sábado, 23 de abril de 2016

CONCORDAR OU DISCORDAR: Do Princípio de Verdade

Não é necessário um discernimento muito apurado sobre o convívio nas relações para percebermos com clareza o fato de que o ser humano tem certa habilidade especial para ignorar a verdade, muitas vezes passando a vida toda sem se responsabilizar por sua própria realidade. Menos pelo fato de ser essa verdade difícil de se identificar, mais pela incapacidade de conviver, se responsabilizar e tanto mais pela conveniência em se manter afastado dela. Além disso, alguns fatores implicam numa maior frequência de elementos que propiciam e mantém essa tendência a se distanciar da verdade e se manter afastado de sua orientação. Mesmo com todo ônus produzido pelo afastamento que se possa manter da realidade dos fatos. Penso ser conveniente, pois então, discorrer algumas linhas no intuito de refletir sobre esses tais fatores.
Sigmund Freud (1856 -1939)
É tema frequente na literatura psicanalítica a questão da incapacidade de lidar com a verdade e na realidade a grande descoberta de Sigmund Freud (1856 -1939) foi a de que seus pacientes adoeciam justamente por conta de não serem capazes de reconhecer e lidar com fatos relacionados a verdade sobre sua história de vida. O desenvolvimento de conceitos fundamentais para a psicanálise, como é o caso da ideia de repressão, tem seu embasamento nessa ordem de incapacidades. Incapacidades que provocam a divisão do eu que assim dividido passa a desenvolver sintomas para se manter funcionando. Passamos a tratar então, da discórdia entre partes da personalidade.

" Duas forças antagônicas atuavam no doente; de um lado, o esforço refletido para trazer à consciência o que jazia deslembrado no inconsciente; de outro lado a resistência, já nossa conhecida, impedindo a passagem para o consciente do elemento reprimido ou dos derivados deste." (Freud, em CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE, 1910 [1909]).

Deste modo, a disposição para a escuta atenta e sem julgamento, proposta por Freud revela-se justamente o nobre instrumento na prática da psicanálise, no que chamou de associação livre de ideias. Uma experiência terapêutica nunca antes sugerida e que rendeu à Freud uma série de olhares duvidosos quanto a eficácia. Freud propõe ao paciente, nessa nova técnica, que  não censurasse nada e pronunciasse tudo que viesse a sua mente. A partir dessa proposta, aquilo que seria evitado até então, latente sob o domínio das resistências começa a surgir por entre o conteúdo manifesto na fala do analisando. No entanto, ainda assim o paciente se vê obstruído pelas  resistências que dissimuladas em ponderações críticas quanto à importância daquilo que se deve dizer, dificulta as associações livres. Quanto a isso Freud orienta que:

Sigmund Freud
(1856 -1939)
" Para evitá-la põe-se previamente o doente a par do que pode ocorrer, pedindo-lhe renuncie a qualquer crítica; sem nenhuma seleção deverá expor tudo que lhe vier ao pensamento, mesmo que lhe pareça errôneo, despropositado ou absurdo e, especialmente, se lhe for desagradável a vinda dessas ideias à mente. Pela observância dessa regra garantimo-nos o material que nos conduz ao roteiro do complexo reprimido." (Freud, 1910 [1909]).

Bem, a escuta psicanalítica desprovida de julgamento e críticas torna-se então o expediente de desobstrução das verdades recalcadas e conservadas no escuro da alma, mas que ainda assim mantinham-se ativas e ruidosas, gerando sintomas perturbadores e desconcertantes.
Wilfred Ruprecht Bion
(1897-1979)
Depois de Freud, Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979) traz a baila esse mesmo tema quando nos propõe que a arrogância é filha da incapacidade de lidar com a verdade sobre o eu. Uma tentativa de evitar certa mudança catastrófica resultado do reconhecimento da verdade sobre si mesmo. Assim como coloca Freud em UMA DIFICULDADE NO CAMINHO DA PSICANÁLISE (1917), todo esforço das resistencias são erigidos em nome de não admitir o golpe narcísico de que "o ego não é o senhor da sua própria casa". No artigo Sobre Arrogância de 1957 Bion cogita sobre as experiências do pensador que se estrutura para dar conta dos pensamentos que até então não foram pensados. Essa experiência de procura por um sentido sobre a dor psíquica, tanto do paciente quanto do analista, pode então ser conduzida  através do respeito à realidade psíquica e sua verdade, quando existe a capacidade de tolerar frustrações, ou ainda, por outro lado, essa busca pode ser conduzida de modo arrogante quando na incapacidade mínima de tolerar os desconfortos provocados pela tomada de consciência da verdade sobre si mesmo.

" ... o analista que trata de um paciente aparentemente neurótico deve encarar uma resposta terapêutica negativa, concomitante ao aparecimento de alusões dispersas, sem correlação mútuas, à curiosidade, arrogância e estupidez, como um indício de que está diante de uma catástrofe psicológica que terá de enfrentar." (Bion, em Sobre Arrogância, 1957)

Wilfred Ruprecht Bion
(1897-1979)
Bion insiste nas condições de desprendimento das censuras na escuta do analista para que possa perceber de forma serena, desapegando-se dos rumores decorrentes dos fatos armazenados na memória, assim como daqueles gerados pelo desejo na expectativa de confirmação de um suposto conhecimento anterior sobre o paciente. Esse exercício abre caminho para o acolhimento daquilo que vem do analisando.
No entanto, o ser humano é normalmente educado sob a regência de certos princípios de conveniência social que naturalmente provocam discórdia interna das partes do eu, por exigirem cumprimento de tarefas que promovem uma deformação no desenvolvimento da personalidade, que já é naturalmente frágil. Tarefas introduzida sem levar em conta características particulares de cada um. Pressuposições educacionais são introduzidas desde a mais tenra infância, conservado alguns pressupostos sociais dos quais são impedidos de serem repensados por tomarem um formato saturado numa definição de certo/errado e assim, seguem por gerações estimulando e promovendo o desenvolvimento de sintomas, tanto no nível das relações do sujeito em suas vivencias particulares quanto no âmbito social, por conta de uma conveniência do mercado de trabalho e na promoção do consumo desmedido.
Somos submetidos à regras e tarefas que serão vez em quando elogiadas, quando preenchidas e impetuosamente criticadas na falha do cumprimento. Regras que são conduzidas segundo certa razão e que configuram-se na realidade material sem considerar a particularidade de cada um. Bem, esse tipo de cobrança corrobora para o enrijecimento de uma instancia crítica que já existe naturalmente dentro de cada um de nós, da qual Freud denominou superego ou ideal de ego. Freud atribui ao superego à influência crítica dos pais que é transmitida através da voz, e se estendendo para professores, treinadores, líderes religiosos, chegando até a opinião pública. "Um poder dessa espécie, que vigia, que descobre e que critica todas as nossas intenções, existe realmente. Na realidade, existe em cada um de nós em nossa vida normal." (Freud, 1914). Entre o terceiro e o quinto ano de vida se dá a fase do desenvolvimento da libido que Freud chamou de fálica.

"Neste momento do desenvolvimento, Freud chama a atenção para formação do ideal de ego, ou superego (identificações originalmente derivadas das figuras de autoridade parentais), que surgiria como substituto dos desejos edípicos." (Martino, em Primeiros Passos Rumo à Psicanálise, 2012).

A polissemia dos elementos psíquicos confere ao superego uma complexidade especial que parte desde a prudência presente no instinto de autopreservação que barra e censura toda criatura frente à ameaça até o mais alto grau de educação que refinadamente doutrina o sujeito segundo regras racionais pre-estipuladas de maneira categórica. Assim como no 'dever' proposto por Immanuel Kant (1724-1804), próprio do humano e sedimentado na razão. A proposta de Kant é a de elevar o agir à esfera universal numa lei moral válida para todo ser racional. A manifestação do "imperativo categórico", que vai pra além do instinto de autopreservação, numa ação de boa vontade, mas que também não se resolve num agir para conseguir um bem individual (“imperativos hipotéticos”). Segundo Kant, o imperativo categórico ou moral é universal e assim, válido para todo ser que tenha a capacidade racional desenvolvida: 

Immanuel Kant (1724-1804)
“Tal imperativo é categórico. Não se relaciona com a matéria da ação e com o que dela pode resultar, mas com a forma e com o princípio de que ela mesma deriva; e o essencialmente bom da ação reside na disposição que se nutre por ela, seja qual for o resultado. ” (Kant, em Fundamentação da metafísica dos costumes, 2002-1785, segunda seção).

Kant propôs que só a lei traz consigo apreciação de necessidade incondicional a que se deve obediência mesmo que esteja contraria a inclinação. 
No terceiro capítulo de seu texto O EGO E O ID de 1923 é que Freud deixa claro sua visão de ideal de ego e sua relação com o ego num movimento antagônico que ao mesmo tempo que é originário das primitivas escolhas objetais do id, também pronuncia-se numa formação reativa agressiva contra essas mesmas escolhas:

"A sua relação com o ego não se exaure com o preceito: ‘Você deveria ser assim (como o seu pai)’. Ela também compreende a proibição: ‘Você não pode ser assim (como o seu pai), isto é, você não pode fazer tudo o que ele faz; certas coisas são prerrogativas dele.’ Esse aspecto duplo do ideal do ego deriva do fato de que o ideal do ego tem a missão de reprimir o complexo de Édipo; em verdade, é a esse evento revolucionário que ele deve a sua existência." (Freud, 1923)

Dessa maneira, através da introjeção no ego dos primeiros objetos (a mãe e o pai) investidos da libido do id o corre, segundo Freud um processo de dessexualização onde os objetivos sexuais são desviados e dessa forma torna-se possível superar-se o complexo de Édipo e a condenação tanto do crime do incesto quanto do assassinato. No entanto esse processo tem um herdeiro: o superego, que retém características essencialmente severas com a tendência a supervisionar, condenar e punir. 
"O superego – a consciência em ação no ego – pode então tornar-se dura, cruel e inexorável contra o ego que está a seu cargo. O Imperativo Categórico de Kant é, assim, o herdeiro direto do complexo de Édipo." (Freud, 1924)

Enquanto para Freud o superego é estruturado durante a fase fálica, para Melanie Klein (1882 — 1960) apresenta um modelo arcaico dessa instância crítica, iniciando sua formação numa fase pré-edipiana que ainda partiriam de uma predisposição inata antes do encontro com os pais na realidade externa. Para Klein, o superego retira sua força totalmente do sadismo do id, oriundo das energias biológicas. É fácil perceber o poder e a precocidade dessa instancia castradora em crianças de tenra infância.
Melanie Klein
(1882 — 1960)
Reconhecemos esse fato quando percebemos o quanto é difícil receber atenção de bebês em idade muito precoce, quando propomos agrados e gracejos, no entanto quando intervimos com olhares hostis e repreensões a reação é quase que imediata.
Um ideal de conduta é então erguido e mantido pela culpa e pelo medo de errar. "Para o ego, a formação de um ideal seria o fator condicionante da repressão." (Freud, 1914). Todas as possibilidades do sujeito em sua real capacidade passa a ser ameaçada e ameaçado está, assim seu amor próprio. Bem, se o ego, que é a representação do que se está sendo é ameaçado, o que entra em ação é o que se deveria ser, ou seja, o ideal de eu.
Diferentemente do ideal de ego, o conceito de ego ideal diz respeito à uma experiência pré-edípica, de natureza narcisista e instituída dento da dimensão do imaginário. Esse termo é cunhado por Freud em seu celebre texto Sobre o Narcisismo: uma introdução de 1914. Tendo como modelo a idealização da onipotência das figuras parentais o ego ideal é o resultado de toda libido investida no ego, produzindo a ilusória sensação de plenitude, onde não existe lugar para a falta nem para o desejo. Uma experiência fundamental na estruturação primitiva do ego. "Esse ego ideal é agora o alvo do amor de si mesmo (self-love) desfrutado na infância pelo ego real." (Freud, 1914).
Muito perigosa a experiência onde o sujeito já é submetido a exigências, mesmo antes de se viver a ilusão do ego ideal, que seria o alicerce da personalidade. Por conta das cobranças da expectativa social é então, colocada em jogo a realidade naquilo que está dentro do limite no que é possível sem que seja exigido para além da capacidade do eu. Dessa maneira, é estabelecida uma comunicação baseada ora em elogios e enaltecimentos, ora fundado em críticas condenatórias. Isso tendo como claro que o enaltecimento acaba por gerar um ambiente de expectativa. Bem, quando não suprida a expectativa, abre-se ocasião para novas críticas. Assim, ansiando pela aprovação do outro vamos nos distanciando de nós mesmos.
Quanto a ação (atuação) da crítica, esta configura-se numa forma de comunicação primitiva da qual Melanie Klein denominou identificação projetiva. Essa experiência se dá quando o sujeito não é capaz de tolerar certos aspectos dentro de si. Estes elementos então, são cindidos da sua realidade, negados e atribuídos a outro, do qual o sujeito passa a se identificar.
Melanie Klein
(1882 — 1960)
Assim "O objeto torna-se em alguma medida um representante do ego e esses processos são, a meu ver, a base para a identificação por projeção ou “identificação projetiva”."
(Klein, 1952). Um mecanismo que transcende à prática clínica no âmbito dos conteúdos trazidos pelo paciente e tratados pelo psicoterapeuta. A identificação projetiva proposta por Klein configura-se numa forma primitiva e amiúde patológica de relacionamento que está espalhada nos vínculos sociais. Esse mecanismo primitivo muitas vezes se instala como forma de comunicação que parte de educadores e líderes que apesar de ocuparem funções superiores ainda assim, por conta da imaturidade emocional projetam em alunos e subordinados suas frustrações, numa evacuação daquilo que não suportam conter dentro de si.
“O ser humano aprendeu que a crítica ajuda a crescer e é muito comum essa ideia. Entretanto, esqueceu que esse tipo de ação é um esconderijo muito seguro das frustrações e incapacidades daquele que critica.”  (Martino, em ‘O amor e a Expansão do Pensar’, 2013).

De tal modo, o sujeito não acredita em si mesmo e por supostamente se encontrar em uma posição superior então critica o outro. E isso fica bem claro dentro do que nos ensina a psicanálise, ainda dentro da proposta kleiniana de identificação projetiva, quanto ao fato de que enquanto fala do outro, o sujeito conta muito dele mesmo. O perigo se pronuncia na medida em que sem um bom vínculo de confiança as ilusões podem ser percebidas como fatos.
Esse quadro é configurado tendo como premissa que exista um sujeito que a priori, está certo, ou segundo o "imperativo categórico" de Kant, alguém que tem a razão e outro que está errado, fora da razão preestabelecida.
Athur Schopenhauer
(1788 - 1860)
Quanto ao "imperativo categórico", anos depois Athur Schopenhauer (1788 - 1860), que tivera Kant como grande fonte de inspiração no início de seus estudos, questiona então essa suposição propondo que “o conceito de dever , a forma imperativa da ética, só são válidos na moral teológica” e que essa afirmação perde todo o sentido e significação fora dessa perspectiva.
(Schopenhauer, 1995/1841: LVI)
No entanto, concordar ou discordar não está dentro da perspectiva de quem tem a razão ou de quem está equivocado. Antes de tudo, falamos sobre a experiência da concórdia, onde con-cor-dar diz respeito à estar junto de coração. Quando não pode existir tal experiência afetiva, arma-se então um eterno debate improdutivo, onde a arrogância impede qualquer que seja a concordância entre aqueles que acham que têm a razão.

"A verdade nesse nível representa-se na concórdia (com = junto, córdia = coração), num movimento onde duas pessoas possam estar realmente de acordo. Pois, o que realmente nos separa não está no conhecimento, ou mesmo nas articulações racionais, mas encontra-se imperioso na nossa incapacidade de amar." (Martino em O LIVRO DO DESAPEGO, 2015, pg. 27)

Retomando, pois então a proposta psicoterapêutica de Freud e depois dele, Bion, a psicoterapia deve promover a integração (reintegração) da personalidade do paciente, por meio de uma conciliação interna. Esse processo ocorre através da tentativa de apaziguar os conflitos e discordâncias ocorrentes entre as partes do eu, que na presença do psicoterapeuta encontram uma forma de fazerem as pazes. A proposta da busca por um ambiente que proporcione a possibilidade de concórdia, num reconhecimento mútuo da verdade na perspectiva da contínua procura, ainda que saibamos que não seja um bem que se possa adquirir e que nunca vamos localizá-la inteiramente ou definitivamente.
Temos aqui como paciente um termo gerado do Grego, PATHE, no sentido de “sentimento”. Esse termo é de onde se origina a palavra “paixão” ou ainda do Latim PASSIO, “sofrimento". Sendo assim o paciente é o agente da paixão, do sentimento ou ainda do sofrimento. A partir desse conceito chegamos à compaixão que se realiza entre psicoterapeuta e paciente, onde o primeiro se compadece com o sentimento/sofrimento do segundo. "Nenhuma descoberta psicanalítica é possível sem que haja um reconhecimento de sua existência, evolução e um "estar-uno-a-ela". " (Bion, 1970/2007, p.g.44)  Bion nos orienta da necessidade de estarmos integrados à experiência para que haja a real possibilidade da transformação. Mesmo antes de Bion, Schopenhauer já proferia sobre a necessidade de certa inteiração com a realidade das coisas e dos seres, sendo não um esforço sobre-humano mas uma atitude natural como extensão do próprio ser.

Athur Schopenhauer
(1788 - 1860)
"O processo aqui analisado não é sonhado ou apanhado no ar, mas algo bem real e de nenhum modo raro: é o fenômeno diário da compaixão, quer dizer, a participação totalmente imediata, independente de qualquer outra consideração, no sofrimento de um outro e, portanto, no impedimento ou supressão deste sofrimento, como sendo aquilo em que consiste todo contentamento e todo bem-estar e felicidade. Esta compaixão sozinha é a base efetiva de toda a justiça livre e de toda a caridade genuína." (Schopenhauer, 1995/1841).

Mas, a compaixão aqui cogitada não incide simplesmente em se confundir, numa fusão com o outro que sofre. Essa experiência de fantasia de sofrer a dor no lugar do outro nada tem de real e não faz mais que piorar o quadro. Dessa maneira o que realmente ocorre é novamente uma identificação projetiva das dores do sujeito que encontram no outro um receptáculo aberto à projeções. Ao contrario disso, para o exercício da real compaixão deve se desenvolver a consciência de que existe um outro que sofrem, para que se possa ser possível estar junto dele em seu sofrimento.
Na realidade essa atitude de benevolência quando real é então voltada não só para o sofrimento de seus semelhantes, mas para toda e qualquer criatura viva.
Esta experiência do agir bem funda-se não numa imposição a partir da razão como propõe Kant sua teoria ética do dever, e bem por isso Schopenhauer a rejeita. Somente através da real capacidade de se compadecer pelo sofrimento desenvolvida naturalmente, me parece ser possível ao analista real, de fato se aproximar do paciente real e propor um real cuidado com a verdade deste que sofre. Isso sem que seja estabelecido através de regras impostas ou técnicas racionais de educação. Assim abre-se fluentemente a possibilidade de expansão. Ora, bons analistas que oferecem a boa análise é o que faz outros bons analistas. Aprendemos a cuidar de nós mesmos através do cuidado que tiveram conosco, e a partir disso desenvolvemos a capacidade de cuidar do outro.
"Então, para saber quem somos nós, necessitamos transcorrer essa verdade através do olhar do outro. Uma verdade sobre o eu, que só o eu conhece, não pode ser chamada de verdade." (Martino, em 'O Amor e a Expansão do Pensar', 2013).

Bion, W. R. Atenção e Interpretação . Rio de Janeiro: Imago. Dias, C. Amaral. 1991 [1970]
_________ [1958] “Sobre arrogância.” In: BION, W. R. Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
Freud. S. Freud, em CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE (1910 [1909]).
___________SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO (1914)
___________O EGO E O ID (1923)
___________ UMA DIFICULDADE NO CAMINHO DA PSICANÁLISE (1917)
___________O PROBLEMA ECONÔMICO DO MASOQUISMO (1924)
Kant, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Martin Claret, 2002/1785.
Klein, M. (1952/1991). Algumas conclusões teóricas relativas à vida emocional do bebê. Em Inveja e Gratidão e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago.
Martino, R. D. Primeiros passos rumo à psicanálise  - 1. ed. -- São José do Rio Preto, SP : Vitrine Literária Editora, 2012.
_______________ O amor e a expansão do pensar : das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva - 1. ed. -- São José do Rio Preto, SP: Vitrine Literária Editora, 2013.
_______________O Livro do Desapego - 1. ed. -- São José do Rio Preto, SP: Vitrine Literária Editora, 2015.
Schpenhauer, Arthur. o fundamento da moral. Tradução de Maria Lúcia Mello Oliveira Cacciola. São Paulo: Martins Fontes, 1995 /1841.
_______________ Sobre a Ética. São Paulo: Hedra, 2012/1851.









Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
prof.renatodiasmartino@gmail.com 
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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Dicas de Filmes: A AMEAÇA, 2015

O filme trata de um tema sério e muito relevante na perspectiva psicanalítica, quando levanta até onde pode chegar uma pessoa severamente comprometida por sua parte psicótica da mente. 
A médica Dra. Katherine (Samantha Morton) junto com seu marido Richard (Michael Shannon), mantém Andy (Charlie Tahan), muito doente, sob rígida supervisão sem poder sair de casa nem receber ninguém. Por conta da visita inesperada de Maryann (Natasha Calis) que se muda para a vizinhança se tornando amiga de Andy, as situação começa a mudar. Quando a mãe de Andy, a Dra. Katherine descobre a amizade dos dois, tenta então expulsar a garota. No entanto, a menina não se convence com a hostilidade da médica e então, em uma de suas visitas secretas, tentando se esconder da mãe de Andy, a menina descobre no porão da casa o segredo terrível da família.

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