domingo, 6 de abril de 2014

SOBRE O AMOR PRÓPRIO

Entrevista com Prof. Renato Dias Martino 
por Gisele Bortoleto para o Jornal Diário da Região


Gisele Bortoleto - Por que as pessoas têm facilidade em ser amorosa com os outros, mas não com elas mesmas?

Prof. Renato Dias Martino - Uma pessoa não pode ser capaz de amar outra pessoa sem que antes tenha aprendido a amar a si mesma. O amor que dedico ao outro é sempre uma extensão da estima que tenho por mim mesmo. A auto estima definirá a qualidade dos vínculos. O fato de se parecer amoroso não garante a real experiência amorosa. Ele pode estar sendo amoroso com o outro por qualquer motivo: por se sentir menos do que ele, por sentir alguma culpa, ou ainda, por medo de perdê-lo, mas isso não quer dizer que seja realmente capaz de amá-lo. Para que a palavra amor seja efetivada, ela necessita de uma experiência de construção dedicada, bem sucedida para atestá-la, de outra forma sempre soará como dissimulação, convencendo somente os despreparados. 
Gisele Bortoleto - Por que essa dificuldade em ter amor próprio? Quem não se ama verdadeiramente consegue amar o outro (qualquer que seja o tipo de amor)?

Prof. Renato Dias Martino - A capacidade de amar o outro tem um pressuposto no amor próprio, entretanto, só pode ser capaz de amar a si mesmo aquele que foi um dia, amado pelo outro. Quando falo ‘amor’, quero referir-me a uma experiência de capacidade de acolhimento, um vínculo fecundo, numa troca afetiva realmente saudável, que pode estar vinculada a inúmeras configurações, como de pais para filhos, marido e mulher, professor e aluno...
Gisele Bortoleto - Pode, por favor, dizer como é a vida de uma pessoa que não tem amor próprio?

Prof. Renato Dias Martino - A ausência do amor próprio é a base da incapacidade mental humana. O sujeito que não está sendo capaz de amar a si mesmo, não será capaz de realizar nada com amor. O que conseguirá será, no máximo, uma mera produção. Se a condição para realização for justamente a capacidade de fazer com amor, logo isso fica inviável.


Gisele Bortoleto - Pode também, por favor, dar dicas de como podemos resgatar ou construir esse amor próprio?

Prof. Renato Dias Martino - O amor próprio só pode ser formado e nutrido através do amor do outro, num vínculo saudável. Portanto, é necessário que sejamos capazes de reconhecer a capacidade do outro em estabelecer e manter essa espécie de vínculos e também sermos capazes de nos afastar de relações que revelem sinais de inviabilidade disso acontecer.