentar convencer alguma a pessoa de alguma coisa é um desrespeito. Não é função da psicanálise convencer ninguém de nada. A psicanálise pode ajudar no tratamento de problemas emocionais e mentais? Recurso por excelência. A psicanálise pode ajudar muito, se o sujeito estiver disponível para isso. Ele precisa estar disponível. Se ele tiver disponível, a psicanálise é um recurso muito bom para isso. Talvez o melhor. Tenho vinte anos de prática da psicanálise e tem história belíssimas para te contar.

PSICÓLOGO, PSIQUIATRA E PSICANALISTA

Psic-logos = psicologia. Psique é a mente é o funcionamento do sujeito que não está no corpo físico. Eu tenho um corpo físico e eu tenho uma coisa além. Eu tenho uma instância além do corpo físico. Isso a gente vai chamar de psique. Logos é conhecimento. É aquele sujeito que é se propõe a conhecer sobre a psique. Este é o psicólogo. Psiquiatra é uma especialidade da medicina que se propõe a medicar um sujeito que tenha uma patologia mental. Ele vai trabalhar essencialmente, com medicamentos. Medicação. Apesar de que, se você me permitir um adendo aqui, hoje existe uma área da psiquiatria que se deslocou do tratamento de doentes mentais, de pessoas que têm problemas psíquicos e precisam de medicação, mas criou-se uma psiquiatria estética. Sabe o que é isso? Não faço ideia. A psiquiatria estética é aquela que se ocupa de recolocar focar o sujeito no convívio social. Então, se o sujeito por exemplo, apresenta algum funcionamento que destoa do que é socialmente aceito, ele começa a se medicar para se formatar novamente para esse convívio social. Na realidade, a gente está falando aqui de um sujeito que está sendo medicado para satisfazer o olhar social e aí a gente pode chamar esse remedinho que dão para ele de “fica quietinho pra gente gostar de você”. Está acontecendo muito em todas as instâncias, né? Não é? E aí, vamos falar da psicanálise. A psicanálise não é psicologia, a psicanálise não é psiquiatria, a psicanálise se presta a criar um ambiente saudável o suficiente para que o sujeito possa permitir que aquilo que esteja incomodando possa emergir para ser tratado para ser cuidado. E a psicanálise não busca saber, como um psicólogo. O psicólogo quer saber, o psicanalista não quer saber. Não é função do psicanalista saber sobre, mas é função do psicanalista “estar sendo” em relação. Uma coisa é o saber sobre você, outra coisa é estar sendo em relação a você. Quando eu estou sendo em relação a você, eu crio um ambiente emocional que propicia um crescimento, uma expansão, uma maturação. A gente precisa viver experiências juntos, experiências que possam propiciar reparação emocional. Estar ali, num ambiente emocional-afetivo sem julgamento, sem crítica, sem bajulação, sem tentativa de convencimento, ou sedução. Isso é terapêutico.

ÉDIPO

A gente falou você falou também aqui sobre o Freud e sobre o complexo de Édipo. Pode explicar um pouquinho para gente, o que é isso? À princípio, quando o Freud apresentou o complexo de Édipo, ele foi execrado pela classe médica, pela classe dos pensadores da época. Porque, ele trouxe assim: o filho quer se apossar da mãe e quer matar o pai. Essa é a história do Édipo. O Édipo foi um sujeito que matou o pai e casou-se com a mãe, na mitologia grega de Sófocles que é o autor do Édipo. Essa é a história e isso é vido por cada um de nós. O bebê quer ficar com a mãe só para ele. Tanto o menino, quanto a menina. Ele quer a mãe para ele. Só para ele. E quando o pai entra, o pai é um intruso e qualquer intruso que possa entrar ali, para estragar aquele paraíso que ele vive, entre ele e a mãe, vai ser, tem que ser exterminado. Não é? Aniquilado! Então, esta é a proposta inicial do Freud. Este é o complexo de Édipo do Freud. Mas, vai muito para além disso. Essa estruturação do Édipo, traz assim, um sujeito um objeto de desejo e um opositor a se conseguir esse objeto de desejo. O que que você faz quando você deseja muito uma coisa e tem alguma coisa que te impede de conseguir esta coisa? Você tenta tirar aquilo que está te atrapalhando. A nossa vida cotidiana é um grande complexo de Édipo.

RELACIONAMENTO TÓXICO 

Como que seria esse relacionamento tóxico que você citou ali? O relacionamento tóxico, o Marlon, ele se configura sempre quando eu me relaciono com o outro, não como sendo outro, como sendo uma outra pessoa, que tem sua autonomia, que tem suas vontades, tem seus desejos, mas eu me relaciono com o outro, como se ele fosse uma extensão do meu desejo. Quando eu não consigo reconhecer o limite entre o eu e o outro. Quando esse limite não é reconhecido, não é respeitado e não há uma responsabilização, se instala uma relação tóxica. Vamos criar um casal aqui? Para gente resolver a situação desse casal, qual seriam os passos? Teria algum passo a passo, teria alguma coisa que eles podem fazer? É assim, para se resolver essa questão um desses dois precisa despertar para aquela situação nociva. Precisa haver um despertar do sujeito e esse despertar é de dentro para fora, não é de fora para dentro. Na psicanálise não acreditamos em qualquer intervenção que venha de fora. Tudo precisa vir de dentro. É por isso que eu disse, precisa ser um ambiente saudável o suficiente para que aquilo que está dentro, possa vir para fora. Essa pessoa precisa conseguir enxergar o que ela está fazendo isso. Cinco passos. Um, perceber que está acontecendo alguma coisa, dois, reconhecer que isso realmente está acontecendo. Perceber é uma coisa, reconhecer é admitir que realmente aquilo está acontecendo. Terceiro passo, aprender a respeitar isso, quarto passo, se responsabilizar por isso que está acontecendo. Quando o sujeito se responsabiliza, começa a transformação e a transformação vai se dar de uma maneira mais bem sucedida, por assim dizer, se ele estiver sendo auxiliado por alguém qualificado. No caso, um psicanalista.

ESCOLHAS 

Decisão é quando você tem escolha. Você tem opções, atitude, o caminho é um só. Eu posso ficar parado, ou ir. Então, atitude é uma coisa, decisão é outra. Decisão, eu tinha opções, atitude não tem opção, eu só estou esperando o meu momento adequado para agir. Tomar coragem para vir fazer isso. Isso! Coragem! Essa palavra é magnífica. Cor-agem! “Cor” é coração e “agem” é ação. Agir pelo coração. Então, eu preciso estar preparado para agir com o coração e aí, não tem escolha. Que top! E aí, não tem escolha Marlon. E aí, é assim é capacidade, é desenvolvimento. Quanto mais maduro emocionalmente você fica, menos escolha você tem. Você vai e faz. Você vai e faz, porque você percebeu que aquele é o caminho. Eu gosto muito do vértice místico-religioso, das formulações religiosas. Porque, auxilia demais na prática da psicanálise. Deus nos dá o livre arbítrio. Deus nos dá a faculdade da escolha. Mas, para que que ele dá? Ele dá para que a gente possa viver experiências, para reconhecer que, na verdade é a vontade Dele que prevalece e não a tua. Desempenhando o seu livre arbítrio, você está iludido, você está envolvido com as questões materiais e mundanas. Quando você está de acordo com a realidade, você está no caminho Dele. Seja feita a Vossa vontade e não a minha. Isso te conduz para o caminho que é um só. O acordo com a realidade.

LUTO

Qual que é a importância do luto? Para o pessoal aqui, realmente saber. Fundamental! Vamos voltar no Complexo do de Édipo? Vamos! Então, assim óh! Um desdobramento saudável, a criança começa a perceber que a mamãe é do papai e não minha. Isso leva a criança a viver um luto. Todas as vezes que você reconhece e aprende a respeitar aquilo que você perdeu, você vive um luto. Quando a gente não respeita esse processo, a gente vai acumulando lutos não elaborados e é isso que leva o sujeito a cair naquilo que, contemporaneamente a gente chama de depressão.

DEPRESSÃO

Na psicanálise o que seria depressão? Depressão, na realidade, é todo o movimento de introjetar, interno. Quando você se deprime é porque você se entristeceu, porque você se desinteressou do mundo externo, por assim dizer. As coisas do mundo perdem a graça e você se volta para dentro. Isso é saudável. Você precisa viver isso. Cada vez que você vive uma frustração, é importante que você se retire do mundo externo para viver uma elaboração disso que você se desiludiu. Isso vai te levar à um acordo com a realidade. Mas o sujeito pode viver duas situações que vão levar ele a uma depressão patológica, que não é essa que eu estou te dizendo. A primeira é quando ele viveu com aquilo que foi perdido, uma relação nociva, que não tenha sido saudável, quando você viveu uma relação nociva com alguém e você perdeu este alguém, você cai numa depressão patológica. Porque, o que fica são lembranças ruins. A depressão, realmente, é ficar revivendo o passado. Isso mesmo! E aí, você cai nisso que o Freud vai chamar de melancolia. Mas tem uma outra forma de você cair, patologicamente, em depressão. Quando você é impedido de viver os lutos cotidianos da sua vida. Quando você foi perdendo coisas e você não pôde se retirar para viver o luto dessas coisas e teve que continuar trabalhando, continuar sorrindo, continuar fazendo as coisas que você tinha que fazer, porque existia uma demanda social que você precisava cumprir. Você vai acumulando esses lutos e uma hora você não aguenta mais e cai em depressão patológica.

ANSIEDADE

E ansiedade? Ansiedade é gerada por um “deveria ser”. Quando você estabelece alguma coisa que você tem que ser, que você deveria ser e você não está de acordo com aquilo que você está sendo. É aquilo que te cobra, que te exige de ser alguma coisa, de fazer alguma coisa, que muitas vezes não está no seu alcance. E onde tem cobrança, ou exigência não pode ter a saúde nos vínculos. Nem do eu com o outro, nem do eu com ele mesmo. Quando a gente não confia na gente mesmo, a gente abre essa brecha.

CONFIAR

Como que a gente consegue uma confiança na gente mesmo? Autoconfiança só pode se desenvolver a partir da confiança do outro. Quando alguém confia em mim eu consigo ter autoconfiança, é isso? Isso! O Marlon convidou o Professor Renato para o podcast, eu confiei no Marlon, a partir da minha estada aqui você passa a confiar mais em você. Cada um que você convida e confia em você, você vai ficando, cada vez mais autoconfiante. Não adianta vir falar que tem técnica. que tem autoajuda, livro disso, aquilo. Não existe! A autoconfiança é originada da confiança do outro. Não tem outro lugar. O que é confiança? Toda a palavra que tem o radical, no latim e tem “com” no prefixo, quer dizer “junto”. E fiança é fiar. Eu fio com você e você fia comigo. Confiança é vínculo, eu fio daqui e você fia daí. Eu acredito em você, você acredita em mim e isso faz com que a gente cresça.

EXPECTATIVA 

Quando eu posto alguma coisa na rede social, eu não estou querendo um resultado, eu já estou postando o resultado. Então, isso é muito interessante. Quando você faz alguma coisa sem expectativa de resultado, o resultado vem. A expectativa é a mãe da frustração.




terça-feira, 9 de janeiro de 2024

TER OU ESTAR SENDO - Prof. Renato Dias Martino



Suprir uma necessidade básica. Quanto mais bem suprida esta necessidade, mais o sujeito vai estar qualificado para desapegar desta dimensão, que foi necessária por um período da vida. O bebê tem a necessidade de ter. Ele tem a necessidade de sentir que ele obtém a mãe, que a mãe é dele. Quando ele pode viver essa experiência de obter a mãe, de sentir que a mãe é dele, ele aos pouquinhos, vai sendo capaz de desapegar dessa dimensão do “ter” e vai passar para a dimensão do “estar sendo”. Quando ele não consegue esta experiência bem-sucedida, ele, muito provavelmente vai se cristalizar, vai fixar-se nesta dimensão do “ter” e obter as coisas para ele, vai ser uma forma de funcionamento na vida adulta.

SER OU ESTAR SENDO

A dimensão do “ter” e a dimensão do “ser”. É mais importante “ser” do que “ter”. Na realidade, é mais importante “estar sendo”. “Ser” é também uma ilusão de obter. “Eu sou” é uma ilusão. No máximo, eu posso “estar sendo”, porque aquilo que “eu sou” agora, logo mais, eu não serei mais. Então, ser é uma ilusão, a realidade é o “estar sendo”. A vida é fluxo, a existência está dentro da perspectiva do “estar sendo”, nunca do ser.

MATERIALISTA

Quando a criança não pode ter satisfeita a sua demanda de obter, quando ela não pode viver realmente esta ideia de que ela tem, que é dela aquilo e a partir dessa experiência bem-sucedida que ela possa evoluir expandir para perceber que isso, na realidade, é uma ilusão, ela vai ficar fixada neste modelo e a vida dela vai ser configurada no “ter”. As pessoas que têm esta característica materialista, ela tem, na sua maioria, um histórico de não poder ter vivido essa experiência de maneira bem-sucedida, ela passa a obter as coisas a tentar adquirir bens, coisas do mundo concreto, para tentar suprir alguma coisa que, na verdade, nunca vai ser suprido. Nós estamos falando aqui de, desde dinheiro, obter dinheiro, obter títulos, obter o autoconhecimento, obter as pessoas, obter um corpo bonito... Ter, ter e mais ter, tentando suprir o “estar sendo”, que na realidade, fica desprotegido, fica vulnerável. Todas as vezes que o sujeito está é supervalorizando o “ter” ele está deixando vulnerável o “estar sendo”.

COMPULSÃO E VAZIO 

O sujeito vai eleger um objeto do mundo externo, cria uma compulsão em relação a este objeto do mundo externo, que vai trazer para ele uma ilusão de satisfação desta falta, que na realidade, ele precisaria aprender tolerar. Compulsivo em comprar, em fumar, em beber em comer, em sexo, seja lá no que for. Ele vai ficar compulsivo naquilo, numa tentativa inútil de entulhar o seu vazio, porque ele não tolera este vazio. Este vazio, que é fundamental para um bom funcionamento. Nada se constrói que não seja no vazio. Se já tem alguma coisa, você não pode construir nada ali.

COMPULSÃO NO FRACASSO

A pior das compulsões não é do objeto externo, é daquilo que o sujeito, por si só, faz gerar. Então, muitas vezes, o sujeito é compulsivo na angústia, na tristeza, ele é compulsivo na sensação de fracasso. Você, por exemplo, vê um sujeito que é compulsivo no álcool, no uso do álcool e acredita que ele é viciado naquela substância, mas muitas vezes, ele é viciado em se sentir fracassado por ter usado o álcool novamente. Ele tem um sentimento de culpa, ele se julga por aquele sentimento de culpa, ele se condena por aquele sentimento de culpa e esta condenação vem com uma autopunição de estar sempre no papel do fracassado.

MATERIALISMO CONTEMPORÂNEO 

Nós vivemos num tempo, onde toda a configuração é formada para que o sujeito não fique sem, para que ele não aprenda conviver sem, para que ele não aprenda a tolerar a ausência. E aí, o que acontece? Quando ele realmente precisa, não está preparado para isso.

RETRIBUIÇÃO

Quando ele vai percebendo que na realidade a mãe não é dele, porque na realidade, ela é um ser autônomo e não tem uma ligação com ele, assim como ele gostaria que tivesse, ele vai expandindo a sua forma de funcionar e passa a ser grato a ela. Reconhecer tudo isso que ela fez por ele e a partir da gratidão ele vai desenvolver a possibilidade de retribuir isso que ele recebeu dela. Então, a retribuição é filha da gratidão.




quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

VÍNCULO SAUDÁVEL - Prof. Renato Dias Martino



Uma mente perturbada perturba outra mente. 
O sujeito que convive com alguém que esteja perturbado emocionalmente, vai se contaminar com esta perturbação e também vai ficar perturbado. 
Agora, quando o sujeito viveu um vínculo saudável e pode estruturar a sua personalidade, ele é capaz de perceber esta perturbação na mente do outro e tomar atitudes quanto a isso. 
E a atitude mais adequada é se afastar desta pessoa. 
Um vínculo saudável precisa ter dois elementos imperiosos. 
O primeiro: amor. E este amor não é o amor de gostar, mas é o amor de dedicar-se, de doar-se, de renunciar pelo outro, mesmo que não se goste do outro. 
O segundo elemento é o limite, a sinceridade, a verdade, a franqueza. Um vínculo saudável, impreterivelmente tem que contar com amor e sinceridade.

ESPERANÇA OU DESESPERO 

Se o vínculo que o sujeito teve com o outro não foi um vínculo saudável, que tivesse amor e verdade, o amor e a verdade junto trazem paz, trazem uma atmosfera de paz, se este vínculo não foi de paz, quando esta pessoa, este sujeito se afasta, o que fica é desespero. 
Quando houve este vínculo saudável, o que fica é esperança. 
Desespero, por medo de abandono, por medo de exclusão, por medo de qualquer elemento destrutivo. 
Esperança de retorno, esperança de crescimento, esperança de alegria.

ROMPIMENTO

Dentro do âmbito emocional e afetivo, não existe rompimento. 
A ideia de rompimento é uma alucinação. 
“Ah! Eu rompi a relação com alguém!” 
Não, você não rompeu esta relação. 
Essa relação continuou existindo, mas ela se adequou àquilo que poderia ser possível. 
Há um vínculo possível das partes. 
Aquele modelo de vínculo que existia até então, não estava sendo possível, estava sendo nocivo, estava ferindo alguém. 
Então, houve uma mudança de modelo de vínculos, mas ainda existe uma relação. Talvez mais distante, talvez diferente da anterior, mas nunca houve um rompimento. 
Não existe rompimento. 
Muitas vezes, o sujeito está junto do outro, próximo do outro, numa relação muito estreita e ele não consegue amar o outro daquela forma e quando ele se afasta daquela pessoa, quando ele adequa esse vínculo naquilo que é possível, ele consegue inclusive, começar a amar aquela pessoa, porque ele não está próximo o suficiente para aquela pessoa feri-lo, ou machucá-lo.